Luciana Pimenta
Se queres me conhecer
Não me olhes da janela
Do teu mundo
Viril e concreto
Sequer vejas em minha boca
Vermelha do mesmo sangue
Jorrado em versos
De uma linhagem
Um adorno
Para a alegria dos olhos teus.
Cuida de ver em meus pés
Os rastros do chão
Donde vieram
E nunca sairam
Qual vida no sertão
Derramada pra alimentar
Fome e sonho.
Mira em minhas mãos
O revolver da terra árida
Irrigando com a face
Um canto que refunde
As raízes
Dessa árvore milenar
Que clama expansão
Arrebento
E voo.
Se queres me conhecer
Sente rasgar o céu
Essa ave
Maria que não prece
Nem ponto cruz
Palavra invertida
Desde sempre fêmea
Nomeando o pecado e a culpa,
A libertar.
Sente,
Se queres me sentir,
Deslocar duramente
Com suor e dor
O tronco
Que abrigará a sombra
Onde gozarão mulheres
D’outras gerações.
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