quinta-feira, 31 de outubro de 2019

O mais bonito canto





Patrícia Ferreira dos Santos


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Qual será o mais bonito canto?
Do passarinho ou das cordas do violão a tocar?

Qual será o mais bonito canto?
Do beija-flor ou do eterno pássaro a chegar?

Qual será  o mais bonito canto?
Da inteligência ou do conhecimento?

Qual será o mais bonito canto?
Do sorriso ou do amor a cada momento?

Qual será a alegria de todos os poetas?
A sabedoria ou apenas o entendimento?


quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Soneto da Interpretação da Poesia








Rodolfo Pamplona Filho

O poema não pertence ao poeta,
mas, sim, ao mundo que o interpreta.
Por isso, qualquer explicação
é pura e simples reflexão

sobre qual era a proposta,
que, originalmente, havia sido posta
para fazer a construção
de uma nova manifestação.

Mas qualquer conjectura
nunca será realmente pura
para quem conseguiu se envolver

nas palavras lançadas ao vento,
buscando novo alento
na sensibilidade de cada ser.

Na Ponte Aérea Recife-Salvador, 26 de novembro de 2011.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

O tema é poeta




Negra Luz

Hoje vou me poetizar.
Sou poeta:
Uma aprendiz do rimar.
Minha metáfora
Termina em AR

É verbo forte:
Amar a sintonia que há
Entre o poema e o que estou a desejar.
Versos estou a tramar.

Rimar o côncavo e o convexo.
Tentar escrever amor,
Mas só querendo pensar em sexo.
Ferir e deixar tudo pretérito.

Aplaudir a Deus, perpetuar mistérios,
Sem sair das linhas do meu hemisfério.
E depois voltar-me ao papel
Sem sair do sério

O tempo que passou, passou.
Seguir é destino certo.
A poesia me libertou
E eu, alada, viajo pelos meus versos.

Aqui não há temor
Rimou. Somou. Eu verso
Se sílabas formou?
Não sei contar, confesso.

Poesia vem no peito
Eu no papel expresso
Há tempo para amor
E para o que desprezo

Sincronizada, a antena
Revela o que de mim quero
Singrar pela poesia
Vibrar em ondas pelos versos.

Quem sabe!
Talvez!
Um dia!
Lembrança no Universo!


segunda-feira, 28 de outubro de 2019

O Canto da Chuva



Rodolfo Pamplona Filho

Escutar
o canto da chuva
é um bom tema
para um poema

Conhecer
a melodia
dos pingos que surgem
em poças de nuvens

Descobrir
a harmonia
da lágrima e da água
que limpa toda mágoa

Solfejar
uma linda linha
que será a trilha sonora
da mudança de uma hora.

MannHein, 29 de abril de 2013,

pensando em um papo via What's up em 20/04/2013.

domingo, 27 de outubro de 2019

A cartinha de Noel






Negra Luz

Na cartinha desse ano,
Havia uma preocupação no ar:
Quantos anos já teria
O bom velhinho do Natal?

Hoje tenho 10 aninhos,
Mas lembrei que minha mãe,
Também lembra de presentes
Que em Natais de Noel recebeu

Hoje, mamãe já é velhinha
Imagina o Noel
E assim eu tenho medo:
O que será do Natal
Quando Noel resolver
Visitar Papai do Céu?

Pensei muito
E nesta carta
Resolvi me candidatar
No futuro... Quem sabe um dia
À Noel poder ajudar

E, assim, na sua partida
Possa o seu papel ocupar
Garantir para outras gerações
Que as cartinhas alguém lerá

Com Noel nos corações,
Esperança e amor no ar,
O Natal mexe com os corações
Estimula a humanizar.


sábado, 26 de outubro de 2019

Vida






Rodolfo Pamplona Filho

O passado é verdade concretizada.
O presente se acompanha.
O futuro se constrói...

Salvador, 23 de março de 2014

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

A listinha de presentes

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Negra Luz

Esse ano, a minha lista
Eu resolvi diminuir.
Ela será bem curtinha.
Em pouco espaço,
Será início, meio e fim

Papai, mamãe, vovó, o titia
Facilitei a vida para ti
O presentinho desejado
Nesse Mundo desanimado:
Tudo que me faça sorrir!

Ao sorrir posso contagiar
E ser contagiado
Recebendo o presente solicitado
No Mundo espalharemos o sorrir!


quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Diálogo em Baianês




Rodolfo Pamplona Filho

Ó o auê aí ó!
Digaí!
Você está por cima da carne seca, véi!
Colé, véi! Você vê os pulos que dou, mas não vê os tombos que tomo...
Você é que é de fritar bolinho e beber o caldo...
Não acerte seu relógio pelo dele, pois, na hora do vamos ver, todo mundo se pica...
Valeu, véi! Vou chegando...

Puerto Varas-Chile, 02 de julho de 2012.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Ser Dor Mar




SOUSA, Diego Mendes

Cosmonave de um coração costeiro
que navega na preamar da dor
na maré do amor
no mar do ser
meu alterego
a dor-mar
a domar
os sargaços
de um sal salgado
de um sol solstício
de uma lua lunática
que passa na alma
de enseada

Meu coração aberto
nas praias do sonho
litoral de aberturas
ao mundo




Fotografia de Chico Rasta, praia do Coqueiro, litoral do Piauí.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Todo Mundo é um Leitor.



Rodolfo Pamplona Filho

Todo mundo é um leitor:
apenas alguns ainda
não encontraram
seu livro predileto.

Todo mundo é um leitor:
apenas não sabem
se sua vida é
um romance ou uma tragédia.

Todo mundo é um leitor:
apenas não viajaram
profundamente em sua alma
para saber a diferença
entre ficção e realidade.




Miami, 30 de dezembro de 2017

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Meus sentimentos





Negra Luz


Mãe,
Eu queria pegar essa lama
Esse betume que vazaram em ti
Com um filtro de café ...um melitta
Tirar de ti toda essa partícula ruim.
Mudar com meu amor o rumo das correntezas
Que em ti espalham essa eco- dor
Nadar por suas ondas com pano de enxugar gelo
Secar essa fonte de óleo sem temor
Elas as causas dessa agonia tem ti
E ainda para suas areias
Com baldinho de criança,
Peneirar os seu grãos e afastar de ti todo o mal.
Pois sei , mãe, mar, fonte da minha vida
Você faria, por mim, o impossível normal!


domingo, 20 de outubro de 2019

Bom dia, flores do dia! (Soneto)





Rodolfo Pamplona Filho

Como é bom celebrar
a chegada de um novo dia,
sem esconder a alegria
de os amigos reencontrar!

É maravilhoso ter o prazer
de, a cada manhã, saudar
aqueles que saem para trabalhar,
estudar ou simplesmente viver

Se houve tristeza no dia anterior,
pense apenas que já passou,
pois todo mal se esvazia

quando um sorriso ilumina a face
e a frase mais linda nasce:
"Bom dia, flores do dia!"


Guayaquil, 01 de outubro de 2013.

sábado, 19 de outubro de 2019

Respeito




Negra Luz

Ao começar o labor do silêncio
Escuto a força do meu tambor
Ouço o vento sussurrar
Sinto as asas dos pardais
Eles ao longe cantam
Ignoram que o silêncio está no ar
Entendo ao fundo
O eco eles deixam
Não é deles o silêncio
Se eu o quero,
Que em mim vá buscar
Se às horas vagas do som
À elas tenho apreço
São meu momento
E os passarinhos?
Que continuem a cantar!
O meu som descansa
No silêncio me refugio
Voo profundo
Para ao longe me encontrar.


sexta-feira, 18 de outubro de 2019

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

O mar em súplica





Minha mãe, me protege!
Tô perdendo nessa briga, não sei filtrar.
O óleo entrou em minhas ondas,
Só a você, mãe, posso reclamar.

Eu que fiz parte de belas fotografias,
Nas festas estava que fizeram pra ti saudar,
Dei alimento, fui tema de filme, novela e poesia,
30 dias eu sangro esse betume e ninguém a me cuidar

Eu que pensava ser das leis um protegido,
Sou um desvalido, contagiado, a contaminar.
Restando apenas rogar a ti a beira desse abismo:
- Vem das profundezas, minha rainha, me abraçar!

Tenho certeza de que sua força contagia.
E com você, essa ferida vai passar.
Interceda! Muda as correntes! Seja meu guia! Onda marinha serei fiel no meu caminhar!

Negra Luz

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Renascendo das Cinzas (soneto)




Rodolfo Pamplona Filho

Como é bom experimentar
a paz e o imenso prazer
de, depois de muito chorar,
no meio das cinzas, renascer...

Se é certo que, após a tempestade,
o sol resplandece mais claro
e que, chegada a maturidade,
o tempo se torna mais caro,

não há melhor sensação
do que se descobrir vivo,
forte, disposto e ativo,

para cantar nova canção
e, tal qual Fênix pulsante,
gozar, da vida, cada instante.

Praia do Forte-Iberostar, 10 de março de 2012.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Diálogo franciscano

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Negra Luz

Nem todas as palavras entendo
Fui seguindo como compreendi
Dei amor, até de mim havia esquecido
Uni elos que faiscavam, fi-los unir

Ao não curado alimentei,
Sem ao medo sucumbir.
As doenças manifestas a outros afasta,
A mim não logram intimidar.
Cuido, está em mim

As enfermidades ocultas na alma
É que em mim tem poder de me amedrontar
Estas me fazem sucumbir
Exercício tão difícil exercitar o pleno amar

As suas faces pintadas descobri
Amar ao que dita destinos?
Perdoar o que zomba de mim?
Entender aquela que pra me proteger
Nem percebe o que fez: me ignorar?

Em sua oração é tão simples
Mas não alcanço a dimensão
Busco a luz do entendimento
Ampliar minha visão.

Ter um pouco de alento, mereço?
Um dia entender de ti, Francisco
O teor íntimo da sua oração.
E poder orar com verdade
Ser fiel a sua intenção.

Por ora, desolada
Distribuo o silêncio
Não importa ouvir nada
Entrego me a Deus em oração.


segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Resolução de Vida Nova




Rodolfo Pamplona Filho

Cansei!
Resolvi lutar!
Daqui em diante,
tudo vai mudar!

Quero me relacionar
com quem me olhe nos olhos
e me identifique pelo nome,
não por um número de RG, CPF,
Cartão de Crédito, CTPS,
Passaporte ou PIS/PASEP.

Eu não quero viver
com quem me pergunta como vou
e não presta atenção na resposta;
com quem arrota uma grandeza
que não é e que não tem
(como se ter algo engrandecesse alguém...)

Eu não vou fazer mais
o que não me dá prazer,
o que não me cause risos ou lágrimas,
o que não me dê vontade de repetir,
o que não me dê frio na barriga,
o que não me faça me sentir vivo...

Eu não vou mais dinheiro guardar,
como se não fosse feito para gastar...
Eu não vou me poupar
de um sabor experimentar,
de ver um filme ou curtir um show,
ou de viajar e conhecer um lugar...

Eu não vou mais tolerar
gente mal-amada e mal-comida,
que desconta seus complexos
em que está à sua volta
como se culpados fossem
da sua esperança nascer morta...

Eu não vou mais ouvir
gente que precisa, dos outros, falar mal,
que destila seu veneno ou afia suas garras
em resenhas que não constroem nada amado:
não andarei segundo seus conselhos,
não me deterei em seu caminho, nem me assentarei ao seu lado...

Jamais esquecerei
que a história é um livro aberto,
cujas páginas, porém, não se pode voltar,
mesmo quando se quer reescrevê-las,
pois palavras proferidas são flechas desferidas,
que não voltam, mesmo quando miram estrelas...

Não deixarei anestesiar
minha capacidade de me indignar...
Não descansarei...
...até você também se empolgar...
Vou viver como sempre quis...
...minha resolução de vida nova é ser feliz!

João Pessoa, 19 de julho de 2010.

domingo, 13 de outubro de 2019

Entre quatro paredes







Vale tudo, logo cedo aprendi
Enquadrada nas minhas escolhas
Tudo vale ali

Em Lençóis listrados
Margens dos dois lados
30 linhas: início e fim

Liberto-me de todos os pecados
Permito-me em todo invadir
Me desnudo não só para mim

Passiva ou ativa
Direta ou indireta
Auxiliar como o haver no existir

Cubro as vergonhas com metáforas
Flor beijando o colibri
Cálice do orvalho de ti

E conectando os sentidos
Coerente com o sentido
Deixo me inteira fluir

A seguir, abro as portas
A realidade estampada
A mulher ocultada revelou-se bem alí

Negra Luz

sábado, 12 de outubro de 2019

A Loirinha do Show





Rodolfo Pamplona Filho

Lábios vermelhos de batom
Cabelos longos como um cometa
Corpo balançando com o som
Olhos azuis como bola de gude

Roupa preta para combinar
com a pele Branca a ostentar
uma tatuagem de uma rosa
como a pedir um cheiro

Rebola como uma deusa
Grita como uma louca
Chora como se sofresse
Canta como se a ouvissem no palco

Um corpo torneado na academia
Um sorriso que derruba um exército
Pernas que parecem dois colossos
E uma boca que causa alvoroço

Eu nunca vou saber seu nome
Eu nunca vou segurar sua mão
Mas vou lembrar em cada sonho:
a loirinha do show...

São Paulo, 24 de setembro de 2017.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Além da certeza





Assim vou seguindo...
Na incerteza
O que quero de mais certo:
Na consciência, não ter dor.

O além é detalhe.
Eu, imperfeita,
Desapego dos amores
Fincados no meu coração.

Em frente,
Vias molhadas.
Graxa na estrada.
Barreira superada.
Página virada.
Início do fim

Clareira aberta
Relva orvalhada
Som da risada
Calmaria na revoada
Forte e cansada
Respiro aliviada
Sobrevivi.

Negra Luz

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Álbum de Figurinhas





Rodolfo Pamplona Filho

Como se diz a alguém
que ela não é mais o seu bem?
Como se faz para falar
que é o momento de separar?

A vida a dois
é um álbum de figurinhas...
A cola une
para ser eterno,
mas, com força,
dá para retirar...
mas sempre fica um pouco
do álbum na figurinha
e da figurinha no álbum...

Como se comunica
não se querer mais dividir a vida?
Como se rompe
o que era para sempre?

A vida a dois
é um álbum de figurinhas...
O tempo esmaece
o que era vivo e viçoso
e o que já foi muito gostoso
pode continuar assim
ou mudar o tom
para um quadro sem cor
ou um filme sem som...

A vida a dois
é um álbum de figurinhas...


Praia do Forte, 8 de setembro de 2017.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

As rosas de outubro



É preciso tocar nas duas rosas.
Tu as tem diante de ti.
Permitir- se adentrar nos meandros.
Profundamente, tocar- se e sentir.

Estas rosas tocadas por ti
Ganham brilho e te tranquilizarão.
Tocar-se garante o benefício
Que de câncer não morrerão.

Não ocultes de ti as tuas rosas.
São só duas!
E tuas são!
Dê lhes amor.

Toque e retoque nas flores segura.
Se algo estranho, procure o doutor.
Suas flores não serão mais só tuas,
A Medicina e todos os istas delas, certo, cuidarão com amor.

Negra Luz

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Exemplo





Exemplo é ensinar com gestos,
conduta e comprometimento,
não somente com palavras
que se perdem com o vento...

O que adianta reclamar de ética
quando se frauda o ponto,
mete-se um atestado,
finge-se que não é consigo?

Como se exigir o cumprimento,
se faz tudo incompleto,
não capricha nas próprias tarefas,
orgulha-se das suas pendências?

Moral se compreende teoricamente,
mas não se aprende sem se viver,
não se internaliza sem sofrer
ou se testemunha sem saber.

A lição se aprende finalmente
quando o verbo se faz carne,
o ideal sai do armário
e a promessa vira ação.


São Paulo, 07 de junho de 2013, mas pensando em um péssimo exemplo
visto em Praia do Forte em 30 de maio de 2013.

Rodolfo Pamplona Filho

domingo, 6 de outubro de 2019

Rosas para Yemanjá




As flores que te mandei
Lembram quantas vezes te abracei
Para na vida seguir

Brancas, lembram a Paz
Que ao meu coração enviou
E toda angústia cessou

Relembram do seu amor
Aos filhos que adotou
E na vida abençou

Yemanjá, eu ti reverencio
 E com um buquê eu envio
 Gratidão e amor!

Negra Luz

sábado, 5 de outubro de 2019

Momentos Felizes




Rodolfo Pamplona Filho

Não dá para ser
feliz o tempo todo,
nem acreditar que
é para sempre
a felicidade que contagia
aquele que está curtindo...
O importante é
saber viver
os momentos felizes
ou, ainda mais,
saber extrair,
tal qual Poliana,
a alegria de cada instante,
como a água de um cactos
ou um suco de uma fruta
que já passou o tempo
de ser comida...
É preciso aproveitar
os momentos felizes...

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Perdi a calcinha



Desesperada estava a procurar a calcinha
Prova irrefutável do que queria ocultar
Orvalhada e com lascivo odor da minha alma
Diria por mim em metáforas aquilo que ele viera me questionar.

Olhei para o teto…
Nada alí!
Em algum momento lembrei:
Ao longe, sem rumo, lancei!

Estiquei a colcha amassada
 E nela nada não há rastro da danada
Restava a gaveta vizinha…
Estaria lá, embolada, entre papéis e versos de amor?

Nenhuma pista me levava
Uma dúvida se aguçara....
Uma calcinha usei?
No meio daquele furor?

E nesse momento tremi,
Quando nos olhos dele
"Meninos eu vi!'
A renda que esqueci

Ao não ter por onde sair
Não mais adiei,
Gritei! Rospondi:
Quero mais!

Negra Luz

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Sobre Traumas




Rodolfo Pamplona Filho

Com sinceridade e amor,
digo, sem pudor:
não se apaga o que se viveu.
Se o trauma ocorreu,
é preciso enfrentá-lo,
sem menosprezá-lo,
com coragem e candura,
assumindo nova postura,
sem temer a luta
ou a força bruta,
para aproveitar o presente,
sem medo ou receio,
e enfrentar o amanhã iminente,
independente do meio
ou do instrumento
que se use, de verdade,
para cessar todo lamento
e vencer a vulnerabilidade.
Para superar um trauma,
é preciso renovar a alma,
sabendo que a tristeza
é normal em qualquer mesa,
mas que o mais importante
é saber caminhar adiante,
pois uma alegria está defronte
a você, em um novo horizonte,
que somente vai achar
quem resolver a vida encarar...

Praia do Forte-Iberostar, 11 de março de 2012.

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Ao negro sem nome da foto





Só de ver as suas cicatrizes,
As tuas dores eu senti
A senzala e seus odores,
Os ferros esbojando a carne
E ela sangrando em mim

Não há cota que a ti pague
Pela a mácula fincada em tua liberdade
Eu a sinto hoje em mim
Os horrores contumazes perpetrados em sua  pele...
Em qualquer parte...
Assinalam a desumanidade
Que em sua imagem assentou

O que sinto vem de constelações
Que impregnam a minha mentalidade.
Chamamento para a responsabilidade
Por tudo passado por ti
Torturados caminhos porque trilhou

Esta é a força da ancestralidade
Os registros de tamanha crueldade
Não se apagam, ganham realidade
Na foto do negro sem identidade
Que um dia alguém registrou.

Negra Luz

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Morrer é Doce!





Rodolfo Pamplona Filho

Quando em meu peito, romper-se a corrente
Que a alma me prende à dor de viver
Não quero por mim, nem uma lágrima,
Nem um suspiro, nem um sofrer...
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu passamento.
Não quero que um sorriso
Se apague pelo fim do meu triste tormento!

Viver foi peregrinar no deserto,
Procurando achar o que não estava escondido,
viver foi submergir no tédio,
Tentando encontrar o que já estava perdido
Quando se esgotar o meu suspiro,
Não desfolhe por mim sequer uma flor!
Não tornai outro ente matéria inútil.
Sozinho, da morte, deixai-me o torpor!

No meu epitáfio, escrevas:
Foi homem e, pela vida, passou
Como nas horas de um pesadelo
Que só, com a bela senhora, acordou

Descansem meu leito solitário
À sombra de um triste cipreste,
Numa floresta há muito esquecida
Onde não usurpem o que ainda me reste.
Este parece ser meu desejo final
Neste esperado momento de verdade nua.
Eis-me pronto para beijar a bela senhora
E ver como a morte é doce e crua!
(1989)