domingo, 10 de novembro de 2013

O JORNALISTA E O ELEITOR

O JORNALISTA E O ELEITOR

Texto coletivo. Autores: Regina Giraldi, Marco Mendes, Maura Krasucki Alencar, Maria Emília Tenório Arruda, Itamar Rabelo.

Fonte: www.Jornaletes.blogspot.com



ilustração conto jornalista
- Serve falar que fui fechado num gargalo de avenida por um carro de propaganda política? Estou quase detonando o candidato. Comentou o eleitor.
- É... política é assim mesmo. Sem governo!!! Risco de colisão a todo instante. Afirmou o jornalista.
- Desde que não atinja terceiros, tudo bem.
- Não atingem terceiros não... atingem primeiros, segundos, terceiros, quartos, quintos... Ninguém escapa da direção perigosa.
- O pior é que é verdade... Ninguém escapa de um barbeiro. Político é tudo igual. Fogo é escolher em quem votar! Nenhum político é o ideal, esse é o problema. Como resolvê-lo? Respondeu o eleitor indignado.
- Há problemas na vida que não tem solução! A solução é buscar uma nova maneira de viver. Mudança de planos! Se tiver um problema a resolver não arrume outro, pois aí terá dois problemas. A solução depende dos instrumentos de que dispomos. Faça o melhor que puder, com os instrumentos de que dispõe. Aconselhou o jornalista.
- Mas “vamo que vamo”, um voto a menos na eleição. Disse o eleitor orgulhoso, sentindo o poder do voto em suas mãos.
- Outro dia, um desses políticos compareceu ao jornal. Pediu que publicassemos uma boa matéria a seu respeito. Disse que valia publicar um parágrafo sobre “qualquer sabedoria”... ainda que barata. Disse que no jornal transformamos pedregulho em diamante!!! Dá prá acreditar? Um patife, que infelizmente ajuda sustentar o jornal. Vivemos do lixo, da morte, da doença, da corrupção. O homem é mesmo o lobo do homem.
- É amigo, sabedoria não deve ser confundida com inteligência, esperteza, astúcia e principalmente com aquele que, em nossa sociedade altamente desigual, foi privilegiado pela oportunidade de adquirir conhecimentos, dedicando-se mais aos estudos. Ponderou o eleitor.
- Muitas vezes nos deparamos com pessoas iletradas que sabem contornar, enfrentar e superar as vicissitudes que se apresentam, em virtude de experiências vividas e com base no senso comum, com maior eficiência do que muitos "doutos". Isso nos leva num primeiro momento, a considerar como forma de sapiência, o saber viver... No entanto, outra pergunta se apresenta: o que é saber viver?
- Existem dois tipos de sabedoria. A sabedoria inferior é dada pelo quanto a pessoa sabe e a superior é dada pelo quanto ela tem de consciência de que nada sabe.
- Hummm... pensamento socrático...
- Há pessoas que desejam saber só por saber - isso é curiosidade; outras, para alcançarem a fama...  isso é vaidade. Outras, para enriquecerem com a sua ciência...  isso é um negócio torpe. Outras, para serem edificadas... isso é prudência. Há também quem a utilize para edificar os outros... isso é caridade, o que deveria ser o centro das ações sociais.
- Utilizar o conhecimento e a sabedoria para o bem do povo, isso sim é que é política! O resto é direção perigosa mesmo! Arrematou com verborragia o eleitor.
- Amigo, isso dá uma ótima notícia, mas infelizmente os políticos sabem que não dá voto. Exclamou o jornalista.
- Eu estou por aqui com esses candidatos. Cheguei ao cume! Agora me sinto um caminhão sem breque, montanha abaixo.
- A vaidade impera na política. Construção de praças, jardins, campos de futebol. Nada de escola, hospitais, saneamento básico. Precisamos de pessoas sábias no governo e não vaidosos. Dizia o indignado eleitor.
- Diz o salmista: "vaidade das vaidades, tudo é vaidade!" Será?
- As cidades precisam de praças e jardins para que fiquem bonitas e agradáveis. Onde afinal começa e termina a busca pela beleza e a busca pela vaidade? Perguntou o jornalista.
- A beleza está no ser...
- Agora estou aqui “caraminholando” para buscar inspiração e dar minha contribuição, mas minha "sabedoria" (ou seria o bom senso funcionando?) tem me censurado... Seria a censura um tiquinho de sabedoria? O mais sábio seria, talvez, silenciar? Voto em branco?  Perguntou o eleitor.
- Concordo que às vezes silenciar é uma forma intrigante de sabedoria. Penso, no entanto, que há formas e formas de silêncio bem como de manifestação. Um gesto de carinho vale mais do que mil palavras. Um olhar, um sorriso, uma atenção são formas explícitas de amor para com o povo.  Amar é ter atitude!! Afirmou o jornalista.
- Eu sou mesmo pavio curto. Perdoe meu lado Gregório de Matos ou Boccage... Sou incorrigível!! Quando menos espero já saiu besteira da minha boca... Eu deveria andar com uma plaqueta no peito escrito: Atenção! Proibido para menores! Esbravejou o eleitor.
- Você está certo. Também acredito que se não partirmos do amor por nós mesmos, não saberemos nunca amar ao próximo.
- A propósito, você já recebeu a última edição do jornal?
- Não. Ainda não! Você está parecendo político, promete mas não cumpre... hahahah. Ironizou o eleitor.
- Vou trucidar o Rabelo... Ele afirmou que já tinha etiquetado e enviado, lembra?...ele vai ver só... heheheeheheeh... Respondeu o jornalista.
- Ora, ora. Vamos dar um crédito ao Rabelo. É cansaço.  Ele trabalha demais. Me disse várias vezes: “minha terça-feira é complicada”. O cansaço o levou para o descanso no colchão.  O atraso está justificado. Amenizou o eleitor, amigo de Rabelo.
- E essa população que não consegue ver o que está acontecendo. Tem o poder nas mãos e sempre elege os corruptos! Prosseguiu o eleitor indignado.
- O mais medonho olhar é daquele que não quer ver. Estão de olhos bem abertos. O problema é que a política nesse país é uma caixa preta. É como a noite! Corroborou o jornalista.
- Desde quando olhos abertos significam enxergar. Conheço coruja cega que vê muito melhor dos que as que possuem visão noturna... Arre!! Há uma distância enorme entre olhar e ver. Só vemos quando nos despimos de interferências, pré-conceitos.
- Até pouco tempo atrás eu pensei que eu estava vendo as coisas... mas descobri que só estou olhando... ver é mais profundo, né?
- Bueno, eu penso que sim. Aceito controvérsias... O essencial é invisível aos olhos. Proferiu o jornalista.
- Isso é o mesmo que as aparências enganam? Perguntou o eleitor.
- Mais ou menos... as aparências só enganam aqueles que não procuram o essencial, que é invisível aos olhos...
- Falar em ver o essencial, o que os políticos mais temem num debate é não ter respostas. Disse o eleitor.
- Pois é. O que o medo nos faz! Faz-nos ver da vida um jogo, um duelo. Tememos não ter respostas e é tão humano não ter respostas. O essencial é ser humano. Respondeu o sensato jornalista.
- Eu pergunto aquilo que não sei ou sobre aquilo que tenho dúvidas. Por isso você percebeu que eu pergunto bastante. Nada sei e tenho dúvidas de tudo... hahaha. Eu não temo não ter respostas... aliás, não dou muito bola para isso. O meu maior temor é ficar um dia sem fazer perguntas. Brincou o eleitor.
- E para que fazer perguntas se não dá bola para respostas? Perguntou o jornalista.
- Eu disse que não dou bola para o fato de não saber responder... Para as perguntas que faço para buscar nortear meu caminho, dou bola para as diferentes respostas. Fico com aquelas que apresentam as consequências da escolha inevitável, entendeu?
- Com essa língua preta, ainda vou arder no mármore do inferno... Tô ferrado mesmo! Quem sabe Deus tenha compaixão desta pobre alma e resolva perder o livrinho Dele... assim espero, amém. Só tenho um consolo, caso isso não aconteça... Encontrarei muitos amigos no fogo eterno... hahahah. Prosseguiu o eleitor.
- Todos advogados com certeza... hahahahhah!!!!!! Satirizou o jornalista.
- Meus amigos advogados estarão no purgatório, negociando a passagem de alguns amigos magistrados... hahahah Ironizou mais uma vez o eleitor.
- Cuidado com o Juiz dos Juízes... Ele pode escutar!!!!
- Ele é pai... De pai não tenho medo. Respeito o meu e o dos outros.
- Agora vou, mesmo. “Basnoites”. To indo, mas continue perguntando, para que suas perguntas encontraremos as respostas.
- Vou me despedindo, também. Boa noite, adorei o papo, como sempre... inté.
E se foram, cada um para o seu lado. Um com as respostas, outro com as perguntas. Afinal, em meio à política, perguntas e respostas nunca cruzam caminhos. Quando vem a pergunta, foge a resposta. Quando a resposta é certeira... a pergunta já é outra...

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