sábado, 4 de junho de 2011

Para Viver Um Grande Amor (Vinicius de Moraes)

Para Viver Um Grande Amor
Vinicius de Moraes

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.


Texto extraído do livro "Para Viver Um Grande Amor", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág. 130.
Conheça a vida e a obra do autor em "Biografias".


http://www.releituras.com/viniciusm_grandeamor.asp

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Sexualidade

Sexualidade

Rodolfo Pamplona Filho

A energia mais poderosa
de todo o universo
é a prática mais gostosa,
cantada em prosa e verso,

que toda a humanidade
exercita, em público ou escondido,
mas que, quase nunca, na verdade,
consegue ser bem resolvido,

pois comumente confundido
com o mero ato sexual,
transformando algo lindo
em um mero rito carnal.

Descobrir sua sexualidade
é entregar-se ao seu desejo,
sem receio da verdade
e sem apertar o freio...

Agarrar, com vontade,
o destinatário do querer
e aproveitar a oportunidade
de compartilhar o prazer.

E, se o gozo for rápido,
sexo é muito mais que isso,
pois mesmo um membro flácido
pode ser um compromisso

de que o tesão é emocional,
e não somente fisico...
que a sedução é intelectual
e não um mero risco

de aprender que o amor não é um mito
e que a vida é um labirinto,
cujos atalhos eu omito
para buscar o infinito

que é saber usar o meu corpo,
não apenas como um instinto animal,
mas para viver finalmente solto
de qualquer tortura ou prisão mental.


Salvador, 19 de fevereiro de 2011.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Solteira, sim; sozinha.... também!

Solteira, sim; sozinha.... também! - Tayane de Aguiar

por Tayane de Aguiar, segunda, 2 de maio de 2011 às 15:47

Eu tenho uma dificuldade muito grande em entender certas coisas. Na verdade, é uma dificuldade congênita. Por mais que eu me esforce – e eu tenho me esforçado muito –, simplesmente não consigo. Algumas coisas não entram em minha cabeça.
Uma delas é essa necessidade que as pessoas possuem de se afirmarem solteiras. Aliás, não é isso, de per si, que me incomoda. O que eu não entendo é o estilo de vida “solteiro, sim; sozinho, nunca!”, disseminado pela maior das mulheres-fruta e apoiado por quase todos.
É como se estar sozinho fosse um mal indesejado. Pior: é como se ter inúmeras relações, todas ao estilo fast love, fosse a máxima da juventude. Posso dizer? Eu me recuso.
Não que eu esteja aqui fazendo uma apologia aos relacionamentos sérios – por muito tempo eu verdadeiramente a fiz, mas, agora, tenho evitado me pronunciar à respeito –; o que me faz escrever é essa negativa absoluta ao estar verdadeiramente sozinho.
Ora: que mal há nisso? Por que estar solteiro é uma benção, mas sozinho um tormento?
Tomo a liberdade de, eu mesma, responder: é preciso ter muita coragem para estar sozinho. Nessa condição, não há ninguém em quem se apoiar. Não há desculpas, não há alternativas, não há consolos: é você consigo mesmo. É você, diante do espelho, encarando todos os seus defeitos, sem ninguém para exaltar-lhe as qualidades. É se dar um tempo para conhecer tudo aquilo que lhe compõe. E isso, a princípio, é realmente assustador.
Estar sozinho – para aqueles que optam, livremente, por isso – é só um degrau no caminho para o autoconhecimento. Não vou negar: um degrau difícil e muitas vezes doloroso de se alcançar, mas, acreditem, indispensável.
Por isso, não tenha medo de optar pela solidão. Não a solidão dolorosa, sofrida, amargurada. Mas, a solidão livre, opcional, a solidão do conhecimento, do saber-se inteiro. Mais que isso: não tenha medo de reconhecer-se sozinho. Certamente será mais sincero do que permanecer ofuscado pela mentira das incontáveis companhias.
Estou solteira, sim; sozinha, também, e indisponível. Sem o menor problema em assumir isso.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Não volta mais!


Não volta mais!
Letra e Música: Alexandre Machado


Se você acredita que está tudo bem entre nós dois,
não há outra saída, senão ir embora...
Já não consigo suportar, não posso deixar pra depois...
Sei que é difícil, mas chegou a hora
Milhares de recordações, fotografias, ilusões...
São cicatrizes que você deixou em mim...
É complicado entender como viver sem ter você:
seguir em frente! Agora vai ser bem assim!
Não vou mudar!
Nem vou olhar pra trás!
O que passou, passou...
Não volta mais!
Se você busca uma resposta pra tudo o que aconteceu,
se ainda quer saber da nossa história,
não tenho muito a dizer, pois já cansei de lhe falar
momentos que ficaram na memória
O que eu sentia por você não tenho como expressar
Não há no mundo o que possa traduzir
Eu só queria que você pudesse experimentar
sentir o amor que, um dia, eu senti
Não vou mudar!
Nem vou olhar pra trás!
O que passou, passou...
Não volta mais!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Coelhos

Coelhos

Rodolfo Pamplona Filho

Todo mundo tem seus coelhos:
alguns são pequenos como pulgas,
outros têm o tamanho de nossos medos
e causam nossas primeiras rugas.

Coelhos maiores que elefantes,
que não é possível esconder...
Coelhos que castram amantes
em momentos de constranger...

Tal qual o ditado com Mateus,
quem pariu o seu, que o balance
e não transfira para outros, os seus
receios de cair em transe...

por não conseguir ser mais leve...
por não perceber que a vida é breve...
por perder a oportunidade única
de trocar a velha túnica

que o limita ao mesmo papel,
não permitindo novas sensações,
na auto-condenação a uma Babel
de reviver velhas frustrações...

Salvador, madrugada de 13 de fevereiro de 2011.

domingo, 29 de maio de 2011

Jurisdição do Relacionamento

Todo relacionamento traz embutido um processo de conhecimento, ao qual se segue o processo de execução. A doutrina da mocidade, então, inventou as medidas cautelares e a tutela antecipada. Afinal de contas, com o 'fica', você já obtém aquilo que conseguiria com o relacionamento principal, e, além do mais, toma conhecimento de tudo o que possa acontecer no futuro, já estando precavido.

Esse processo de conhecimento pode, de cara, ser extinto sem julgamento de mérito, por carência de ação. Pior é o indeferimento da inicial por inépcia. E sem contar que na ausência do impulso oficial a coisa não vai pra frente. Havendo ilegitimidade de parte, o que normalmente se constata apenas na fase probatória; ou ainda, a impossibilidade do pedido, não tem quem agüente.

E quando é o caso, ainda mais freqüente, de falta de interesse... aí paciência!

Se ocorrer intervenção de terceiros, a coisa complica, pois amplia objetiva e subjetivamente o campo do relacionamento, transformando- o em questão prejudicial. Pois, como se sabe, todo litisconsórcio ativo é facultativo, dependendo do grau de abertura e modernidade do relacionamento.

É necessário estar sempre procedendo ao saneamento da relação, para se manter a higidez das fases futuras. É um procedimento especial, uma mescla entre processos civil e penal, podendo seguir o rito ordinário, sumário, ou, até mesmo, o sumaríssimo.. . Dependendo da disposição de cada um.

A competência para dirimir conflitos é concorrente. E a regra é que se busque sempre a transação. Com o passar do tempo, depois de produzidas todas as provas de amor, chega o momento das alegações finais... É o noivado! Este pode acontecer por simples requerimento ou então por usucapião. Alguns conseguem a prescrição nesta fase. E na hora da sentença: 'Eu vos declaro marido e mulher, até que a morte os separe'.

Em outras palavras, está condenado a pena de prisão perpétua. São colocadas as algemas no dedo esquerdo de cada um, na presença de todas as testemunhas de acusação. E, de acordo com as regras de direito das coisas, 'o acessório segue o principal'.. . Casou, ganha uma sogra de presente. E neste caso específico, ainda temos uma exceção, pois laços de afinidade não se desfazem com o fim do casamento. Mas essa sentença faz apenas coisa julgada formal. É possível revê-la a qualquer tempo... Mas se for consensual, tem que esperar um ano, apenas!

Talvez você consiga um 'habeas corpus' e... Novamente a liberdade. Como disse alguém que não me lembro agora, 'o casamento é a única prisão em que se ganha liberdade por mau comportamento' . Ah!!! Nesse caso você será condenado nas custas processuais e a uma pena restritiva de direitos: prestação pecuniária ou perdimento de bens e valores.