domingo, 31 de outubro de 2010

Clube dos eternamente sós

Clube dos eternamente sós
Rodolfo Pamplona Filho

Bem vindo ao clube
dos eternamente sós
com seus pensamentos...
E você está sozinha?
Ou seus pensamentos
são uma multidão?
Neste momento,
Estou na multidão...
E meus pensamentos estão sós...
E a multidão fica só...
Enquanto me perco...
...em meus pensamentos...
E "tenho em mim
todos sonhos do mundo"...

Salvador, 08 de setembro de 2010, pensando em uma amiga querida...

sábado, 30 de outubro de 2010

Preconceito

Preconceito
Rodolfo Pamplona Filho

Sou baiano,
Negro,
Pobre
E Gay
Sou cigano
Feio,
Baixo e
Chinês
Nordestino ou
Argentino
Mendigo ou
Indigente
Idoso ou
Menor Carente
Deficiente ou
Impotente
Crente ou
Ateu
Árabe ou
Judeu
Umbandista ou
Adventista
Testemunha ou
Kardecista
Migrante ou
Imigrante
Presidiário ou
Proletário
Refugiado ou
Desabrigado
Bêbado ou
Drogado
Alcóolatra ou
Viciado
Desempregado ou
Condenado

Sou muito mais que tudo isso...
Se, não na carne, no espírito
de solidariedade com aquele
que sofre, chora e morre
não pelo que faz ou fez,
mas pelo sentimento incontrolável
de quem não compreende...
Nem faz qualquer esforço para isso...

É preciso sentir na pele,
por vezes, literalmente,
para dimensionar a loucura
de julgar o outro
sem um dado objetivo
que justifique esta postura.

Não é fácil matar
um leão por dia
e ser excluído pelo
grau de melanina
OU por quem você suspira
OU pela sua conta bancária
OU pela sua luta diária
OU de onde vai ou vem
OU de quem você crê no além...

Esqueça-me por um dia
ou – melhor! – definitivamente,
pois o meu maior defeito
é parecer diferente
aos olhos de quem esqueceu
qual é o sentido de ser gente...

Salvador, 06 de setembro de 2010, véspera da comemoração Independência do Brasil,
uma segunda-feira reflexiva e solitária...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Para quando a juventude se for...

Para quando a juventude se for...
Rodolfo Pamplona Filho

Aproveite a novidade
em cada simples momento,
pois os grãos da realidade
da ampulheta do tempo
não retornam jamais...

O tempo não para...
E não para de verdade,
pois a chance se torna rara,
quando se perde a oportunidade
que não se repete mais...

O viço vai passar...
As rugas vão surgir...
Sumirá o brilho no olhar...
Os efeitos inexoráveis vão surtir...
E não dá para ir para trás...

E a beleza que permanece
não é necessariamente no corpo,
mas, sim, na alma...
Ah, a alma...
Esta somente envelhece
se a cabeça padece
da falta de prece...
da falta de senso...
da falta de berço...
da falta de norte...
da falta de morte...
da falta de bondade...
da falta de boa vontade...
da falta de fé...

Salvador, 05 de setembro de 2010, um domingo de recordação de amigos e amores passados...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Ave Maria (Desabafo Cristão)

Ave Maria (Desabafo Cristão)

Ave Maria, cheia de graça
Quem vos clama é teu filho perdido em desgraça
Por ter tido fé neste absurdo
Que a humanidade chamou de mundo

Ave Maria, Senhora da paz
Eu clamo por ti por não agüentar mais
O forte explorando o fraco
E o fraco não tendo a quem recorrer

No Oriente Médio, se mata
Na América Central, se mata
No Norte da África, se mata
E até já tentaram matar o Papa

A China é uma dicotomia
Pois, na praça da paz, se fez a guerra
Pessoas lutando por liberdade
São pessoas morrendo sem piedade

Na Romênia, o povo foi às ruas
Lutou, suou, sangrou, morreu
Tudo para derrubar Ceauscescu
Democracia sim! Mas a que preço?

No Panamá, o governo americano,
Para derrubar o general Noriega,
Não hesitou em matar panamenhos
E os fins não justificam os meios

Essa violência gerou desilusão
E me fez concluir com é difícil ser cristão...
Como é difícil ser cristão
Onde irmão mata irmão!

Essa realidade mordaz
Me fez concluir que a paz é fugaz
E é por isso que clamo a meu Pai
Que nos oriente como fez no Sinai

Pois, apesar de tudo, há esperança
Guardada escondida num sorriso de criança
E é por isso que caem os muros
Descongelando os corações mais duros

A Guerra fria já derreteu
o Muro de Berlim também já se fodeu
Algumas ditaduras acabaram para valer
E é por isso que agradeço a você...

Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho
(1989)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Crise dos 20 anos?

Crise dos 20 anos?

Quando será que eu vou ter 20 anos de novo?
Será quando me formar?
Será quando parar de trabalhar?
Será quando minha poesia acabar?
O que será que será?
Será quando me realizar?
Será que vou me realizar?
Quando?
Como?
Onde?
Por que?
Perguntas tão simples que me recuso a encontrar a resposta!
Nunca - diz meu outro eu!
Nunca - diz minha outra parte!
Meus 20 anos só existirão, de verdade,
não quando minha cabeça estiver pronta,
mas quando meu próprio corpo (e alma) perceber
que já SOU 20 anos!

(1992)
Letra: Rodolfo Pamplona Filho
Música: Cedric Romano/Jorge Bettio Pigeard/Iuri Vieira

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Can’t you understand?

Can’t you understand?

Girl,
I can’t lose you,
my heart is your heart;
my mind is your mind;
my life is your life.

Girl,
I can die for you,
‘cause you are so wonderful;
‘cause you are so sensual;
‘cause you are so... so...

I’m the soldier of your honour
I’m the knight of your heart
I’m the moon of your night
I’m the man of your life

Girl,
...................................................
Can’t you undersand?
Can’t you undersand?
It stands to reason
that I love you

“I’d like to be dreaming”

Letra: Rodolfo Pamplona Filho
Música: Cedric Romano e Marcos Ikeda
(1988)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Saudades do Primeiro Amor

Saudades do Primeiro Amor

O Deus de Hoje é o mesmo Deus de Ontem
e continuará a ser o Deus de Amanhã,
mas por que sinto tanta falta
de um tempo de memória anciã?

Talvez porque naquela época,
eu não tivesse vivido o suficiente
para saber que todo mundo peca e se decepciona
não com Deus, mas com sua gente...

Como se ser lavado e perdoado
afastasse de vez toda tentação,
quando o certo seria redobrar o cuidado
e prostrar o joelho em oração!

Eu não preciso voltar ao primeiro amor,
porque ele nunca me abandonou...
Eu preciso apenas ver à minha volta
pois o Senhor nunca saiu pela porta...

O sentimento da saudade é maravilhoso,
mas não deve nos imobilizar,
fazendo perder o galardão poderoso
de construir a benção em nosso lar.

Quem vive de passado é museu
pois o antigo só é válido para ensinar
o caminho de quem já viveu
e que quer, da dor, nos poupar...

O importante é aprender a lição de outrora
e lembrar o momento da conversão,
mas para viver a Graça agora
e manter pleno o coração!

Salvador, 25 de abril de 2010

domingo, 24 de outubro de 2010

Variações de um mesmo Ego

Variações de um mesmo Ego

As pessoas são o que pensam ser
As pessoas são o que desejam ser
As pessoas são o que seus pais acreditam
As pessoas são o que os amigos esperam
As pessoas são o que a mídia publica
As pessoas são o que o crítico explica
As pessoas são o que o governo quer
As pessoas são o que a polícia disser
As pessoas são o que são
as pessoas são Nada,
Nada,
Nada!!!

Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho
1989

sábado, 23 de outubro de 2010

Olhos de Deus

Olhos de Deus

Eu queria olhar nos olhos de Deus
Para ver onde foram os sonhos meus!
Eu queria olhar nos olhos de Deus
e saber se Ele também já sofreu...
... como eu
... como eu

Minha adolescência é uma Coca no MacDonald’s
Minha inocência é uma gota de sangue num mar de esmalte
Minha adolescência é uma Coca no MacDonald’s
Minha inocência é uma rosa que explode num espinho de um cactos

Há uma noite sombria dentro de mim
E o sol-esperança está longe daqui
Há um imenso vazio dentro de mim
Gerado por tudo que eu não vivi...
... que eu não vivi...

(refrão)

Meus ideais eram fruto de uma utopia
Que se frustaram em sua mente vazia
As minhas drogas eram parte de uma torrente
Que desaguou em um mundo doente (em um mundo doente...)

Eu bem que tentei me encontrar... (em algum lugar...)
Mas o homem no espelho não era mais eu
Eu bem que tentei me encontrar... (em algum lugar...)
Mas já era tarde demais...
... tarde demais...

Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho (1990)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Química Bélica

Química Bélica

Pílulas de Césio
Gás mostarda, Bomba H
Divisão do átomo
Bomba de nêutrons, Reator Nuclear
Química nas armas
Legalmente não se pode usar
Mas por que proibiram
Se o certo mesmo seria não matar?

Chenobyl, Goiânia
Será que existe vida inteligente na Terra?
Hiroshima, Nagasaki
Será que existe vida inteligente na Terra?

A Geléia Napalm
Injeção de Cianeto: morte indolor
A chuva amarela
Gás cianídrico: morte por dor
Do veneno de Lucrécia Borja
Ao gás mostarda do Halabja
O gás da morte na Índia
Química e vida tornam-se nada!

(Refrão)

“Decididamente não compreendo por que é mais glorioso bombardear uma cidade assediada do que assassinar alguém a machadadas!”
(Raskólnikof, em “Crime e Castigo”, de Dostoiévsky)

Letra: Rodolfo Pamplona Filho
Música: Jorge Pigeard
1988

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Azul Profundo

Azul Profundo
Rodolfo Pamplona Filho

A conjunção das variáveis
solares, físicas e angulares
faz surgir o inacreditável

Entender que a luz altera
o tom e a cor que encanta
na transição do verde para o anil

Mergulhar no azul profundo
como a água do Caribe
ou o mar de Maceió

Planar no seu céu
como no vôo de Ícaro
ou Gagarin no espaço

Descobrir o seu eclipse
que não esconde os seus caminhos
nem nubla seu horizonte

Desvendar o seu mistério,
o destino do seu segredo
a força de todo o desejo

De onde vem este encanto
que entorpece ao encontrar
que inebria sem embebedar?

Qual é o sentido da existência
de viver toda uma vida
sem conhecer os olhos de... ?

Ciudad Real, 09 de setembro de 2008

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ciudad Real

Ciudad Real

Em Ciudad Real, se reuniu
um grupo como há muito não se viu,
cada um de um lugar diferente,
formando um todo de boa gente.

A maior figura, sem espanto,
É o decano Cláudio, do Espírito Santo,
que não tem problema em descer o pau
em FHC e seu projeto neo-liberal.

Da Paraíba, vem, com alegria,
o vice-decano processualista Ubiratan,
que só não ganha na simpatia
da Sofia, que é a campeã.

Mateus vem de Fortaleza
e é a criatura mais gente boa do mundo!
Divertido e companheiro, com certeza,
É a alegria do grupo e da galera do fundo.

Do Rio Grande do Sul, veio a Patrícia
Cujos olhos e sorriso são uma carícia.
Como alguém tão bonita pode ser tão legal?
Adotei-a como “brother” com amor fraternal...

A querida Anne vem de Alagoas
E, sem dúvida, é uma pessoa adorável,
parceira de risadas das boas,
de ginástica e de uma viagem agradável.

A doce Lizziane vem de Santa Catarina
E trazer uma visão positiva é sua sina.
Virou nossa Miguelita Hacker brilhante,
Minha amiga atleta, meu grilo falante...

A estudiosa Suzy vem de Tocantins
e vive com saudade do “namorido”
Quer aproveitar o curso ao máximo
Para voltar logo ao seu querido...

De Mato Grosso do Sul, descobrimos Fátima,
a colega que conhece tudo da Europa
Sempre com uma dica muito prática,
É a mais viajada e viajante da tropa.

Da capital do Brasil, veio Rossifran,
o colega que mais gosta de Madrid,
animado, atencioso e solidário,
parece ter nascido para viver aqui.

E que figura é o Márcio Granconato?
Com sua maneira de falar sério o que seria gaiato
Taí um companheiro legal da terra da garoa,
que, apesar de corinthiano, é muito gente boa!

De Dianópolis, lá no meio do infinito,
vem meu amigo fashion Márcio Brito,
Perspicaz, sincero e bonito,
É um paraibano tocantinense do agito.

O Rio de Janeiro montou uma embaixada
Sem dúvida, pela Gláucia liderada,
Nossa tradutora oficial de espanhol,
Uma amiga na chuva ou no sol.

Criatura cool é o Otávio Calvet,
Outro ilustre membro deste comitê,
Topa tudo e tudo vê
Somente para a Nina e a Nanda rever

Completa o trio a linda Roberta
Que vi num nocaute involuntário no trem,
Uma mulher inteligente, de mente aberta,
Que encanta por ser uma pessoa do bem.

E esta turma conta com um membro honorário fiel,
que é o meu anjo da guarda Manoel,
o cearense do Maranhão que mora no Piauí,
que conquista a todos com seu jeito “estamos aí”.

Outro agregado pelo coração
É o sempre presente Mestre Aloísio,
Alguém que participa de tudo com atenção
E que ensina a todos com seu juízo...

E o que dizer, de verdade,
da Mercedes e seu jeito “delicado”?
Foi assim, sem querer e sem vontade
entrando, de coração, em nosso quadro.

Toda a turma é comandada pelo Baylos Grau,
Que é a cara do Nuno Leal Maia
E tem no amigo Paco seu parceiro ideal,
para que o curso não morra na praia...

Espero encontrar todos ano que vem
Para dar um abraço a quem só quero bem
Definitivamente, partir agora é uma maldade...
pois, de Ciudad Real, somente levo saudade...

Ciudad Real, 30 de setembro de 2008

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Desestruturação Produtiva

Desestruturação Produtiva
Rodolfo Pamplona Filho

Eu não sei mais quem é meu chefe
Eu não sei mais quem é meu patrão
Recebo ordens de todos os lados
Mas não sei quem me dá o pão...

Já fui parte da organização:
o orgulho da minha seção,
mas a tal reengenharia
alterou a filosofia...

Falam de flexibilização
Em um mundo globalizado
Só que deixaram todos na mão
sem olhar para o lado...

Realmente tudo na China
é produzido mais barato.
Vendem aqui mesmo na esquina
Sem se ater a um simples fato

Que o que nos leva a ser feliz
é ter uma vida normal
e não ser aprendiz
de um dumping social

Todo o sistema mudou...
Não faz sentido falar em nação...
Graças a isso, virei consumidor
não sou mais povo, nem cidadão

A mídia nos transformou em público,
que pagou e quer o serviço
não se fala mais em direito,
nem se pensa em compromisso...

A era do emprego já passou...
O que se quer é flexsegurança
Em que consumido eu é que sou
E o Estado cuide dos que não têm esperança...

Por que subordinação, e não dependência?
Quem disse que necessidade é indecência?
Por que cada um cuidar do seu e nada mais?
E, depois, o Estado é que exclui os marginais...

O espelho precisa realmente se quebrar
e se converter em um multifacetado cristal
para olhar o outro sem repúdio ou pesar
e recuperar aqueles que sofrem o mal

Já mudei de nome várias vezes,
como mudo de empresa em poucos meses
Fui temporário, estagiário,
Cooperado, terceirizado

Já fui PJ, já fui parceiro
Fui colaborador, já fui meeiro
Fui precário, em experiência
Fui autônomo ou outra crença

Fui mobília da casa, tombado,
Membro da família, agregado
Dependente ou parassubordinado,
só não deixei de ser explorado...

Ciudad Real, 16 de setembro de 2008

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Infortunistica

Infortunística

Rodolfo Pamplona Filho
Trabalho porque preciso
Trabalho para sobreviver
Trabalho porque estou vivo
Trabalho para comer

Trabalho porque gosto...
E por que o meu rosto
não é mais o mesmo
depois de tanto tempo?

Não falo da velhice...
Não falo da tristeza...
Falo da perda do ânimo...
Falo da minha natureza

que se alquebrou
por sentir dor
em fazer aquilo que eu sei,
a única coisa que sei fazer..,

Lembro o dia do acidente
Lembro do choro e do pavor
de imaginar terminar minha vida
como um filme de terror

Não é mais sustento que está em jogo,
nem meu emprego, de verdade,
o que sinto perder pouco a pouco
é o que me resta de dignidade...
Praia do Forte, 17 de outubro de 2010.

domingo, 17 de outubro de 2010

Amigo

Amigo
Rodolfo Pamplona Filho (2001)

“Amigo é o pai ou o irmão, que a gente elege pelo coração;
é alguém para dividir o pão, o sonho, a lágrima e a canção;
é aquele que abraça com vontade, sem medo de falar sempre a verdade.
E mesmo que isso não seja lá muito agradável,
também é saber dizer não com um sorriso amável.
É alegrar-se com a vitória e consolar na derrota...
É perguntar como está e aguardar a resposta...
É partilhar a risada, o ombro e o ouvido...
Esse é o sentido da palavra AMIGO.”

sábado, 16 de outubro de 2010

De repente, você...

De repente, você...

Rodolfo Pamplona Filho

Sua mão me fez buscar o caminho
que há muito procurei
nos seus olhos, notei o cantinho
que há muito desejei

A vida me deu rasteiras
que eu nunca esperei.
mas o céu não limitou o espaço
que eu sempre acreditei

Assim. construí minha vida.
caminhando com sensatez
e, de repente, você aparece
como nunca imaginei...

San Francisco, 30 de setembro de 2010.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A vista mais bela de Madrid

A vista mais bela de Madrid
Rodolfo Pamplona Filho

É preciso ter coragem
para buscar o próprio caminho...
É preciso ter paixão
para seguir este caminho...
É preciso serenidade
para não enlouquecer no caminho...

A falta do carinho paternal machuca,
mas ajuda a endurecer o pescoço;
a ausência de orgulho maternal entristece,
mas ajuda a aprender a engolir em seco...
A solidão provoca a dúvida onde outrora havia a certeza da escolha correta,
como se houvesse escolhas corretas a fazer...

Há muitas variáveis na estrada,
que, definitivamente, não é reta.
O caminho se faz caminhando
- já dizia outro poeta –
mas a sua construção maltrata
por não haver uma única via certa...

Não se colhem rosas
sem o risco dos espinhos;
não se vive livremente
sem o medo de errar,
mas cada queda é uma lição
de como aprender a levantar.

A rocha, com o vento, é polida.
A areia a torna menos áspera e mais lisa.
Mas não deixa de ser pedra...
A rocha somente se torna obra de arte...
... pela violência do escultor
... pela força do martelo e da plaina
E vira estátua, finalmente,
Mas não deixa de ser pedra...

Madrid, 07 de setembro de 2008

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Felicidade

Felicidade
Rodolfo Pamplona Filho

Para ser feliz,
você não precisa procurar
até cansar...
...alguém para amar...

Para ser feliz,
você não precisa ter filhos
como se a descendência
fosse o único sentido de viver...

Para ser feliz,
você não precisa ter um bom emprego
para vender, por alto que seja o valor,
o inestimável gosto de seu suor

Para ser feliz,
você não precisa ter casa própria
pois um teto apenas serve
para proteger do frio e do sol

Para ser feliz,
você não precisa ser popular
como se a aceitação alheia
fosse a coisa mais importante da vida

Para ser feliz,
você não precisa viajar o mundo todo
já que conhecer a si mesmo
é a maior viagem de toda a vida

Para ser feliz,
você não precisa ter um Deus
Pois Ele estará no mesmo lugar
Independentemente da sua fé

Para ser feliz,
você não precisa ter amigos
embora isso ajude muito
nos momentos de solidão

Para ser feliz,
você não precisa ter conhecimento
pois conhecer como as coisas funcionam
nunca trouxe alegria a ninguém

Para ser feliz,
você não precisa ter dinheiro
pois, na morte, ninguém reclama
por não ter investido mais na bolsa

Para ser feliz,
você não precisa sequer ter saúde
já que nem todo doente
é um pessimista incorrigível

Para ser feliz,
você não precisa mais
do que estar vivo
e aprender a viver só...
e só...

Ciudad Real, 26 de setembro de 2008, e
Madrid, 05 de outubro de 2009

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Orfandade de um ideal

Orfandade de um ideal
Rodolfo Pamplona Filho

Sonhava com o dia
em que finalmente encontraria
a realizada utopia
de um paraíso comunista

Um local onde não imperaria o capital
onde não haveria direito de passar mal
em que toda necessidade básica era satisfeita
com um teto acima e o pão à mesa

A idéia de um lugar assim
Impulsionou sua vida de militante
Em que nunca teve medo de acreditar
Que poderia haver um lugar melhor por que lutar

Por este ideal, lutou e matou
Trocou de nome, amigos perdeu
Mas tudo valia a pena! – sempre pensava -
Quando se busca o melhor para todos

Qual não foi a sua decepção ao constatar
Que o paraíso na terra, como em qualquer outro lugar,
Era privilégio de uma casta, que se apropriou
Do que outrora era o deleite da elite que combatia

Tudo que é sólido desmancha no ar
Inclusive aquilo que um dia se projetou,
Abrindo mão de acreditar que o bem sempre vence o mal
Sentindo-se, verdadeiramente, órfão de um ideal...

Madrid, 12 de outubro de 2009

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Adoção Afetiva

Adoção Afetiva

Rodolfo Pamplona Filho
A vida me contemplou
com filhos maravilhosos,
tanto no sangue,
quanto no coração!

Isso se dá, com fé,
pois, definitivamente,
a paternidade não é
uma biologia permanente.

É muito mais do que isso:
é uma eleição de paradigma
de quem assume o compromisso
de não ser um enigma.

Apadrinha-se, torna-se companheiro,
confidente, ombro amigo e parceiro.
Comemora-se junto, chora-se também,
da verdade biológica, vai-se além...

A paternidade por adoção afetiva
honrou-me com um carinho
que nem todos têm na vida...
que não se compreende sozinho...

mas que é a prova mais dura
de que pessoas podem se amar
e se entregar de forma pura,
sem qualquer outro interessar,

como deveria ser, aliás,
em qualquer verdadeira relação
de um afeto que não volta atrás...
de uma escolha consciente de devoção.

Aracaju, 07 de outubro de 2010.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Saudade de Casa

Saudade de Casa
Rodolfo Pamplona Filho

Por vezes, tenho vontade de chorar...
Sei o motivo, mas não consigo controlar
Há um vácuo que preenche o que era completo
Uma carência de beijo, dengo e afeto

Não sei o que é pior: a distância ou a despedida;
O romper do contato no momento da partida
Um olhar para trás, um abraço apertado,
um aceno tristonho, um olhar desolado...

Como uma dor machuca tanto sem ferir?
Como dominar o que posso apenas sentir?
A paz é arrancada desde a raiz
Uma marca viva que não vira cicatriz...

Pense duas vezes antes de reclamar
Dos problemas da vida, da rotina do lar...
Há tristeza que ninguém sabe como se mede
Só se valoriza o que se tem quando se perde

A lágrima vem solta e quente
Quem negar isso apenas mente
mas faz bem, porque, como um rio
leva o fel para um outro lado vazio....

A cada alvorecer, há uma nova esperança...
que surge inocente, como sorriso de criança,
mudando planos e rumos, batendo asa,
tudo por causa da saudade de casa...

Ciudad Real, 09 de setembro de 2008

domingo, 10 de outubro de 2010

Musa



Musa
Rodolfo Pamplona Filho

Eu não preciso te ter para te amar
Eu não preciso te tocar para te sentir
Eu só preciso te ver...

Ver o teu sorriso, que me ilumina...
Sentir o teu perfume, que me inebria
Presenciar o teu molejo, que me excita

Começar o dia te vendo é começar bem o dia...
Encontrar-te casualmente de tarde é ter uma surpresa agradável
Sonhar contigo à noite é dormir em um misto de paz e emoção

Talvez o dia em que eu tiver coragem de te falar,
Toda a magia se perca, todo o encanto se esvaia
Toda sinfonia se cale, todo arco-íris se nuble...

Por isso, nada mais quero de ti do que tua presença em minha vida
Uma lua ou uma estrela brilhante consola aquele que está perdido no meio da floresta
O poeta pode perder a voz e a palavra, mas não pode perder a musa...

sábado, 9 de outubro de 2010

Rompendo


Rompendo

E, de repente, o silêncio!!!
E o que era unidade
virou dois corpos abraçados
(mas não era a mesma coisa!)
E o silêncio persiste!!!
Palavras são emitidas,
mas parece não haver som
Confesso: estou com medo
(ela também!)
Medo de quê???
Medo de perdê-la
e nunca mais tê-la...
... de volta ... em meus braços
O rádio está ligado,
mas o silêncio continua... (insuportável!!!)
Fala-se sobre qualquer coisa,
mas o silêncio continua...
Será o fim?
Ou será apenas a explosão de outra neurose?
Enquanto escrevo,
meu corpo sua e treme!
Será febre?
Será medo?
Será que vou conseguir encontrar
alguém que eu goste de abraçar
alguém com quem eu possa conversar
alguém que eu possa amar,
sem ser você, amiga?
Acho difícil,
Acho impossível,
acho insuportável!
Mas, então, por que, meu Deus, por que?
Por que meu coração está confuso desse jeito?

Se eu a amo,
por que hesito?
Se não a amo,
por que existo?
Vejo seus olhos marejados
Sinto que ela vai chorar.
Se tenho vontade, por que não grito logo que a quero?
que a amo?
que a desejo?
Porque...
... sou imaturo
... sou um idiota
... sou influenciado por palavras que não vem da minha boca
nem da minha alma
nem do meu coração.
Mas, mesmo assim,
e por isso mesmo,
eu hesito quando
quando tudo seria bem mais fácil
e bem mais simples
se eu (mente, alma e coração)
apenas dissesse:

Meu amor, quero ficar contigo o resto de minha vida!

(11.10.92)

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Natureza

Natureza

Quando as cores da aquarela
Se tornarem uma só
Quando a vida, então bela,
Virar fogo, virar pó

Quando o verde virar cinza
E o céu não for anil
Vida não era mais vida,
Homem-bicho será vil

Quando o sangue derramado
Escorrer por minha mão
Lembrarei que, algum dia,
Já vivi em comunhão

E era belo, e era lindo
E era tudo o meu viver:
Homem-planta, homem-flor,
Homem-homem, Homem-ser

Não sabia que havia
Vida pura e sem dor
Bicho e homem, seres iguais,
Já viveram com amor

(1990)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Resposta

Resposta

Eu respondo com o silêncio
Dos que foram forçados...
... a calar...
... por ter coragem
Eu respondo com as lágrimas
Das mães da Plaza de Mayo...
... que choraram...
... de verdade
Eu respondo com o sangue
Jorrado e derramado...
... na Praça da Paz...
... onde se fez a guerra
Eu respondo com a dor,
A dor que torturados...
...que morreram por não pensar...
... igual a quem tinha...
O poder...
... para mudar
O poder...
... para fazer sofrer
e matar.

(1991)
Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Coca na Coca (extended version)

Coca na Coca (extended version)

O que é certo?
O que é errado?
Eu sei que a vida não é feita de rosas,
Mas, então, por que perder tempo com drogas
Para que maconha?
Para que Loló?
Com que finalidade vocês cheiram o pó?
Com que finalidade vocês cheiram o pó?
O que é certo?
O que é errado?
O que é o Bem?
O que é o Mal?
Meu Deus, será que nos tornamos viciados?
Meu Deus, há quanto tempo somos drogados?
Se a alma é livre, nada pode prender!
Se o corpo é são, nada pode deter!
A vida e a morte são um tênue cordão,
Que parte facilmente como para um coração

O que é certo?
O que é errado?
Será legal usar folhas de coca na coca?
Será que é certo usar folhas de coca na coca?
O que é certo?
O que é errado?
O que é o Bem?
O que é o Mal?
Meu Deus, será que nos tornamos viciados?
Meu Deus, há quanto tempo somos drogados?
Será que a saúde do povo está por um fio?
Por que enganados somos de forma vil?
Talvez por não distinguirmos a cruz do fuzil,
Pois é mais fácil mandar tudo à puta que pariu!!!

Letra: Rodolfo Pamplona Filho
Música: Marcus Ikeda e Cedric Romano
(1988)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A Lua como Testemunha

A Lua como Testemunha

Rodolfo Pamplona Filho

Voltando para casa hoje,
deparei-me com uma lua,
completamente linda,
completamente nua...
Meu pensamento cruzou os céus
até te ver pela frente...
Olha a lua aí à noite
e mantenha a saudade quente...

A lua é a testemunha
silenciosa, mas onipresente
de um amor tão puro,
que atravessa todo o mundo
e me traz tua imagem
como um presente
que aquece minha madrugada
e acalma a minha alma.

E essa madrugada
me fez ficar e pensar em ti
me mostrou que a minha metade
na beleza e na verdade
prolongará toda a minha vida
e trará a capacidade
de amar, como na arte
de forma lúdica e explícita.

...se nosso presente está perfeito,
nosso futuro será maravilhoso....

San Francisco, 28 de setembro de 2010.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Momentos...

Momentos...

Ela escreve... na multidão!
um trecho de crônica, uma canção,
um testamento, uma confissão.
Isso não importa,
e sim que
Ela escreve... na multidão!
um canto, um verso ou recado
talvez uma carta para o namorado
Isso não importa
e sim que
Ela escreve... na multidão!

É um momento mágico, com certeza,
pois no papel, em cima da mesa,
vejo uma frase aparecer...
E ela sozinha, cercada de gente,
com letras brilhando como o nascente
ilumina minha alma sem perceber...

Pois não ouso sequer perguntar o seu nome,
nem ao menos dirigir-lhe a palavra
Já que, em seus olhos, descubro de longe
os devaneios da pessoa amada...

Tomo cuidado para não perturbá-la
e, à distância, fico a amá-la,
mas...
Isso não importa,
e sim que
Ela escreve... na multidão!

(08.01.92)

domingo, 3 de outubro de 2010

Uma Canção Tola! (ou a canção pop mais ant-pop que o pop já fez!)

Uma Canção Tola! (ou a canção pop mais ant-pop que o pop já fez!)

Eu queria escrever uma canção que fosse tola
Que eu não precisasse pensar para escrever
E que rimasse “boca” com “louca”
Quem sabe “sol” com “farol” ou algo que tenha a ver

Não precisa nem ter letra
Não precisa nem ter solo
Pode ser que seja lenta
Pr’eu poder dormir no seu colo

Eu queria escrever uma canção que fosse tola
Que eu não precisasse complicar para agradar
Com 3 ou 4 acordes, fazia uma melodia
E cantava bem alto, sem medo de errar (ou desafinar!)

Não precisa nem ter métrica
Não precisa nem ter refrão
Bastam apenas poucas palavras
Que toquem fundo em seu coração

Eu queria escrever uma canção que fosse tola
Que eu não precisasse analisar para escrever
Que pudesse ser alegre sem medo de ser boba
E ser assobiada por quem bem entender

Não precisa ter paradas
Não precisa ter quebradas
Basta apenas sua razão de ser:
Conseguir conquistar você!

Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho
(1992)

sábado, 2 de outubro de 2010

On Every Street

On Every Street

Rodolfo Pamplona Filho

On Every Street
I can sleep
On Every Street
I can live
On Every Street
I can be myself

I don’t need a house
to have a shelter
I don’t need a job
to have a matter
I don’t need an office
to write a letter
I’d be a louse
if I can live better

I can take a shower with the rain
I can be everywhere without pain
I can survive without a home
but I don’t like to be alone
I don’t need money to be happy
I prefer to be poor than be a sadist
Homeless, Yes!
But Never Loveless...

San Francisco, 25 de setembro de 2010, dedicado a novas amizades (Carol e Chung) e a Victor Frost...

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Jorge, um Guitarrista

Jorge, um Guitarrista

Eu conheci um guitarrista que se chamava Jorge
Ele tinha uma “Golden” e tocava legal
e na sua vitrolinha, só tinha Rock’n’Roll
Iron Maiden, Bon Jovi, Guns ‘n’ Roses, A.C. D. C.
Mas Jorge, de repente, resolveu mudar
Ele pegou a sua guitarra e começou a tocar

E dos acordes que ele deu saiu um axé
Aí eu disse para ele: Meu irmão, qual é?!

Mas o Jorge não ouvia e continuou a tocar
E essa sua mudança não queria mais parar

Ele trocou a distorção pelo reggae do negão
Ele trocou o ACDC pelos filhos de Gandhi

E o Jorge resolveu mudar para Salvador
Um paraíso para uns, para outros um terror
Uma terra onde o profano se mistura com a fé
E para aparecer, o músico precisa tocar axé

E ele começou a curtir
O que ele ouvia ali
Araketu, Olodun
Eta Terra d’Oxum!

Para completar, o Jorge decidiu mudar seu visual
E queimou os seus cabelos para ficar mais sensual
Com penteado Rastafari, ele saiu para desfilar
E se mudou para o Pelourinho, onde agora era o seu lugar

E logo ele que falou que dessa água não beberia...
Pois agora engoliu a água, o encanamento e até a pia...

E toda a galera não acredita nesta mudança:
Ver aquele metaleiro com o cabelo em trança

Mas apesar de tudo, o Jorge está feliz
Pois até foi convidado prá tocar lambada em Paris

E essa foi a história de um cara que eu conheci
E que para falar a verdade, eu nunca mais o vi
Só espero um dia encontrá-lo no maior astral
Tocando a sua guitarra em pleno carnaval!

Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho
(1990)