Rodolfo Pamplona Filho
Aldrava
Aljava
A porta
ou a trava
A saída
ou a arma
A paz
ou o Karma
Salvador, 24 de janeiro de 2021
Blog para ler e pensar... Um texto por dia... é a promessa... Ficarei muito feliz em ler e saber o que cada palavra despertou... Se você quiser compartilhar um texto, não hesite em mandar para rpf@rodolfopamplonafilho.com.br. Aqui, não compartilho apenas os meus textos, mas de poetas que eu já admiro e de todas as pessoas que queiram viajar comigo na poesia... Se quiser conhecer somente a minha poesia, acesse o blog rpf-poesia.blogspot.com.br. Espero que goste... Ficarei feliz com isso...
Rodolfo Pamplona Filho
Aldrava
Aljava
A porta
ou a trava
A saída
ou a arma
A paz
ou o Karma
Salvador, 24 de janeiro de 2021
Ferreira Gullar
pouso o rosto
na mesa
que
alívio
ser apenas
tato
só o
macio
contato
o corpo
corpo
defeso
dos esplendores
da vida
Rodolfo Pamplona Filho
Como é estranho
não sentir falta
do que era essencial
até bem pouco...
Como é inovador
poder respirar novamente
sem a sensação
de que tudo sufocava...
Como é libertador
saber que há vida
fora do casulo
da sua metamorfose...
Como é revigorante
saber que há novas perspectivas
de poder viver a vida
como ela deve ser vivida.
Salvador, 26 de janeiro de 2021.
Caetano Veloso
Menino Deus
Um corpo azul dourado
Um porto alegre é bem mais que um seguro
na rota das nossas viagens no escuro
Menino Deus
Quando tua luz se acenda
a minha voz comporá tua lenda
e por um momento
haverá mais futuro do que jamais houve
Mas ouve a nossa harmonia
A eletricidade ligada no dia
em que brilharias por sobre a cidade
Menino Deus
Quando a flor do teu sexo abrir as pétalas para o universo
então por um lapso se encontrará nexo
ligando breus
dando sentido aos mundos
e aos corações sentimentos profundos
de terna alegria
no dia do Menino Deus.
(Rodolfo Pamplona Filho/Marcelo Paulo)
Duas estrelinhas
surgiram no céu de nossa cidade!
Duas pequenas rosas nasceram
no jardim da felicidade!
Será que existe maior alegria
do que viver cada dia
na enorme expectativa
do momento de sua vinda?
Se uma só já seria amada,
recebermos duas na mesma fornada
é amor que não mede tamanho!
Venham ver como a vida é bela,
Giovanna e Gabriella
Chico Buarque de Holanda
Junto à minha rua havia um bosque
Que um muro alto proibia
Lá todo balão caia
Toda maçã nascia
E o dono do bosque nem via
Do lado de lá tanta aventura
E eu a espreitar na noite escura
A dedilhar essa modinha
A felicidade
Morava tão vizinha
Que, de tolo
Até pensei que fosse minha
Junto a mim morava a minha amada
Com olhos claros como o dia
Lá o meu olhar vivia
De sonho e fantasia
E a dono dos olhos nem via
Do lado de lá tanta ventura
E eu a esperar pela ternura
Que a a enganar nuca me via
Eu andava pobre
Tão pobre de carinho
Que, de tolo
Até pensei que fosse minha
Toda a dor da vida
Me ensinou essa modinha
Que, de tolo
Até pensei que fosse minha
Rodolfo Pamplona Filho
Eu preciso aprender
a viver só
e saber que o mundo
não existe por minha causa.
Eu preciso aprender
a viver só
e aprender que o silêncio
é melhor do que
o ruído incompreensível
Eu preciso aprender
a viver só
é enxugar cada lágrima
sem a ajuda
de quem quer que seja.
Eu preciso aprender
a viver só!
E só!
Miami, 29 de dezembro de 2017
Taumaturgo Vaz
Aqui na terra, desiludido
Tonto, perdido,
Saio das cinzas deste vulcão,
Para ouvir missa na capelinha,
Lá, onde mora Minha Madrinha,
Nossa Senhora da Conceição!
Ao pé do nicho branco e enflorado,
Ajoelhado,
De olhos abertos fitos no altar
Rezo baixinho... Santa alegria!
Minha Madrinha! Ave Maria!
Cheia de Graça! Graça sem par!
Mãe de Jesus! Flor do Carinho!
Secai os cardos do meu caminho!
Livrai-me do ódio de Humanidade!
Da inveja torpe, da iniqüidade
E da traição,
Que ora andam soltos e voejando,
Como de Corvos um negro bando,
Sob a amplidão!
Tende Piedade, doce Rainha!
Minha Madrinha! Minha Madrinha!
Nossa Senhora da Conceição!
Olhai, oh Virgem, quantos tormentos
Sofrem os justos! Quantos lamentos
Soltos aos ventos!
Quanta miséria! Quanto pesar!
Cessai, oh Virgem, esta Agonia,
Minha Madrinha! Ave Maria!
Cheia de Graça, Graça sem par!
Lá nos Palácios o oiro e o incenso,
Risos e danças, um mundo imenso
De luz e pompas, sedas e aromas,
Lembrando os velhos tempos de Roma
A era negra da perdição!
E fora, o pranto, o frio, a fome...
Tudo que é triste, fere e consome
os pobres velhos e as criancinhas!
Vinde por eles, Minha Madrinha!
Nossa Senhora da Conceição!
De olhos abertos fico rezando
Fora do mundo, junto do altar,
Vendo chegar o doce bando
Das esperanças,
— Anjos formosos, meigas crianças
Rubras centelhas
Dos céus descidos para o Perdão!
E, como a Virgem tudo adivinha,
Ri-se bondosa. Salve Rainha!
Cheia de Graça! Minha Madrinha!
Nossa Senhora da Conceição!
Rodolfo Pamplona Filho
Amar não é suficiente,
se falta compreensão,
se falta atenção,
se falta audição.
Amar não é suficiente,
se falta empatia,
se falta poesia,
se falta harmonia
Amar não é suficiente,
se falta presença,
se falta crença,
se falta diferença
Amar pode ser tudo,
mas não é suficiente,
se não for tudo
para a gente.
Salvador, 08 de outubro de 2018.
Georgina Albuquerque
A estrada pertence ao homem que a ilumina
e busca dar certeza
aos passos que exercita afoito.
É também da mulher que aguarda dar à luz,
suor brotando meio ao sangue,
o seio pesado e entumescido
premiando a vitória do parir.
Cordões rompidos preservam resquícios,
rastros de passado na terra úmida;
frutos cobiçados, maturação alcançada,
choro irrompendo uma membrana fina.
Ainda que os mortos-vivos se levantem,
e cantem pela manhã os pássaros indiferentes,
o mundo é dos obstinados que se entregam,
e pensam que carregam o necessário dentro de si.
A chegada, porém, pertence ao homem corajoso,
aquele que despreza o tempo no afago à sua amada;
à mãe que sorri, indolente, noite enluarada,
e conta sempre ao filho coisas engraçadas.
Não precisa dormir, nem dar à luz, nem nada,
tampouco encenar uma vida agitada.
O final da rota é apenas o início,
um útero macio que comporta, aquecido,
a calma experiência de um viver fugaz.
Rodolfo Pamplona Filho
Vou mudar
minha cara,
minha casa,
minha fala
Vou mudar
meu endereço,
meu adereço
minha composição
Vou mudar
a minha postura.
a minha estrutura,
o meu caminhar
Vou mudar
tudo em mim
para poder
ser o mesmo para você.
Salvador, 14 de outubro de 2018.
Társio Pinheiro
Quem saltará
do fundo do meu espelho
revestido de bruma
de elmo
de escudo
e espada na mão?
Certamente
cavaleiro templário
dono de estratagemas e artifícios
fiel guardião
de todos os meus mistérios.
Rodolfo Pamplona Filho
Só porque
as coisas são
de um jeito não
significa que não
possam mudar
Salvador, 27 de fevereiro de 2017.
Jorge Tufic
Dá-me, Apeles, o sangue dos teus dedos
e as cores deste mar, espuma ardente
em que Vênus ressoa e se reparte
entre deuses e bichos, céus e terras,
para que a louve, prostituta imensa
feita de orgasmo e sol. Pombos e cisnes
a conduzem nos braços da Volúpia
onde ela exerce, pleno, o seu domínio.
Mas, de repente, queda-se cativa
de um mortal como Adônis. Tão completa
me parece esta deusa que seu brilho
tem, sobre nós, a calma perspectiva
de uma fúria saciada: um simples nome
que a eternidade rútila consome.
Rodolfo Pamplona Filho
Não existem obstáculos
que impeçam a jornada...
O altruísmo está presente
e é longa a temporada...
Exuberante e idílico,
o caminho é a própria vida..
Nadar contra a correnteza
para completar o ciclo
a todo e qualquer custo.
Enfrentar
Sofrimento
Intempéries
Predadores
Para acasalar
onde nasceu
e depois fenecer
sem um medo sequer...
Surgir em um afluente
Rumar ao oceano
e, depois, voltar
e cumprir seus ciclos
Somos círculos
Plotino
Hipátia
Ser salmão ou tartaruga
Não ligar se a luta é dura
e simplesmente só ser...
São Paulo, 28 de março de 2013.
Chico Buarque
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
Rodolfo Pamplona Filho
Eu não quero ir para a escola.
Eu não quero aprender
Eu não quero aprender nada
Eu não quero aprender nada novo
Eu não quero aprender nada de novo
Já sei tudo
Já sei tudo que quero
Já sei tudo que quero saber
Já sei até mais que quero saber
Eu gostava mais das coisas quando não sabia nada sobre elas...
Logo, concluo que
estou sendo lesado;
estou sendo violentado;
estou sendo educado;
estou sendo educado contra minha vontade...
Então, ser ignorante é um direito?
Não sei!
Mas também não quero descobrir...
Praia do Forte, 03 de agosto de 2013, lendo Calvin...
Vinicius de Moraes
É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...
Rodolfo Pamplona Filho
Eu fico feliz
quando sinto que
você está aqui
e quando ouço que
você só quer o meu bem!
Eu quero o seu também
e sempre vou estar presente,
apoiando e estimulando,
consolando nos erros e derrotas,
comemorando os acertos e vitorias.
Apoiar é estar ao lado,
mesmo quando não é possível,
pois nada está fechado
e a força do pensamento
supera qualquer advento...
Salvador, 04 de fevereiro de 2012.
Natália Oliveira
João quis ser ator, mas numa casa tão pequena, não havia espaço para a arte. Conheceu Maria, com quem casou e teve três filhos. Tem uma vida normal, de casa para o trabalho e no clube aos fins de semana. Nunca assiste TV, nem vai mais ao teatro.
Pedro sonhava ser médico. Deu continuidade aos negócios do pai, que prosperaram e hoje sustentam até os filhos de seus oito irmãos. Foi noivo de Alice. O compromisso se desfez quando ela cismou que só entraria na igreja vestida de branco. Pedro não suportou a ofensa.
Edgar queria curtir a vida. Abandonou o curso de Direito no quinto semestre. Conheceu pessoas novas, embriagou-se com todas elas e dormiu com algumas, até o dia em que suas “economias” acabaram. Alcoólatra, atualmente mendiga dois dedos de cachaça ao primeiro que cruza a esquina e ensaia suas teses de defesa na porta do bar.
Em comum, o desejo frustrado, por vontade própria ou alheia. Incomum, deixaram-se conduzir pela vida; foram montados pelo próprio cavalo. Quiseram alguma coisa, quiseram muito, quiseram até deixar de querer. Todo homem quer, mas nem todos se permitem lutar por.
[Às vezes, o querer é querer evitar, querer não sofrer, querer permanecer inerte.
E quem há de contrariar um desaproveito assim? É nosso querer. Fim.]
Rodolfo Pamplona Filho
Enxergar tudo
sob o ponto de vista alheio.
Cada um vê algo
que os demais sequer percebem...
Usar os olhos não dói.
Sentir a dor do outro, sim.
Praia do Forte, 26 de março de 2013.
Olavo Bilac
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Rodolfo Pamplona Filho
Ela com A
Ela com Afeto,
Amor e Admiração
Ela do B
Ela do Barraco,
Briga e Batida de frente
Ela com A
Ela com Amizade,
Abraço e Ação
Ela do B
Ela com Birra,
Bolacha e Batalhas
Ela com A
A mulher que sonhei
para mim
Ela com B
O pesadelo que
sempre temi
Ela com A
Ela do B
Duas pessoas
em um mesmo ser.
Salvador, 18 de outubro de 2018.
Murilo Mendes
Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
E a circulação e o movimento infinito.
Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.
Rodolfo Pamplona Filho
Usar o atalho místico
Para poupar de usar
e poupar
Do esforço
Do caminho pessoal
Entre as tentativas
e a tentação,
essa é particularmente
Atrativa
A ditadura
é mais eficiente
Pelo menos
Para os imaturas
Buscar o controle
ou ser controlado
É mais conveniente
Do que aprender
A ser diferente
Salvador, 02 de maio de 2024.
Janete Fonseca
Ar de primavera
De fruta cheirosa
Da beira da praia
Vento na memória
fareja a mulher
recém descoberta.
Passou muito tempo,
Espelho reflete
Anel de turquesa,
soutien vermelho,
Na boca desenho
De coração grená
No mundo mudado
Dos mais avelhados
Corações calados,
Erga-se um brinde
À mulher descoberta
Só a ouvir estrelas
Do homem ao lado,
Cheio de desejos
Da mulher ardente
De olhar de fogo,
Que vai olhando
Quando o vê olhar
Mulher incansável
Toma pelas mãos
retalhos do tempo
Que se vão passando
Antes que a tarde
Primaveril
morra, aberta,
dentro de mim.
Rodolfo Pamplona Filho
Comunhão
em família
Divisão
em Partilha
Acordo
da razão
em conforto
da emoção
Quando dois
se tornam um,
a convicção
da esperança
se sobrepõe
à incerteza
do futuro,
em que tudo
pode ser perfeito
ou o castelo
pode ruir
nas nuvens
e nos sonhos
de quem não
cogitou o fim.
Salvador, 16 de julho de 2022.
Janete Fonseca
Como peregrino de fé, sem adeptos,
Prossigo,
Sangrando os pés nas pedras do caminho
Sem fim,
Sem direção,
Buscador da trilha verde
Do regresso,
Um dia
Continuo na jornada
Solitária
Rotineira
Pelas veredas do acaso,
Sorrindo quase em prantos,
Filtrando velhas mágoas,
No remanso das águas
Do dourado amanhã
Alegro-me por nada
E nada me alegra.
Silencio com todos
E comparto tudo
Com todos.
Assim
Descanso o amargor
Do passado,
Na relva macia do esquecimento
Até confundir-me,
Um dia,
Na poeira atômica
Do rio principal.
Rodolfo Pamplona Filho
A onda passa
impassível
Nada que se faça
a torna flexível
e a grande graça
é enfrentar sozinho
a enorme massa
d’água no vazio
A onda permite
que se surfe nela
ou, indiferente, agride
quem se afoga por ela
A onda não muda,
quem tenta ser dela
que, inocente, se iluda
ou componha com ela
pois não há relação
onde não há movimento;
não há entrega,
onde não há sentimento;
não há emoção,
se não há bilateralidade;
a boa onda é sempre
a próxima, de verdade…
Salvador, 20 de janeiro de 2023.
Janete Fonseca
Molhadas areias brancas
Teu rastro de silêncio apagam,
Levando-te para o fundo do mar,
Vestido de vento e sal
Entre folhagens de algas
de emaranhadas cabeleiras,
Guerreiro do mar repousa,
Nessa floresta marinha
Canto para o meu amado,
Entre os habitantes marinhos
por trilhas de corais
e caracóis dançarinos
Conquistador de mares,
Dorme teu sono eterno,
Pois da sedutora sereia
a voz não mais ouvirás
Brinca com os habitantes d'água
E quando o pranto da saudade
Tu'alma dormida buscar,
Foge em cavalos marinhos
E nas estrelas do mar,
Olvida teus sonhos
De amor,
em paz
Uma voz amiga me diz
que não te verei jamais,
mas meu amor te recorda sempre,
vestido de vento e sal.
Rodolfo Pamplona Filho
Eu quero um amor
para o resto da vida!
Um amor que
não seja ferida,
nem trauma.
Um amor que
seja guarida
e afago na alma.
Um amor que
não seja breve,
nem zangado.
Um amor que
seja leve e
bem humorado.
Um amor que
goste de sorrir
e se divertir.
Um amor que
atenda ao que
o destino convida.
Um amor para
o resto da vida.
Salvador, 23 de outubro de 2022.