quinta-feira, 9 de junho de 2022

GUME DE GUEIXA




 

Sou uma única mulher

quando a trombeta anuncia

um inverno sem tropeços.


Os legionários da palavra

espiam sua falta de dados

como me fiz por nenhum motivo

conheço o luxo de ser nua e insofismável

inquestionável é a questão e o próximo dia.

Também invoco nas santas armações

da luta contínua por porto algum

as desculpas estilhaçadas em farpas

dos ausentes cansados em dentes de ogro.


Mas me canso descanso de meu fel.

Ardia na boca do estômago a fúria da pretensão

– esqueci-a retaliada no sofá branco e bagunçado –

deve haver algo melhor do que essa faca

gume de gueixa

a ponta de prata que rebola a qualquer ultraje

para dentro através da margem.


e porém... como dizia tenho azia

dor de baço e um cansaço...

aí retomei a pena e o pó dos livros

a lide das pernas e a busca do pão

pensei no amor como um condimento vespertino

dos enfeites adiei o aprumo e por três ou quatro

minutos dos restantes sorri e adormeci

ali ao pé do carvalho planto, morena,

serena e de orvalho em pé e sombra

afogada e deslumbrada

– o nome daquele é o mesmo deste?

Estes os problemas e sua função.


-Jandira Zanchi

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