segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Podridão Interna

Podridão Interna

Rodolfo Pamplona Filho
Há algo de muito ruim
não no mundo, mas em mim!
Há algo que ataca os sentidos
e fulmina todos meus suspiros!

Algo que, do ódio, me faz refém
e, definitivamente, não me faz bem,
mas que não consigo me livrar,
como um vício a me matar.

Até minhas raras qualidades
descambam neste poço de maldades.
Minha gana vira concupiscência.
Minha disciplina, cega obediência

A memória estimula o rancor
O ciúme é filho bastardo do amor
A paciência arma a vingança
O assassino já foi uma criança.

Será que é apenas um mau lado
de um ser perdido em sua dança?
Ou sou somente um sepulcro caiado,
do qual não remanesce esperança?
São Paulo, 21 de novembro de 2010.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

O Tempo é o Senhor da Razão

O Tempo é o Senhor da Razão

Rodolfo Pamplona Filho
Quantas vezes eu gostaria
de alterar a ordem do dia
e poder fazer de forma diferente
o que encontro no tempo presente.

Vejo como eu poderia encontrar alegria
onde, hoje, só vejo melancolia
e descobrir uma felicidade
que perdi pouco a pouco com a idade...

Será que é possível mudar
opções que fiz no caminhar
por não saber o que me esperava
ou o que na minha vida faltava...

Como eu poderia saber ou prever
que o destino reservaria novo prazer,
encontrando novo sentido no viver
e uma forma alternativa de ser...

Ainda terei coragem para novo desafio?
Ainda enfrentarei tudo com brio?
Conseguirei ser outro alguém?
Encontrarei um mundo além?

Dúvidas são uma constante
em uma mudança tão fulminante
e o receio não é uma temeridade
no encontro da essência de verdade!

Conheço o que já tenho e não é perfeito!
Sei o que quero e o que não mais aceito!
A esperança é o gás da Transformação
e o Tempo é o Senhor da Razão...
São Paulo, 20 de novembro de 2010.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Atraverssiamo

Atraverssiamo

Rodolfo Pamplona Filho
Fiquei angustiada
ontem a noite...
Vi-me no filme com você...
a velha história dos "desaparecidos"...

Viajar, conhecer outros lugares,
sempre ao seu lado e de forma leve...
acho que nós nos divertiríamos
até mesmo pelo prazer de estarmos juntos...

Você, metódico
e eu, completamente louca...
bagunçando seu dia.....
"dolce fare niente"...
essa é a nova lei...

Uma coisa é certa.
Nunca me senti tão dependente
de alguém como estou com você,
no sentido bom da palavra.

Eu respiro você, sinto você, sonho com você,
durmo com você, acordo com você...

Para não pirar,
apenas penso que,
se a vida nos deu esse presente,
é porque gostamos de viver e,
com certeza, ela quer que fiquemos juntos...
senão tudo já tinha sido o suficiente
para a nossa separação...

"a vida gosta de quem gosta dela"...
ouvi isso ontem no filme
e sorri sozinha,
pois achei perfeito para nosso amor...

Vamos viver bem...
mesmo que dessa forma meio tortuosa.
Não vamos complicar, nem cobrar...
simplesmente vamos viver juntos.

Felizes e plenos
por termos um ao outro.
A angústia faz parte para ambos...
é uma doença recorrente....
mas essa dor, essa doença,
sempre terá remédio.
E quando a saudade apertar
saberemos como achar um jeito de resolver...

E sabe porque parece
que estamos há muitos anos juntos?
Porque, na verdade, isso tudo que sentimos
foi sempre o que desejamos...
Então não nos parece que
esse sentimento seja atual ou efêmero...

Eu estou disposta a arriscar...
a me machucar,
a sofrer de saudade,
a amar com lealdade,
a ser sua até morrer...
mesmo que você arranje outras,
que você deixe de me amar
e me querer perto,
que você fique puto comigo
quando eu estiver com TPM...
mesmo sem alternativas concretas
de vivermos fisicamente colados....
eu quero viver com você....

"... se perder o equilíbrio no amor
faz parte de ter uma vida equilibrada...",
"... atraverssiamo ..."
Salvador, 14 de outubro de 2010.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

TABACARIA

TABACARIA
(Alberto Caeiro)


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.


Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.


Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.


Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?


Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas —
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas —,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.


(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)


Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.


(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocotte célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno — não concebo bem o quê —
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)


Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para àquem do lagarto remexidamente.


Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.


Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.


Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.


Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.


Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.


Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.


(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.


O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.


Fonte: www.instituto-camoes.pt

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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Êxtase

Êxtase

Rodolfo Pamplona Filho
Meu corpo treme em Meca
e eu nem sequer me mexo...
Minha boca abre e seca
de tanto conter meu desejo...
A sensação de estar em sua vida
toma todo meu pensamento
e faz com que toda despedida
seja sempre um lamento.

Mal acostumado
Eu realmente estou
Completamente arriado
pelo seu amor
Nunca estive tão apaixonado
e completamente a seu dispor,
futuro, presente e passado,
entregues a quem me despertou

para uma relação de entrega total,
para um gozo abundante incondicional,
para uma sensação de êxtase profundo,
para um novo olhar para o mundo.
Praia do Forte, 13 de novembro de 2010.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Bombas de Hormônios

Bombas de Hormônios

Rodolfo Pamplona Filho
Como alguém doce e amada
pode ficar rude e interesseira?
Como uma criatura delicada
pode se tornar tão grosseira?
A alternância de humor
é tão grande e irritante
quanto à falta de amor
que, de forma chocante,
demonstra aos que estão
ao seu redor e disposição...

Nada lhe agrada ou lhe traz ganho,
senão simplesmente se isolar
em seu mundo estranho,
secreto e particular,
que ninguém é tacanho
o suficiente para entrar,
pois inexiste humano bom bastante
para levar sua vontade adiante.

Nem a temperatura ambiente
é adequada ao seu prazer:
tudo é muito frio ou quente,
nada presta para seu ser...
já que tudo é ruim demais:
nada verdadeiramente a satisfaz...

É preciso muita paciência
para não perder o controle,
pois o nariz empinado e impertinência
beiram o total descontrole.
O quer dizer da sua auto-suficiência?
É incrível como sabe todas as respostas
para perguntas que a adolescência
há muito deu as costas...

Que mico! Que porre! Que saco!
Ouve-se isto de modo profundo!
Como se fosse normal tudo ser chato
e ser o único incompreendido do mundo!
Será que, um dia, isso vai passar?
Serão exorcizados seus demônios?
Meu Deus, como é difícil lidar
com estas bombas de hormônios!
Praia do Forte, 15 de novembro de 2010,
sobrevivendo a uma adolescente na TPM.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Reencontro

Reencontro
Rodolfo Pamplona Filho

Hoje à noite...
mantive meu olhos fixos nas possibilidades dos meus sentimentos
descobri entre conversas poucas que o amor é amplo e que tudo acalenta
me sinto abraçada através dos pensamentos
e neste momento nada mudaria...

Hoje à noite...
não tenho mais dúvidas
que os caminhos escolhidos mudam como o vento
e que através de soluços e risos
o destino nos presenteia.

Hoje à noite...
vou calar e ficar quieta
esperando que um novo dia comece
para que nosso cuidado volte a nos preencher.

Hoje à noite...
Procuro uma resposta para perguntas que não consigo formular
Penso em tudo que vivi e como tudo poderia ter sido
Quero acreditar que o caminho foi o correto
e neste momento nada mudaria...

Hoje à noite...
não tenho mais dúvidas
de que é possível um novo caminho
paralelo ao já traçado que
o destino nos presenteia.

Hoje à noite...
continuarei descansando em paz
na certeza de que vale a pena esperar
para que nosso cuidado volte a nos preencher.

O cuidado em suas palavras
me faz respirar com fadiga
e mostra quanto eu me vejo em você
me deixa segura

A estrada finalmente nos achou
por vezes tortuosa e depressiva
e que nos retirou o chão
quando mais precisávamos

Não penso no perigo
de ter-lhe perto
de que não é errado
ter uma vida pra você
e flutuar por sonhos impossíveis

O cuidado nas palavras sempre se deu,
pois necessário para não machucar
a planta que nasceu ou renasceu
sem ninguém sequer esperar...

A estrada que fez nossos nós
é a mesma estrada que sempre trilhamos
e que não tomou decisões por nós,
mas que, por ela, caminhamos...

Haverá sempre um perigo concreto
de pensar não estar sendo correto
mas não há certo ou errado
quando o impossível é tentado

Se será somente platônico, eu não sei...
Só sei que tem me feito bem...
talvez o destino seja somente emocional
e o encontro eventual ou ocasional...

Isso pouco importa, de fato,
pois o mais relevante retrato
apagou a minha inaptidão do passado
ou imaturidade no contato

Quem disse que o sonho é impossível?
O sonho é sempre real.
Se a realidade não nos é factível,
que o seja o amor espiritual...

FIM?
Início...

Salvador, 10 de setembro de 2010, dialogando sobre passado, presente e futuro...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Soneto da Retomada

Soneto da Retomada

Rodolfo Pamplona Filho
Sinto que falta algo em minha mão:
são seus dedos entrelaçados ao meu;
sinto que falta algo no coração:
é a adrenalina do beijo seu...

Sinto que meu dia entristece
quando não tenho você por perto...
sinto que, de fato, a vida empobrece
e que meu dia será incompleto,

a menos que eu tenha coragem
de saber que a vida é uma viagem
e que a apatia não é necessária bagagem...
Retomemos o caminho do prazer,
reencontrando a arte de escrever
e fazendo o que fomos feitos para ser.

Salvador, madrugada de 13 de novembro de 2010.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Sentença em Versos

COM BOM HUMOR E APURO POÉTICO JUIZ SENTENCIA EM VERSOS RIMADOS

Poderia ter sido mais uma dentre as milhares de ações julgadas pela Justiça do Trabalho, ou mesmo pelo juiz autor da sentença Platon Teixeira de Azevedo Neto, em seus mais de nove anos de carreira na magistratura trabalhista. Mas a história virou poesia. Explica-se: frustadas as tentativas de conciliação, o magistrado buscou em versos inspirados a solução para uma lide entre um ex-empregado de uma funerária e o seu patrão.

Para fugir da aridez das leis e dos complexos trâmites processuais, o magistrado iniciou sua sentença com versos de cordel, relatando toda a história da disputa judicial. “De vez em quando é
bom sair da rotina e aliviar as tensões do dia a dia com criatividade e bom humor”, ressaltou Platon Neto.

Os pedidos foram diversos, mas, na sentença, ele deferiu parcialmente a questão para condenar a empresa ao recolhimento do FGTS devido, salários não pagos, retificação da Carteira de Trabalho, integração do salário in natura, entre outros. No entanto, rejeitou o pedido de reconvenção apresentado pela reclamada, que alegou que o ex-empregado tinha fundado uma empresa similar e se apropriado de valores da funerária.

As partes recorreram ao segundo grau, mas a sentença foi confirmada, por maioria, em decisão da segunda turma, cujo acórdão foi redigido pelo desembargador Paulo Pimenta. Eis a sentença inspiradora:

SENTENÇA

"...Mas eu lhes digo: não se vinguem
dos que fazem mal a vocês. Se alguém lhe
der um tapa na cara, vire o outro lado
para ele bater também."
Mateus 5.39

"Então Pedro chegou perto de Jesus
e perguntou: - Senhor, quantas vezes devo
perdoar o meu irmão que peca contra mim?
Sete vezes? - Não – respondeu Jesus. –
Você não deve perdoar sete vezes,
mas setenta e sete vezes".
Mateus 18.21-22

CONSIDERAÇÕES INICIAIS "BREVE RESUMO DA ÓPERA”

Trabalhou o autor para a reclamada
numa funerária no interior
Foi dispensado depois da empreitada
Após longo tempo de labor

Talvez movido pela ambição
ou por orgulho ou vaidade
captou clientes na região
e abriu concorrente na cidade

O proprietário da empresa
quem sabe por ira ou raiva
alertou a sociedade local
que não era a mesma funerária

Apresentou também denúncia
alegando crime de estelionato
Foi aberto inquérito policial
Na Justiça Criminal Estadual

Talvez levado por vingança
Acionou o autor a Trabalhista
pedindo com forte esperança
verbas do tempo de motorista

A reclamada opôs defesa
mas não limitou sua atuação
além de contestar a ação
formulou uma reconvenção

Esta novela de mútuos ataques
pletora de pecado capital
vem sendo alimentada pelas partes
E ninguém imagina o seu final

Este infindável ciclo insano
deve ser interrompido com perdão
alguém deve oferecer a própria face
para que possa haver a conciliação

O fim da história só Deus sabe
a paz ainda não veio neste inverno
mas desejo que ela não venha somente
num canto do céu ou do inferno

FONTE: TRT 18

sábado, 19 de fevereiro de 2011

DETERMINAÇÃO

DETERMINAÇÃO
Rodolfo Pamplona Filho
DETERMINAÇÃO é a filha mais querida da fé com o esforço;
é a irmã da esperança; mãe da realização;
é DETERMINAR a AÇÃO que se tem em mente
para construir o resultado almejado,
ainda que todas as portas queiram se fechar;
é simplesmente desconhecer (ou desprezar)
o significado da palavra “impossível”
e acreditar que todo sonho é apenas o início da realidade...

2002, para os formandos em Direito da UNIFACS 2002.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O Remédio Amargo

O Remédio Amargo
Rodolfo Pamplona Filho

Pode chegar um momento em suas vidas
Em que a Paixão se torna amizade,
para depois virar educação;
em que Tom Jobim e Vinícius de Moraes viram Kid Abelha,
em que o “Eu sei que vou te amar”
vira “o nosso amor se transformou em bom dia”;
em que a sua identidade de amante
é convertida em ser pai ou mãe de alguém...

Pode chegar um momento em suas vidas
em que o sexo se torna burocrático,
como um ponto a ser batido
ou um dever a ser agendado;
em que qualquer coisa é motivo para dizer não,
como se precisasse de algo para dizer não...
ou quando o “não quero”, “não pode”, “não faço”, “não vou”
se tornam mais comuns do que o “eu te amo”...

Pode chegar um momento em suas vidas,
em que não há mais gota d’água a esperar,
pois o cálice já transbordou há muito;
em que o silêncio é menos constrangedor
do que ouvir a voz do ente antes amado,
em que a ansiedade de conhecer o outro
é substituída pelo marasmo absurdo
da convivência com falta de assunto...

Pode chegar um momento em suas vidas
em que o resgate dos sentimentos de outrora
é visto como uma chatice ou perda de tempo;
em que as lembranças de momentos felizes
são vistas como um “mico” de um passado distante
em que a tentativa de diálogo é interrompida
por um bocejo ou por um olhar no infinito;
em que se percebe que o desrespeito tem perdão,
mas a monotonia não tem solução...

Pode chegar um momento em suas vidas,
em que se discute compatibilização de horários,
como se o que se tornou um já tivesse desvirado;
em que o trabalho dá prazer e o prazer dá trabalho,
onde o stress é preferível à companhia do outro;
em que vale pena se submeter voluntariamente
a um instrumento de tortura medieval,
em que passar a vida esperando a morte não soa assim tão mal...

Pode chegar um momento em suas vidas,
em que a promessa não consegue mais prevalecer;
em que a experiência derrota a esperança;
em que não faz mais sentido permanecer...
em que não há mais nada a fazer,
senão tomar o remédio amargo,
na agonia que o veneno feche e cicatrize a ferida,
em vez de provavelmente matar o paciente.

Rio de Janeiro, 24 de abril de 2010

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Soneto da Sedução

Soneto da Sedução
Rodolfo Pamplona Filho

Deslizar por seus cabelos
Viajar em suas curvas
Afagar os seus joelhos
Tocar suas costas nuas

Segurar suas coxas à vontade
Buscar o seu colo com um sorriso
Encontrar nas suas pernas a felicidade
de um gozo celestial e infinito

Descobrir a perfeita mistura
da maciez e firmeza
no sugar de seus seios

Sentir o gosto da sua boca
e o roçar de sua língua
em um beijo sem freios...

Salvador, 09 de agosto de 2010

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Auto-destruição

Auto-destruição
Rodolfo Pamplona Filho

Chega uma hora em que
seu pai é um estranho
seu irmão, seu inimigo
e você quer ter coragem,
quer acreditar em Deus,
para poder se matar,
mas nem isso você consegue!

É o estupro pelo prazer de ver o medo nos olhos da mulher...
É o cavalo-de-pau em pleno quilômetro de arranque...
É a vontade de cortar os pulsos para ver o sangue escorrer...
É o real apetite por destruição!

É deixar crescer cabelo e barba pela vaidade
de se tornar mais feio ou menos higiênico
somente para ser diferente dos outros.
É um querer-não-querendo que os outros
sintam imensa pena de você
(a piedade é a soberba disfarçada!)
É o orgulho e a dor de ser íntima,
misturados com o desejo de matar alguém
só para sentir como é que é!

Ser doente e doentio,
podre e escorregadio,
escrevendo para não falar,
calando para não amar,
sofrendo para não viver.
É isto que sou: um chato (ou um louco?)

(16.01.92)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A Meta e o Método (pesquisando a pesquisa)

A Meta e o Método (pesquisando a pesquisa)
Rodolfo Pamplona Filho

Eu parto da premissa
que tenho pré-concepções.
Conheço o paradigma
e faço desconstruções.

Ídolos e Tradição
Ordem e Anarquia
Eidética redução
na Fenomenologia

Vi o ser-com do MitSein:
descobri a ciência normal,
o ser-aí do DaSein
e a metodologia plural.

Entendi a nadificação,
a angústia e o cuidado...
Achei tese de compilação
no objeto pesquisado

Conclui o processo impoluto
de não existir única verdade,
pois não existe absoluto
na pós-modernidade.

Salvador, 06 de junho de 2010


Adendo de
Charles Silva Barbosa

Como o absoluto é inexistente
é preciso mover-se adiante.
Refletir sobre a gente,
ultrapassar o paradigma dominante.

Compreender o mundo e suas valsas
vencer a instrumental racionalidade.
Se as promessas eram falsas,
é de se romper com a modernidade.

O Lebenswelt resgatado.
Habermas faz Husserl renovar.
Se o mundo da vida é tema,
a filosofia há que se criticar.

Sem a fenomenológica percepção
a pesquisa vai desmoronar.
Estar-se-á na contramão
e método algum irá salvar.

Só nos resta ir contra o método,
para o método encontrar.
E entender que não há método,
onde o eidos não está.

Retrospectiva - Avaliando o Sucesso do Blog

Prezados

Hoje, de fato, é 08/11/2010.
Estou programando a postagem deste texto para o dia 15/02/2011, primeiro dia livre depois que fiz a programação da 200ª postagem do blog.
Confesso que estou meio viciado neste negócio...
E continuo cumprindo a promessa de soltar um texto por dia (pelo menos...), para que o blog fique sempre movimentado.
E, com menos de 3 meses de criado (a primeira postagem foi em 15/08/2010), já alçamos mais de 6600 visitas e 124 seguidores públicos oficiais.
Isto me faz muito feliz!
E fico realmente encantado quando leio os comentários postados no blog sobre cada um dos poemas...
Por isso, resolvi fazer uma espécie de retrospectiva, misturada com uma "segunda chance".
Vou ver, agora, todos os poemas que eu tenha alguma predileção e que, eventualmente, não tenham sido objeto de qualquer comentário no blog. Vou repostá-los em seguida a esta mensagem, de forma que possam ter uma nova oportunidade de conhecê-los (já que postagens muito antigas normalmente não são mais procuradas por quem acessa o blog pela primeira vez).
Vou criar este hábito, "reciclando" todos os textos que tenham sido postados no início do blog, ou seja, na data de hoje, há cerca de três meses. Como estamos no início de novembro, vou respostar todos os de agosto nos próximos dias. Mês que vem, farei os de setembro e assim sucessivamente...
Tomara que cada poema possa encontrar alguém que esteja precisando lê-lo...
Beijos para quem é de beijo, abraços para quem é de abraço,

Rodolfo Pamplona Filho

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O que posso te oferecer...

O que posso te oferecer...

Rodolfo Pamplona Filho
Eu não posso te oferecer nada...

Eu não posso te oferecer
a tranqüilidade de uma relação
sem sobressaltos e sustos
ou sem um pouco de tensão...

Eu não posso te oferecer
um encontro diário e demorado,
com a construção de uma rotina
e de um canto sossegado

Eu não posso te oferecer
um casamento estável
com cara de bom-dia
e de um cumprimento amável

Eu não posso te oferecer
sequer a minha física presença,
pois o risco do contato
recomenda a minha ausência

O que posso te oferecer?

O que posso te oferecer...
é a certeza de um amor
maduro como poucos
e forte como meu calor

O que posso te oferecer...
é a adrenalina da tensão
de buscar o mais breve contato
explodindo de tesão

O que posso te oferecer...
é uma vida independente
de qualquer rótulo ou marca
que queiram colocar na gente

O que posso te oferecer...

O que posso te oferecer...
é a segurança de um abraço...
é a gostosura de um amasso...
é tê-la sempre em meus braços...

O que posso te oferecer...
é a risada da travessura
é a palavra amiga na angústia
é a cumplicidade na loucura

O que posso te oferecer...
é minha presença espiritual:
não tirarei você da minha vida,
nunca mais me sentirei mal...

O que posso te oferecer...
é suprir toda carência
é conhecer além da casca
é tudo que sou na essência.

Salvador, madrugada de 03 de outubro de 2010.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Oração de Paraninfia

Oração de Paraninfia

Rodolfo Pamplona Filho

Excelentíssimo Diretor da Faculdade,
meu amigo Celso Castro, por nobreza,
em nome de quem saúdo, de verdade,
todos os membros desta ilustre mesa.

Não poderia deixar de saudar, porém,
o ilustre Prof. Fernando Santana,
Coordenador firme e de quem
sou eterno aluno e seguidor, com gana.

A maior glória acadêmica, em curso,
é formal e solenemente celebrada
com o proferir de um longo discurso,
em forma de aula magna preparada.

Isto é uma enorme honra que traz
alegria para qualquer professor,
mas, para mim, é muito mais:
verdadeira prova de amor.

Em um corpo docente estrelado,
culto e extremamente qualificado,
escolher alguém que nunca foi lembrado
soa como um ato muito ousado

ou talvez de doce loucura
em uma verdadeira travessura:
escolher alguém fora do padrão
para proferir esta oração.

E, por isto mesmo, eu não poderia
redigir algo diferente de uma poesia,
para agradecer, com toda emoção,
tudo que passa no meu coração.

Somente uma turma muito especial
poderia fazer este carinho sensacional
em quem sinceramente vem confessar
que aprendeu honestamente a os amar

Vocês não têm idéia de como é raro
um professor de trabalho ser paraninfo!
E o melhor exemplo foi meu amado
pai intelectual Rodrigues Pinto!

Que também, em uma única vez,
foi lembrado para esta honraria,
por turma alternativa da mesma tez,
que colou grau nesta reitoria.

E vocês não limitaram a brincadeira,
pois o patrono também é um laboral:
o Professor Jonhson Meira,
outro exemplo de vida feomenal!

E o professor destinatário de preito
é Wilson, patrono da minha formatura,
a quem rendo sempre meu respeito,
com carinho, admiração e candura!

O nome da turma é Eugênio Lyra,
uma homenagem super adequada,
que, das glórias do passado, retira
a justiça necessária e apropriada.

Seu Chico é o funcionário homenageado,
uma verdadeira figurinha carimbada,
tantas vezes aqui lembrado,
que sua vaga será sempre reservada.

Geninho é, da turma, o amigo acolhedor!
Mais que isso: é o ombro para chorar,
confidente de amores, fiel torcedor
das vitórias e provas a enfrentar.

Cada formando tem de ser citado
para que este poema faça sentido,
como um presente coletivo outorgado
por quem se sentiu realmente querido.

Começo com Dafne, filha de devoção,
"Lady Kate" de Condeúba, aqui presente,
a quem dedico uma especial emoção
da amizade feita de forma consciente.

Outro amor paternal construído
foi com a querida Paloma Solla,
cujo acompanhamento foi ao infinito
em contatos inesperados fora de hora...

Com o Sr. Florisvaldo Alves de Almeida,
por todos conhecido por Seu Flor,
vi um exemplo de vida alvissareira,
superação, orgulho da família e amor.

Marília Portela Barbosa,
minha aluna em tantas matérias,
será minha colega trabalhista operosa
e companheira de lutas etéreas!

Mayana Ferreira Barbosa
é por todos conhecida como May
e tem do trote uma lembrança gostosa;
uma blusa pintada cuja tinta não sai...

Lázaro não foi para o café dos amigos,
mas preencheu, por e-mail, o formulário,
e lembrou da sua primeira audiência comigo,
e, agora, é meu afilhado honorário!

Paulo Sérgio Souza Andrade,
quase levou um nocaute meu,
mas é querido e presente na almofada da saudade,
que, como paraninfo, a turma me deu.

Camila Sombra, mestranda ilustre,
já é um orgulho para todos nós,
desenvolverá altos estudos na USP
e, em direitos humanos, será nossa voz!

Rebeca é talentosa e dedicada aluna,
com cursos em intercâmbio na Europa,
mas não me concedeu ainda a fortuna
de tê-la como membro de minha tropa.

Juliana sonha em intervir
na sociedade para transformação,
com o reconhecimento, que há de vir,
do Direito Animal, em consolidação.

Com Karine Mendonça, nossa oradora.
compartilhei momento de delicadeza,
ao ir junto com meus filhos
na criação do Jardim Gentileza.

Fausto é, do SAJU, figura dedicada
além, da faculdade, o cara mais popular,
super engajado e de mente afiada,
interpretou Gomez Addams, sem pestanejar.

Lucas Moreira Ramos, na moral,
é consciente da realidade social,
mas seu prazer é ver - quem diria? –
o futebol do Prática Etílica e do Bahia

José Ramiro, o rubro-negro Ramirão,
meu aluno em sala, corredor ou sol,
embora seu momento de maior emoção
tenha sido o título do torneio de futebol!

Conheci Juliano em uma exposição,
que fiz no pátio da cantina,
sobre a importância da reflexão
e da pesquisa como uma sina.

Por motivos alheios à nossa vontade,
não podemos contar com Luis Cláudio,
mas sua presença, na realidade,
está em nosso orgulho e gáudio.

Membro honorário da turma
é meu orientando Edney Tony Star(k),
que, mais do que minha imitação diurna,
fez uma monografia de arrasar!

Toda esta galera maravilhosa
somente seria encontrada em um lugar!
Na nossa gloriosa e formosa
Faculdade de Direito da UFBA,

que completa 120 anos de existência,
neste ano de 2011, no calendário,
vinte anos dos quais eu vivi,
já que ingressei, como aluno, no seu centenário.

Celeiro de talentos e juristas,
orgulho do estado e da nação,
onde nasceram verdadeiros artistas
e teses seminais de pura razão!

É hora, porém, de o discurso arrematar,
já que ele não pode ser muito longo:
tem de uma mensagem passar,
mas com um tamanho que não dê sono!

Mas a oração não estaria completa
sem uma sincera benção de despedida,
pois, neste momento de festa,
é meu dever deixar uma lição de vida.

Eu não preciso lembrar a toda a gente
do que eu nunca quero esquecer,
que serei seu padrinho eternamente
até mesmo depois de morrer!

Por isso, meus afilhados,
nesta mensagem final,
quero deixar registrado
meu compromisso formal

de acompanhá-los o resto do tempo
que o destino divino nos autorizar,
ajudando-os a correr com o vento
e crescer nas carreiras que adotar

Pois procurar o novo é
uma viagem que nunca termina...
Desnudar-se da cabeça ao pé
é algo que só a intimidade ensina.

Por isso, não tenham medo
de buscar sempre a felicidade,
pois é muito comum cansar cedo
de lutar em qualquer idade...

O conforto que todos desejam só
não pode virar simples comodidade,
como se sonhos virassem pó
ou se perdessem com a maioridade...

Se, como já falei em rima,
em toda e qualquer praça,
a boa palavra ensina,
mas é o exemplo que arrasta,

Vocês devem guardar em sua mente
tudo de bom que transmitimos,
pois construiremos nova gente
com as boas ações que sentimos!

Não sei por quanto tempo ainda viverei,
nem qual será o juízo da minha história,
só acho que as vidas que alcancei
tornaram feliz a minha trajetória.

Pois nada foi mais importante
do que fazer amigos por onde passei,
mesmo no ambiente mais sufocante,
alguma boa semente espalhei

de nunca anestesiar meu indignar,
nunca aceitar a miséria como normal,
nunca deixar de, nas pessoas, acreditar
e nunca desejar aos outros o mal!

Acredito a promessa ter cumprido
de fazer um discurso abrangente
que possa eventualmente ser aplaudido,
sem deixar de tocar o coração da gente.

Foram exatos duzentos e quatro versos
dedicados a estes formandos
e, agora, eu desejo (e me despeço)
sorte, saúde e paz nos vindouros anos.

Praia do Forte, 01 de janeiro de 2011.