sábado, 29 de junho de 2013

Tem, mas acabou...


Tem, mas acabou...

Rodolfo Pamplona Filho
Tem, mas acabou...
Se aqui tivesse, eu daria
Se minha mãe me desse, eu teria...
E te daria, se eu tivesse...
Mas como eu não tenho,
ficamos na vontade...

Santiago-Chile, 03 de julho de 2012.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Soneto do Ódio




Soneto do Ódio.





por Antônio De Albuquerque Paixão, quinta, 5 de Julho de 2012 às 10:31 ·


A despeito de meu atual aspecto,
Carcomido, amorfo e sem rutilância,
Já fui garbo, um elegante circunspecto,
Um módico ambicioso sem ganância.

Amei o lúdico, o estético, o singelo,
Garimpei sorrisos, amores, amizades,
Amealhei porém o oposto do belo,
Recebi de troco, torvas falsidades.

Me fiz então corsário, pirata, bucaneiro,
Singrei os mares buscando fama e dinheiro,
Remanescendo a dor de inocentes mutilados.

Avaliando minhas pilhagens, meu butim.
Restou-me um coração profligado e ruim,
Pelo ódio de todos os desgraçados.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Soneto da Educação Castradora


Soneto da Educação Castradora

Rodolfo Pamplona Filho
É preciso muito cuidado
em qualquer forma de instrução,
para não podar liberdades
ou castrar espontaneidades...

Por vezes, faz sentido
deixar que o erro seja cometido
para que se possa aprender
ou mesmo se arrepender...

Sempre é necessário
ensinar mais que o abecedário
para verdadeiramente educar,

já que só lembra quem apanha
e descobre a tamanha
diferença entre podar e lapidar.

Santiago-Chile, 04 de julho de 2012.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

A Linha e o Linho


É a sua vida que eu quero bordar na minha
Como se eu fosse o pano e você fosse a linha
E a agulha do real nas mãos da fantasia
Fosse bordando ponto a ponto nosso dia-a-dia
E fosse aparecendo aos poucos nosso amor
Os nossos sentimentos loucos, nosso amor
O zig-zag do tormento, as cores da alegria
A curva generosa da compreensão
Formando a pétala da rosa, da paixão
A sua vida o meu caminho, nosso amor
Você a linha e eu o linho, nosso amor
Nossa colcha de cama, nossa toalha de mesa
Reproduzidos no bordado
A casa, a estrada, a correnteza
O sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza

terça-feira, 25 de junho de 2013

Sono


Sono

Rodolfo Pamplona Filho
Na fila de espera,
sem poder fazer nada,
somente nos resta
o sono...

Quando já se esgotou
toda a paciência,
somente nos resta
o sono...

Se o papo está chato
ou o discurso enfadonho,
somente nos resta
o sono...

Minha fuga,
meu consolo
ou salvação
é no sono...

Santiago-Chile, 03 de julho de 2012.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

O Habitat da Felicidade



O Habitat da Felicidade

Lula Queiroga

Morava numa caverna/ escrevia nas paredes
Morava no mar vermelho/ escrevia numa pedra
Morava num palacete/ escrevia num papiro
Morava numa palafita/ escrevia num bilhete
Morava numa oca/ escrevia com fumaça
Morava num sobrado/ esrevia num caderno
Morava no inferno/ escrevia via fax
Morava num viaduto/ escrevia com sotaque
Morava numa favela/ escrevi uma canção prá ela
Que dizia assim
Felicidade não precisa de culpa
Felicidade é o alívio da dor
Felicidade é higiene mental
Exercício da alma
Só alguém
Que na vida tanto sofreu
Todo tipo de dor
Sabe dar valor
Aos caprichos da felicidade
Felicidade não precisa de culpa
Felicidade é fome de amor
Felicidade é a temperatura
Da febre que eu sinto
Eu sei
Que amanhã pode ser tarde
Prá recuperar
O tempo que eu passo
Sonhando acordado
Com a felicidade

domingo, 23 de junho de 2013

Um e-mail que recebi, com pseudônimo...

----- Original Message -----
From: (...)
Sent: Sunday, December 18, 2011 7:33 AM
Subject: Texto para o blog! Espero que goste!

                                                                                 O nerd mais legal que eu ainda não conheci

   Há pessoas, cujo caminho você atravessa assim: sem permissão; sem educação; de supetão! É a sua curiosidade que é tão forte e desafia eventual decepção.
   Fato: na maioria das vezes, muito melhor ter ficado quieto, não ter dado chance ao azar, pois o indivíduo, um chato inveterado, devia ter permanecido no anonimato.
   Outras vezes, porém, a vida, caridosa conosco, desvela pessoas tão legais e sensíveis; inteligentes e gentis, que fazem você não se arrepender de ter sido um inconveniente e curioso.
   Foi assim comigo. Não sei por que, onde e quando. Só ouvi todo mundo dizendo que um professor, um tal  Rodolfo era “fofo” e amigo.
   Fui lá conferir. Ou melhor, fui lá solicitar, pois na era das comunidades, nada melhor do que dispensar as falsidades do “muito prazer”; “o prazer é todo meu”, e já chegar solicitando as ‘amizades’.
   Então. Estavam certos. O tal professor; juiz; doutor; boxeador; poeta e colecionador é, de fato, um sujeito raro...
   Ele pode não saber, nem ter notado, mas, ao postar seus textos, me convence, todos os dias, que palavras respiram; transpiram e inspiram, conforme o olhar adotado.
   O homem é baiano. Pablo, Fredie, Ruy, Gil e Caetano. Que terra é essa, minha gente, onde o povo confraterniza com o tédio como que cantando?
   Deve ser o mar. O sol. O dendê. Ou não. Foi a mão divina que errou na medida e lhes deu um espírito sem comparação.
   “Baiano? Ô povo preguiçoso!”. Ah... pura intriga da oposição. O ócio por aquelas bandas deve ser burlado, pois entende e rende, dá chance de ser eternizado.
   Voltando à figura ilustre, Rodolfo é nerd, concluí. Aliás, o próprio assim mesmo se diz.
   Seria porque sabe tanto, mas acha que não o quanto gostaria de saber?
   Ou deve ser porque multiplica a palavra, algo quase cristão. Confere-a  diariamente aos outros pelo olhar singelo das coisas mais simples ao que há de mais belo.
   É como se esperasse do leitor uma réplica.
   - Vamos, amigo, diga alguma coisa!
   - Falar o que, Dr.? O Sr. Já disse tudo...
   - Por favor... Por mais que eu saiba tanto, ainda não sei o quanto... Atingi você!
   E ele lava; cava e escava. Segue fundo.
   Arrebanha palavras para nos traduzir. Um espelho silabado, nada cifrado.
   Revela, sem dolo, com culpa, talvez, segredos alheios; sentimentos; devaneios, que só quem visita o seu blog entende que ninguém dele foge, quando o assunto é você, leitor.
   É uma devassa estranha.  Da minha, da sua alma. Um poeta ou um microscópio, tanto faz. Um padre publicando confissões inconfessáveis. Um divã, Madame Beatriz, quem sabe. Continente e conteúdo formidáveis!
   Por tudo isso é que eu sou pela adjetivação da palavra nerd. De tão incurável que o seu mais ilustre postulador se diz, penso que, pela genialidade, a homenagem procede.
  Advogo também a tese de que não existe mais sigilo. Se, antes, somente a privacidade e o segredo padeciam com o medo da descoberta, agora, nem mais a intimidade se faz de rogada e é aberta.
   O Pamplona a coloca cuidadosamente no pedestal e, depois, desce, despretensioso, mui ansioso, só para nos perguntar: “E aí, pessoal?"