sábado, 30 de abril de 2016

Eu


 Paulo Leminski
 





eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora

quem está por fora
não segura
um olhar que demora

de dentro de meu centro
este poema me olha

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Wilderness







How many times
have you heard my shy voice
telling feelings that
don’t have meaning in words?

How many times
must I tell you that I miss you
while a storm of tears
keep crumbling from my face

And even if
the sky should fall down
and the ocean
turns to a desert

I won’t
be afraid of passion
‘cause the more you love,
the more you grown

So, do you think it’s over
and time will pass
like summer rain
So, do you think you can let me
with my wilderness
waiting for a call,
wishing you were here again

Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho (1992)

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Os mortos

 Ferreira Gullar




os mortos veem o mundo
pelos olhos dos vivos

eventualmente ouvem,
com nossos ouvidos,
       certas sinfonias
                 algum bater de portas,
       ventanias

           Ausentes
           de corpo e alma
misturam o seu ao nosso riso
           se de fato
           quando vivos
           acharam a mesma graça

               

De Muitas Vozes (1999)

quarta-feira, 27 de abril de 2016

O utopista

 Murilo Mendes
 






Ele acredita que o chão é duro
Que todos os homens estão presos
Que há limites para a poesia
Que não há sorrisos nas crianças
Nem amor nas mulheres
Que só de pão vive o homem
Que não há um outro mundo.

terça-feira, 26 de abril de 2016

Resposta




Eu respondo com o silêncio
Dos que foram forçados...
... a calar...
... por ter coragem
Eu respondo com as lágrimas
Das mães da Plaza de Mayo...
... que choraram...
... de verdade
Eu respondo com o sangue
Jorrado e derramado...
... na Praça da Paz...
... onde se fez a guerra
Eu respondo com a dor,
A dor que torturados...
...que morreram por não pensar...
... igual a quem tinha...
O poder...
... para mudar
O poder...
... para fazer sofrer
e matar.

(1991)
Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Vou-me embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira




Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive


E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

domingo, 24 de abril de 2016

Direito Skinhead



Rodolfo Pamplona Filho

Princípio da Truculência Máxima:
In dubio, pau no réu..
Tal qual em “O Pequeno Príncipe”,
você se torna eternamente responsável
pelas empresas que cria...
Afinal de contas,
o processo judicial não pode
ter sensação de coito interrompido...

Quebra de sigilo fiscal,
bancário, telefônico e pessoal:
tudo isso é fichinha
para o que se está
disposto a fazer,
para, em seu entender,
cumprir o seu dever...

Bloquear suas contas,
restringir o seu crédito,
mandar prendê-lo,
se deixassem...
Não há limites
para a sede de justiça,
ainda que seja para beber
todo o seu sangue e seu suor...

Quando o Direito
não é respeitado,
tanto na vida,
quanto no processo...

Quando o Direito
parece ser apenas
um conto de fadas
ou uma história de Carochinha...

Quando o Direito
reconhece que não há
limites para a criatividade humana
quando se quer manobrar para não honrar,
fugir ou fraudar direitos...

Quando o Direito
definitivamente
precisa ser reinventado
para ser efetivado,
não há mais salvação:
É o tempo e lugar
do Direito Skinhead!

Salvador, 04 de setembro de 2010, estressado em um sábado...

sábado, 23 de abril de 2016

Eu Protesto!

Cláudia Villar


Eu protesto pela falta de sonhos,
Protesto pela falta das vontades,
Pela ausência das estrelas,
Pela fuga da lua,
Pela verdade não mais nua e tão crua!
Eu protesto pelas injustiças sociais,
Pelos raros dias em paz,
Pela chuva que demora em cair,
Pelo sol que decide sumir,
Pelo vento que não leva minhas dores,
Pelo tempo que não cura os amores,
Pelo choro que demora em cair,
Pelo riso que se esconde de mim,
Pelo rosto envelhecido que descobri hoje no espelho que é o meu,
Protesto, protesto, protesto!
Eu protesto pelas contas que chegam,
Protesto pelo dinheiro que falta,
Protesto pela água que some,
Pela dor que me consome,
Pelas maldades dos homens,
Pela burrice não escondida,
Pela inteligência adormecida,
Pela ilusória vida vivida,
Pela esperança esquecida.
Eu protesto!
Pela flora enganada,
Por toda a fauna roubada,
Pelos ladrões nas ruas,
Pelas verdades não mais nuas e tão cruas!
Eu protesto, eu protesto, eu protesto!
Por não ser tão lida,
Por um dia ter sido esquecida,
Por uma vida de pesadelos,
Pelos espelhos embaçados,
Pelas vitrines enganadoras,
Pelas mídias aniquiladoras,
Por um mundo mais feliz,
Protesto, protesto, protesto!
Por um Brasil mais vivo,
Por uma Copa honesta,
Por uma saúde saudável,
Por uma educação que eduque,
Por uma vida cheia de luz,
Por mais oração e menos humilhação.
Eu protesto!
Por um povo acordado,
Por um país não mais adormecido,
Protesto para que essa febre não se torne modismo
Para que, realmente, sejamos vencedores
Para não sermos mais simples secundários atores.
Protesto, protesto, protesto!
Por livros espalhados,
Por leituras disputadas,
Por bravura à Pátria Amada,
Por uma Literatura esparramada.

Enfim, eu protesto pela leitura desse poema

Por uma alma não mais pequena
Pelo compartilhamento sem fim
Pelo seu direito de concordar ou discordar de mim.






sexta-feira, 22 de abril de 2016

Meretrizes da Zona Sul (extended version)









São como rosas,
cheias de espinhos;
são como pedras,
mudando caminhos;
anjos das alcovas, com lábios de mel...
vidas amargas, no mais puro fel...
Ela são
Rainhas da Noite, de uma “Noite de Blues”!
Pobres mulheres!
Meretrizes da Zona Sul

Corpos maculados,
com almas tão puras
Feras escondidas
em doces criaturas.
Preferem a dor do que a solidão,
vendendo a si próprias, em busca do pão.
Ela são
Rainhas da Noite, de uma “Noite de Blues”!
Pobres mulheres!
Meretrizes da Zona Sul

Deusas pagãs
Senhoras da Vida
Fêmeas amadas
Temidas, feridas
São bichos selvagens em jaula de pedra
Crianças perdidas no meio da selva
Ela são
Rainhas da Noite, de uma “Noite de Blues”!
Pobres mulheres!
Meretrizes da Zona Sul

“É melhor ser meretriz do que ser ladrão” (será mesmo?)
“Vendo meu corpo, mas não vendo minha alma!” (será mesmo?)

Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho
(2004)

quinta-feira, 21 de abril de 2016

És autêntico?


                                              

Vivemos em uma sociedade dinâmica que sofre todos os dias com suas turbulentas exigências da mídia. Você tem que segui-las? Sim, se você quer deixar o seu Eu Sou de lado e quiser participar do Eu Copio, e não, se você preserva a sua essência e priva seus próprios desejos, criatividade e integridade. Em poucas palavras: se você segue o que os outros dizem é porque você está perdendo o seu Eu Sou, você está se jogando fora e autodestruindo seu próprio pensamento. Afinal, você faz o que quiser.
Só porque todo mundo tá usando aquele tipo de calça não significa que também tenhas que o fazer. Creio que todo e qualquer humano tem este senso de percepção, não? Lembra daquela lei que as pessoas dizem ter? Duas palavras que muita gente conhece: livre arbítrio. Já vi muitos afirmarem que temos o poder da decisão e dizer simultânea e exatamente o contrário: Temos que seguir a sociedade para sermos aceitos. Aceitos por quem? Por pessoas que deixam sua autenticidade pra seguir as outras? Por pessoas que não estão ao mínimo ligando pra quem você é de verdade? Por meros copiadores? Sim, realmente é uma triste realidade. Mas, quer saber o fato? Seja você e as pessoas do seu “universo” vão se aproximar e então não precisará mais de máscaras.
Uma atitude comum que está acontecendo atualmente é o fingimento por parte de casais. Além de ser uma das causas do triste e destruidor divórcio, esse fingimento uma hora vai magoar, tanto você próprio quanto seu/sua parceiro/parceira. Por que mentes para si mesmo para agradar alguém? Quando este alguém descobrir que foi tudo mentira, as conseqüências vão machucar. Ame a si próprio primeiro para depois amar o outro! Jamais descobrirás o amor se não sente ele por ti mesmo.
Enfim, o que devo fazer para tornar-me autêntico? Dizer sempre a verdade, mesmo que tal magoe; pensar da sua forma, não dando ouvidos aos demais que não os merecem; conhecer a si próprio, pautando a vida no seu Eu Sou, e acreditar, tanto nas concretizações dos SEUS desejos quanto em si mesmo, afinal, querer é poder. Há muita gente que discorda, mas eu sei por experiência própria que aquela frase é verdadeira. Eu quero ser rico: trabalhe e ganhe seu dinheiro. Eu quero sair logo da escola: Pule o muro. Eu quero tirar nota boa na prova: Estude, simplesmente. Porém, não é tão fácil, pois você tem que querer tudo que engloba esse seu desejo, incluindo as conseqüências e as reações. Se pular o muro pra sair da escola, levará uma boa bronca. Se estudar vai perder seu dia majoritariamente infrutífero, se fores como a maioria dos humanos.
Por fim, responda-me: És autêntico?
Não faça parte dos 95%. Seja pouco para ser muito.


Osvaldo Trindade

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Gratidão

Rodolfo Pamplona Filho




Gratidão não se exige,
não se pede, nem se espera...
É presente de um coração puro,
que não vê outra forma de agir,
na memória da marca do passado
e do alívio do auxílio no desespero...

Por isso, a ingratidão machuca
como punhaladas nas costas,
como um tapa no rosto,
como uma dor fatal no peito...

O ingrato merece mais do que repúdio:
é pena de morte no coração,
que se fecha em uma ferida purulenta,
cujos bálsamos somente são
o ostracismo ou a ressurreição do perdão...

Reconhecer-se grato é o exercício da verdadeira humildade,
que é saber que, sozinho, não se consegue nada,
pois conquistas isoladas são vitórias de Pirro,
em que obter o resultado não significa necessariamente desfrutá-lo...

Gratidão é a resposta sincera
que o afeto exige por coerência!
É a marca que renova a esperança,
que não é a última que morre, posto imortal,
mas, sim, a certeza de que
ainda se pode ter fé na humanidade

Maceió, 03 de setembro de 2010

terça-feira, 19 de abril de 2016

A vida plena






No chão, deitado. O Sol dá adeus e a crescente Lua encontra seu tempo para brilhar. Os pássaros cantam alegremente ao procurar seus cantos de passar a noite. Os algodões dos céus, mais conhecidos como nuvens, correm para o ocidente e se banham em tinta rosa-alaranjada. O crepúsculo sorri assim como uma criança alegre o faz. O vento leva folhas secas para passear no tênue lago enquanto as formigas caminham discretamente por meus braços.
A vida parece calma. O tempo vagaroso olha para mim e estende a mão para que eu me levante. O tempo senta-se ao meu lado e anuncia pertencer-me. A natureza corre os olhos pela minha alma e me julga da mesma forma que uma mão orgulhosa o faz. Por minhas narinas, o vento se aventura e volta acalorado e pobre. E então, paro de roubar o vento para meus pulmões. Em movimento, apenas um coração pulsando. Os músculos estão esperando um comando que não virá tão cedo. Sinto como se o céu fosse o chão que eu sempre tive que caminhar. Eu só tinha que esticar os pés. Voluntariamente, minha visão é tomada pela escuridão das pálpebras. As nuvens crêem que a vida me deixou, a vida continua serena e pergunta ao vento o porquê, o vento diz que é um pedido aceito de perdão e questiona ao tempo quanto tempo mais precisarei, o tempo diz que o céu deve saber, o céu escurece e afirma que só eu sei, o lago franze o cenho enquanto as formigas começam a se preocupar e o crepúsculo deixa a noite entrar em casa. Então eu senti como se realmente fizesse parte do mundo. Senti como se eu fosse uma alavanca de uma máquina imensa. Senti como se eu pudesse segurar o mundo com as minhas mãos.
Deixei o vento insistente navegar em meus pulmões novamente. Ele pede perdão por ter reclamado. Abro os olhos. O céu, preocupado, está me observando a poucos centímetros. O tempo uma vez tranquilo agora estava acelerado. As formigas pareciam tentar me acordar. A natureza sorria aliviada atrás das árvores enquanto o lago decidia se a flertava ou admirava a noite.
Estiquei vagarosamente o braço direito. O céu agora mais escuro recuou como um animal amedrontado diante de um estranho. Então o toquei suavemente. Era liso como vidro. Gelado e tímido. Minhas mãos deslizaram por ele e senti um sorriso prazeroso formar-se em minha face uma vez inexpressiva como uma folha em branco. Ele tinha que ir. Acenou e me disse que nos veríamos novamente. Contou que olhar-me-ia. Ele se foi.
O tempo se levantou começando a caminhar. Levantei-me e o abracei com força. Após retribuir o abraço, ele falou que sou seu dono, mas que devo cuidar mais dele. O tempo se foi sorrindo enquanto corria para onde meus olhos não podem alcançar. O vento corria suavemente e as estrelas começavam a entrar em cena. Elas pareciam dançar no céu noturno. Piscando para mim e enciumadas pela Lua que roubava parte do seu alvo e discreto brilho.
Desta vez, levantei meu corpo e parei de sentir os batimentos cardíacos do mundo. Senti um calafrio vindo das minhas costas apontadas para o sul. Olhei para trás e ali estava o vento. Parado. Quieto. Paciente. Anunciando:
- Como o tempo, a ti pertenço.
Eu abri os braços e fechei os olhos enquanto levantava minhas mãos murmurando:
- Sopra.
Ele passou por mim com velocidade e senti como se estivesse com as rédeas de um cavalo veloz na mão. Ele me entendia. Eu o entendia. Eu sabia seu nome. Então relaxei os braços e os encostei ao meu corpo fazendo o vento parar. Lá no alto, ele sorria pra mim.
Corri. Corri. Eu estava leve. Livre. Solto. Autoconfiante.
Eu estava voando.
Osvaldo Trindade

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Corpo e Coração




Rodolfo Pamplona Filho


Eu não rifo meu coração.
Dele, não faço leilão.
Meu coração não se rifa,
porque ele não é meu!
De quem mais ele seria,
se não seu?

Meu coração é
muito mais importante
que meu corpo,
que é apenas uma parte,
nem de longe a mais relevante
e que não se confunde com o todo.

O meu corpo não é rifado,
mas, sim, disponibilizado,
em um comodato necessário
exercendo quase uma função social,
ao satisfazer um instinto animal
e também de curiosidade científica.

E assim vou vivendo
e também aprendendo
a saber separar
o aproveitar e o amar,
o simples dar e o  entregar,
o curtir e o se permitir,
o prazer e o viver...

Salvador, 12 de dezembro de 2011.


Perdendo a Fé



Rodolfo Pamplona Filho
 
 
 
 
Será possível definir o momento
em que se passa a crer em algo?
Se isto for aceitável,
por que não o seria
o instante em que se perde a fé?
A fé como a certeza
no que não se vê...
A fé como a esperança
que não se está só...
A fé como a motivação
para ainda confiar em alguém...

A fé não se explica: sente-se...
como um sopro no calor,
um abraço no temor,
uma luz na escuridão,
uma pausa na aflição...
A fé consola e acalma,
traz paz ao fundo da alma,
transforma a derrota em vitória
e muda o sentido da história.

Em que se perde a fé?
No homem, na lição,
na promessa, na salvação,
no governo, no projeto,
no caminho estreito e reto...
Perde-se fé na igreja
ou na comunidade,
na capacidade benfazeja
de falar a verdade...

Há como não perder a fé,
quando isto soa inevitável?
Há como permanecer de pé,
diante do inominável?
Há como acreditar na graça,
sem esperar um salvador?
Perder a fé é uma desgraça...
E isto é desolador,

pois o que se pode fazer quando
se descobre ter perdido a fé?
Reencontrar a estrada de outrora,
como se tantos passos
já não tivessem sido dados?
Como se tantas experiências
não tivessem diferentes lados?
Como se fosse possível desprezar
toda a vida posterior?
Como se a vontade pudesse apagar
singelamente toda dor?

Perdi a fé,
perdendo a fé...
Salvador, 07 de novembro de 2010.

domingo, 17 de abril de 2016

The Watch, The Clock, The Time



Rodolfo Pamplona Filho


The Watch...
The Clock...
The Time...
What if
I could never die,
would I have time
to feel that I'm alive?
I would like to stop the clock
to see if I can get more...
time...

The Watch...
The Clock...
The Time...
I wanna have a clone
or a lot of ones
to make everything
I wanna live once more...
Or simply
stay lay in bed
thinking about
what should I have
do
to
spend more time with you...

The Watch...
The Clock...
The Time...

Praia do Forte, 11 de dezembro de 2011.


sábado, 16 de abril de 2016

MATANDO CARPINEJAR


Por Fabrício Carpinejar.


Não admitimos o ódio quando amamos. Somente admitimos quando separamos. Por isso que é incompreensível a mudança radical de opinião da ex. De um dia para outro.

Ela não mudou, escondeu. Não foi coroada por uma epifania, muito menos decidiu ouvir suas amigas.

O ódio já existia durante o relacionamento, fazia suas economias, seus investimentos, separava frases, ofensas e diálogos para fundamentar a distância. Ela é que não confessou por medo de ser inconveniente ou para se preservar e não ser taxada de neurótica.

Se não agimos com naturalidade com os nossos pensamentos, como seremos espontâneos?

Ao não estragar o momento, estragamos - num único rasgo - a vida inteira a dois. O que deixamos de contar nos enfraquece e será cobrado igual, com a mesma severidade se fosse usada a franqueza.

Censurar o ódio é anular parte do amor e de sua revanche. Quem nunca diz que odeia reprime a própria cura. Adoece o quarto e contaminas as roupas.

Partilhar a raiva é a maior demonstração de ternura que conheço. É permitir que o par cuide e conheça nossa vulnerabilidade. Só o maniqueísmo não sente vergonha. Só a perfeição não pode se apaixonar.

Eu tenho ganas de destruir minha namorada, raivas de aniquilar, vontade de abrir suas córneas e beber seu passado. Não é sentimento vão e passageiro, desejo que desapareça de minha frente para chamá-la em seguida com todo o desespero. Para perdoá-la, eu me perdôo primeiro. Aceito minhas maldades imaginárias.

Amor pleno é quando o ódio termina também sendo correspondido.

Cínthya Verri criou o blog Matando Carpinejar. Ela me destroça nos desenhos para me preservar a seu lado. Há um mês, carrega um caderninho para retratar violências e apressar o inferno.

Curioso que me assassina e sofre junto, tem um pesar autêntico no meio dos traços. Conversa com a ilustração:

- Coitadinho! Que pena isso estar acontecendo.

Demonstra que seu ciúme não é burro, é bem inteligente.

Não é fácil. Confesso que fico cansado de tanta ressurreição




sexta-feira, 15 de abril de 2016

Entre Amantes



Rodolfo Pamplona Filho



O que é ser
o outro
na vida de alguém?
É aprender
a se sentir solto
e viver além.

Definitivamente,
é se ver
mais como gente
que tem de aprender
a ficar contente
em receber

não aceitação,
mas muito carinho,
tolerância e compreensão;
não fidelidade,
mas muitos beijinhos,
respeito e verdade;

e - claro! - amor de sobra
dos dois lados da moeda,
devolvendo, com dobra,
tudo que se entrega,
sabendo que o futuro é agora
e que todo tempo é só um instante,
quando toda espera é demora
para ser, da vida, um amante.

Aracaju, 09 de dezembro de 2011.


quinta-feira, 14 de abril de 2016

A saudade e a busca pela felicidade





João Vitor Alves

O que te faz feliz?
Você é feliz?
Quem lhe faz feliz?

É curioso notar como a distância aproxima,
como a saudade reanima...
faz ver o não visto!

Estar perto e longe,
próximo e distante,
permite ir adiante...
na busca pela felicidade!

Em qualquer idade,
a saudade responde...
ao que se entende por felicidade.

Salvador, 30 de novembro de 2011.



quarta-feira, 13 de abril de 2016

Constatação Óbvia


Rodolfo Pamplona Filho




Quanto mais o tempo passa,
quanto mais velho eu fico,
mais a vida adulta parece ser
aquele treco frustrante e idiota
que te impede de ler HQ's...


Salvador, 28 de julho de 2013.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Incelença pra terra que o Sol matou



Elomar Figueira Melo





Levanto meus olhos
Pela terra seca
Só vejo a tristeza
Qui disolação
E uma ossada branca
Fulorano o chão

E o passu-Rei, rei do manja
Deu bença à Morte pra avisa
Prus urubu de otros lugá
Qui vince logo pra janta
Do Rei do Fogo e do lũá

Do lũá sizudo
Do Ri Gavião
Mais o sol malvado
Quemô so imbuzero
Os bode e os carneros
Toda a criação
Tudo o sol quemô

É qui tão as era
Já muito alcançada
A palavra vea
Reza qui havéra
De chegá um tempo
Só de perdedera

Qui só havéra de iscapá
Burro criolo e criação
Qui pra cumê levanta as mão
E qui um irmão pra otro irmão
Saudava c'essa pregação

Lembra qui a morte
Te ispera meu irmão
E o sol da má sorte
Rei da tribusana
Popô sussarana
Carcará ladrão
Isso o sol popô

Mais num há de sê nada
Na função das besta
Purriba da festa
Pirigrina a fé
Sei que ainda resta
Cururu-têtê

Na minha casa hai um silenço
A tuia pura e o surrão penso
O meu cachorro amigo menso
Deitô no chão ficô in silenço
E nunca mais se alevanto

Inté os olhos d'água
Chorô qui seco
E o sol dessas mágua
Quemô so imbuzero
Os bode e os carneros
Toda a criação
Tudo o sol quemô

No Ri Gavião
Tudo o sol quemô
Toda a criação...


segunda-feira, 11 de abril de 2016

O QUE UM PROFESSOR É CAPAZ DE FAZER...







Esta é especial pra quem ja foi professor, senão pra quem já foi aluno.

O fato narrado abaixo é real e aconteceu em um curso de Engenharia da USJT (Univ. São Judas Tadeu), tornando-se logo uma das 'lendas' da faculdade.

Na véspera de uma prova, 4 alunos resolveram chutar o balde: iriam viajar juntos. Faltaram a prova e então resolveram dar um 'jeitinho'. Voltaram a USJT na terça, sendo que a prova havia ocorrido na segunda. Então, dirigiram-se ao professor:

- Professor, fomos viajar, o pneu furou, não conseguimos consertá-lo, tivemos mil problemas, e por conta disso tudo nos atrasamos, mas gostaríamos de fazer a prova.

O professor, sempre compreensivo:

- Claro, vocês podem fazer a prova hoje a tarde, após o almoço.

E assim foi feito. Os rapazes correram para casa e racharam de tanto estudar, na medida do possível. Na hora da prova, o professor colocou cada aluno em uma sala diferente, sem qualquer meio de comunicação com o mundo externo e entregou a prova:

Primeira pergunta, valendo 0,5 ponto: Escreva algo sobre 'Lei de Ohm'.

Os quatro ficaram contentes pois haviam visto algo sobre o assunto. Pensaram que a prova seria muito fácil e que haviam conseguido se dar bem.

Segunda e última pergunta, valendo 9,5 pontos :

'Qual pneu furou???'



domingo, 10 de abril de 2016

Trocando a Palavra pela Carne (soneto)


Rodolfo Pamplona Filho





Aqui estou, enfrentando o presente,
refletindo sobre o querer,
mas desejando ardentemente
que eu não precisasse escrever,

mas, sim, que a palavra fosse o beijo
e a vírgula virasse um abraço,
não havendo ponto no desejo,
sendo as reticências o nosso laço...

De todas as palavras, eu abriria mão
pela possibilidade da penetração,
passando essa noite imensa em você

mergulhando em seu cheiro,
no seu gosto, nos seus pêlos,
para uma paixão na carne viver.

Salvador, 08 de dezembro de 2011.



sábado, 9 de abril de 2016

Cogito



Torquato Neto




eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível


eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora


eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim


eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.


sexta-feira, 8 de abril de 2016

Um amor lindo...



Rodolfo Pamplona Filho



O nosso amor é lindo:
lindo, lindo de viver!
O nosso amor é tão lindo,
que, como ele, outro não pode haver.

O nosso amor é o mais bonito,
pois, como ele não pode ter
as coisas tidas como grandes,
vai se construindo nas pequenas

e, nesse processo, ilumina tudo
que, para os outros, sem ter vivido,
talvez fosse insignificante
ou passasse despercebido,

mas, para quem ama de verdade,
é puro encantamento,
chave para felicidade
e do fim de todo lamento.

E, por isso, ele é
o amor das surpresas,
da doçura, da generosidade,
da imaginação e da criatividade.

Na necessidade de buscar jeitos
e estradas vicinais para poder seguir,
esse amor inventa caminhos insuspeitos,
descobre trilhas preciosas a investir

ainda que sem sinalização
ou qualquer outra perspectiva
de ser algo mais que uma canção
que tocará toda nossa vida.

É um amor que é,
simultaneamente,
razão e fé,
coração e mente,

luz e mistério,
agito e acalento.
calor e refrigério,
paz e vento.

Salvador, 07 de dezembro de 2011.


quinta-feira, 7 de abril de 2016

O arquivo


http://www.releituras.com/vgiudice_arquivo.asp
Victor Giudice



No fim de um ano de trabalho, joão obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos.

joão era moço. Aquele era seu primeiro emprego. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.

No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário reduzido, podia pagar um aluguel menor.

Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.

Dois anos mais tarde, veio outra recompensa.

O chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo corte salarial.

Desta vez, a empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior: dezessete por cento.

Novos sorrisos, novos agradecimentos, nova mudança.

Agora joão acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento aumentou.
Prosseguiu a luta.

Porém, nos quatro anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.

joão preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos. Odiava-os. Torturava-se com a incompreensão do chefe. Mas não desistia. Passou a trabalhar mais duas horas diárias.

Uma tarde, quase ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal.

Respirou descompassado.

— Seu joão. Nossa firma tem uma grande dívida com o senhor.

joão baixou a cabeça em sinal de modéstia.

— Sabemos de todos os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso reconhecimento.

O coração parava.

— Além de uma redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de ontem, rebaixá-lo de posto.

A revelação deslumbrou-o. Todos sorriam.

— De hoje em diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos cinco dias de férias. Contente?

Radiante, joão gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao trabalho.

Nesta noite, joão não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.

Mais uma vez, mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche. Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de muita roupa. Eliminara certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.

Chegava em casa às onze da noite, levantava-se às três da madrugada. Esfarelava-se num trem e dois ônibus para garantir meia hora de antecedência. A vida foi passando, com novos prêmios.

Aos sessenta anos, o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo acomodara-se à fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas. Dormia apenas quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou vestimenta. Vivia nos campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os farrapos de um lençol adquirido há muito tempo.

O corpo era um monte de rugas sorridentes.

Todos os dias, um caminhão anônimo transportava-o ao trabalho. Quando completou quarenta anos de serviço, foi convocado pela chefia:

— Seu joão. O senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não haverá mais férias. E sua função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários.

O crânio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos. Tentou sorrir:

— Agradeço tudo que fizeram em meu benefício. Mas desejo requerer minha aposentadoria.

O chefe não compreendeu:

— Mas seu joão, logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro. Desprezar tudo isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha?

A emoção impediu qualquer resposta.

joão afastou-se. O lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se, planas, compactas. Nos lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento.

João transformou-se num arquivo de metal.

No período em que trabalhou no Jornal do Brasil, de 1994 a 1997, Victor Giudice se destacou pelo companheirismo e pelo bom humor que marcava suas histórias. Os casos com que divertia seus colegas geralmente diziam respeito a duas de suas maiores paixões: os livros e a música.

Em 1995, foi agraciado com o Prêmio Jabuti pelos contos reunidos em "O Museu Darbot e outros mistérios", que recebeu o seguinte comentário da presidente da Academia Brasileira de Letras, a escritora Nélida Piñon: "Victor Giudice é um escritor contemporâneo completo. Sua busca por uma linguagem mais simples só prova que deixou de ser um escritor de vanguarda para se tornar um mestre. Já é um clássico." (Extraído do "Jornal do Brasil" , Segundo Caderno/1998).
Victor Giudice (1934-1997) nasceu em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro. Aos cinco anos de idade mudou-se para São Cristóvão, transformado, segundo a crítica, em seu "grande sertão ficcional" , onde viveu mais da metade de sua vida. Foi professor, bancário, jornalista, músico, ensaísta e crítico. A partir de 1968, intensificou suas atividades como escritor, tendo publicado seis livros: O necrológio (contos, Editora O Cruzeiro, 1972), Os banheiros (contos, Editora Codecri,1979), Bolero (romance, Editora Rocco, 1985), Salvador janta no Lamas (contos, Editora José Olympio, 1989), O museu Darbot e outros mistérios (contos, Editora Leviatã,1994) e O sétimo punhal (romance, Editora José Olympio, 1996).

Salvador janta no Lamas ganhou o Prêmio "Ficção 89", da Associação Paulista de Críticos de Arte. O museu Darbot e outros mistérios foi agraciado com a maior distinção literária do país, o Prêmio Jabuti, e foi lançado no Salão do Livro de Paris em 1998 (Le Musée Darbot et autres mystères, Editions Eulina Carvalho).

Para o teatro, escreveu Baile das sete máscaras, inédito, e o monólogo Ária de serviço, encenado pela atriz Bete Mendes, no Centro Cultural Banco do Brasil, em 1991. Compôs e executou ao vivo a trilha sonora da peça Prometeus, do Grupo Mergulho no Trágico.

Suas atividades como professor incluem, além de oficinas de criação literária, cursos de Introdução à Ópera, Wagner e Música Sinfônica, ministrados no Centro Cultural Banco do Brasil e em outras instituições. Participou das Rodas de Leitura, no CCBB, e na Casa da Leitura e viajou pelo país como conferencista.

Vários de seus contos foram publicados nos Estados Unidos, Argentina, México, Portugal, Alemanha, Hungria, Polônia, Bulgária, Tchecoslováquia. Uma de suas narrativas mais populares, O arquivo, foi o conto brasileiro mais publicado no exterior. Outro conto, Carta a Estocolmo, foi considerado, nos Estados Unidos, um dos quinze melhores trabalhos de ficção científica de 1983 e consta da antologia Antaeus (The Ecco Press, Nova York, 1983).

Publicou ensaios e resenhas no Jornal do Brasil, O Globo, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Suplemento Literário do Minas Gerais, etc. Durante três anos assinou a coluna Intervalo, especializada em música erudita, no Jornal do Brasil, tendo sido esta sua última atividade.

A editora José Olympio planeja a publicação de uma coleção que reunirá todos os seus contos. Do primeiro volume, programado para 1999, constarão O museu Darbot e outros mistérios e o romance inédito e inacabado Do catálogo de flores.

Texto publicado originalmente no livro "O Necrológio", Edições O Cruzeiro — Rio de Janeiro, 1972, foi incluído por Ítalo Moricone em sua seleção dos "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século", Editora Objetiva — Rio de Janeiro, 2000, pág. 382.


quarta-feira, 6 de abril de 2016

terça-feira, 5 de abril de 2016

As Nossas Primeiras Pessoas



A Paulo e Augusto Padilha


As nossas primeiras pessoas
serão nossas pessoas da vida inteira.
No último átimo - xeque-mate existencial -
essas pessoas lá estarão
na nossa hora derradeira.
E hão de derramar a primeira gota de leite
e a lágrima da força aparentemente bruta
vertida em público aos olhos de cachoeira.
Vão ficar com a gente as mãos do afago quente
ensinadas rentes para a oração: “santo anjo do senhor, meu zeloso guardador”;
“a bênção, meu pai”, “Deus te dê fortuna”.
As nossas primeiras pessoas somos nós primeiramente.
E, quando se vão,
nos deixam um vão
que de joelhos vamos pedir aos pés nos darem as mãos
desses que nos são permanentemente.


Seirabeira

Poema selecionado no Concurso Dia Nacional da Poesia

segunda-feira, 4 de abril de 2016

POBRE MULHER



Tão pobre nasceu que só possuía amor no coração...
    Cresceu... Trabalhou muito e enriqueceu...
       Sua riqueza consistia apenas em sabedoria...
           Morreu deixando como herança uma única lição...
                 A de saber amar...

Carla Elisio
Poema selecionado no Concurso Dia Nacional da Poesia

domingo, 3 de abril de 2016

SEM A CLARIDADE DELA


Não sei se é o fim: não consegui sequer perceber o início ou o meio.
Foram exclusivamente dias.
A noite já não tem mais o mesmo brilho.
A lua não olha mais para mim.
Não existem estrelas; todas ofuscadas com um não sabe quê ofuscante.
A tarde já se fora como um domingo ou quarta-feira de cinzas...
O dia sequer amanhecera: proibiram o sol de sorrir para mim.
Os pássaros já não fazem coro em minha janela.
As flores não se abrem às onze horas.
O girassol não segue o sol.
Resta-me, apenas, um tempo indecifrável.
Um tempo que resgata o que eu pensei esquecer.
Um tempo que passa; mas não amanhece, entardece ou anoitece.
Apenas o tempo das lembranças.
Apagaram a luz, a tua luz que me ilumina.
Tento reacendê-la, mas não adianta: está apagada.

Itanaina Lemos Rechmann
Poema selecionado no Concurso Dia Nacional da Poesia

sábado, 2 de abril de 2016

Linguagem


Essa nossa linguagem
Tão própria de nós dois
Fala e cala
Emociona e ri
Minha pele chama
 E você responde
Nossa interlocução
Não tem fim
Ou é fim
Enfim...




Anna Fascolla
Poema selecionado no Concurso Dia Nacional da Poesia

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Mas



Me ame devagarinho
Mas não tão devagar
Me olhe com desejo pulsante
Mas de forma que não vá me amedrontar

Me deseje em qualquer lugar
Mas não a todo momento
Me procure aonde eu estiver
Mas não me traga sofrimento

Me acalme com palavras
Mas não com apenas uma expressão
Me alimente com seus olhos
Mas de forma que não vá partir meu coração

Me dê todo amor que tiver
E me entregue seu coração
Mas, se um dia eu o partir
É porque a poesia se esvaiu na multidão

Ricardo Oliveira do Nascimento

Poema selecionado no Concurso Dia Nacional da Poesia