sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O HOMEM E A MORTE




O HOMEM E A MORTE

Manuel Bandeira


O homem já estava deitado

Dentro da noite sem cor.

Ia adormecendo, e nisto

À porta um golpe soou.

Não era pancada forte.

Contudo, ele se assustou,

Pois nela uma qualquer coisa

De pressago adivinhou.

Levantou-se e junto à porta

- Quem bate? Ele perguntou.

- Sou eu, alguém lhe responde.

- Eu quem? Torna. – A Morte sou.

Um vulto que bem sabia

Pela mente lhe passou:

Esqueleto armado de foice

Que a mãe lhe um dia levou.

Guardou-se de abrir a porta,

Antes ao leito voltou,

E nele os membros gelados

Cobriu, hirto de pavor.

Mas a porta, manso, manso,

Se foi abrindo e deixou

Ver – uma mulher ou anjo?

Figura toda banhada

De suave luz interior.

A luz de quem nesta vida

Tudo viu, tudo perdoou.

Olhar inefável como

De quem ao peito o criou.

Sorriso igual ao da amada

Que amara com mais amor.

- Tu és a Morte? Pergunta.

E o Anjo torna: - A Morte sou!

Venho trazer-te descanso

Do viver que te humilhou.

-Imaginava-te feia,

Pensava em ti com terror...

És mesmo a Morte? Ele insiste.

- Sim, torna o Anjo, a Morte sou,

Mestra que jamais engana,

A tua amiga melhor.

E o Anjo foi-se aproximando,

A fronte do homem tocou,

Com infinita doçura

As magras mãos lhe cerrou...

Era o carinho inefável

De quem ao peito o criou.

Era a doçura da amada

Que amara com mais amor.
__._,_.___
Manoel Bandeira

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Rejeitando a Depressão


Rejeitando a Depressão

Rodolfo Pamplona Filho
Há quem acredite que,
através da morte,
pode-se atingir o ápice natural,
verdadeiramente considerando
a humanidade como um fracasso...
Mas nós somos mais...
Nós somos mais que a depressão...
Nós somos mais que a evolução...
Mais que máquinas
que se reproduzem
e/ou se atualizam...
pois há o amor...
O amor que transcende
todos esses processos frios...
como uma reação química
que inspira a procriação,
empurrando a vida para a frente,
rumo a seu destino determinado,
não por um plano inflexível,
previamente traçado,
mas por um caminho que se constrói
com cada passada,
com cada lufada,
com cada novo alvorecer...

Praia do Forte, 26 de março de 2013.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

invenção


invenção




INVENÇÃO

o céu apagou toda prescrição
e os cordéis se desprenderam

a fome e o medo
deformavam as cidades

até que os homens
nelas não coubessem

foi quando se fecharam
as últimas portas

e mergulhamos nos cortes
descobrimos as vísceras

pressa saliva garras
suave geometria curva

: naquele tempo o gênesis
vertia de cada manhã


ALBERTO BRESCIANI


Imagem: Helmut Newton, Kiss

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Hipocrisia Útil


Hipocrisia Útil
Rodolfo Pamplona Filho

Na porta do elevador,
ela me diz: - Bom dia!
Eu abaixo os olhos
e digo: - Bom dia!
E a vida continua...

Subimos silenciosos,
cada um para seu andar,
como se momentos embaraçosos
não interferissem no andar
E a vida continua...

E a vida continua...
E a vida...
E...
?

Salvador, 08 de março de 2013.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Como Funciona o Mundo Corporativo...

Como Funciona o Mundo Corporativo...

'Todos os dias, uma formiga chegava cedinho ao escritório

e pegava duro no trabalho

A formiga era produtiva e feliz.

O diretor marimbondo estranhou a formiga
trabalhar sem supervisão.

Se ela era produtiva sem supervisão, seria ainda mais se fosse
supervisionada.

E colocou uma barata, que preparava
belíssimos relatórios e tinha muita experiência, como supervisora.

A primeira preocupação da barata foi a de padronizar o horário de entrada e
saída da formiga assim como seu horário de almoço com cartão de ponto.

Logo, a barata precisou de uma secretária para ajudar a preparar os
relatórios e contratou também

uma aranha para organizar os
arquivos e controlar as ligações telefônicas e avisar se a formiga andava
conversando muito ou indo demais ao banheiro.

O marimbondo ficou encantado com os relatórios da barata e pediu também
gráficos com indicadores, análise das tendências, planos de ações e
definições de metas que eram mostradas em reuniões.

A barata, então, contratou uma mosca,

e comprou um computador com impressora colorida. Logo, a formiga produtiva e
feliz, começou a se lamentar de toda aquela

movimentação de papéis e reuniões!


O marimbondo concluiu que era o momento de criar a função de gestor para a
área onde a formiga produtiva e feliz, trabalhava.

O cargo foi dado a uma cigarra, que mandou colocar ar
condicionado no seu escritório e comprar uma cadeira especial..

A nova gestora cigarra logo precisou de um computador e de

uma assistente a pulga (sua assistente na
empresa anterior)

para ajudá-la a preparar um plano estratégico de melhorias e um controle do
orçamento para a área onde trabalhava a formiga, que já não cantarolava mais
e cada dia se tornava mais chateada.

A cigarra, então, convenceu o gerente marimbondo, que era preciso fazer um
estudo de clima.

Mas, o marimbondo, ao rever as cifras, se deu conta de que a unidade na qual
a formiga trabalhava já não rendia

como antes e contratou a coruja, uma prestigiada
consultora, muito famosa, para que fizesse um diagnóstico da situação. A
coruja permaneceu três meses nos escritórios e emitiu um volumoso relatório,
com vários volumes que concluía : Há muita gente nesta empresa!!

E adivinha quem o marimbondo mandou demitir?

A formiga, claro, porque ela andava muito desmotivada e aborrecida. '

Já viu esse filme antes?

Bom trabalho a todas as formigas !!!

Frase diária:

"Quem trabalha muito erra muito. Quem trabalha pouco, erra pouco. Quem
não trabalha não erra e quem não erra é promovido!"

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Turbilhão


Turbilhão
Rodolfo Pamplona Filho
O mesmo vento
que sopra em meu rosto
refresca ou resfria,
a depender do gosto...
A corrente que me impele
também pode oprimir
O caminho que se escolhe
vira atalho ou labirinto
A verdade está no furacão
ou na doce brisa?
A verdade está no ar
que se respira...
É preciso reservar tempo
para não ser oprimido por ele...
É vital aprender e saber
que se vive só uma vez
e tudo vai passar...

Salvador, 23 de fevereiro de 2013.


sábado, 22 de fevereiro de 2014

O que tem na maleta?

Para uma breve REFLEXÃO. 

O que tem na maleta?


Um homem morreu.
Ao se dar conta, viu que Deus se aproximava e tinha uma maleta com Ele.
E Deus disse:
- Bem, filho, hora de irmos.

O homem assombrado perguntou:
- Já? Tão rápido? 
Eu tinha muitos planos... 

- Sinto muito, mas é o momento de sua partida.
- O que tem na maleta?
 Perguntou o homem. E Deus respondeu:
- Os seus pertences!!!
- Meus pertences? 
Minhas coisas, minha roupa, meu dinheiro? Deus respondeu:
- Esses nunca foram seus, eram da terra.
- Então são as minhas recordações?
- Elas nunca foram suas, elas eram do tempo. 
- Meus talentos?
- Esses não pertenciam a você, eram das circunstâncias. 

- Então são meus amigos, meus familiares?
- Sinto muito, eles nunca pertenceram a você, eles eram do caminho. 

- Minha mulher e meus filhos?
- Eles nunca lhe pertenceram, eram de seu coração. 

- É o meu corpo.
- Nunca foi seu, ele era do pó. 

- Então é a minha alma. 
- Não!
 Essa é minha.

Então, o homem cheio de medo, tomou a maleta de Deus e ao abri-la se deu conta de que estava vazia...
 Com uma lágrima de desamparo brotando em seus olhos, o homem disse:
- Nunca tive nada? 

- É assim, cada um dos momentos que você viveu foram seus. 
A vida é só um momento... 
Um momento só seu! 
 Por isso, enquanto estiver no tempo, desfrute-o em sua totalidade

Que nada do que você acredita que lhe pertence o detenha...

 Viva o agora!
 Viva sua vida! 

 E não se esqueça de SER FELIZ, é o único que realmente vale a pena!  
As coisas materiais e todo o resto pelo que você luta fica aqui. 

 VOCÊ NÃO LEVA NADA! 
Valorize àqueles que valorizam você, não perca tempo com alguém que não tem tempo para você. 

Passe esta bela reflexão a todos que você gosta neste mundo e desfrute cada segundo vivido.

 É isto que você vai levar. 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Graça


Graça
Rodolfo Pamplona Filho
Ela mora na Graça
De tudo, acha graça
Deus a fez cheia de graça
Tristeza para ela? Nem de graça!
A alegria nela sempre grassa!
Adivinhe seu nome?

Praia do Forte, 24 de fevereiro de 2013.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Esselentíssimo juiz


Para iniciar a semana com bom humor.
Esselentíssimo juiz

Ao transitar pelos corredores do fórum, o advogado (e professor) foi chamado por um dos juízes:

- Olha só que erro ortográfico grosseiro temos nesta petição.

Estampado logo na primeira linha do petitório lia-se: "Esselentíssimo Juiz".

Gargalhando, o magistrado lhe perguntou :

- Por acaso esse advogado foi seu aluno na Faculdade?

- Foi sim - reconheceu o mestre. Mas onde está o erro ortográfico a que o senhor se refere?
O juiz pareceu surpreso:
- Ora, meu caro, acaso você não sabe como se escreve a palavra Excelentíssimo?
Então explicou o catedrático:

- Acredito que a expressão pode significar duas coisas diferentes.
Se o colega desejava se referir a excelência dos seus serviços, o erro ortográfico efetivamente é grosseiro. Entretanto, se fazia alusão à morosidade da prestação jurisdicional, o equívoco reside apenas na junção inapropriada de duas palavras.
O certo então seria dizer:
" Esse lentíssimo juiz ".
Depois disso, aquele magistrado nunca mais aceitou o tratamento de "Excelentíssimo Juiz", sem antes perguntar:
- Devo receber a expressão como extremo de excelência ou como superlativo de lento ?

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Vivendo como Pais e Filhos


Vivendo como Pais e Filhos
Rodolfo Pamplona Filho
O pior gosto que existe
é o do arrependimento
e, por isso, não se deve
apenas ser parte
em uma relação...
É preciso viver a vida,
não só a própria,
mas a dos seus filhos...
Viver a vida deles
como eles viverão a sua
por algum tempo...
pois, daqui a alguns anos,
eles viverão para o mundo...
Na mais pura verdade,
eles já são do mundo...
Só que o mundo deles
agora somos nós...
Mais tarde, tudo se alarga...
Aproveite o hoje
em que o mundo deles
é ainda o seu...
Depois que o mundo se alargar,
seremos apenas mais um
personagem no palco da vida...

Salvador, 23 de fevereiro de 2013.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

PREMATUROS CABELOS BRANCOS


PREMATUROS CABELOS BRANCOS

Gostaria de ter a paciência, experiência, amadurecimento e a consciência de vida que uma pessoa idosa tem, para não me esquecer que não é saudável viver num mundo tão corrido e competitivo no qual eu vivo como penso ser. Que como seria não ter pressa para comer, não ter pressa para se despedir de alguém, não ter pressa para dirigir, não ter tantos horários para ser cumpridos rigorosamente.

Gostaria de ter a paciência, experiência, amadurecimento e a consciência de vida que uma pessoa idosa tem, para executar as coisas mais simples como aguar uma planta, acariciar um animal, olhar para os formatos das nuvem nos céus, observar a natureza em seus mínimos detalhes, contudo tendo o mesmo prazer que tenho em sair com meus amigos, fazer compras, viajar, realizar um sonho material .

Gostaria de ter a paciência, experiência, amadurecimento e a consciência de vida que uma pessoa idosa tem, para ter a sensibilidade de escutar o canto de um pássaro, molhar meu rosto com a água da chuva, ver a primeira estrela aparecer no céu, sem me preocupar com os meus compromissos e com as horas que voam. 

Gostaria de ter a paciência, experiência, amadurecimento e a consciência de vida que uma pessoa idosa tem, para lembrar que nos últimos dias de minha, quem estará ao meu lado, é quem hoje dorme comigo e no qual por conta da correria do dia-dia, não temos tempo de cuidar um do outro como deveríamos e dizer a simples frase: “Meu amor, você é a pessoa mais importante da minha vida”.

Gostaria de ter a paciência, experiência, amadurecimento e a consciência de vida que uma pessoa idosa tem, para olhar nos olhos de minha mãe e dar o valor que ela merece, aproveitando ao máximo sua companhia, pois hoje não sou suficientemente madura para imaginar que um dia esses olhos doces irão se fechar para sempre e eu irei chorar copiosamente por muito tempo de saudades.

Gostaria de ter a paciência, experiência, amadurecimento e a consciência de vida que uma pessoa idosa tem, para sempre lembrar que com a ligeireza com que eu faço as minhas coisas, um dia terei que parar e ver que o meu vigor se foi e com a mesma facilidade que meus pulmões respiram o ar, os mesmos um dia estarão cansados como eu e como todo o meu corpo, e que hoje na maioria das vezes não dou a mínima para isso, me esqueço deles e da sua importância na minha vida.

Gostaria de ter a paciência, experiência, amadurecimento e a consciência de vida que uma pessoa idosa tem, para nunca esquecer que a minha existência humana não será eterna, por isso devo viver a alegria do novo, mas sempre buscando a cada minuto a certeza de que tudo na vida é passageiro e que no fim, o prazer desta estará nos atos mais simples da vida.

Aline Malafaia


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Melhor que Sexo


Melhor que Sexo

Rodolfo Pamplona Filho
Receber uma massagem,
em especial Shiatsu
ou Reflexologia Podal.
Fazer uma viagem,
conhecendo, passo a passo,
um lugar sensacional.
Levantar e dar a volta por cima.
Dormir sem hora para acordar.
Chupar uma gelada laranja lima,
depois de um gostoso banho de mar...
Ver os filhos sorrirem em alvoroço,
deitar na rede depois do almoço...
Ler um livro empolgante
Ver um filme emocionante. 
Tomar um banho super quente
Experimentar um sabor diferente
Terminar um assunto pendente
Te amar eternamente...

Praia do Forte, 13 de fevereiro de 2013.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Criado-mudo

Criado-mudo
(Mario Prata)

Tudo começou quando resolvi me mudar do décimo para o quarto andar, aqui
mesmo, neste edifício da Alameda Franca. Um carrinho de supermercado seria o
suficiente. Queria fazer lá embaixo um lar, já que isso aqui virou um vício.

Lá no quarto andar, tem quatro apartamentos.
Eu não conhecia ainda os vizinhos quando o fato se deu. Passei o dia levando
coisas lá para baixo. Há dois dias faço isso, ajudado pela Cristina.
Uma das últimas viagens e lá ia eu com a Cris ao lado, descendo pelo
elevador.
Carregávamos o criado-mudo. O criado-mudo tem uma gavetinha.
Quando a porta se abriu, havia duas famílias esperando. Meus vizinhos.
Pai, mãe, crianças e até uma avó. Foi quando eu estendi o braço para me
apresentar como o novo vizinho que tudo aconteceu.
E foi muito rápido. Muito.
Quando eu tirei a mão do movelzinho para cumprimentar aqueles que agora são
meus vizinhos, a gavetinha deslizou. Eu ainda tentei uma gingada com o corpo
pra ver se evitava a catástrofe, mas não adiantou.
A filha da mãe estava indo para o chão, lisa como quiabo, com tudo dentro.
E não existe nada mais indiscreto que uma gavetinha de criado-mudo de um
homem que mora sozinho. Ou mesmo que não more. Ali você vai jogando
coisinhas, papéis.
Coisas, enfim.
Coisas que só têm um destino na vida: a gavetinha do criado-mudo.
Entre a danada escapar do móvel e esparramar tudo pelo chão, não devem ter
sido nem dois segundos. Mas estes dois segundos foram sofridos.

Neste pedacinho de tempo tentei, em vão, me lembrar do que era que tinha lá
dentro e, conseqüentemente, toda a vizinhança ia ver. Além da Cristina.
Não deu outra. A gaveta caiu de quina e tudo voou, de cabeça pra cima, tudo
querendo se mostrar.
Há quanto tempo aquilo tudo não via a luz do dia, já que ficavam debaixo do
abajur lilás? E não ficou tudo amontoadinho, não. O material se esparramou
legal pelo hall.
Diante do que vi no primeiro bater de olhos, a idéia foi pular em cima e
cobrir tudo com o corpo até todo mundo sumir dali.
Sim, na gavetinha do criado-mudo a gente joga tudo.
Pelos meus cálculos, devia ter coisas ali dos últimos cinco anos.
Eu não tinha idéia do que é que estava indo para o chão e aos olhos da
vizinhança estupefata.
Um pedaço da minha vida estava ali, no chão, sujeito à visitação pública.

Uma vergonha.
E o pior é que não dava para pegar tudo de uma vez. Teve pilha que rolou
escada abaixo. Moedinhas rodopiavam sem parar, fazendo aquele barulhinho.
A primeira coisa que a Cristina recolheu foi um par de brincos
douradérrimos.
Que não eram dela. E eu não ia explicar ali que eu não tinha a menor idéia
de quem foram. Podiam estar ali há cinco, seis anos.
As crianças olharam para três camisinhas e deram-se sorrisos cúmplices.
Não foi bem este o olhar da Cris.
Aquele pequeno despertador com o vidro quebrado. Estava parado às 10h10 do
dia 23, sabe-se lá de que mês ou ano. Três edições da Playboy. Velhas. Uma
da Tiazinha. Constrangimento.

Pra minha sorte, bem ao lado caiu a História da Filosofia, de I. Khlyabich.
E o livro daquela jovem namorada do Sallinger, do Apanhador no Campo de
Centeio. Amenizou um pouco.
E as camisinhas eram de 98, tava escrito lá.

Limpou um pouco a barra. Um pouco.
Sim, por outro lado, mostrava que desde 98 que eu... Deixa pra lá.
Tinha o menu da minha aula de culinária de março.
Tinha procurado tanto o Guia de Acesso Rápido do celular. Tava lá.
Agora eu ia aprender a apagar os telefones vencidos da caixa.
Meu Deus, o que é aquilo no pé do garoto? Viagra!
E o filho da mãe pegou e mostrou para o pai, que me olhou com pena, com dó:
tão jovem...
Tive que dar explicações: - Hehe, é o Jair, que é do 103, psicanalista,
amostra grátis...

Cris, com os alheios brincos na mão, escondeu o Viagra. Vexame total.
Mas isso era só o começo da minha vida esparramada no chão de mármore.
- A conta da compra do computador que eu dei para a minha irmã.
- Duas pilhas Duracell que jamais saberemos se estão boas ou já usadas.
Esse problema de pilhas soltas me enlouquece.
- Sabe aquelas moedinhas de orelhão que não funcionam mais? Várias.
- Uma foto minha com a atriz Manoella Teixeira, abraçados na porta do Ritz
(isso foi há dois anos, fui logo explicando).
- Uma cartela de Lexotan, uma de Frontal e uma de Zoloft. Pronto, os
vizinhos não teriam mais dúvidas. Um louco deprimido se aproximava.
- Quatro canetas Bic que eu duvido que ainda funcionem.
- Uma capinha de celular que eu comprei há uns quatro anos e não serviu.
- Uma caneta dessas de marcar texto, aquela amarela, sabe? Seca, é claro.
- Um tubo de Redoxon, vencido há várias gripes.

- Um papelzinho com um telefone que jamais saberemos de quem é.
- Um benjamim.
- Um tubo (suspeitíssimo) de Hipoglós.
- Um disquete de computador sem nada escrito nele. O que pode ter aqui?
- Um par de óculos escuros que nunca foram meus.
- Umas cinco ou seis chaves que nunca saberei que portas abrem.
- Um livrinho mandado (e escrito) por um leitor, com o nome Ser Gay é Ser
Alegre.
Como explicar isso, de joelhos?
- E, para encerrar o meu derrame, um papel em branco com um beijo de batom
vermelho, bem no meio. Tentei dizer que era da minha afilhada, Maria Shirts,
mas não colou.
Fui recolhendo aquilo tudo, aqueles pedaços da minha vida e colocando de
novo dentro da gavetinha. E me levantei.
Entramos em silêncio no apartamento, eu certo de que ia começar uma nova
vida ali.
Mas logo cheguei à conclusão de que a gente nunca começa nada, a gente
continua.
Ajeitei o criado-mudo ao lado da cama.
Fiquei olhando para o indiscreto móvel que eu achava mudo.
Mas que, em dez segundos, contara cinco anos da minha vida.

Mário Prata

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Madre Superiora


Madre Superiora

Rodolfo Pamplona Filho
Há pessoas que exigem ter
uma rigorosa conduta tal
que faz tudo parecer
absolutamente fora do normal

e nada pode sair do limite que bolam,
quando elas mesmo extrapolam,
se não o das regras do regimento,
as do social comportamento...

É a própria Senhora da Razão
ou de toda Moral e educação,
que reprime toda manifestação
da menor tentativa de exaltação...

Pode ser qualquer criatura,
que se acha um poço de candura, 
Olívia, a Diretora,
ou a Madre Superiora,

que ordena que o diferente saia
e mede o tamanho da saia,
a quantidade de comida no prato
e a palavra a ser dita no ato...

Salvador, 01 de dezembro de 2012.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O PRATO FUNDO

O PRATO FUNDO

São onze horas da manhã

de um sábado ensolarado...

Ponho uma roupa, me arrumo

e vou_ tomar um chopp no shopping...._

_ _

Infortundamente,

no meio do caminho

encontro um colega da universidade

- um daqueles militantes xiitas

de partidos de esquerda –

o qual me aborda e me insulta:

- “Você vai ao shopping?

Então você está contribuindo

com o sistema, cara!”.
Engoli a seco

suavemente e lhe retruquei:

- “Vou ao _shopping tomar um chopp, _ué!

E tem mais:

meu socialismo é partilhar riqueza

e não dividir miséria!”
Aquele sujeito, mal vestido e sujo,

à moda dos sindicalistas chatos,

não sabia

que o capitalismo é um prato raso,

no qual só comem os fortes,

os espertos, os donos do capital

e os que tiveram

um bom quinhão de herança

deixada pelos antepassados...
Aquele sujeito, mal vestido e sujo,

à moda dos sindicalistas chatos,

não sabia

que o socialismo é um prato fundo

pra toda a fome que há no mundo...

Salvador, 22 de setembro de 2007.

MARIVALDO PEREIRA DA SILVA

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Eu me divirto com minhas próprias loucuras


Eu me divirto com minhas próprias loucuras

Rodolfo Pamplona Filho
O nome da minha autobiografia
O meu estilo de vida
A minha profissão de fé
O que sou e o que me tornei
A minha perfeita definição
A minha genuína tradução
O meu verdadeiro eu
O que se define como meu
Eu me divirto com
minhas próprias loucuras...

Salvador, 15 de janeiro de 2013.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A invenção de um modo

 

A invenção de um modo
Adélia Prado

Entre paciência e fama quero as duas,
pra envelhecer vergada de motivos.
Imito o andar das velhas de cadeiras duras
e se me surpreendem, explico cheia de verdade:
tô ensaiando. Ninguém acredita
e eu ganho uma hora de juventude.
Quis fazer uma saia longa pra ficar em casa,
a menina disse: "Ora, isso é pras mulheres de São Paulo"
Fico entre montanhas,
entre guarda e vã,
entre branco e branco,
lentes pra proteger de reverberações.
Explicação é para o corpo do morto,
de sua alma eu sei.
Estátua na Igreja e Praça
quero extremada as duas.
Por isso é que eu prevarico e me apanham chorando,
vendo televisão,
ou tirando sorte com quem vou casar.
Porque tudo que invento já foi dito
nos dois livros que eu li:
as escrituras de Deus,
as escrituras de João.
Tudo é Bíblias. Tudo é Grande Sertão.  
*****


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Menarca


Menarca

Rodolfo Pamplona Filho
Venha ver!
O que?
O lindo nascer
de um novo viver
do desabrochar
do botão em flor
que já pode gerar
o seu próprio amor...
E que ninguém nos ouça,
mas, agora, a menina é
um plena e linda moça
e, em breve, será mulher...

Salvador, 22 de janeiro de 2013.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Desejo


Desejo

Eu te desejo vida, longa vida
Te desejo a sorte de tudo que é bom
De toda alegria ter a companhia
Colorindo a estrada em seu mais belo tom
Eu te desejo a chuva na varanda
Molhando a roseira pra desabrochar
E dias de sol pra fazer os teus planos
Nas coisas mais simples que se imaginar
E dias de sol pra fazer os teus planos
Nas coisas mais simples que se imaginar
Eu te desejo a paz de uma andorinha
No vôo perfeito contemplando o mar
E que a fé movedora de qualquer montanha
Te renove sempre, te faça sonhar
Mas se vier as horas de melancolia
Que a lua tão meiga venha te afagar
E a mais doce estrela seja tua guia
Como mãe singela a te orientar
Eu te desejo mais que mil amigos
A poesia que todo poeta esperou
Coração de menino cheio de esperança
Voz de pai amigo e olhar de avô
Coração de menino cheio de esperança
Voz de pai amigo e olhar de avô
Eu te desejo vida, longa vida
Te desejo a sorte de tudo que é bom
De toda alegria ter a companhia
Colorindo a estrada em seu mais belo tom
Eu te desejo a chuva na varanda
Molhando a roseira pra desabrochar
E dias de sol pra fazer os teus planos
Nas coisas mais simples que se imaginar
Eu te desejo a paz de uma andorinha
No vôo perfeito contemplando o mar
E que a fé movedora de qualquer montanha
Te renove sempre, te faça sonhar
Mas se vier as horas de melancolia
Que a lua tão meiga venha te afagar
E que a mais doce estrela seja tua guia
Como mãe singela a te orientar
Eu te desejo mais que mil amigos
A poesia que todo poeta esperou
Coração de menino cheio de esperança
Voz de pai amigo e olhar de avô
Eu te desejo a chuva na varanda
Molhando a roseira pra desabrochar
E dias de sol pra fazer os teus planos
Nas coisas mais simples que se imaginar
E dias de sol pra fazer os teus planos
Nas coisas mais simples que se imaginar
E dias de sol pra fazer os teus planos
Nas coisas mais simples que se imaginar...

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Teorias


Teorias

Rodolfo Pamplona Filho
Teorias são,
na verdade,
uma simplificação
da realidade


Salvador, 15 de janeiro de 2013.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

ALÉM DO OLHAR


ALÉM DO OLHAR


Se meus olhos fossem de poetisa,
Eu olharia a vida com uma lente colorida:

Veria no rosto dos tristes, uma felicidade rosa.
No coração dos que sofrem, uma pureza branca.
Nas mãos dos oprimidos, uma alegria dourada.
No sorriso de uma criança, uma esperança verde.
E nos seus olhos, o brilho prateado do amor.

Mas, meus olhos não são de poeta:
Vejo o mundo em preto em branco,
E minha transparência impede de ver-me...
Reflito o que acho que sou,
Além do seu olhar.


Ezilda Melo