quinta-feira, 22 de maio de 2025

A Chegada




 Georgina  Albuquerque




A estrada pertence ao homem que a ilumina

e busca dar certeza

aos passos que exercita afoito.

É também da mulher que aguarda dar à luz,

suor brotando meio ao sangue,

o seio pesado e entumescido

premiando a vitória do parir.



Cordões rompidos preservam resquícios,

rastros de passado na terra úmida;

frutos cobiçados, maturação alcançada,

choro irrompendo uma membrana fina.

Ainda que os mortos-vivos se levantem,

e cantem pela manhã os pássaros indiferentes,

o mundo é dos obstinados que se entregam,

e pensam que carregam o necessário dentro de si.

A chegada, porém, pertence ao homem corajoso,

aquele que despreza o tempo no afago à sua amada;

à mãe que sorri, indolente, noite enluarada,

e conta sempre ao filho coisas engraçadas.

Não precisa dormir, nem dar à luz, nem nada,

tampouco encenar uma vida agitada.

O final da rota é apenas o início,

um útero macio que comporta, aquecido,

a calma experiência de um viver fugaz.

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