sábado, 14 de novembro de 2015

Filosofando em Alemão

Rodolfo Pamplona Filho






Nós somente podemos filosofar em alemão.
Quem disse que "sol" é masculino?
Quem disse que "lua" é feminino?
Por que nós identificamos a natureza?
Por que nós damos à natureza um determinado gênero?
O Sol, El Sol, Le Soleil, Il Sole ...
A Lua, La Luna, La Lune, La Luna ...
Se for para atribuir gênero, quem dá vida é sol e a lua é o guardião ...

Salvador, 09 de setembro de 2011.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Noite morta

Manuel Bandeira




Junto ao poste de iluminação
Os sapos engolem mosquitos.


Ninguém passa na estrada.
Nem um bêbado.


No entanto há seguramente por ela uma procissão de sombras.
Sombras de todos os que passaram.
Os que ainda vivem e os que já morreram.


O córrego chora.
A voz da noite . . .


(Não desta noite, mas de outra maior.)


Petrópolis, 1921

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Diagnóstico: Rotina

Rodolfo Pamplona Filho








A rotina é inevitável
para qualquer pessoa,
mas adorá-la e desejá-la
rígida, imutável, chata...
soa patológico...

O que mata uma paixão
não é o fim do amor,
mas a falta de vibração
e de ânimo de quem
se busca amar...

A falta de vontade
de dançar, de beijar,
de fazer, de tudo,
um pouco, vivendo
pequenas loucuras...

A falta de encantamento
com a música, a cor e a poesia...
Vira falta de tesão
e de calor na alma,
na cama e no drama...

Salvador, 09 de janeiro de 2013.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Lembrança

Cláudia Barral




Te amo como a moça que arde em febre e não dorme
Por longos corredores desertos
Antes mesmo de te amar
Como a um filho
Como a um irmão
Como alguém partindo em breve
Como é o consentir
Como o momento em que acaba a missão de esperar
Como o sol nos pátios dos sanatórios, dos presídios e
            [entre rostos de vidro dos santos das catedrais
Como se sua voz fosse a luz
Como alguém que acabou de dar-se conta que é feito
                                              [somente de lembranças

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Soneto da Sintonia Infalível

Rodolfo Pamplona Filho






Ainda que divididos pelo Atlântico
e por fusos horários incompatíveis,
o que um sente de um lado,
o outro automaticamente responde.

Se um levanta assustado,
encontrará o outro conectado,
como se a energia gerada
fosse automaticamente repassada.

É realmente impressionante,
como tudo surge em um instante,
permitindo a imediata compreensão

pois o que, para muitos, é acaso,
para mim, é o mais evidente traço
de uma sintonia infalível de paixão.

Pamplona/Espanha, 03 de outubro de 2012.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Canção

Cecília Meireles








Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar


Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.


O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...


Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.


Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

domingo, 8 de novembro de 2015

Duplo Soneto Ao Melhor Amigo

Rodolfo Pamplona Filho





Perdoe-me se eu nunca disse antes,
mas eu te amo muito, meu amigo:
nada na minha vida é relevante,
se eu não puder contar contigo.

Acordei assustado de madrugada,
pois sonhei que tinhas ido embora,
Por isso, corri para, em palavras,
registrar o que senti agora:

se, por acaso, eu me for
antes da tua partida,
guardas bem esta despedida

pois significa o fim do torpor,
que aprisionava meu sentimento
para fazer este testamento:

na vida, fui, de tudo, um pouco:
sucesso e fracasso, médico e louco,
gozo e cansaço, perda e laço,
lágrima e amasso, soco e abraço.

Mas nada valeu mais a pena
do que descobrir a pequena
jóia que dois homens de verdade
podem fazer para a eternidade

saber que não importa a distância,
nem o choro incontido de criança,
ou o inevitável decurso do tempo,

O mundo jamais verá algo mais puro
do que a amizade que rompe muros
e dura mais do que o sopro do vento.

Buenos Aires, 21 de junho de 2011, 4:30 am.