sábado, 13 de agosto de 2011

A Arrogância da Inexperiência

A Arrogância da Inexperiência

Rodolfo Pamplona Filho

Nunca diga que,
 desse prato, não comerei,
 pois você pode não ter vivido
o suficiente para saber
os motivos que levam alguém
a fazer algo que
nunca se esperava dele...

Não julgue o comportamento alheio,
com os parâmetros inflexíveis
de uma conduta idealizada,
pois a barema utilizada
pode lhe ser exigida,
não somente como medida
de justiça e coerência,
mas também como o preço
que se exige como resposta
de toda aquela consciência
que exigiu demais dos outros (e de sí)....

Aprenda a engolir o orgulho
de não ter feito nada na vida,
bem como a prepotência
do sentimento de auto-suficiência
que a juventude, aliada à inexperiência,
parece impor a uma nova geração,
que não tem problema de falta,
mas, sim, de excesso de informação
e, para quem, é mais fácil,
dizer que o outro é sem noção.

Tenha a hombridade de, um dia,
reconhecer a terrível arrogância
que a inexperiência pode gerar,
não como natural mecanismo
de defesa perante o desconhecido,
mas como uma injustificável rebeldia
contra todos que, um dia,
puderam lhe dar guarida
ou estender uma mão amiga.

Faça antes de reclamar...
Viva antes de criticar...
Cresça antes de aparecer...
E descubra que o mundo
é muito maior do que seu ser...
Salvador, 07 de janeiro de 2011.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O VENTO

O VENTO
Jacyra Ferraz Laranjeira

Uma cena...
Tragédia em vermelho...
A morte querida?
Alguém abriu a porta,
mas quase não havia vida.
Carmen estava ferida,
entre fotografias, velas e lâminas
no “Chão de giz”.
Um ato, acting out,
mesmo com os miligramas
dos psiquiatras.
Como pode ser tão louca?
Morrer para existir?
O horror em casa,
Amityville estava ali.
Então, o vento soprou,
levantando o corpo despedaçado.
Bateu os pés na sala
com a voz firme e
fez aparecer a raiva...
Mensagem de ódio
na secretária eletrônica
somente fez surgir
um sorriso maroto
naquele que tentava fazer vazar
a menina mimada
Quebrou mais ainda a casca,
foi juntando os pedaços dos
espelhos quebrados, espalhados e nublados.
O vento soprava, fazia mágica
Vestia uma boneca,
Recolava os cacos.
A morte apaixonada olhava de soslaio
o trabalho do escultor.
O impulso, com a morte chegando perto,
sopra o vento novamente,
antes de ela encostar.
De repente, a forma respira...
- Como pode um objeto falar? -
O vento diz:
“Agora, em troca, quero a verdade”
A coisa ali parada sussurra:
“Ensina-me a viver?”

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

"Decálogo do Advogado"

"Decálogo do Advogado"
(Texto de Eduardo J. Couture)

ESTUDA - O direito se transforma constantemente. Se não segues seus passos, serás cada dia um pouco menos advogado;

PENSA - O direito se aprende estudando, mas se exerce pensando;

TRABALHA - A advocacia é uma área de fadiga posta a serviço da justiça;

LUTA - Teu dever é lutar pelo Direito mas no dia em que encontrares o Direito em conflito com a Justiça, lute pela Justiça;

SÊ LEAL - Leal para com teu cliente, a quem não deves abandonar até que compreenda que é indigno de ti. Leal com o adversário, ainda mesmo que ele seja desleal contigo. Leal para com o juíz, que ignora os fatos e deve confiar no que tu dizes e que, quanto ao direito, vez por outra, deve confiar no que tu lhe invocas;

TOLERA - Tolera a verdade alheia na mesma medida em que seja tolerada a tua;

TEM PACIÊNCIA - O tempo se vinga das coisas que se fazem sem a sua colaboração;

TEM FÉ - Tem fé no direito, como o melhor instrumento para a convivência humana; na justiça, como destino normal do direito; na paz, como substituto da justiça; e, sobretudo, tem fé na liberdade sem a qual não há direito, nem justiça, nem paz;

ESQUECE - A advocacia é uma luta de paixões. Se, em cada batalha, fores enchendo a tua alma de rancor, chegará um dia em que a vida será impossível para ti. Terminado o combate, esquece logo tua vitória, como tua derrota;

AMA TUA PROFISSÃO - Trata-se de considerar a advocacia de tal maneira que, no dia em que teu fiho te peça conselho sobre o seu destino, consideres uma honra para ti, propor-lhe que se torne ADVOGADO ...

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

REDAÇÃO DE ALUNA DA UFPE

REDAÇÃO DE ALUNA DA UFPE
(Vai ser culta assim lá longe! Leiam até o final, é muito legal! )

Redação feita por uma aluna do curso de Letras, da UFPE Universidade Federal de Pernambuco (Recife), que venceu um concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa.  


Redação: 

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.
Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.
O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto.
Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.
Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.
Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.
Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.
Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.
Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.
O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Abrigo Amigo

Abrigo Amigo

Rodolfo Pamplona Filho


A palavra que rima
ou melhor combina
com o sentido de amigo
é, sem dúvida, abrigo,
pois é com o confidente,
que se é mais gente,
buscando conforto no calor
e confiança no temor...

Se alguém procura descanso
ou águas mansas de um remanso,
é no seu parceiro
que terá fiel companheiro
para poder repensar
o caminho ainda a andar
ou a decisão a tomar
de um desafio a enfrentar...  

Amigo é a palavra
que melhor rima
(e combina) com abrigo.
Isso eu acredito,
tenho dito e repito
pois, se o sorriso é bonito,
o amor fraternal é infinito. 


Salvador, 13 de abril de 2011.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Pronominais

Pronominais
                       Oswald de Andrade

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

domingo, 7 de agosto de 2011

UM PROCESSO POR TRÊS REAIS


UM PROCESSO POR TRÊS REAIS


O carroceiro de apoucados recursos, procurou a madeireira de Campo Bom (RS) para adquirir um pequeno pedaço de madeira (1 m x 0,40m) para substituir uma peça danificada de sua carroça. Sem dispor, no momento, do objeto aplainado, a empresa prontificou-se a entregá-lo na residência do cliente. Este fez o pagamento adiantado que exigido: exatos R$ 3,00.

Passados alguns dias, o carroceiro - sem receber o pedaço - foi de novo à madeireira, onde interpelou o gerente.  Desculpas, nova promessa... e nada de entregar a madeira. Passaram-se duas semanas.

O carroceiro-consumidor, indignado com o descaso da madeireira, procurou o Poder Judiciário. Foi ao Juizado Especial Cível na busca de probidade. Recebeu a ficha nº 11 e pacientemente aguardou a sua vez. Atendido relatou:

- Vim aqui por causa de uma ´tauba´ que comprei, paguei e não recebi. Já se passam 15 dias!

O servidor do Juizado do Posto Feevale - com a atenção que sempre propicia em seus atendimentos - arguiu:

- Vamos requerer dano moral, diante da desídia da madeireira em cumprir com sua obrigação? Pode ser?

O homem humilde não concordou:

- Seria justo o pedido de dano moral, diante de tudo que aconteceu e da dificuldade que venho encontrando em conseguir consertar minha carroça. Porém quando criança fui educado que o dinheiro se conquista com trabalho e não com a grana dos outros. Portanto, não quero nada mais do que é meu. Quero  apenas a ´tauba´ que paguei.

Assim, o servidor confeccionou a petição inicial em conformidade com o anseio da parte e requereu apenas a entrega da tábua avaliada em R$ 3,00. A citação foi expedida. Na audiência, o conciliador saudou as partes e de imediato questionou a madeireira.

-  Existe alguma proposta de acordo?

A empresa representada pelo seu proprietário, alegou que houvera um erro, que este tipo de conduta não era comum, que a empresa era idônea, que se sentia envergonhada com o episódio etc. E apresentou a seguinte proposta:

- A empresa entrega, neste o ato, o pedaço novo de madeira que se encontra no veículo da empresa, aqui na frente e para compensar os transtornos oferece por liberalidade 100 reais ao autor.

O carroceiro pediu a palavra.

- Doutor, não considero correto receber os 100 reais. Adquiri um produto pelo valor de três reais. Por que, então, receberia 103 reais? Não aceito a proposta. A minha é a seguinte: deem-me a ´tauba´ nova que comprei e paguei, para então encerramos o processo.

O conciliador propôs a suspensão momentânea, para que o proprietário da madeireira buscasse a tábua e assim fosse lavrado o termo de audiência e de entrega do produto da compra.

A madeireira desabonada com o fato aceitou prontamente a proposta feita pelo conciliador, buscou o produto e ratificou o termo, se envergonhando de temporariamente lesar uma pessoa tão honesta e idônea como o carroceiro. Este, após o ato jurisdicional, já com sua tábua na mão, dirigiu-se ao cartório do JEC e agradeceu emocionado e sorridente ao servidor "pela dedicação e atenção prestada no meu atendimento".

O advogado Isaias Blos (OAB-RS nº 81.245) que atuou como conciliador no caso, relembra até hoje da audiência ocorrida há dois anos. E ainda festeja "o belo exemplo de cidadania e integridade do homem que ignorou a tentação da pecúnia e recebeu apenas o que era seu de fato e de direito".

Blos - ao encerrar o relato feito ao Espaço Vital - tem a esperança de que "casos de honestidade como o do carroceiro sejam seguidos em nosso País, para que possamos ter um Brasil muito melhor".