sábado, 22 de setembro de 2012

Soneto da Violência Contagiosa

Soneto da Violência Contagiosa

Rodolfo Pamplona Filho

A violência, como o suspiro
e o bocejo, são contagiosos,
pois, rápido como um espirro,
contagiam indivíduos numerosos

que, tal qual uma onda gigantesca,
reagem rapidamente à provocação,
agindo, de forma grotesca,
e causando dor e confusão.

É preciso cuidado com a massa,
pois, em um momento de desgraça,
tudo pode explodir

em um movimento infinito,
em que qualquer ato é motivo
para a agressividade fluir.

No vôo de Salvador para São Paulo,
para assistir o show do Pearl Jam,
em 04 de novembro de 2011.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Siiiiiiiiii

Siiiiiiiiii
Hoje eu tive um sonho
sonhei em um novo começo
sonhei com um paixão arrebatadora
com algo que fazia meu coração disparar
Sonhei com um alguém que me fazia sorrir
com alguém que eu não podia tocar
com alguém que eu não queria mais largar
sonhei que eu tive medo de você não estar lá
Sonhei sonhos difíceis de realizar
que só essa paixão podia alcançar
um sentimento de dentro pra fora
que não se sabe onde chegará
Sonhei que estava perdido
confuso procurando um lugar
insano a te esperar
estranho mas só nós
chegamos a lugares que ninguém mais está
vimos coisas que ninguém pode ver
acreditamos em sonhos que ninguém ousaria
sonhei com uma paixão diferente
sem regras nem amarras
com uma distancia que as vezes machuca
com uma força que alimenta
não sei mas em que sonhar
só sei que não quero parar
sofrer, viajar, sorrir, cantar
não sei, só sei que não parar
continuar um sonho imperfeito
que tem vida própria
que as vezes parece perfeito demais
que não sei onde vai me levar
o pouco que sei
é que seu pudesse
não queria acordar

Escrever á minha forma de falar com vc
a qualquer hora em qualquer lugar
acalma a falta que vc me faz
me ajuda  a não sufocar com tudo isso dentro de mim
escrever é minha arma, meu refúgio
me dá uma sensação de vitória quando fico triste

porque as minhas palavras ninguém pode tolir
beijos com lágrimas

Rafael Tonassi Souto

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Soneto da Dor Persistente

Soneto da Dor Persistente

Rodolfo Pamplona Filho

Sentir-se um inútil e quebrado,
completamente limitado.
Desesperar-se, ao menor toque,
parecer que está dando choque.

Acupuntura, Quiropraxia
Ultrassom, Anestesia,
Analgésico, Fisioterapia
Pilates, Massoterapia

Tudo que possível for
para superar a dor
que insiste e persiste,

mas, por mais que eu chore
e, em vão, clame e ore,
há sofrimento que resiste.

No vôo de Salvador para São Paulo,
para assistir o show do Pearl Jam,
em 04 de novembro de 2011.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O GOSTO DA LIBERDADE NUMA TARDE DE SEGUNDA-FEIRA

O GOSTO DA LIBERDADE NUMA TARDE DE SEGUNDA-FEIRA

Diante da notícia que tinha acabado de receber, não havia mais nada a ser feito. E, como sempre acontece quando temos que tomar decisões radicais com base naquela cartilha de conduta ética que carregamos por aí, tratava-se de uma escolha bastante simples. Mas, antes de pedir demissão em solidariedade a um amigo querido, um telefonema se fazia necessário; era para o meu objeto de obsessão, que ficaria com o fardo de ter que arcar solitariamente, por um período indeterminado, com as contas da casa. E a depositária de minha libido precisou que eu dissesse apenas duas palavras para determinar: "Vá agora mesmo fazer o que tem que ser feito. Ficaremos bem".
Como a prudência sempre me visitou com a regularidade com que técnicos da Net aparecem em nossas casas no dia e na hora marcados, o salário razoavelmente bom para padrões jornalísticos não flertou diabolicamente com minha moralidade, e lá fui eu para o RH de um conhecido portal seminacional comunicar que iria sair.
Embora não tenham ficado surpresos com a atitude, tentaram me convencer a permanecer trabalhando para a oponente empresa de tecnologia - ainda que preferissem que eu tivesse escrito aqui empresa de comunicação -, ao que eu respondi impulsivamente: "Nem se quadruplicarem o meu salário", o que era provavelmente uma mentira porque, convenhamos, ganhar quatro vezes mais da noite para o dia faz você querer abrir o tal livrinho da conduta moral e reescrever algumas partes ali mesmo.
Ao descer os 12 andares que me levariam pela última vez para o térreo e, escrachadamente, passar pela catraca pela derradeira vez, olhei para cima, vi um céu surpreendentemente azul para março e entendi perfeitamente o que estava sentindo.
Tinha 16 anos quando, ao beijar a boca de uma outra mulher, experimentei esse mesmo gosto. Naquela tarde de dezembro em 1982, dentro de um pequeno quarto na alameda Joaquim Eugênio de Lima, percebi que liberdade e segurança são conceitos opostos. A possibilidade de ver minha mãe entrar no quarto e me flagrar em ato transgressor e de enlouquecimento total era nítida como uma manhã de verão. Ainda assim, queria que aquele beijo nunca mais terminasse. Com ele, estava aprendendo a ser livre e, com ele, começava a entender que a verdadeira liberdade só existe quando teimamos em respeitar quem somos e o que sentimos.
O encontro
Vinte e oito anos depois, andando por uma dessas ruas lotadas de engravatados correndo para cumprir os 60 minutos de almoço impostos pelo contratante, sentia outra vez o gosto da liberdade que pinta quando nos deixamos guiar pelo instinto e pela paixão. Ao pedir demissão de forma tão impulsiva, eu tinha aberto mão de uma boa dose de segurança por um punhado de liberdade e, agora, no meio de uma segunda-feira de março, estava voltando para casa.
Antes, parei para comprar flores porque sei como você gosta de flores, e como eu gosto de ver seus olhinhos sorrirem quando você entra em casa e vê flores. Aí, fui colocando as flores nos vasinhos que pude encontrar pelo caminho - meio desajeitadamente porque essa é minha marca registrada -, preparei o jantar - macarrão, porque não me resta outro artifício culinário -, coloquei a mesa, algumas flores ao centro, abri uma garrafa de vinho e, com o coração batendo rápido demais - condição cardíaca que é meu estado natural desde que te conheci -, esperei você chegar.
Você então entrou e, como faz todos os dias, me abraçou, me beijou a testa, as bochechas, a boca e depois, olhando dentro dos meus olhos, disse que estava orgulhosa de mim antes de me abraçar outra vez.
Mas foi apenas quando você me tirou para dançar no meio da sala, foi apenas quando você me conduziu bem devagar para lá e para cá, corpo colado ao meu, que entendi o que talvez seja, entre todas as coisas, a mais essencial; em você, e em mais lugar nenhum, liberdade e segurança conseguiram, finalmente, se encontrar.
Dançando bem no meio da nossa sala, agarrada a você como quem se agarra à vida, fechei os olhos, respirei fundo e sorri.

Milly Lacombe, 42 anos, é jornalista
http://revistatpm.uol.com.br/revista/101/colunas/o-gosto-da-liberdade-numa-tarde-de-segunda-feira.html

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Soneto da Prole Dupla

Soneto da Prole Dupla

Rodolfo Pamplona Filho

É um privilégio ser agraciado
com a dádiva da paternidade,
mas, quando isso é multiplicado,
nem parece ser verdade...

Não é qualquer pessoa
que tem o enorme prestígio
de receber, na boa,
um dobrado beneficio.

Receber, de uma só vez,
uma presente de tal jaez
é para ser feliz, sim, sem culpa,

pois o sorriso se amplia,
alegrando a casa outrora vazia,
mais ainda quando a benção é dupla.
No vôo de Salvador para São Paulo,
para assistir o show do Pearl Jam,
em 04 de novembro de 2011.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

AO LUAR *

AO LUAR *


REINA SILÊNCIO LÁ NO RIO-MAR...
RIO AMAZONAS VAI... CONTINUA...
PAIRA NO CÉU, RINDO, A BRILHAR,
A LUA...

OUVE-SE CANTOS DE UM PESCADOR...
ORA MAIS PERTO, ORA RECUA...
VAI PROMETENDO JURAS DE AMOR
À LUA...

NOITE TRANQÜILA, PAISAGEM BELA,
QUE A SERENATA MAIS ACENTUA...
NO CÉU, SINISTRA, BRILHA A DONZELA:
A LUA...

...E O VENTO CHEGA, RUGINDO FORTE,
ENCRESPA AS ÁGUAS EM FÚRIA CRUA..
ENTÃO SE OCULTA, PRESSENTE A MORTE,
A LUA.

TANTO ESTAMPIDO, TANTOS LAMENTOS,
TEMOR DE MORTE, TREMOR DE FRIO...
QUANTAS DESGRAÇAS E AFOGAMENTOS
NO RIO.

NOITE FUNESTA, HORA DE HORROR,
ALMAS PENADAS VÊM ASSOMBRAR.
...E A MÃE, CHORANDO, GRITOU DE DOR:
-RIO MAR!

CADÊ MEU FILHO, QUE NÃO ME ENTREGAS?
ONDE ESTÁ ELE, NA ESCURIDÃO?
PORQUE SONEGAS?... PORQUE ME NEGAS?
OH! NÃO!

RIO AMAZONAS, PORQUE MATASTE
O MEU MENINO, FILHO QUERIDO?
ONDE O PUSESTE? ONDE O DEIXASTE?
BANDIDO!

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.......................................................................

...E O AMAZONAS, CONVULSIONADO,
PULA DO LEITO, SALTA DO TRILHO,
JOGA-LHE AOS PÉS, ESTRANGULADO,
O FILHO!

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...A TEMPESTADE JÁ SOSSEGOU...
NOVAS BONANÇAS O VENTO TROUXE.
O RIO IMENSO JÁ SE ACALMOU:
CALOU-SE...

AGORA É CALMO, SEM UMA ONDA...
NA MADRUGADA, SOZINHA E NUA,
VAGA SORRINDO, FAZENDO A RONDA,
A LUA...


*  Texto e Musica por José Wilson Malheiros em 2001, gravado em CD do Projeto Uirapuru (Pará), vol. 12., edição do Governo do Estado.

domingo, 16 de setembro de 2012

Cuidado para não ser o próximo palitinho!


Cuidado para não ser o próximo palitinho!

Eram duas amigas que há muito tempo não se encontravam. Resolveram marcar um almoço na segunda. Quase uma hora depois do combinado as duas finalmente se reconhecem. Joana havia terminado o noivado e passou a achar que o bolo de chocolate era companhia muito melhor. Um piscar de olhos e já eram vinte quilos a mais. Tinha certeza que era praga do Juvenal.

Mas o incrível mesmo era como a Alice estava magra! Quem diria que seu apelido na escola era Priscila, numa homenagem carinhosa àquela cachorra gordinha que apresentava o programa TV Colosso. É preciso dizer que colossal mesmo era o tanto que ela comia. Os meninos faziam aposta para saber se ela gostava mais do Marquinhos ou do hambúrguer que ele pagava pra ela na hora do intervalo. Alguns ainda apresentavam o Seu Tadeu como uma terceira opção. Era dele a banquinha de doces que ficava na esquina da rua.

Enfim, não se sabe como e nem porquê. Poder-se-ia dizer que as respostas são muito simples. Mas para elas o fato de seus corpos terem se invertido como num passe de mágica era um mistério a ser desvendado. Conversavam animadamente nos momentos em que Joana parava de comer. Alice sentia que estava em meio à um monólogo, contando os trágicos acontecimentos de sua vida. Contou sobre tudo, desde os traumas da infância que lhe fizeram entrar num grupo conhecido como Filhos do Sol, que na condição de “seres superiores” acreditavam que só a luz solar era suficiente para lhes dar energia. A experiência lhe valeu quinze dias de coma e dez quilos a menos. Então, havia servido ao fim almejado.

Quando acordou do coma, Alice pensou que estava no céu. Não acreditava na beleza daquele anjo vestido de branco, cujo crachá estava escrito Lucas. Mas como nunca tinha ouvido dizer que anjo portava crachá, levantou-se de um sobressalto e perguntou há quantos dias estava sem tomar banho. Lucas deu um sorriso torto. Depois, poderia ter acontecido aquilo que todo mundo quer que aconteça quando dois seres predestinados se encontram. Mas Lucas era gay. E fim de papo.

Enfim, depois das dietas da lua, do queijo, da água, do xixi, do laxante, do limão, da luz, do amor (sim, porque tem quem acha que pode viver de amor, e Alice existe para provar que isso não é possível), Alice conseguiu finalmente ficar com o corpo da Gisele Bundchen, caso a modelo tivesse vinte centímetros a menos de altura.

Ela parou com todos os regimes no dia em que não precisou mais comprar suas roupas nas lojas com tamanhos especiais. Era especialmente ridículo ter de entrar alí, e se deparar com todas aquelas vendedoras magras que fingiam já terem sido gordas só para dizer que entendiam o que ela estava sentindo. Mas elas nunca vão entender como é triste pensarem que você é gótica só porque veste preto todos os dias. Nem todos os magros sabem que preto “emagrece”.

Quando Joana terminou de comer o bife à parmegiana, Alice já havia parado de falar, cedendo a vez à amiga. Mentalmente, ela começou a criar teorias para saber onde a amiga havia colocado o frango desossado que comeu sozinha antes da paella. Procurou na bolsa, olhou embaixo da mesa... nada! Chegou à conclusão de que a barriga da Joana havia criado mecanismos para armazenar toda aquela comida. Seria impossível mandar tudo embora de uma só vez.

Finalmente, depois de “experimentar” todas as sobremesas de chocolate disponíveis no restaurante Joana deu-se por satisfeita. E mais satisfeito ainda ficou o garçom que já estava duvidando que aquela freguesa realmente teria dinheiro para pagar a conta. A única coisa que ele sabia é que ela não tinha como ir embora correndo. Mas ia ficar de olho só por precaução.

Joana começou a contar sua vida. Alice atentou-se a cada detalhe, para saber qual foi o ingrediente causador daquele “inchaço” instantâneo. Por incrível que pareça o ingrediente era o Juvenal, e a dona Célia da padaria...

Tudo começou há aproxidamente dois anos, quando Juvenal convocou a família toda para o aniversário da Joana. Ela sabia que ele não dava ponto sem nó, e tinha certeza de que o malandro queria fazer uma média com a parentada porque no aniversário da Joana quem pagava a conta era ela. E no dele, era ela também.

Mas para sua surpresa, no meio do evento Juvenal bate com a colher na taça de chopp para pedir a palavra, quebrando-a no meio. Joana pediu desculpas a sí mesma por estar namorando aquele brutamontes, mas continuou ouvindo.

Meia hora depois, quando Joana já estava quase dormindo, eis que a Teca dá-lhe um cutucão e comunica, com muito pesar, que a amiga agora era noiva do Juvenal. E que deveria comprar as alianças.

Teve que mandar fazer o anel de noivado, porque seu dedo, de tão fininho, ficou sambando no dezesseis. Odiava as palavras fininho, palitinho, magrelinho... Morria de vergonha de colocar biquini e desfilar a moda caveira-verão.

Aos quinze anos, pesava quarenta e oito quilos. Dez anos depois, havia conseguido engordar quinhentos gramas às custas de um fortificante importado.

Certa tarde, ao entrar na padaria para comprar os seis pães que ela comia no café-da-manhã, Joana encontrou o Juvenal no maior trelelê com a dona Célia. Sempre acreditou que a dona Célia fosse “forte” daquele jeito por causa da broa que comia todo dia de sobremesa no almoço. Fez a experiência em casa, mas fracassou. Quando foi à farmácia verificar o peso, havia emagrecido cem gramas. E olha que estava com roupa de frio.

Juvenal ficou meio assustado com o flagrante, e tratou logo de disfarçar. Contou pra dona Célia do noivado e mostrou a aliança. Só omitiu o detalhe de que foi a Joana quem pagou por elas. Ele tinha um certo orgulho.

Na saída da padaria, Juvenal e Joana voltaram caminhando. Ela adoraria ter um carro apenas para evitar de perder alguns gramas com a caminhada. Joana falou de como a dona Célia era sortuda por ter todas aquelas curvas. Juvenal concordou em gênero, número e pensamento.

Não é que ele achasse feio a noiva ser magrinha daquele jeito. Mas faltava-lhe um pouco de carne. E se ela adoecesse? Ia virar um palitinho. Mas ela já era um palitinho e isso lhe ofendeu profundamente.

Decidiu que iria comprar um carro e evitar ao máximo se deslocar a pé. Se fosse preciso tiraria férias só para comer e dormir o dia inteiro. Iria ficar bem bacana, pro Juvenal ficar de queixo caído.

Na sexta feira, meia hora depois do almoço, Joana foi até a padaria comprar um bolo de chocolate para a sobremesa. Se ela soubesse o que ia acontecer a partir daquele dia, preferiria mil vezes continuar magrinha. Só que o destino não quis assim.

O canalha do Juvenal estava apertando tanto a dona Célia que nínguém sabia quando começava um e terminava o outro. Um amasso só. Foi quando Joana chegou até o caixa segurando os três bolos de chocolate que estavam na prateleira, querendo deixar mais três de encomenda. O Juvenal ficou tão assustado que perdeu a fala. Dona Célia por pouco não cobrava os bolos, mas ela sabia que essa atitude só iria admitir sua culpa.

A partir daquele dia Joana jogou fora a aliança e começou vida nova. Ela não podia deixar de frequentar a padaria porque ninguém fazia sonhos como a dona Célia. Logo ela que havia transformado a vida da Joana num pesadelo.

Até que um dia, Joana decidiu que comeria apenas os bolos de chocolate da dona Célia. Conseguiu ficar mais encorpada do que nunca.

Sentindo pena da amiga, Alice apenas lhe perguntou se Juvenal já havia visto a nova Joana. - Viu sim, mas acho que não me reconheceu. Eu também demorei um tempo para perceber que era ele. Você precisava ver. Tá um palitinho...