quinta-feira, 31 de maio de 2012

guerra e paz.

Ele me tirou a paz. E me trouxe uma guerra mais intensa que as atômicas, as mundiais, a dos seis dias, a dos cem anos.
Mas o saldo não são corpos mutilados, orfãos, ditaduras ou revolução.
Dessa guerra, vejam vocês, nasce um coração tão grande que é de caber o mundo..

Beatriz A.M.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

(UL) TRAPAÇA (DA)

(UL) TRAPAÇA (DA)
Marta Torres

Sinto-me uma inútil
Uma completa idiota
Tola, impotente, débil
Uma estéril

Onde está o meu charme de fêmea?
A sedução e a confiança nordestinas?
A minha caliência latina?
O meu poder de sedução brasileiro?

A postura correta, o andar macio
Trato educado, delicado, sensível
Cultura de artes, música eclética
Esportes, viagens, filosofia
Assunto para anos de conversas
Feminilidade até nas palavras e idéias

O olhar realçado pela maquiagem
A roupa certa, nem tanto nem tão pouco
O salto fino acompanhando os passos seguros
O aroma perfeito,
suave, doce, afrodisíaco
Até o cabelo irretocável
Simplicidade da alma
mas sofisticação para se ver

A atração existia, é inconteste
Os olhares não escondiam

Mas para quê tanta produção?
Fantasia, programação, sonho
Imaginação fértil e avançada no tempo

Sinto-me uma inútil
Uma Sharon Stone sem o descruzar das pernas
Uma Sheila Carvalho sem o rebolado
Gisele Bunchein sem as passarelas
Uma cinderela completamente descalça

A timidez me venceu
Sem arma, sem tanques
Sem ordens de nenhum superior
Criança num corpo de mulher
A pura e simples timidez
Trapaceira.

(20 de março de 2006)

terça-feira, 29 de maio de 2012

Na Trilha do Corpo

Na Trilha do Corpo
Beatriz A. M
As curiosas mãos do poeta
são como tinta em minha geografia:
vão percorrendo sendas, descobrindo lagos
explorando o que nem eu mesma conhecia...
Escalam montes, descem platôs,
trafegam por planicies as mais macias,
abrem caminhos, encontram atalhos,
querem chegar aonde eu também as queria...
E são gentis, as mãos do poeta,
são amáveis, tem filosofia...
não andam com pressa, deslizam tranquilas
buscam o toque que me arrepia
E na estrada sinuosa do meu corpo de musa,
as mãos do poeta tecem uma elegia,
que fala de tempo, que me veste de amor,
que me inaugura o prazer e se torna epifania.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Caio Fernando Abreu


"... então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para liberar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque é assim que és e unicamente assim é que me queres e me utilizas todos os dias, e nos usamos honestamente assim..."

Caio Fernando Abreu


domingo, 27 de maio de 2012

O FRASCO DE MAIONESE E O CAFÉ


O FRASCO DE MAIONESE E  O CAFÉ

Quando as coisas na vida parecem demasiadas, quando 24 horas por dia não são suficientes...
Lembre-se do frasco de maionese e do café.
Um professor, durante a sua aula de filosofia, sem dizer uma palavra, pega um frasco de maionese vazio e enche com bolas de ping pong.
A seguir, perguntou aos alunos se o frasco estava cheio. Os estudantes responderam, sim.
Então, o professor pega uma porção de pedrinhas e mete-as no frasco de maionese. As pedrinhas encheram os espaços vazios entre as bolas de ping pong.
O professor voltou a perguntar aos alunos se o frasco estava cheio, e eles voltaram a dizer que sim.
Então...o professor pegou uma porção de areia e colocou dentro do frasco de maionese. Claro que a areia encheu todos os espaços vazios e, uma vez mais, o professor voltou a perguntar se o frasco estava cheio. Nesta ocasião os estudantes responderam em unanimidade,  "Sim !".
Em seguida, o professor acrescentou 2 xícaras de café ao frasco e claro que o café preencheu todos os espaços vazios entre os grãos de areia. Os estudantes, nesta ocasião começaram a rir,mas repararam que o professor estava sério e disse-lhes:

'QUERO QUE SE DÊEM CONTA QUE ESTE FRASCO REPRESENTA A VIDA'.
As bolas de ping pong são as coisas Importantes:
como a FAMÍLIA, a SAÚDE, os AMIGOS, tudo o que você AMA DE VERDADE.
São coisas, que mesmo se perdessemos todo o resto, nossas vidas continuariam cheias.
As pedrinhas são as outras coisas
que importam como: o trabalho, a casa, o carro, etc.
A areia é tudo o demais, as pequenas coisas.
'Se puséssemos  a areia no frasco primeiro, não haveria espaço para as pedrinhas nem para as bolas de ping pong. O mesmo acontece com a vida'.
Se gastássemos todo o nosso tempo e energia nas coisas pequenas, nunca teríamos lugar para as coisas realmente importantes.
Preste atenção às coisas que são cruciais para a sua Felicidade.
Brinque ensinando  os seus filhos,
Arranje tempo para ir ao medico,
Namore e vá com a sua/seu namorado(a)/marido/mulher jantar fora,
Dedique algumas horas para uma boa conversa e diversão com seus amigos
Pratique o seu esporte ou hobbie favorito.
Haverá sempre tempo para trabalhar, limpar a casa, arrumar o carro...
Ocupe-se sempre das bolas de ping pong, em  1º lugar, porque representam as coisas que realmente importam na sua vida.
Estabeleça suas prioridades, o resto é só areia...
Porém, um dos estudantes levantou a mão e perguntou o que representaria, então, o café.
O professor sorriu e disse:
"...o café é só para demonstrar, que não importa o quanto a nossa vida esteja ocupada, sempre haverá espaço para um cafezinho com um amigo. "

sábado, 26 de maio de 2012

Problemas de Formatação

Problemas de Formatação

Rodolfo Pamplona Filho

Algumas vezes, não consigo
expressar o que eu sinto ou sigo,
não por dificuldade de expressão,
mas por uma falha de comunicação,
em que não posso colocar para fora
tudo que faz parte da minha história.

Tenho de ter cuidado com o texto,
pois qualquer visão fora do contexto
vira um irrecusável pretexto
para jogar bola ao cesto
com cada um dos meus planos
ou com os frutos dos meus anos.

Nestas horas, preciso disfarçar
ou aprender a improvisar
para conseguir transmitir
tudo que vivo a sentir
verdadeiramente no coração,
apesar de problemas de formatação

Salvador, 28 de agosto de 2011.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Amor tarja preta



Amor tarja preta

Sou por menos Rivotril e mais carinho. Com cinco reais se compra um abraço químico
15.08.2011 | Texto por Antonia Pellegrino Ilustração Adriana Alves
O mais simpático dos tarja preta, de preço acessível e sabor doce, o Rivotril é, segundo dados da IMS Health, o segundo remédio mais vendido do país. Há anos, nós, brasileiros, estamos na pole position de seu consumo mundial. O medicamento não trata apenas distúrbios de ansiedade, mas também epilepsia e esquizofrenia. Posto que não somos uma nação de epiléticos ou esquizofrênicos, me pergunto se somos a pátria dos aflitos, fóbicos e angustiados.
Mas o existencialismo não nasceu nos trópicos. Aqui, o xarope da paz só perde em números para a pílula anticoncepcional. O que soa como uma contradição em termos. Ou não. O sexo que relaxa o corpo não necessariamente tranquiliza o coração. Como as pesquisas apontam que o brasileiro tem um dos regimes sexuais mais vigorosos do mundo, de fazer franceses babarem de inveja e britânicos bocejarem de tédio, fico com a sensação de que o excesso de Rivotril fala de escassez de amor.
Mais amor, por favorDe sexo com amor – a forma que humilha todos os outros tipo de sexo. De amor dos médicos para com seus pacientes, ao abrir sua escuta sem pressa aos problemas do outro, e medicá-los, se for o caso. Sou por menos Rivotril e mais carinho. Fornecer uma receita fácil e com cinco reais se compra um abraço químico, não. Sou por encarar com madureza as angústias, os ritos de passagem, as dores do crescer. Isso é um gesto de amor para com a própria humanidade. Retira de sobre a realidade o manto de poder ilusório que nos protege do desconcertante contado (contato) com a fragilidade. Vulnerável também pode ser bonito. Cicatrizes enfeitam a pele. Sem medo da dor, ama ao próximo como a si mesmo. E ouça a canção “Tempo de Amor”, com letra de Vinicius de Moraes,  reembalada, recentemente, na voz de Seu Jorge: “Ah! Não existe coisa mais triste que ter paz e se arrepender e se conformar e se proteger de um amor a mais. O tempo de amor é tempo de dor. O tempo de paz não faz nem desfaz. Ah! Que não seja meu, o mundo onde o amor morreu”.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Alceu Valença, Tomara


 
Tomara meu Deus, tomara
Que tudo que nos separa
Não frutifique, não valha
Tomara, meu Deus
Tomara meu Deus, tomara
Que tudo que nos amarra
Só seja amor, malha rara
Tomara, meu Deus
Tomara meu Deus, tomara
E o nosso amor se declara
Muito maior, e não pára em nós
Se as águas da Guanabara
Escorrem na minha cara
Uma nação solidária não pára em nós
Tomara meu Deus, tomara
Uma nação solidária
Sem preconceitos, tomara
Uma nação como nós
(Alceu Valença, Tomara)
 
 

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Para a Arrogância da Juventude...

 
Essa é uma homenagem à turma de cabelos brancos e àqueles arrogantezinhos que imaginam saber tudo . 
Um jovem muito arrogante, que estava assistindo a um jogo de futebol, tomou para si a responsabilidade de explicar a um senhor já maduro, próximo dele, porque era impossível a alguém da velha geração entender esta geração.
"Vocês cresceram em um mundo diferente, um mundo quase primitivo!", o estudante disse alto e claro de modo que todos em volta pudessem ouvi-lo.
"Nós, os jovens de hoje, crescemos com Internet , celular , televisão, aviões a jato, viagens espaciais, homens caminhando na Lua, nossas espaçonaves tendo visitado Marte. Nós temos energia nuclear, carros elétricos e a  hidrogênio, computadores com grande capacidade de  processamento e ....," - fez uma pausa para tomar outro gole de cerveja.
O senhor se aproveitou do intervalo do gole para  interromper a liturgia do estudante em sua ladainha e disse: 
- Você está certo, filho. Nós não tivemos essas coisas quando éramos jovens porque estávamos ocupados em inventá-las. E você, um bom exemplo dos arrogante dos dias de hoje, o que está fazendo para a  próxima geração?

terça-feira, 22 de maio de 2012

Soneto da Inversão Aritmética

Soneto da Inversão Aritmética

Rodolfo Pamplona Filho

Dividir minha vida com você
é multiplicar indefinidamente o prazer,
potencializar a nossa essência
e elevar o afeto à decima potência.

Como toda simples equação,
os dois lados são igual quinhão,
pois não há matemática expressão
que explique o valor da paixão

que se tornou o maior numerador,
dividido por um duplo denominador,
que é o resultado de nossa fração.

A fórmula algébrica só é metódica,
se o sentido de toda lógica
é descobrir em você o X da questão!

Salvador, 05 de setembro de 2011.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

A Promessa

A Promessa
    Beatriz A. M.
Meu menino, meu parceiro,
meu poeta, meu viver,
a promessa mais linda que a gente se fez
era a de nunca ter que prometer...
Porque a promessa é desnecessária,
quando o compromisso é só o de amar:
amor é dado no vento, é comida da alma, 
é bicho esquisito, coisa de sonhar.
Então, vamos seguindo juntinhos
e que, assim, venha o que tiver de ser
porque eu sei que você é meu caminho,
meu laço, meu passo, meu amor, meu porquê.
(Nós somos. E sempre seremos. Simples assim)

sábado, 19 de maio de 2012

Beijos e Pipocas

Beijos e Pipocas
 
Teca Poetisa de Gaia

Combinação maravilhosa para quem ama
Quando amamos rimos juntos
Quando amamos deliramos sozinhos
Sorrimos do nada, do tudo, do imaginário
Um amor para nós!
Com muitos beijos e pipocas
Pipocas doces, de sal, com queijo
Pipocas com gosto de amor
Pipocas com gosto de Mar!
Beijos de boca vermelha
Com fortes desejos de paixão
Um amor que  volte igual bumerangue
Um amor de lábios ardentes
De beijos fortes e calientes
Um amor coberto de algodão doce
Um amor bobo,sonhador
Um amor que goste dos seus 
Beijos e pipocas!

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Pedido ao Poeta

Pedido ao Poeta
Malu Calado

Deixa eu aprender com você,
te seguir na caminhada
e, admirando seus passos,
vou também construindo minha alma
Deixa eu dividir minhas palavras e minha dor,
minhas alegrias e meu rancor...
toma-me nos braços, apaziga minha raiva
e me faz sorrir...

Deixa eu ser sua amada,
sua menina, sua inspiradora musa,
sua mulher nessa nossa luta...
Deixa-me encantada!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Soneto de amor apenas


Soneto de amor apenas

Roseane Freitas

Por te amar cada traço de mim
Desfigurei a medida do tempo.
Te amando assim fui me reencontrando
E deixando o meu eu jogado ao vento.

Abri mão, não lastimo
Dos preceitos que formei,
Em troca deles tenho ganhado
Todo o amor que um dia sonhei.

Já agora minha lucidez jaz.
Estou louca de amor,
Te amando como nunca fui capaz.

Não me espantaria se um dia em teus braços,
De repente morresse feliz e sorridente
Por te amar exaustivamente mais.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Feliz Aniversário!


Feliz Aniversário!

Feliz Aniversário!
Hoje é o dia mais especial de sua vida!
Hoje é seu aniversário
Então nesse dia mágico, fique linda,
Invente-se, renasça, beije, ame você
Não deixe de soprar o tempo antigo e
Aplauda o novo começo
Afinal não é a idade que se comemora
Mas é a sutileza da felicidade de se viver
Feliz Aniversário!

Teca/Poetisa de Gaia

terça-feira, 15 de maio de 2012

Amor

 

Amor

Vinícius de Moraes

Vamos brincar, amor? vamos jogar peteca
Vamos atrapalhar os outros, amor, vamos sair correndo
Vamos subir no elevador, vamos sofrer calmamente e sem precipitação?
Vamos sofrer, amor? males da alma, perigos
Dores de má fama íntimas como as chagas de Cristo
Vamos, amor? vamos tomar porre de absinto
Vamos tomar porre de coisa bem esquisita, vamos
Fingir que hoje é domingo, vamos ver
O afogado na praia, vamos correr atrás do batalhão?
Vamos, amor, tomar thé na Cavé com madame de Sevignée
Vamos roubar laranja, falar nome, vamos inventar
Vamos criar beijo novo, carinho novo, vamos visitar N. S. do Parto?
Vamos, amor? vamos nos persuadir imensamente dos acontecimentos
Vamos fazer neném dormir, botar ele no urinol
Vamos, amor?
Porque excessivamente grave é a Vida.
http://www.viniciusdemoraes.com.br/site/article.php3?id_article=574

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Em Busca do Poeta

Em Busca do Poeta

Beatriz A.M

Me deixa ser sua menina
Imensa, frágil, neblina
o gosto que é sua sina
o amor que nunca termina.

Me deixa ser seu invento
o verso, a prosa, o contento
o canto, a paz, o sustento
o amor que brilha por dentro

Me deixa ser seu caminho
o mapa, a estrada, o moinho
o tempo, a rota, o seu pinho
o amor que nunca é sozinho

Me deixa ser seu enredo
seu riff, seu blues, seu segredo
seu mar, seu dom, seu brinquedo
o amor que vence o medo.

Me deixa ser seu luar
seu colo, seu som, seu sonhar,
sua casa, sua cama e altar
o amor que é o seu lugar...

domingo, 13 de maio de 2012

Mãe

Mãe


Mãe ...
Ser organicamente feminino
Já nascido para crescer e procriar
Dar a luz a outro ser divino

Mãe...
Cuidados ilimitados
Mimos mesmo quando não merecemos
Nos tratam como crianças
Mesmo quando crescemos

Mãe...
Preta, branca ou amarela
Dá o seu corpo como único alimento
Amor que não deixa sequela

Mãe...
Ser superior
Não é um dom que qualquer um tem
Trata-se de amor incondicional
Mas tem pai que é mãe também

Mãe...
Quando gera é a própria felicidade
Modifica todo o seu corpo
Abre mão da vaidade

Mãe...
Nada mais a preocupa além dos seus
Protege a cria em quaisquer circunstâncias
É a personificação de Deus.

Mãe...
Como ela não há nada igual
Criatura mais do que especial
Desculpem-me os pais
Mas a mãe é fundamental.

Clivia Filgueiras

sábado, 12 de maio de 2012

A Rosa Loura

A Rosa Loura 

Foi numa tarde assim de cintilante azul
que Deus,
Satisfeito e apaixonado
Quis dar um presente ao Homem
para mitigar sua sina.

Planejador cuidadoso,
Sabedor de maestrias,
Fez esta Mulher divina
Dentre todas as suas crias.

E o arquiteto amoroso
Reuniu laborioso
Ingredientes tão puros:

Das rosas fez extrair 
Uma atração para o amor,
Do leite fresco fez Branco 
seu corpo todo de Flor,
No sol ele foi buscar
estas louras labaredas 
e em seus ombros derramar...

Mas se tivesse previsto
A Deusa que ele criou
Para nos dar de presente,
Teria feito outras tantas,
Ao invés de uma somente. 


                                                   Por Luiz A. Medrado Sampaio, 
                                                   Um poema dedicado a Scarlett Johansson

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Particularidades do amor

Particularidades do amor
Surgem medos, e os dedos
Se entrelaçam buscando a união
Eterna de duas almas distintas
Mas tão semelhantes nos desejos
E nos medos
(Principalmente nos desejos)
Desejos ocultos, às vezes surdos.
Á ponto de não ouvirem a voz
                                      da razão]
Deixando escapar o lógico
Para dar lugar a momentos
Únicos de amor e êxtase e dor.
Uma dor que sempre volta
Quando a distância se faz
                                    presente] 
E a gente sente que já
Não queremos mais nada
Além do corpo oposto,
Do suor alheio, e dos dedos,
Entrelaçados que mais
Parecem ,de relance, o enlace
De duas almas distintas que
Se amam infinitamente
E distintas seguem, unidas
Pelas semelhanças que lhes
                     permitem se amar]



Roseane Freitas

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Escolha


Escolha
Elisa Lucinda

Eu te amo como um colibri resistente
incansável beija-flor que sou
batedora renitente de asas
viciada no mel que me dás depois que atravesso o deserto.
Pingas na minha boca umas gotas poucas
do que nem é uma vacina.
Eu uma mulher, uma ave, uma menina…
Assim chacinas o meu tempo de eremita:
quebras a bengala onde me apoiei, rasgas minhas meias
as que vestiram meus pés
quando caminhei as areias.

Eu te amo como quem esquece tudo
diante de um beijo:
as inúmeras horas desbeijadas
os terríveis desabraços
os dolorosos desencaixes
que meu corpo sofreu longe do seu.
Elejo sempre o encontro
Ele é o ponto do crochê.
Penélope invertida
nada começo de novo
nada desmancho
nada volto

Teço um novo tecido de amor eterno
a cada olhar seu de afeto
não ligo para nada que doeu.
Só para o que deixou de doer tenho olhos.
Cega do infortúnio
pesco os peixes dos nossos encaixes
pesco as gozadas
as confissões de amor
as palavras fundas de prazer
as esculturas astecas que nos fixam
na história dos dias

Eu te amo.
De todos os nossos montes
fico com as encostas
De todas as nossas indagações
fico com as respostas
De todas as nossas destilarias
fico com as alegrias
De todos os nossos natais
fico com as bonecas
De todos os nossos cardumes
as moquecas.

A Eternidade e Um Dia!

A Eternidade e Um Dia!

Rodolfo Pamplona Filho

Por quanto tempo
durará o nosso amor?
A Eternidade e Um Dia!

Por quanto tempo
você poderá contar comigo?
A Eternidade e Um Dia!

Não faria sentido viver
sem ter a certeza até quando
estaria ao seu lado andando...

Por isso, faço solene promessa
de que não terei pressa
desta vida me despedir...

Vou viver uma eternidade em paz,
desde que você viva um dia a mais,
para eu nunca viver sem você...

Praia do Forte, 07 de setembro de 2011.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

CONSUMADO


CONSUMADO
Tô louco pra fazer
Um rock prá você
Tô punk de gritar
Seu nome sem parar...
Primeiro eu fiz um blues
Não era tão feliz
E de um samba-canção
Até baião eu fiz...
Tentei o tchá tchá tchá
Tentei um yê yê yê
Tô louco prá fazer
Um funk prá você...
E tá consumado
Tá consumado
Tá consumado
Tá consumado...
Fiz uma chanson d'amour
Fiz um love song for you
Fiz una canzone per te
Para impressionar você...
Prá todo mundo usar
Prá todo mundo ouvir
Prá quem quiser chorar
Prá quem quiser sorrir...
Na rádio e sem jabá
Na pista e sem cair
Um samba prá você
Um rock and roll to me...
E tá consumido
Tá consumido
Tá consumido
Tá consumido...
Fiz uma chanson d'amour
Fiz um love song for you
Fiz una canzone per te
Para impressionar você

terça-feira, 8 de maio de 2012

Ainda mais amor.

Ainda mais amor.
Beatriz A.M.

Eu vi o menino. Conversei, toquei nos cabelos, encostei minha mão nos bracinhos infantis.
O menino vibra e cada pequena particula do seu pequeno corpo é grande.
O menino é todo pureza, honestidade, entusiasmo, bondade e devoção pelo pai.
O menino é a beleza mais tenra, a mais macia.
Eu pergunto da injeção, do hospital, e ele ri. E seu sorriso é de iluminar galáxias...
O menino, a carne e o amor do meu homem-menino, o coração da poesia, o orgulho do pai.
E eu, em silêncio, só amo e agradeço.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Soneto de Filipenses 4, 13

Soneto de Filipenses 4, 13

Rodolfo Pamplona Filho

Sou tão fraco como qualquer mortal:
velho, pobre, doente, só...
Mas há uma força tal
que rompe o mais forte nó!

É o sopro que viabiliza a vida...
É a essência do que é amado...
É o resultado de toda lida...
É a fé que anima o aprendizado...

Tolo é o que ingenuamente pensa
que pode se livrar da dor tensa
como se fosse recompensa...

Tudo posso sobreviver Naquele
que não cede, nem esmorece
e que verdadeiramente fortalece...

Salvador, 28 de agosto de 2011.

domingo, 6 de maio de 2012

A MORTE NÃO É NADA (Sto Agostinho)

A MORTE NÃO É NADA (Sto Agostinho)

"A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.

Me dêem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.

A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?

Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho...

Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi."

sábado, 5 de maio de 2012

Noite de Cão em Arapuá.

Noite de Cão em Arapuá.
                                                                        Jairo Vianna Ramos                   
                                                                                                    
  Ele se chama Janelinho. Ninguém sabe o motivo do apelido. Mas é assim e pronto. Nem ele se lembra quando começou a ser chamado assim.
Janelinho, ex-bancário, economizou certa feita — e por muito tempo, o suficiente para adquirir um carro. Satisfaria um sonho e não deixava de ser um investimento, ao menos assim se dizia. Fez o negócio e passou a ser o legítimo proprietário de um fusquinha 68, zero.
Queria rodar nas alamedas floridas da cidade, mas pensou: "Gasolina custa dinheiro". Depositou a jóia na garagem e desde então usou o carro apenas uma vez por semana, dia da reunião no "Clube dos Gorilas".
Nos outros dias, e o dia todo, Janelinho anda pelas ruas, não como sonhara, mas a pé, cedo ou tarde. Aposentado há tempo, mais faz é andar. Não fossem suas econômicas caminhadas não se saberia desta história, pois a conservação do fusquinha pelo seguro personagem lhe proporcionou a oportunidade de presenciar o intrigante fato dado em Arapuá.
Era noite de lua cheia. Janelinho vinha de um churrasco (gratuito) na casa de um amigo. Sentiu-se cansado e resolveu ir para casa. Cortou caminho por ruas secundárias e desertas. Em uma delas avistou a bela mulher.
Decidiu parar e observar. Pôs a mão sob o queixo, como de costume, quase abraçando a mandíbula. Ficou a certa distância da casa onde ela estava na varanda. Queria chegar mais perto e se esgueirou pelos muros dos terrenos vizinhos, até um ponto de observação mais apropriado. Era o local mais próximo que poderia atingir discretamente. Uma árvore de grosso tronco dava a ele, magro e pequeno, a proteção necessária.
A mulher era alta e esbelta. Tinha cabelos negros, lisos e longos. Vestia uma camisola de fino tecido. A pele, de tão alva, cintilava na noite. Parecia materialização humana da própria lua cheia.
Janelinho não conseguia desviar o olhar.
Na rua sem vivente a lhe fazer par, o silencio imperava.
Ele continuava a segurar o queixo, agora menos pelo hábito. Os olhos, esquecidos de piscar, acompanhavam cada movimento da mulher lua. A noite avançava e Janelinho perdia a noção do tempo. Sem mensagem ou preparo, o odor tomava conta do ar. Não era cheiro de fio queimado, plástico ou verniz, mas de cachorro molhado. Ele começou a ouvir os uivos, de lá e de cá. Apertou-se à árvore e, pela primeira vez, naquele tempo todo, desviou os olhos da mulher. Primeiro olhou um lado, depois o outro, e dos dois, olhos faiscantes se aproximavam. Tinha certeza, mesmo sem saber: eram os lobisomens. Como todos de Arapuá, ele não acreditava, mas não duvidava também. Pensou no fusquinha. Poderia entrar nele e sair em velocidade, não fosse tão controlado. Escapar a pé, nem pensar...
Janelinho, cercado, petrificou-se.
Todos sabem, mas não admitem: as cidades do interior têm, cada uma delas, um lobisomem. Nas grandes, eles não são percebidos, se existirem. Há coisas piores, mais perigosas e bem visíveis para o povo temer.
Segundo informações não muito confiáveis, em Arapuá havia apenas um. Falam de um médico cardiologista, nos dias comuns. Porém, notícias mais duvidosas ainda, dão conta de um segundo, forasteiro, vindo da vizinha cidade de Fantanésia e militante da nobre profissão de advogado, na vida cotidiana. Com isso, aquela cidade está sem lobisomem, para desespero dos estudiosos do assunto, pois estão preocupados com a quebra do "equilíbrio sobrenatural".
Há, ainda, o desprestígio de ser a única cidade da região sem seu homem-lobo. Abre-se exceção a Vargemzinha, cujo lobisomem foi confundido com um extraterrestre, preso pelo exército e nunca mais dele se soube.
A Janelinho, feito pedra, sem opção de fuga, restou o direito à observação da inusitada situação.
Nem o cheiro e nem os olhos brilhantes como faróis assustaram a mulher. Ao contrário, ela se acomodou em uma cadeira na varanda.
Janelinho, impetuoso de tanta curiosidade, esqueceu-se do medo e quase saiu do esconderijo para observar melhor a cena prometida. Finalmente os dois monstros se encontraram diante da casa e da mulher. Não houve contenda de mordidas e patadas, mas um festival de uivos. Pareciam cantar em serenata. Um mais alto que o outro e com entonações divergentes. A mulher colocava as mãos sobre o peito como se administrasse amor e dúvida. Finalmente abriu os braços e assim deixou clara a indecisão. Acenou despedida para os meio-lobos e entrou.
Janelinho forçou a vista na tentativa de distinguir, nos quase-bichos, o médico e o causídico. Seria a confirmação e teria assunto para o resto da vida. Foi incapaz. Maldisse os olhos cansados.
Cada lobisomem voltou para o seu lado sem nada dizer ou uivar. Aos poucos o cheiro de cão molhado esvaiu-se e um assustado Janelinho voltou para casa, com os passos mais apressados que o costume. O suor corria-lhe a face na noite fria. Não queria olhar para trás. Jurou abandonar a sovinice. Prometeu andar de carro, caso se salvasse. Mas acabou por ouvir um trote de unhas riscando o asfalto. A luz enviesada do poste desenhou no chão o esboço canino. Janelinho destemperou-se e se pôs a correr. O frio na espinha impulsionava-lhe as pernas que nem sentia. Virou uma e duas esquinas. Faltava atravessar a avenida e chegaria ao remanso do lar. Faltou-lhe o chão e caiu zonzo. Assim ficou escurecido na noite, sem saber dos acontecimentos.
Ao acordar, viu sobre o rosto a carranca do cão e a enorme língua úmida. De um salto entrou em casa e correu para a cama e ali ficou sem saber se dormia, se era sonho ou realidade.
Na manhã seguinte, estava pronto para cumprir o prometido. Abriu o portão para tirar o carro da garagem. Mas olhou a rua e viu os tantos buracos, pois em Arapuá há muitos. Um grupo de vira-latas ainda se fartava com o lixo virado da vizinhança. Janelinho se lembrou do tombo e da cara do cão. Pensou no preço do combustível. Deduziu ter caído no buraco e se assustado com o cachorro. Gostou da dedução. Fechou o portão da garagem e guardou no bolso o dinheiro da gasolina. Andou pelas ruas como sempre. Passou a voltar para casa mais cedo, pelo sim e pelo não, pois nunca se sabe.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Para Sempre em Ar...

Para Sempre em Ar...

Rodolfo Pamplona Filho

Quem disse que
a gente tem
de brigar?
Por que algo
tão lindo
tem de quebrar?
Por que
o para sempre
tem de acabar?
É claro que
o tempo faz
tudo mudar!
Mas transformar
não significa
piorar....
pode ser evoluir...
pode ser fortalecer...
pode ser um novo lugar,
que, como um novo lufar,
renova o respirar
e, para sempre, continuará
a encantar...
a provocar...
a reaprender a amar...

Praia do Forte, 29 de agosto de 2011.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Luto


Luto


  

Que mistério será a morte?

Um prêmio como na loteria?

Um alívio inexplicável?

Ou seria falta de sorte?

Sensação desconfortável

Para quem fica...

Sentimento que nos sufoca

E por dentro tudo invade

É uma espécie de egoísmo

Misturado com saudade...

Saudade de alguém

Que deixou uma lembrança numa canção...

Alguém que saiu do mundo terrestre

Mas jamais sairá do coração

Sabemos que somente com o tempo

A saudade vai aliviar

O nosso ser mais conformado estará

Esperando pelo grande dia

Em que finalmente iremos nos encontrar.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

C o i s a . . .


C o i s a  . . .


A palavra "coisa" é um bombril do idioma. Tem mil e uma utilidades. É aquele tipo de termo-muleta ao qual a gente recorre sempre que nos faltam palavras para exprimir uma idéia. Coisas do português.

A natureza das coisas: gramaticalmente, "coisa" pode ser substantivo, adjetivo, advérbio. Também pode ser verbo: o Houaiss registra a forma "coisificar". E no Nordeste há "coisar": "Ô, seu coisinha, você já coisou aquela coisa que eu mandei você coisar?".

Coisar, em Portugal, equivale ao ato sexual, lembra Josué Machado. Já as "coisas" nordestinas são sinônimas dos órgãos genitais, registra o Aurélio. "E deixava-se possuir pelo amante, que lhe beijava os pés, as coisas, os seios" (Riacho Doce, José Lins do Rego). Na Paraíba e em Pernambuco, "coisa" também é cigarro de maconha.

Em Olinda, o bloco carnavalesco Segura a Coisa tem um baseado como símbolo em seu estandarte. Alceu Valença canta: "Segura a coisa com muito cuidado / Que eu chego já." E, como em Olinda sempre há bloco mirim equivalente ao de gente grande, há também o Segura a Coisinha.

Na literatura, a "coisa" é coisa antiga. Antiga, mas modernista: Oswald de Andrade escreveu a crônica O Coisa em 1943. A Coisa é título de romance de Stephen King. Simone de Beauvoir escreveu A Força das Coisas, e Michel Foucault, As Palavras e as Coisas.

Em Minas Gerais, todas as coisas são chamadas de trem. Menos o trem, que lá é chamado de "a coisa". A mãe está com a filha na estação, o trem se aproxima e ela diz: "Minha filha, pega os trem que lá vem a coisa!".

Devido lugar: "Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça (...)". A garota de Ipanema era coisa de fechar o Rio de Janeiro. "Mas se ela voltar, se ela voltar / Que coisa linda / Que coisa louca." Coisas de Jobim e de Vinicius, que sabiam das coisas.

Sampa também tem dessas coisas (coisa de louco!), seja quando canta "Alguma coisa acontece no meu coração", de Caetano Veloso, ou quando vê o Show de Calouros, do Silvio Santos (que é coisa nossa).

Coisa não tem sexo: pode ser masculino ou feminino. Coisa-ruim é o capeta. Coisa boa é a Juliana Paes. Nunca vi coisa assim!

Coisa de cinema! A Coisa virou nome de filme de Hollywood, que tinha o seu Coisa no recente Quarteto Fantástico. Extraído dos quadrinhos, na TV o personagem ganhou também desenho animado, nos anos 70. E no programa Casseta e Planeta, Urgente!, Marcelo Madureira faz o personagem "Coisinha de Jesus".

Coisa também não tem tamanho. Na boca dos exagerados, "coisa nenhuma" vira "coisíssima". Mas a "coisa" tem história na MPB. No II Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, estava na letra das duas vencedoras: Disparada, de Geraldo Vandré ("Prepare seu coração / Pras coisas que eu vou contar"), e A Banda, de Chico Buarque ("Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor"), que acabou de ser relançada num dos CDs triplos do compositor, que a Som Livre remasterizou.

Naquele ano do festival, no entanto, a coisa tava preta (ou melhor, verde-oliva). E a turma da Jovem Guarda não tava nem aí com as coisas: "Coisa linda / Coisa que eu adoro".

Cheio das coisas. As mesmas coisas, Coisa bonita, Coisas do coração, Coisas que não se esquece, Diga-me coisas bonitas, Tem coisas que a gente não tira do coração. Todas essas coisas são títulos de canções interpretadas por Roberto Carlos, o "rei" das coisas. Como ele, uma geração da MPB era preocupada com as coisas.
Para Maria Bethânia, o diminutivo de coisa é uma questão de quantidade (afinal, "são tantas coisinhas miúdas"). Já para Beth Carvalho, é de carinho e intensidade ("ô coisinha tão bonitinha do pai"). Todas as Coisas e Eu é título de CD de Gal. "Esse papo já tá qualquer coisa...Já qualquer coisa doida dentro mexe." Essa coisa doida é uma citação da música Qualquer Coisa, de Caetano, que canta também: "Alguma coisa está fora da ordem."

Por essas e por outras, é preciso colocar cada coisa no devido lugar. Uma coisa de cada vez, é claro, pois uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. E tal e coisa, e coisa e tal. O cheio de coisas é o indivíduo chato, pleno de não-me-toques. O cheio das coisas, por sua vez, é o sujeito estribado. Gente fina é outra coisa. Para o pobre, a coisa está sempre feia: o salário-mínimo não dá pra coisa nenhuma.

A coisa pública não funciona no Brasil. Desde os tempos de Cabral. Político quando está na oposição é uma coisa, mas, quando assume o poder, a coisa muda de figura. Quando se elege, o eleitor pensa: "Agora a coisa vai." Coisa nenhuma! A coisa fica na mesma. Uma coisa é falar; outra é fazer. Coisa feia! O eleitor já está cheio dessas coisas!

Coisa à toa. Se você aceita qualquer coisa, logo se torna um coisa qualquer, um coisa-à-toa. Numa crítica feroz a esse estado de coisas, no poema Eu, Etiqueta, Drummond radicaliza: "Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente." E, no verso do poeta, "coisa" vira "cousa".

Se as pessoas foram feitas para ser amadas e as coisas, para ser usadas, por que então nós amamos tanto as coisas e usamos tanto as pessoas? Bote uma coisa na cabeça: as melhores coisas da vida não são coisas. Há coisas que o dinheiro não compra: paz, saúde, alegria e outras cositas mas.

Mas, "deixemos de coisa, cuidemos da vida, senão chega a morte ou coisa parecida", cantarola Fagner em Canteiros, baseado no poema Marcha, de Cecília Meireles, uma coisa linda. Por isso, faça a coisa certa e não esqueça o grande mandamento: "amarás a Deus sobre todas as coisas".

ENTENDEU O ESPÍRITO DA COISA ? ? ?