sábado, 12 de outubro de 2013

Compartilhando Carinho de Criança


Compartilhando Carinho de Criança

Rodolfo Pamplona Filho
Sem nojo, frescura ou receio
do convívio naquele meio
e do contato com o moribundo,
que não vive mais em seu mundo.
Mesmo sem as amarras sociais,
cuidar com um carinhoso talento
daquele que não tem tempo mais
e vive seu derradeiro momento
Ser simplesmente criança,
simbolizando toda a esperança,
até daquilo que nunca irá acontecer,
e conversar sobre o que fazer
e qual é a sua vontade,
que independe da idade
e de tudo que reprime
ou da dor que oprime...
E, sem precisar qualquer pedido,
abrir um largo sorriso,
que ilumina qualquer ambiente
e renova o brilho no olhar e na mente
de quem o destino já traçou
o fim de que, fugir, se tentou...

Santiago-Chile, 28 de junho de 2012.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Conquista em Ciudad Real


Conquista em Ciudad Real

Rodolfo Pamplona Filho
Vini, vidi et vici.
O sabor da conquista
é maravilhoso e inesquecível.
Realizar em tempo recorde
aquilo que outros
não conseguem fazer
em toda uma vida
é uma satisfação
que não se quer abrir mão...
Sentir-me como meu amado
Esquadrão de Aço,
buscando mais um...
mais um título de glória
é uma felicidade comparável
a escrever um livro,
plantar uma árvore
ou ter um filho:
é preciso viver para sentir!
E tudo que fica
é a sensação
e a vontade de dizer:
Para o alto e avante!


Ciudad Real, 04 de outubro de 2012

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

José Saramago



Não perguntamos ao sonhador por que está sonhando, não requeremos do pensador as razões do seu pensar, mas de um e de outro quereríamos conhecer aonde os levaram, ou levaram eles, o sonho e o pensamento, aquela pequena constelação de brevidades… Porém, ao poeta-sonho e pensamento reunidos não se lhe há de exigir que nos venha explicar os motivos, desvendar os caminhos e assinalar os propósitos. O poeta, à medida que avança, apaga os rastos que foi deixando, cria atrás de si, entre os dois horizontes, um deserto, razão por que o leitor terá de traçar e abrir, no terreno assim alisado, uma rota sua, pessoal, que no entanto jamais se justaporá, jamais coincidirá com a do poeta, única e finalmente indevassável. Por sua vez o poeta, tendo varrido os sinais que, durante um momento, marcaram não só o carreiro por onde veio, mas também as hesitações, as pausas, as medições da al tura do sol, não saberia dizer-nos por que caminho chegou aonde agora se encontra, parado no poema ou já no fim dele. Nem o leitor pode repetir o curso do poeta, nem o poeta poderá reconstruir o percurso do poema: o leitor interrogará o poema feito, o poeta não pode senão renunciar a saber como o fez. 

(trecho do prefácio de José Saramago ao livro O Menino e o Travesseiro, de Horácio Costa, ed. Geração Editorial, pg8)

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O Canto do Cisne


O Canto do Cisne

Rodolfo Pamplona Filho
A proximidade da despedida
faz com que a melodia
mais encantadora
seja continuamente entoada,
como a forçosamente lembrar
os momentos de fascinação
que ficaram no passado
e que nunca voltarão...
Assim, sai de cena o Cisne,
dando lugar, no palco da vida,
a quem viverá o futuro...

Madrid, 06 de outubro de 2012.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Medo, Caos e Dor


Medo, Caos e Dor

Rodolfo Pamplona Filho
A trilogia do desespero
foi o mote perfeito
para a completa compreensão
da epopéia, com nascimento,
apogeu e decadência
do cavaleiro das trevas,
que nos ensina como lidar
com nossos instintos
mais primitivos,
muitas vezes reprimidos,
mas sempre presentes...

Madrid, 06 de outubro de 2012,
remetendo à noite de 04/10/2012, em Ciudad Real

domingo, 6 de outubro de 2013

Consideração do Poema


Consideração do poema

Não rimarei a palavra sono
com a incorrespondente palavra outono.
Rimarei com a palavra carne
ou qualquer outra, que todas me convêm.
As palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem,
no céu livre por vezes um desenho,
são puras, largas, autênticas, indevassáveis.
Uma pedra no meio do caminho
ou apenas um rastro, não importa.
Estes poetas são meus. De todo o orgulho,
de toda a precisão se incorporam
ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius
sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo.
Que Neruda me dê sua gravata
chamejante. Me perco em Apollinaire. Adeus, Maiakovski.
São todos meus irmãos, não são jornais
nem deslizar de lancha entre camélias:
é toda a minha vida que joguei.
Estes poemas são meus. É minha terra
e é ainda mais do que ela. É qualquer homem
ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna
em qualquer estalagem, se ainda as há.
– Há mortos? há mercados? há doenças?
É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras,
por que falsa mesquinhez me rasgaria?
Que se depositem os beijos na face branca, nas principiantes rugas.
O beijo ainda é um sinal, perdido embora,
da ausência de comércio,
boiando em tempos sujos.
Poeta do finito e da matéria,
cantor sem piedade, sim, sem frágeis lágrimas,
boca tão seca, mas ardor tão casto.
Dar tudo pela presença dos longínquos,
sentir que há ecos, poucos, mas cristal,
não rocha apenas, peixes circulando
sob o navio que leva esta mensagem,
e aves de bico longo conferindo
sua derrota, e dois ou três faróis,
últimos! esperança do mar negro.
Essa viagem é mortal, e começa-la.
Saber que há tudo. E mover-se em meio
a milhões e milhões de formas raras,
secretas, duras. Eis aí meu canto.
Ele é tão baixo que sequer o escuta
ouvido rente ao chão. Mas é tão alto
que as pedras o absorvem. Está na mesa
aberta em livros, cartas e remédios.
Na parede infiltrou-se. O bonde, a rua,
o uniforme de colégio se transformam,
são ondas de carinho te envolvendo.
Como fugir ao mínimo objeto
ou recusar-se ao grande? Os temas passam,
eu sei que passarão, mas tu resistes,
e cresces como fogo, como casa,
como orvalho entre dedos,
na grama, que repousam.
Já agora te sigo a toda parte,
e te desejo e te perco, estou completo,
me destino, me faço tão sublime,
tão natural e cheio de segredos,
tão firme, tão fiel… Tal uma lâmina,
o povo, meu poema, te atravessa.



(C.Drummond de Andrade)