domingo, 31 de julho de 2011

Angústia

Angústia
                                                            Jacyra Ferraz Laranjeira

"Às vezes, a raiva simplesmente me sufocava..."
A angústia é uma bola emperrada na glote,
que vai apertando a minha respiração...
para a minha respiração...
Falta ar no cérebro, vem a sensação de desmaio...
Seguro qualquer coisa.
Os pensamentos são confusos e, se abro a boca,
não falo coisa com coisa, ou a bola cai...
É uma tortura!
Fantasio um arrebento
no desespero de querer oxigênio.
Caio afogando...
Não restam mais bolhinhas
e preciso falar rápido!
É mais um gemido que uma fala,
um pedido de socorro,
em que os pulmões pedem socorro.
Um ruído sai da boca.
Mãos e pernas debatendo
impulsionam o corpo para cima, no poço.
Sufoco em tudo, mas a cabeça desponta
e emerge da água.
Consigo um pouco de ar
quando o vento me bate na cara
para eu ter coragem de sair de lá,
mesmo sem ar.
Então, um pequeno alívio surge,
num pequeno momento, bem pequeno,
mas surge após o medo,a culpa, a dor, a raiva...
A bola cai e a respiração volta aos poucos,
mas fico tensa, esperando o carrasco...
Não! Vou me afogar no poço novamente
E é assim sempre, sempre e sempre...

sábado, 30 de julho de 2011

Étimo de mim

Étimo de mim
Lucio Casado

Étimo de mim
Ponta longínqua da Aguilhada
Pedra que não se desfaz
Aurora, amanhã, Não Vaz ...(!)

Étimo de mim
Leitura aplicada do Espírito
Flor depurada com tanto esmero
Nuvem de fronteira tão longínqua ...

Étimo de mim
Que sofro de ilusão
E que Cantar mais não posso ...(!)
...E que me tomas por Vilão ...

Étimo de mim
Que sofro por perder a Dama, a Pedra, o Botão ...

Étimo de mim
Que sabes que à exaustão sofri essa paixão ...

Étimo de mim
Que me fere a Alma, o Coração
Por não creres na razão ...

Étimo de mim
Que choro a todo o dia
Tamanha servidão ...

Étimo de mim
Que creio na Aurora
Que me faz um bom irmão

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Soneto do Dublê de Corpo

Soneto do Dublê de Corpo

Rodolfo Pamplona Filho

Deito e abraço um corpo
que, por certo, não é o seu,
mas que imagino ser
para não entristecer...

É o consolo por não ter
o alguém só meu,
para quem queria viver
e, junto, envelhecer...

E, assim, vou sobrevivendo,
desejando e querendo
preencher este vazio...

Cultivando a esperança
de que, na minha ultima dança,
eu não esteja tão sozinho...

Salvador, 04 de abril de 2011.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Igual-desigual


Igual-desigual

Carlos Drummond de Andrade

Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todas as experiências de sexo
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em versos livres são enfadonhamente iguais.
Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou
coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Variações em torno do mesmo tema

Variações em torno do mesmo tema
Pepe Chaves

A palavra exata
Do meu poema
Não foi escrita
Maldita
Nem feita

A poesia serve a palavra exata
Servil metal
Na exata medida natural
nem compreendida
Servida crua
Palavra nua

Palavra exata do meu poema
Descaminho único
1 servo de 2
Zero ou nada mais
Que outra alternativa além
A palavra exata
Mediata mente
Medita nem sente o que deveras.

Belo Horizonte, 21 de março de 2011

terça-feira, 26 de julho de 2011

Soneto da Espera

Soneto da Espera

Rodolfo Pamplona Filho

Eu teria muito melhor alento,
se você aqui também estivesse,
descansando sua cabeça em meu peito,
reconstruindo a vida como desse.

Mas como isso ainda não é possível,
contento-me com um sonho lindo
de um futuro incerto no tempo previsível,
mas certo demais quanto ao destino

de vivermos para sempre um para o outro
de chorarmos juntos cada outono
de vivermos cada raio do verão

de nos aquecermos reciprocamente no inverno,
de colhermos flores na primavera
de envelhecermos juntos em tal espera.
Praia do Forte, 29 de dezembro de 2010.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Dois em um

Dois em um


Muito se falou sobre Cisne Negro, o filme que não venceu o Oscar mas que foi, de longe, o mais perturbador e perturbação é vital para o pensamento. Houve quem tenha prestado atenção na questão da esquizofrenia, outros ficaram atraídos pela angustiante busca da perfeição artística e outros viram ali apenas mais um filme de terror. Há outro aspecto ainda, que é o que mais me seduziu: a dificuldade de conviver com a dualidade que existe em nós.

Há na sociedade uma tendência de encaixotar as pessoas e selar uma etiqueta para defini-las. Se você é uma pessoa de cabeça aberta, não lhe perdoarão ser contra o aborto. Se é uma natureba, jamais deverá ser vista tomando uma coca-cola. Se é respeitada nos meios intelectuais como uma grande pensadora, nem se cogita ouvir de sua boca uma resposta parecida com “não sei”. Tem que saber. É obrigatório confirmar o que o seu rótulo induz a pensarem sobre você.

Ainda que tenhamos, todos, um estado de espírito predominante e um estilo de vida que dá pistas sobre o que nos é caro, a verdade é que nada nos define integralmente. Um homem pode ser conservador em suas aplicações financeiras e ao mesmo tempo um aventureiro que se arrisca em esportes radicais.

Uma mulher pode tomar seus pileques de vez em quando e ser extremamente responsável na educação dos filhos. Para a comissão julgadora, isso sugere leviandade: ou você é uma coisa, ou outra. Senão, como garantir a estabilidade que nos estrutura?

Podemos ser uma coisa, e outra, e mais outra, inclusive coisas que se contradizem (te amo, mas preciso ficar sozinho) e não há nada de frívolo nisso. Ao contrário, as pessoas verdadeiramente maduras são as que não se sentem inseguras com suas contradições e conseguem extrair delas uma sabedoria que lhes sustenta. A comissão julgadora fica meio perdida. Que nota essa criatura dual merece? Sugiro: zero em harmonia, 10 em evolução.

No filme, a dualidade se manifesta através do lado claro e escuro da bailarina que precisa interpretar dois personagens antagônicos num mesmo ballet. Ser virginal e erótica ao mesmo tempo lhe esgota e amedronta: como sobreviver a tamanha contradição?

Há muitas possibilidades de desfrutar de antagonismos sem que percamos nossa integridade, basta que a gente tenha um mínimo de bom senso para saber até onde o anjo e o demônio em nós pode se manifestar sem causar danos aos demais. Há espaço para ambos existirem, sem comprometer a nossa singularidade – ao contrário, é na ambivalência que nosso “eu” se firma e encontra a plenitude.

Se isso tudo não passar de conversa pra boi dormir, ao menos serve como argumento para justificar as inquietantes dúvidas que nunca nos abandonam.


MARTHA MEDEIROS

domingo, 24 de julho de 2011

O Que Há

Álvaro de Campos
 
O Que Há
 
 
    O que há em mim é sobretudo cansaço — 
    Não disto nem daquilo, 
    Nem sequer de tudo ou de nada: 
    Cansaço assim mesmo, ele mesmo, 
    Cansaço.      A sutileza das sensações inúteis, 
    As paixões violentas por coisa nenhuma, 
    Os amores intensos por o suposto em alguém,  
    Essas coisas todas — 
    Essas e o que falta nelas eternamente —; 
    Tudo isso faz um cansaço, 
    Este cansaço, 
    Cansaço. 
    Há sem dúvida quem ame o infinito, 
    Há sem dúvida quem deseje o impossível, 
    Há sem dúvida quem não queira nada — 
    Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: 
    Porque eu amo infinitamente o finito, 
    Porque eu desejo impossivelmente o possível, 
    Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,  
    Ou até se não puder ser... 
    E o resultado? 
    Para eles a vida vivida ou sonhada,  
    Para eles o sonho sonhado ou vivido, 
    Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...  
    Para mim só um grande, um profundo, 
    E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,  
    Um supremíssimo cansaço,  
    Íssimno, íssimo, íssimo, 
    Cansaço...

sábado, 23 de julho de 2011

Sede de Viver

Sede de Viver

Rodolfo Pamplona Filho

Eu quero viver intensamente
como se fosse morrer de repente
sem nova chance, irremediavelmente...
Eu quero uma vida sem rotina
onde cada dia tenha a sina
de, do outro, ser diferente...

Eu quero nunca ficar sozinho,
mesmo que, alguns momentos,
eu precise estar só para pensar!
Eu quero dar atenção a todo elemento
que precisar de mim, para ajudar,
acreditando que, alguém, posso mudar!

Eu quero que minha mulher
seja simultânea mãe, parceira,
amante e companheira!
Eu quero acompanhar diariamente
o crescimento de meus filhos
e ser seu melhor amigo eternamente!

Eu quero colocar para fora
todos os sentimentos que guardo
no peito que trazem um gosto amargo!
Eu quero produzir tudo que outrora
programei, um dia, escrever,
plantar, compor, construir ou ler!

Eu quero me sentir desejado,
como nunca antes no passado,
e minha energia não sublimar...
Eu quero aprender a me vestir,
saber onde chegar e de onde vir
o que, com quem e como falar...

Eu quero fazer amor outra vez
com o desejo de quem nunca fez
e o conhecimento da experiência!
Eu quero chorar de felicidade
e sorrir na adversidade,
lutando pela sobrevivência!

Eu quero tudo isto e muito mais...
mesmo que digam que é olhar para trás,
eu não vou me importar,
pois tudo que der, eu vou fazer,
sem medo de tentar ou errar,
sem receio de me machucar,
na busca, finalmente, de saciar
minha recém-descoberta sede de viver.

Recife, 14 de janeiro de 2011.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

CAUSO INTERESSANTÍSSIMO

CAUSO INTERESSANTÍSSIMO


Sentença inusitada de um juiz, poeta e realista.

Esta aconteceu em Minas Gerais (Carmo da Cachoeira). O juiz Ronaldo Tovani, 31 anos, substituto da comarca de Varginha, ex-promotor de justiça, concedeu liberdade provisória a um sujeito preso em flagrante por ter furtado duas galinhas e ter perguntado ao delegado:

"desde quando furto é crime neste Brasil de bandidos? "

O magistrado lavrou então sua sentença em versos:







No dia cinco de outubro
Do ano ainda fluente
Em Carmo da Cachoeira
Terra de boa gente
Ocorreu um fato inédito
Que me deixou descontente.

O jovem Alceu da Costa
Conhecido por "Rolinha"
Aproveitando a madrugada
Resolveu sair da linha
Subtraindo de outrem
Duas saborosas galinhas.

Apanhando um saco plástico
Que ali mesmo encontrou
O agente muito esperto
Escondeu o que furtou
Deixando o local do crime
Da maneira como entrou.

O senhor Gabriel Osório
Homem de muito tato
Notando que havia sido
A vítima do grave ato
Procurou a autoridade
Para relatar-lhe o fato.

Ante a notícia do crime
A polícia diligente
Tomou as dores de Osório
E formou seu contingente
Um cabo e dois soldados
E quem sabe até um tenente.

Assim é que o aparato
Da Polícia Militar
Atendendo a ordem expressa
Do Delegado titular
Não pensou em outra coisa
Senão em capturar.

E depois de algum trabalho
O larápio foi encontrado
Num bar foi capturado
Não esboçou reação
Sendo conduzido então
À frente do Delegado.

Perguntado pelo furto
Que havia cometido
Respondeu Alceu da Costa
Bastante extrovertido
Desde quando furto é crime
Neste Brasil de bandidos?

Ante tão forte argumento
Calou-se o delegado
Mas por dever do seu cargo
O flagrante foi lavrado
Recolhendo à cadeia
Aquele pobre coitado.

E hoje passado um mês
De ocorrida a prisão
Chega-me às mãos o inquérito
Que me parte o coração
Solto ou deixo preso
Esse mísero ladrão?

Soltá-lo é decisão
Que a nossa lei refuta
Pois todos sabem que a lei
É prá pobre, preto e puta...
Por isso peço a Deus
Que norteie minha conduta.

É muito justa a lição
Do pai destas Alterosas.
Não deve ficar na prisão
Quem furtou duas penosas,
Se lá também não estão presos
Pessoas bem mais charmosas.

Afinal não é tão grave
Aquilo que Alceu fez
Pois nunca foi do governo
Nem seqüestrou o Martinez
E muito menos do gás
Participou alguma vez.

Desta forma é que concedo
A esse homem da simplória
Com base no CPP
Liberdade provisória
Para que volte para casa
E passe a viver na glória.

Se virar homem honesto
E sair dessa sua trilha
Permaneça em Cachoeira
Ao lado de sua família
Devendo, se ao contrário,
Mudar-se para Brasília!!!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Habeas Pinho

HABEAS-PINHO
Em 1955, em Campina Grande, na Paraíba, um grupo de boêmios fazia serenata numa madrugada do mês de Junho, quando chegou a polícia e apreendeu o violão.

Decepcionado, o grupo recorreu aos serviços do advogado Ronaldo Cunha Lima, então recentemente saído da Faculdade, e que também apreciava uma boa seresta.

Ele peticionou em Juízo para que fosse liberado o violão.
Aquele pedido ficou conhecido como "Habeas-Pinho" e enfeita as paredes de escritórios de muitos advogados e bares de praias no Nordeste.

Mais tarde, Ronaldo Cunha Lima foi eleito Deputado Estadual, Prefeito de Campina Grande, Senador da República, Governador do Estado e Deputado Federal.

Eis a famosa petição HABEAS-PINHO
Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara desta Comarca:
O instrumento do crime que se arrola
Neste processo de contravenção
Não é faca, revólver nem pistola,
É simplesmente, doutor, um violão.
Um violão, doutor, que na verdade,
Não matou nem feriu um cidadão,
Feriu, sim, a sensibilidade
De quem o ouviu vibrar na solidão.
O violão é sempre uma ternura,
Instrumento de amor e de saudade,
Ao crime ele nunca se mistura,
Inexiste entre eles afinidade.
O violão é próprio dos cantores,
Dos menestréis de alma enternecida
Que cantam as mágoas e que povoam a vida
Sufocando suas próprias dores.
O violão é música e é canção,
É sentimento de vida e alegria,
É pureza e néctar que extasia,
É adorno espiritual do coração.
Seu viver, como o nosso, é transitório,
Porém seu destino se perpetua,
Ele nasceu para cantar na rua
E não para ser arquivo de Cartório.
Mande soltá-lo pelo Amor da noite,
Que se sente vazia em suas horas,
Para que volte a sentir o terno açoite
De suas cordas leves e sonoras.
Libere o violão, Dr. Juiz,
Em nome da Justiça e do Direito,
É crime, porventura, o infeliz
cantar as mágoas que lhe enchem o peito?
Será crime, e, afinal, será pecado,
Será delito de tão vis horrores,
perambular na rua um desgraçado
derramando ali as suas dores?
É o apelo que aqui lhe dirigimos,
Na certeza do seu acolhimento,
Juntando esta petição aos autos nós pedimos
e pedimos também DEFERIMENTO.
Ronaldo Cunha Lima, advogado.


O juiz Arthur Moura, sem perder o ponto, deu a sentença no mesmo tom:
"Para que eu não carregue remorso no coração,
Determino que seja entregue ao seu dono,
Desde logo, o malfadado violão! “

Recebo a Petição escrita em verso
E, despachando-a sem autuação,
Verbero o ato vil, rude e perverso,
Que prende, no cartório, um violão.

Emudecer a prima e o bordão,
Nos confins de um arquivo em sombra imerso
È desumana e vil destruição
De tudo, que há de belo no universo.

Que seja Sol, ainda que a desoras,
E volte à rua, em vida transviada
Num esbanjar de lágrimas sonoras.

Se grato for, acaso ao que lhe fiz,
Noite de lua, plena madrugada,
Venha tocar à porta do Juiz.

 

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O Leitor do Poeta


O Leitor do Poeta
Leitor e poeta são desconhecidos.
O elo é virtual, platônico e literário.
O autor procura ser lido, entendido,
Num diálogo eloquente e imaginário.

Seu interlocutor não tem voz.
No entanto tem sentimentos.
Na busca de trazer-lhe bons momentos
Sofre por dentro e por fora. É Atroz.

Tentar dar à vida sentido:
À sua e também à do outro,
Sem saber se será compreendido.

Neste movimento para dentro,
Tem medo de não mais se achar
Pois os dois estão no mesmo lugar.


(Paulo Basílio - 27/03/2011)

terça-feira, 19 de julho de 2011

Não se apaixone!

Não se apaixone!

Rodolfo Pamplona Filho

Aproveite a oportunidade,
que não surge em qualquer idade,
mas lembre-se: não se apaixone!

Entregue seu corpo como nunca
e tenha prazer em fartura,
mas lembre-se: não se apaixone!

Descarregue toda sua tensão
e coloque para fora todo seu tesão,
mas lembre-se: não se apaixone!

Como seguir a advertência
e não parecer desobediência:
como não apaixonar,
quando apaixonado já está?

Salvador, 25 de dezembro de 2010.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Poeta a caminho da melhor idade!


Poeta a caminho da melhor idade!

Neste dias plúmbeos, estou de baixo astral.
Dificuldades demais. Folhas ao vento.
Estou mais para Antero de Quental.
Espero que seja só por um momento.

Ao invés de versos perfeitos,
Sonoros. Só me vêm à mente
Pobres e desconexos sentimentos.
Temas áridos, sonolentos vates.

Acho que estou em momento adverso.
Não consigo som, figuração ou beleza,
Na escrita, no pensamento, no verso.
Só transmito, penso e escrevo: tristeza.

Ó Musa, inspiração dos poetas! Sem ira,
Por caridade, pena ou vaidade.
Não permitas termine assim esta lira.
Acuda-me! A caminho da melhor idade.

(Paulo Basílio 24/03/2011) 

domingo, 17 de julho de 2011

FIM DO MUNDO EM 2012 - A ARCA DE NOÉ (brasileira)

FIM DO MUNDO
EM 2012

A ARCA DE NOÉ (brasileira)


Um dia, o Senhor chamou Noé que morava no Brasil e

ordenou-lhe:

- ANTES DE 21.12.2012 , 6 meses antes ,( NOVO FIM DO MUNDO ) farei chover ininterruptamente durante 40 dias e 40 noites, até que o Brasil seja coberto pelas águas.

Os maus serão destruídos,
mas quero salvar os justos e um casal de cada espécie animal.
Vai e constrói uma arca de madeira.
No tempo certo, os trovões deram o aviso e os relâmpagos cruzaram o céu.

Noé chorava, ajoelhado no quintal de sua casa,
quando ouviu a voz do Senhor soar furiosa, entre as nuvens:

- Onde está a arca, Noé?
- Perdoe-me, Senhor suplicou o homem.
Fiz o que pude, mas encontrei dificuldades imensas:

Primeiro tentei obter uma licença da Prefeitura,
mas para isto, além das altas taxas para obter o alvará,
me pediram ainda uma contribuição para a campanha de eleição do prefeito.

Precisando de dinheiro, fui aos bancos e não consegui
empréstimo, mesmo aceitando aquelas taxas de juros ...

O Corpo de Bombeiros
exigiu um sistema de prevenção de incêndio, mas consegui contornar, subornando um funcionário.

Começaram então os problemas com o IBAMAe a
FEPAM para a extração da madeira.
Eu disse que eram ordens SUAS, mas eles só queriam saber se eu tinha um "Projeto de Reflorestamento " e um tal de
"Plano de Manejo ".

Neste meio tempo ELES descobriram também uns casais de
animais guardados em meu quintal..

Além da pesada multa, o fiscal falou em "Prisão Inafiançável " e eu acabei tendo que matar o fiscal, porque,
para este crime, a lei é mais branda.

Quando resolvi começar a obra, na raça,apareceu o CREA e me multou porque eu não tinha um Engenheiro Naval
responsável pela construção.

Depois apareceu o Sindicato exigindo que eu contratasse seus marceneiros com garantia de emprego por um ano.
Veio em seguida a Receita Federal, falando
em " sinais exteriores de riqueza " e também me multou.
Finalmente, quando aSecretaria Municipal do Meio Ambiente pediu o " Relatório de Impacto Ambiental " sobre a zona a ser inundada, mostrei o mapa do Brasil.

Aí, quiseram me internarnum Hospital Psiquiátrico!
Sorte que o INSS estava de greve...

Noé terminou o relato chorando,
mas notando que o céu clareava perguntou:

- Senhor, então não irás mais destruir o Brasil?
- Não! - respondeu a Voz entre as nuvens
- Pelo que ouvi de ti, Noé,
cheguei tarde!

O governo já se encarregou de fazer isso!

sábado, 16 de julho de 2011

Poesia Multicromática!

Poesia Multicromática!

Quisera pudesse o poeta fazer jorrar brilho
no poema. Lançar-lhe luzes e tintas de vários matizes.
Mas, a sua tímida rima limita-o ao esmerilho
das palavras. Já que é apenas das cores um aprendiz.

Pudera conseguisse passar para o papel
A chama vermelha da paixão. O branco esquálido
Das ilusões perdidas. Isto para ele é tudo Babel.
Qualquer cintilante e azul tentativa não terá sentido.

O grau de dificuldade que lhe acomete
Na vã tentativa de juntar arquitetura e engenharia,
O impossibilita de vivas cores trazer para a poesia.

O que lhe resta, na alvura do papel, é o combate
Doentio, para preencher o espaço branco
Com o negrume ou o cinza do lápis riscando.

(Paulo Basílio – 21/03/2011)

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Green Eyes


Green Eyes

Rodolfo Pamplona Filho

Once upon a time,
a man was looking for peace,
but all he found was darkness,
until he knows a special face:
Green Eyes...

Once in a life,
everyone has a chance
to learn the meaning
of beauty in the space:
Green Eyes...

Once, twice or a lot of times,
everybody has to live
with the hope of, finally,
be forever happy and young at heart;
Green Eyes...

There's no more seek
for a place to rest
There's no more need
to be always the best
All you really want to be with
It's... Green Eyes
Salvador, 19 de janeiro de 2011.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A DOR DO POETA

A DOR DO POETA

A minha poesia está muito intimista.
Escrevo expondo meu ponto de vista.
Do cotidiano, o meu dia-a-dia, me inspira.
Talvez esta seja a minha lira.

Teoria literária, metalinguagem,
São coisas abstratas demais para mim.
A minha verbe, a minha viagem,
É poder narrar a vida em folhetim.

Do mundo concreto recolho fragmentos.
Só não quero, da alvorada, sofrimentos.
Tenho medo de que a qualquer momento,
Transmita não alegria, mas lamento.

Missão ingrata, às vezes, a do poeta:
Tentar mostrar aos outros o invisível,
Sem parecer louco, bobo ou pateta.
Transformar o comum em algo incrível.

(Paulo Basílio)

quarta-feira, 13 de julho de 2011

REDAÇÃO DO CONCURSO DA VOLKSWAGEN.

Eu não sei se isto é verdade (provavelmente, não deve ser...), mas que é bonito, é...

REDAÇÃO DO CONCURSO DA VOLKSWAGEN.
No processo de seleção da Volkswagen do Brasil, os candidatos deveriam
responder a seguinte pergunta: 'Você tem experiência'?
A redação abaixo foi desenvolvida por um dos candidatos. Ele foi aprovado e
seu texto está fazendo sucesso, e com certeza ele será sempre lembrado por
sua criatividade, sua poesia, e acima de tudo por sua alma.

REDAÇÃO VENCEDORA:

Já fiz cosquinha na minha irmã pra ela parar de chorar.
Já me queimei brincando com vela.
Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto.
Já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo.
Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista.
Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora.
Já passei trote por telefone.
Já tomei banho de chuva e acabei me viciando.
Já roubei beijo.
Já confundi sentimentos.
Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido.
Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro.
Já me cortei fazendo a barba apressado.
Já chorei ouvindo música no ônibus.
Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que eram as mais difíceis de esquecer.
Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas.
Já subi em árvore pra roubar fruta.
Já caí da escada de bunda.
Já fiz juras eternas.
Já escrevi no muro da escola.
Já chorei sentado no chão do banheiro.
Já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante.
Já corri pra não deixar alguém chorando.
Já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só.
Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado.
Já me joguei na piscina sem vontade de voltar.
Já bebi uísque até sentir dormente os meus lábios.
Já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar.
Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso.
Já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial.
Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar.
Já apostei em correr descalço na rua.
Já gritei de felicidade.
Já roubei rosas num enorme jardim.
Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um 'para sempre' pela metade.
Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol.
Já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.
Foram tantas coisas feitas.
Tantos momentos fotografados pelas lentes da emoção e guardados num baú, chamado coração.

E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita:
'Qual sua experiência?'
Essa pergunta ecoa no meu cérebro: experiência... experiência.
Será que ser 'plantador de sorrisos' é uma boa experiência?
Sonhos!!! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos!
Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta
pergunta: Experiência? "Quem a tem, se a todo o momento tudo se renova?"

terça-feira, 12 de julho de 2011

Soneto da Reconstrução

Soneto da Reconstrução

Rodolfo Pamplona Filho

Eu não sou perfeito,
nem você é tampouco,
mas podemos dar um jeito
de sermos um do outro.

O tempo me fez mudar,
alterando minha perspectiva
e acabei por hesitar
sobre o que queria da vida

Tudo valeu a pena?
Não tenho dúvidas que sim,
pois o destino me fez assim!

A margem de erro é pequena?
Definitivamente não,
mas não temo tentar a reconstrução.


Salvador, 28 de março de 2011.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

SOLILÓQUIO

SOLILÓQUIO

Oh! vida miserável, quando enfim
Poderei apagar o teu pavio?

Em que porto meu lúgubre navio

Esmagará seu último motim?

Até quando as palavras que eu recrio

Destruirão as orlas do arlequim

E o pouco que restou dentro de mim

Só servirá de mote e de assobio?

Quando essa seiva de mortal matéria

A transportar patética miséria

Vai desistir desse mover tão fútil

E aqueles vermes que encerram a história

Vão apagar a última memória

Do que restou de um chimpanzé inútil?



Alexandre Roque, fevereiro de 2011
http://www.alexandreroque.com/2011/02/soliloquio.html

domingo, 10 de julho de 2011

Aos Futuros Magistrados


Aos Futuros Magistrados

Os esforços não serão em vão:
a meta, o sucesso, só com dedicação.
A cada livro, aula e anotação,
estarás mais apto à sua missão.

Cultura geral e humanística,
a dogmática e a filosofia.
conduzem à uma boa hermenêutica,
na sua lida pragmática e diária.

Estudos assim, levados a sério.
não conduzem a outro caminho,
senão à magistratura ou ao Magistério.

Não percas o Direito em escaninhos,
bem o aplique aos jurisdicionados,
pois, para isto, estás vocacionado!

(Paulo Basílio – 11-03-2011)

sábado, 9 de julho de 2011

Explosão


Explosão


Joguei pela janela os autos da reclamação. Acho que está se desenhado um quadro maníaco-obsessivo. Instruções, audiências; verdades e mentiras, em doses homeopáticas: quatro palavras desta e três daquela. Tanto trabalho, tanta gente, tanto calor. Os corredores repletos de gente ávida por Justiça. As prateleiras entupidas de processos. Advogados, servidores, telefone, cobrança, dívidas... Levei as mãos à boca e gritei: CHEGA!!!!
 - Doutor? Tudo bem?
Era voz feminina, mas não quis saber de quem era o espanto.
Retornei para casa. 9h30 da manhã. Paletó e gravata no sofá; chutei os sapatos na parede. Enquanto tirava a calça, escutei a voz da empregada que conversava ao celular. Fui para o quarto, liguei o condicionador de ar. 18 graus centígrados. Tirei a roupa e, sem vergonha nenhuma, fechei os olhos. Sequer pensei como estaria a Vara e os servidores. Esqueci-me, completamente, do valor social do trabalho e do significado da pacificação social. Estava puto, pelado e começava a sentir frio. Desliguei o telefone do quarto e percebi que o celular não estava comigo. Talvez flutuasse pela janela do fórum junto à reclamação. Naquela hora, provavelmente, a gravidade da Terra (e do fato) determinara a inércia dos objetos. Papéis e celulares, quando jogados das janelas, repousam no mesmo e sólido chão. A gravidade é indiscutível. Insolúvel.
A boca retinha um gosto amargo. Os ouvidos escutavam um agudo e interminável zumbido. Angustiante. As pálpebras cerraram os olhos. Não sentia cheiro algum. O lençol fora retirado da cama e o velho colchão, áspero e rugoso, com suas manchas indecifráveis das noites eternas, ficou impotente e imóvel com o peso do meu corpo e da minha loucura. O grito que espantou a todos, inclusive as inconfessáveis paredes da sala de audiência, foi minha última manifestação oral. Gutural e peremptória.
À medida que a pulsação cardíaca diminuía, os músculos das pálpebras relaxavam. Dormi, assim, platonicamente. Alguém me cobriu. Não sei se foi a empregada ou a minha mulher. Naquele momento, nada existia ao meu redor; nada havia em minhas entranhas; nada havia no exterior de meu quarto, domicílio de meu delírio matinal.
Tive um pesadelo horrível. Sonhei que perdera os sentidos. Todos ao mesmo tempo, com exceção do tato. Fiquei desesperado ao perceber que a minha visão tão peculiar do mundo não poderia ser compartilhada com mais ninguém, nem comigo. Nada escutava e o paladar continuava amargo. Ao otimista, o amargor de minha boca poderia ser ainda resquício da permanência de alguma sensibilidade sensorial. Amarga, mas sensível. O zumbido silenciara-se e a sensação era sombria. Sentia frio, vento e umidade. Caminhava lentamente por um chão sem deformações e, num átimo, pensei que caminhava em lugar desconhecido. Começou a incomodar-me a percepção de que estava sem sentidos, paradoxalmente. Sentidos ausentes, percepção aguçada. A umidade do ar, gradativamente, diminuía sua interferência em minha pele. Durante a lenta caminhada onírica, encontrava paredes, muitas paredes. Tentava me deslocar em diagonais, em movimentos aleatórios, em linhas retas e sempre me deparava com paredes. Quando conseguia movimentar-me em círculos, não as encontrava. Senti objetos pontiagudos rasgarem a sola de meus pés e acomodarem-se, rijamente, ao lado de meus artelhos. Pelo dorso, as minhas mãos foram devassadas por pregos imensos. Senti a temperatura da pele subir, rapidamente, com o sangue que a cobria...
Acordei. Era noite de chuva intensa. Desliguei o condicionador de ar. O frio do quarto incomodava-me. Não havia sangue, nem feridas. Continuava nu e um copo d’água repousava no criado-mudo. Não ouvia mais o agudo zumbido e tudo era silêncio. Uma luz brilhava ao longe e ao abrir a janela senti o olor dos jambeiros. Molhei a boca amarga e, apesar de sentir fome, resolvi deitar novamente.
As portas do quarto estavam fechadas e assim continuariam.

Manaus, 26.3.2011
José Antonio

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Apelo a Meus Dessemelhantes em Favor da Paz

Apelo a Meus Dessemelhantes em Favor da Paz

Carlos Drummond de Andrade

Ah, não me tragam originais
para ler, para corrigir, para louvar
sobretudo, para louvar.
Não sou leitor do mundo nem espelho
de figuras que amam refletir-se
no outro à falta de retrato interior.
Sou o Velho Cansado
que adora o seu cansaço e não o quer
submisso ao vão comércio da palavra.
Poupem-me, por favor ou por desprezo,
se não querem poupar-me por amor.
Não leio mais, não posso, que este tempo
a mim distribuído
cai do ramo e azuleja o chão varrido,
chão tão limpo de ambição
que minha só leitura é ler o chão.
Nem sequer li os textos das pirâmides
os textos dos sarcófagos,
estou atrasadíssimo nos gregos,
não conheço os Anais de Assurbanipal,
como é que vou -
mancebos,
senhoritas,
-chegar à poesia de vanguarda
e às glórias do 2.000, que telefonam?
Passam gênios talvez entre as acácias,
sinto estátuas futuras se moldando
sem precisão de mim
que quando jovem (fui-o a.C., believe or not)
nunca pulei muro de jardim
para exigir do morador tranqüilo
a canonização do meu estilo.
Sirvam-se de exonerar este macróbio
do penoso exercício literário.
Não exijam prefácios e posfácios
ao ancião que mais fala quando cala.
Brotos de coxa flava e verso manco,
poetas de barba-colar e velutínea
calça puída, verde: tá!
Outoniços, crepusculinos, matronas, contumazes:
tá!
O senhor saiu. Hora que volta? Nunca.
Nunca de corvo, nunca de São-Nunca.
Saiu pra não voltar.
Tudo esqueceu: responder
cartas; sorrir
cumplícemente; agradecer
dedicatórias; retribuir
boas-festas; ir ao coquetel e à noite
de autógrafos-com-pastorinhas.
Ficou assim: o cacto de Manuel
é uma suavidade perto dele.
Respeitem a fera. Triste, sem presas, é fera.
Na jaula do mundo passeia a pata aplastante,
cuidado com ela!
Vocês, garotos de colégio, não perguntem ao poeta
quando ele nasceu.
Ele não nasceu.
Não vai nascer mais.
Desistiu de nascer quando viu que o esperavam garotos de colégio de lápis em
punho
com professores na retaguarda comandando: Cacem o urso-polar,
tragam-no vivo para fazer uma conferência.
Repórteres de vespertinos, não tentem entrevistá-lo.
Não lhe, não me peçam opinião
que é impublicável qualquer que seja o fato do dia
e contraditória e louca antes de formulada.
Fotógrafos: não adianta
pedir pose junto ao oratório de Cocais
nem folheando o álbum de Portinari
nem tomando banho de chuveiro.
Sou contra Niepce, Daguerre, contra principalmente minha imagem.
Não quero oferecer minha cara como verônica nas revistas.
Quero a paz das estepes
a paz dos descampados
a paz do Pico de Itabira quando havia Pico de Itabira
a paz de cima das Agulhas Negras
a paz de muito abaixo da mina mais funda e esboroada
de Morro Velho
a paz
da
paz