quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O caso da vara - Machado de Assis

O CASO DA VARA

Damião fugiu do seminário às onze horas da manhã de uma sexta-feira de agosto. Não sei bem o ano; foi antes de 1850. Passados alguns minutos parou vexado; não contava com o efeito que produzia nos olhos da outra gente aquele seminarista que ia espantado, medroso, fugitivo. Desconhecia as ruas, andava e desandava; finalmente parou. Para onde iria? Para casa, não; lá estava o pai que o devolveria ao seminário, depois de um bom castigo. Não assentara no ponto de refúgio, porque a saída estava determinada para mais tarde; uma circunstância fortuita a apressou. Para onde iria? Lembrou-se do padrinho, João Carneiro, mas o padrinho era um moleirão sem vontade, que por si só não faria coisa útil. Foi ele que o levou ao seminário e o apresentou ao reitor:

— Trago-lhe o grande homem que há de ser, disse ele ao reitor.

— Venha, acudiu este, venha o grande homem, contanto que seja também humilde e bom. A verdadeira grandeza é chã. Moço...

Tal foi a entrada. Pouco tempo depois fugiu o rapaz ao seminário. Aqui o vemos agora na rua, espantado, incerto, sem atinar com refúgio nem conselho; percorreu de memória as casas de parentes e amigos, sem se fixar em nenhuma. De repente, exclamou:

— Vou pegar-me com Sinhá Rita! Ela manda chamar meu padrinho, diz-lhe que quer que eu saia do seminário... Talvez assim...

Sinhá Rita era uma viúva, querida de João Carneiro; Damião tinha umas idéias vagas dessa situação e tratou de a aproveitar. Onde morava? Estava tão atordoado, que só daí a alguns minutos é que lhe acudiu a casa; era no Largo do Capim.

— Santo nome de Jesus! Que é isto? bradou Sinhá Rita, sentando-se na marquesa, onde estava reclinada.

Damião acabava de entrar espavorido; no momento de chegar à casa, vira passar um padre, e deu um empurrão à porta, que por fortuna não estava fechada a chave nem ferrolho. Depois de entrar espiou pela rótula, a ver o padre. Este não deu por ele e ia andando.

— Mas que é isto, Sr. Damião? bradou novamente a dona da casa, que só agora o conhecera. Que vem fazer aqui?

Damião, trêmulo, mal podendo falar, disse que não tivesse medo, não era nada; ia explicar tudo.

— Descanse; e explique-se.

— Já lhe digo; não pratiquei nenhum crime, isso juro; mas espere.

Sinhá Rita olhava para ele espantada, e todas as crias, de casa, e de fora, que estavam sentadas em volta da sala, diante das suas almofadas de renda, todas fizeram parar os bilros e as mãos. Sinhá Rita vivia principalmente de ensinar a fazer renda, crivo e bordado. Enquanto o rapaz tomava fôlego, ordenou às pequenas que trabalhassem, e esperou. Afinal, Damião contou tudo, o desgosto que lhe dava o seminário; estava certo de que não podia ser bom padre; falou com paixão, pediu-lhe que o salvasse.

— Como assim? Não posso nada.

— Pode, querendo.

— Não, replicou ela abanando a cabeça; não me meto em negócios de sua família, que mal conheço; e então seu pai, que dizem que é zangado!

Damião viu-se perdido. Ajoelhou-se-lhe aos pés, beijou-lhe as mãos, desesperado.

— Pode muito, Sinhá Rita; peço-lhe pelo amor de Deus, pelo que a senhora tiver de mais sagrado, por alma de seu marido, salve-me da morte, porque eu mato-me, se voltar para aquela casa.

Sinhá Rita, lisonjeada com as súplicas do moço, tentou chamá-lo a outros sentimentos. A vida de padre era santa e bonita, disse-lhe ela; o tempo lhe mostraria que era melhor vencer as repugnâncias e um dia... Não, nada, nunca! redargüia Damião, abanando a cabeça e beijando-lhe as mãos; e repetia que era a sua morte. Sinhá Rita hesitou ainda muito tempo; afinal perguntou-lhe por que não ia ter com o padrinho.

— Meu padrinho? Esse é ainda pior que papai; não me atende, duvido que atenda a ninguém...

— Não atende? interrompeu Sinhá Rita ferida em seus brios. Ora, eu lhe mostro se atende ou não...

Chamou um moleque e bradou-lhe que fosse à casa do Sr. João Carneiro chamá-lo, já e já; e se não estivesse em casa, perguntasse onde podia ser encontrado, e corresse a dizer-lhe que precisava muito de lhe falar imediatamente.

— Anda, moleque.

Damião suspirou alto e triste. Ela, para mascarar a autoridade com que dera aquelas ordens, explicou ao moço que o Sr. João Carneiro fora amigo do marido e arranjara-lhe algumas crias para ensinar. Depois, como ele continuasse triste, encostado a um portal, puxou-lhe o nariz, rindo:

— Ande lá, seu padreco, descanse que tudo se há de arranjar.

Sinhá Rita tinha quarenta anos na certidão de batismo, e vinte e sete nos olhos. Era apessoada, viva, patusca, amiga de rir; mas, quando convinha, brava como diabo. Quis alegrar o rapaz, e, apesar da situação, não lhe custou muito. Dentro de pouco, ambos eles riam, ela contava-lhe anedotas, e pedia-lhe outras, que ele referia com singular graça. Uma destas, estúrdia, obrigada a trejeitos, fez rir a uma das crias de Sinhá Rita, que esquecera o trabalho, para mirar e escutar o moço. Sinhá Rita pegou de uma vara que estava ao pé da marquesa, e ameaçou-a:

— Lucrécia, olha a vara!

A pequena abaixou a cabeça, aparando o golpe, mas o golpe não veio. Era uma advertência; se à noitinha a tarefa não estivesse pronta, Lucrécia receberia o castigo do costume. Damião olhou para a pequena; era uma negrinha, magricela, um frangalho de nada, com uma cicatriz na testa e uma queimadura na mão esquerda. Contava onze anos. Damião reparou que tossia, mas para dentro, surdamente, a fim de não interromper a conversação. Teve pena da negrinha, e resolveu apadrinhá-la, se não acabasse a tarefa. Sinhá Rita não lhe negaria o perdão... Demais, ela rira por achar-lhe graça; a culpa era sua, se há culpa em ter chiste.

Nisto, chegou João Carneiro. Empalideceu quando viu ali o afilhado, e olhou para Sinhá Rita, que não gastou tempo com preâmbulos. Disse-lhe que era preciso tirar o moço do seminário, que ele não tinha vocação para a vida eclesiástica, e antes um padre de menos que um padre ruim. Cá fora também se podia amar e servir a Nosso Senhor. João Carneiro, assombrado, não achou que replicar durante os primeiros minutos; afinal, abriu a boca e repreendeu o afilhado por ter vindo incomodar "pessoas estranhas", e em seguida afirmou que o castigaria.

— Qual castigar, qual nada! interrompeu Sinhá Rita. Castigar por quê? Vá, vá falar a seu compadre.

— Não afianço nada, não creio que seja possível...

— Há de ser possível, afianço eu. Se o senhor quiser, continuou ela com certo tom insinuativo, tudo se há de arranjar. Peça-lhe muito, que ele cede. Ande, Senhor João Carneiro, seu afilhado não volta para o seminário; digo-lhe que não volta...

— Mas, minha senhora...

— Vá, vá.

João Carneiro não se animava a sair, nem podia ficar. Estava entre um puxar de forças opostas. Não lhe importava, em suma, que o rapaz acabasse clérigo, advogado ou médico, ou outra qualquer coisa, vadio que fosse; mas o pior é que lhe cometiam uma luta ingente com os sentimentos mais íntimos do compadre, sem certeza do resultado; e, se este fosse negativo, outra luta com Sinhá Rita, cuja última palavra era ameaçadora: "digo-lhe que ele não volta". Tinha de haver por força um escândalo. João Carneiro estava com a pupila desvairada, a pálpebra trêmula, o peito ofegante. Os olhares que deitava a Sinhá Rita eram de súplica, mesclados de um tênue raio de censura. Por que lhe não pedia outra coisa? Por que lhe não ordenava que fosse a pé, debaixo de chuva, à Tijuca, ou Jacarepaguá? Mas logo persuadir ao compadre que mudasse a carreira do filho... Conhecia o velho; era capaz de lhe quebrar uma jarra na cara. Ah! se o rapaz caísse ali, de repente, apoplético, morto! Era uma solução — cruel, é certo, mas definitiva.

— Então? insistiu Sinhá Rita.

Ele fez-lhe um gesto de mão que esperasse. Coçava a barba, procurando um recurso. Deus do céu! um decreto do papa dissolvendo a Igreja, ou, pelo menos, extinguindo os seminários, faria acabar tudo em bem. João Carneiro voltaria para casa e ia jogar os três-setes. Imaginai que o barbeiro de Napoleão era encarregado de comandar a batalha de Austerlitz... Mas a Igreja continuava, os seminários continuavam, o afilhado continuava cosido à parede, olhos baixos, esperando, sem solução apoplética.

— Vá, vá, disse Sinhá Rita dando-lhe o chapéu e a bengala.

Não teve remédio. O barbeiro meteu a navalha no estojo, travou da espada e saiu à campanha. Damião respirou; exteriormente deixou-se estar na mesma, olhos fincados no chão, acabrunhado. Sinhá Rita puxou-lhe desta vez o queixo.

— Ande jantar, deixe-se de melancolias.

— A senhora crê que ele alcance alguma coisa?

— Há de alcançar tudo, redargüiu Sinhá Rita cheia de si. Ande, que a sopa está esfriando.

Apesar do gênio galhofeiro de Sinhá Rita e do seu próprio espírito leve, Damião esteve menos alegre ao jantar que na primeira parte do dia. Não fiava do caráter mole do padrinho. Contudo, jantou bem; e, para o fim, voltou às pilhérias da manhã. À sobremesa, ouviu um rumor de gente na sala, e perguntou se o vinham prender.

— Hão de ser as moças.

Levantaram-se e passaram à sala. As moças eram cinco vizinhas que iam todas as tardes tomar café com Sinhá Rita, e ali ficavam até o cair da noite.

As discípulas, findo o jantar delas, tornaram às almofadas do trabalho. Sinhá Rita presidia a todo esse mulherio de casa e de fora. O sussurro dos bilros e o palavrear das moças eram ecos tão mundanos, tão alheios à teologia e ao latim, que o rapaz deixou-se ir por eles e esqueceu o resto. Durante os primeiros minutos, ainda houve da parte das vizinhas certo acanhamento, mas passou depressa. Uma delas cantou uma modinha, ao som da guitarra, tangida por Sinhá Rita, e a tarde foi passando depressa. Antes do fim, Sinhá Rita pediu a Damião que contasse certa anedota que lhe agradara muito. Era a tal que fizera rir Lucrécia.

— Ande, senhor Damião, não se faça de rogado, que as moças querem ir embora. Vocês vão gostar muito.

Damião não teve remédio senão obedecer. Malgrado o anúncio e a expectação, que serviam a diminuir o chiste e o efeito, a anedota acabou entre risadas das moças. Damião, contente de si, não esqueceu Lucrécia e olhou para ela, a ver se rira também. Viu-a com a cabeça metida na almofada para acabar a tarefa. Não ria; ou teria rido para dentro, como tossia.

Saíram as vizinhas, e a tarde caiu de todo. A alma de Damião foi-se fazendo tenebrosa, antes da noite. Que estaria acontecendo? De instante a instante, ia espiar pela rótula, e voltava cada vez mais desanimado. Nem sombra do padrinho. Com certeza, o pai fê-lo calar, mandou chamar dois negros, foi à polícia pedir um pedestre, e aí vinha pegá-lo à força e levá-lo ao seminário. Damião perguntou a Sinhá Rita se a casa não teria saída pelos fundos; correu ao quintal, e calculou que podia saltar o muro. Quis ainda saber se haveria modo de fugir para a Rua da Vala, ou se era melhor falar a algum vizinho que fizesse o favor de o receber. O pior era a batina; se Sinhá Rita lhe pudesse arranjar um rodaque, uma sobrecasaca velha... Sinhá Rita dispunha justamente de um rodaque, lembrança ou esquecimento de João Carneiro.

— Tenho um rodaque do meu defunto, disse ela, rindo; mas para que está com esses sustos? Tudo se há de arranjar, descanse.

Afinal, à boca da noite, apareceu um escravo do padrinho, com uma carta para Sinhá Rita. O negócio ainda não estava composto; o pai ficou furioso e quis quebrar tudo; bradou que não, senhor, que o peralta havia de ir para o seminário, ou então metia-o no Aljube ou na presiganga. João Carneiro lutou muito para conseguir que o compadre não resolvesse logo, que dormisse a noite, e meditasse bem se era conveniente dar à religião um sujeito tão rebelde e vicioso. Explicava na carta que falou assim para melhor ganhar a causa. Não a tinha por ganha; mas no dia seguinte lá iria ver o homem, e teimar de novo. Concluía dizendo que o moço fosse para a casa dele.

Damião acabou de ler a carta e olhou para Sinhá Rita. Não tenho outra tábua de salvação, pensou ele. Sinhá Rita mandou vir um tinteiro de chifre, e na meia folha da própria carta escreveu esta resposta: "Joãozinho, ou você salva o moço, ou nunca mais nos vemos". Fechou a carta com obreia, e deu-a ao escravo, para que a levasse depressa. Voltou a reanimar o seminarista, que estava outra vez no capuz da humildade e da consternação. Disse-lhe que sossegasse, que aquele negócio era agora dela.

— Hão de ver para quanto presto! Não, que eu não sou de brincadeiras!

Era a hora de recolher os trabalhos. Sinhá Rita examinou-os; todas as discípulas tinham concluído a tarefa. Só Lucrécia estava ainda à almofada, meneando os bilros, já sem ver; Sinhá Rita chegou-se a ela, viu que a tarefa não estava acabada, ficou furiosa, e agarrou-a por uma orelha.

— Ah! malandra!

— Nhanhã, nhanhã! pelo amor de Deus! por Nossa Senhora que está no céu.

— Malandra! Nossa Senhora não protege vadias!

Lucrécia fez um esforço, soltou-se das mãos da senhora, e fugiu para dentro; a senhora foi atrás e agarrou-a.

— Anda cá!

— Minha senhora, me perdoe! tossia a negrinha.

— Não perdôo, não. Onde está a vara?

E tornaram ambas à sala, uma presa pela orelha, debatendo-se, chorando e pedindo; a outra dizendo que não, que a havia de castigar.

— Onde está a vara?

A vara estava à cabeceira da marquesa, do outro lado da sala. Sinhá Rita, não querendo soltar a pequena, bradou ao seminarista.

— Sr. Damião, dê-me aquela vara, faz favor?

Damião ficou frio... Cruel instante! Uma nuvem passou-lhe pelos olhos. Sim, tinha jurado apadrinhar a pequena, que por causa dele, atrasara o trabalho...

— Dê-me a vara, Sr. Damião!

Damião chegou a caminhar na direção da marquesa. A negrinha pediu-lhe então por tudo o que houvesse mais sagrado, pela mãe, pelo pai, por Nosso Senhor...

— Me acuda, meu sinhô moço!

Sinhá Rita, com a cara em fogo e os olhos esbugalhados, instava pela vara, sem largar a negrinha, agora presa de um acesso de tosse. Damião sentiu-se compungido; mas ele precisava tanto sair do seminário! Chegou à marquesa, pegou na vara e entregou-a a Sinhá Rita.


terça-feira, 29 de novembro de 2011

Soneto da Capoeira

Soneto da Capoeira

Rodolfo Pamplona Filho

Dizem que a capoeira mata um...
Isto é meia-verdade, sem mal algum,
pois a vida se renova em um salto,
a cada perna jogada para o alto.

Talvez o destino conspire
ou o universo se desespere,
mas a vida se torna mais leve
quando se descobre que o tempo é breve

para aprender tudo q se pode saber,
experimentar o que se pode fazer
e saber o que se conhece com calma.

A elasticidade vicia e conserta o torto
quando a adrenalina toma o corpo
e a capoeira invade toda a alma.

New York, 18 de setembro de 2011.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

“Nada é só bom”

 
“Nada é só bom”
A felicidade pode ser uma mercadoria ordinária, vendida e não entregue
ELIANE BRUM
 Reprodução
ELIANE BRUM
Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo).
elianebrum@uol.com.br
Ao assistir ao novo filme de Arnaldo Jabor, “A Suprema Felicidade”, fiquei desesperada porque não tinha uma caneta e um bloquinho. Eu nunca ando sem uma caneta e um bloquinho. Mas assisti ao filme na abertura do Festival de Cinema do Rio, na quinta-feira (23/9), vestida para festa e com uma daquelas bolsas ridículas onde mal cabem o batom e o dinheiro do táxi. Um problema quando ouvimos uma frase realmente ótima e tudo o que encontramos para retê-la é um bastão com algum nome bizarro como “beijo fatal”. Tive de apelar para a minha péssima memória porque há no filme algumas frases imperdíveis. Daquele tipo essencial, tão boas que parecem simples e até óbvias e você quer morrer por nunca tê-las escrito. Estas frases unem as memórias do cineasta, que vão emergindo no filme do mesmo modo que as lembramos na vida – sem linearidade e só aparentemente descosturadas. Fiquei repetindo-as durante toda a sessão para mim mesma. Consegui que sobrevivessem razoavelmente ilesas. E a primeira delas é a do título desta coluna: “Nada é só bom”.
Virou meu mantra desde então. Vejo tanta gente sofrendo por aí, achando que sua vida está aquém do que deveria ser, porque tudo deveria ser só bom. Não sei quando nos enfiaram garganta abaixo esta ideia absurda de um estado de felicidade absoluta. Uma espécie de nirvana a ser alcançado em que nada mais nos perturbaria e que seríamos felizes para sempre. Na verdade, só há um jeito de isso acontecer: podemos ser felizes e mortos. Porque este estado imperturbável, imune à vida, só se alcança na morte.
Acho que a grande causa atual de infelicidade é a exigência da felicidade. É o deslocamento do lugar da felicidade para o centro da vida, como um fim a ser alcançado e a medida de uma existência que valha a pena. Se nos lembrarmos bem dos contos de fadas, o “e foram felizes para sempre” era exatamente o fim da história. Era quando o conto morria num ponto final porque não havia mais nada relevante para ser contado. Tudo o que interessava, o que nos hipnotizava e nos mantinha pedindo a nossos pais ou à professora ou a nós mesmos “de novo, conta de novo”, era o que vinha antes. O desejo, as turbulências, os avanços e recuos, os tropeços e os arrependimentos, os erros, o frio na barriga, a busca. Tudo aquilo que é a matéria da vida de todos. O que realmente importa.
Acho impressionante a quantidade de adultos pedindo um final feliz para as suas vidas, para suas histórias de amor, para o sucesso profissional. Não há nenhum mistério no final. Independentemente do que cada um acredita, o fato é que no final a vida como cada um a conhece acaba. Para viver, o que nos interessa não são os pontos finais, mas as vírgulas. Os acontecimentos do meio, o enredo entre o primeiro parágrafo e o último.
Escrevo pequenas histórias de ficção em um site de crônicas e alguns leitores se manifestam, por comentários ou por email, reclamando do desfecho. Eles me ensinam sobre esta exigência da felicidade por toda parte. Pedem, com todas as letras, “um final feliz”. Sentem-se traídos porque não dou isso a eles. Mas voltam na semana seguinte para se perturbarem com o desfecho do novo conto e reclamar mais uma vez. São adultos pedindo histórias da carochinha. E consumidores bem treinados para achar que tudo é produto de consumo.
Acham que ofereço a eles cachorro-quente. Por favor, um pouco mais de mostarda, duas salsichas, menos pimenta no molho. É muito interessante. Mas, de algum modo, algo nos meus “finais infelizes” os engata. Porque, em vez de me deixar para lá e ler algo mais “feliz”, voltam por alguma razão. Talvez descobrir se me rendi a tal da felicidade.
A ideia de felicidade como um fim em si mesmo encobre e desbota tanto a delicadeza quanto a grandeza do que vivemos hoje, faz com que olhemos para nossas pequenas conquistas, nossos amores nem sempre tão grandiloquentes, nosso trabalho às vezes chato, como se fosse pouco. Apenas porque nem a conquista nem o amor nem o trabalho é só bom. E há uma crença coletiva e alimentada pelo mundo do consumo afirmando que tudo deveria ser só bom. E se não é só bom é porque fracassamos.
Deixamos então de enxergar a beleza de nosso amor imperfeito, de nossa família imperfeita, de nosso trabalho imperfeito, de nosso corpo imperfeito, de nossos dentes imperfeitos e até de nossas taxas de colesterol imperfeitas. De nossos dias imperfeitos. Escolher como olhamos para nossa vida é um ato profundo de liberdade que temos descartado em troca de propaganda enganosa.
Tanta gente se esquece de viver o que está aí em troca desta mercadoria ordinária chamada de felicidade. Que, como toda mercadoria, tem essência de fumaça. Se tivesse de escolher entre esta felicidade de plástico que vendem por aí e a infelicidade, preferiria ser infeliz. Pelo menos, a infelicidade me faz buscar. E a felicidade absoluta é mortífera, ela mata o tempo presente.
Não tenho nenhum interesse por esta pergunta corriqueira: “Você é feliz?”. Acho uma questão irrelevante. O que me interessa perguntar a mim mesma – e pergunto a todos a quem entrevisto é: “Você deseja?”

No filme de Arnaldo Jabor, as melhores frases são de Noel, avô do personagem principal, vivido pelo enorme Marco Nanini. Numa ocasião ele diz ao neto: “Ninguém é feliz. Com sorte, a gente é alegre”. E completa: “A vida gosta de quem gosta dela”. Achei de uma simplicidade brilhante. É isso, afinal. É claro que há uns poucos momentos de felicidade, mas, como diz Noel em seguida, eles duram no máximo uns 10 minutos e se vão para sempre. Desejar é o contato permanente com o buraco, com a falta, com a impossibilidade de ser completo. Desejar é o que une o homem à sua vida. Une pela falta. Tem mais a ver com um estado permanente de insatisfação. Não a insatisfação que paralisa, aquela causada pela impossibilidade da felicidade absoluta; mas a insatisfação que nos coloca em movimento, carregando tudo o que somos numa busca permanente de sentido. Desejar é estar sempre no caminho, conscientes de que o fim não importa. O fim já está dado, o resto tudo é possibilidade.
Em vez de ficar perdendo tempo com finais felizes ou se perguntando sobre a felicidade ou invejando a suposta felicidade do vizinho ou se sentindo mal porque não é um personagem de comercial de margarina, vale mais a pena tratar de viver. Tratar de gostar da vida para que ela goste de você.
Aliás, nada me dá mais medo do que gente que vive como se estivesse num comercial de margarina. Se aceitarem um conselho: corram dessas vidas de photoshop. Elas não existem. Gente de verdade vive do jeito possível – e tenta lembrar que o possível não é pouco. Isso não significa se acomodar, pelo contrário. Mas abrir os olhos para a novidade do mundo na soma subtraída de nossos dias, desejar a vida que nos deseja.
É como em outra frase, esta dita por um comprador ambulante de coisas antigas num momento crucial do filme. Um delirante Noel, assustado com a proximidade da morte e disposto a retomar a alegria, sacode na rua o personagem de Emiliano Queiroz, gritando: “Hoje é sábado, hoje é sábado”. E o comprador de coisas que já perderam o sentido diz a frase antológica, digna de um frasista como Nelson Rodrigues: “O sábado é uma ilusão”.
Sim, o sábado é uma ilusão. Então, lembre de viver também de segunda a sexta.

(Eliane Brum escreve às segundas-feiras.)

domingo, 27 de novembro de 2011

Estrelas vão cair

Estrelas vão cair
Erick Quintella


Me olha nos olhos
me puxa a camisa,
me inspira, me pira
me pinta um sorriso


me puxa os cabelos
e afasta os meus medos
me põe de joelhos
me faça esquecer,
todos os meus erros


me abraça, me salava
me morda me amarre
me prenda, me tenha,
mas deixa eu te olhar


não pare, não fale,
não me repreenda
me vende, me tente
não venha dizer


que a noite terminou
que sol já vai nascer
que a hora já chegou


não venha me dizer que a noite tem seu fim
me engane se quiser, mas não se afaste de mim
me tire a concentração
na cama, na lama, na sala no chão
me entoe dentro dessa canção!


meu céu é mais céu quando estou em suas mãos
e os dias são noites, breu total, escuridão
estrelas vão cair no chão do seu apartamento,
estrelas vão dançar como eu e você
pela noite adentro.

sábado, 26 de novembro de 2011

Círculo

Círculo
Tercio Roberto Peixoto Souza <tercio@msampaioadvogados.com.br>

Tenho dois sobrinhos maravilhosos.
Tenho uma filha maravilhosa.
Tenho uma vida boa,
E ainda sei fazer prosa.

Mas tenho tanto a fazer:
A vida tão curta, pra tanto dizer!
Talvez porque dizer muito fosse melhor
Que dizer melhor, ou pouco melhor dizer

É uma agonia, um cansaço...
Como um urtigão, um espinhaço,
Um pau de cancela, um mourão, uma estaca;
Que guarda, arruma, alinha e mata

Depende apenas da posição
Se bater de lado, uma surra...
Se vier por cima, um lascão...

É respirar fundo e paciência...
Porque fora disso há demência.
Nem tudo da vida foi feito na hora
Em verdade, na vida, nada tá pronto...
Nem hoje, nem amanhã, nem agora.
Porque só tá pronto o que já acabou
E se já acabou...  então, tá pronto!


sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Pedido ao Tempo

Pedido ao Tempo

Rodolfo Pamplona Filho

Peço ao tempo que passe
para poder te ver de um novo jeito...
Que o tempo voe sem impasse
e te traga de volta ao meu peito...
Anseio  pelo teu encontro,
para finalmente te abraçar
e que possa me entregar...

Espero que o tempo me traga
teus lábios e teus braços...
Que ele nos proporcione
mil beijos e amassos...
E que nos amarremos em um laço,
fruto natural de um amor manso,
a nos garantir um descanso...

E que vivamos todo o tempo
que o próprio tempo nos der
para que nosso sonho, bem lento,
se realize como quiser
porque pior que desistir
é não tentar..
E eu nunca desistirei...

Belo Horizonte, 08 de junho de 2011.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

MEIO AMBIENTE

MEIO AMBIENTE
 
Eu queria morar debaixo da rocha roxa

Habitar uma selva primitiva

Esverdeada

Molhada por um rio claro e calmo

Cravejado de gravetos

Eu queria um dia ser um astronauta

E, peralta, pular de estrela em estrela

Pelas Galáxias

Eu queria não trocar por outro o arco e a flecha

Eu queria não pensar em ter

Eu queria não pensar em ser

Eu queria não pensar

Eu queria morrer numa noite cor de rosa

Naufragando numa nuvem transparente

Brandindo o meu tacape

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A Queda

 
A queda
 José Antonio
Início das águas das nuvens
As cuieiras estavam com os frutos verdes
Em breve, a taba trocaria suas pertenças

A curuminzada chega ofegante à taba
Viram a morte da samaúma sagrada
Pelas mãos do espírito maligno de alva tez

Do átrio em que ficava a grande árvore,
Moradia de Tupã,
O pajé ensinava os segredos da vida e da morte

Tradições milenares, contadas sem pressa ou retórica,
Repetidas a cada estação, para todos
O eco da queda, até hoje, permanece gravado no peito dos curumins


Para inspirar, assistam em tela cheia (deixem carregar primeiro):

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Soneto para a Chegada de Gabriella e Giovanna

Soneto para a Chegada de Gabriella e Giovanna

Rodolfo Pamplona Filho

Duas estrelinhas surgiram
no céu de nossa cidade!
Duas pequenas rosas nasceram
no jardim da felicidade!

Será que existe maior alegria
do que viver cada dia
na enorme expectativa
do momento de sua vinda?

Se uma só já seria amada,
recebermos duas na mesma fornada
é amor que não mede tamanho!

Venham ver como a vida é bela,
Giovanna e Gabriella
Assunção Stolze Gagliano

No vôo de Salvador para São Paulo,
para assistir o show do Pearl Jam,
em 04 de novembro de 2011.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

UMA LIÇÃO

UMA LIÇÃO: A carta a seguir foi escrita por Ha Minh
Thanh, um imigrante vietnamita que é policial em Fukushima no Japão.
Era endereçada a seu irmão, mas acabou chegando a um jornal em
Shangai que a traduziu e publicou.
******
Querido irmão,
Como estão você e sua família? Estes últimos dias tem sido um
verdadeiro caos. Quando fecho meus olhos, vejo cadáveres e quando os
abro, também vejo cadáveres.

Cada um de nós está trabalhando umas 20 horas por dia e mesmo
assim, gostaria que houvesse 48 horas no dia para poder continuar
ajudar e resgatar as pessoas.  Estamos sem água e eletricidade e as
porções de comida estão quase a zero. Mal conseguimos mudar os
refugiados e logo há ordens para mudá-los para outros lugares.
Atualmente estou em Fukushima – a uns 25 quilômetros da usina
nuclear. Tenho tanto a contar que se fosse contar tudo, essa carta se
tornaria um verdadeiro romance sobre relações humanas e
comportamentos durante tempos de crise.  As pessoas aqui permanecem
calmas – seu senso de dignidade e seu comportamento são muito bons
– assim, as coisas não são tão ruins como poderiam. Entretanto,
mais uma semana, não posso garantir que as coisas não cheguem a um
ponto onde não poderemos dar proteção e manter a ordem de forma
apropriada.  Afinal de contas, eles são humanos e quando a fome e a
sede se sobrepõem à dignidade, eles farão o que tiver que ser feito
para conseguir comida e água. O governo está tentando fornecer
suprimentos pelo ar enviando comida e medicamentos, mas é como jogar
um pouco de sal no oceano.   

                                    
Irmão querido, houve um incidente realmente tocante que envolveu um
garotinho japonês que ensinou a um adulto como eu uma lição de como
se comportar como um verdadeiro ser humano.  Ontem à noite fui
enviado para uma escola infantil para ajudar uma organização de
caridade a distribuir comida aos refugiados. Era uma fila muito longa
e notei, no final dela, um garotinho de uns 9 anos que usava uma
camiseta e um short. Estava ficando muito frio e fiquei preocupado se,
ao chegar sua vez, poderia não haver mais comida. Fui falar com ele.
Ele contou que estava na escola quando o terremoto ocorreu. Seu pai,
que trabalhava perto, estava se dirigindo para a escola para
apanhá-lo e ele, que estava no terraço do terceiro andar, viu quando
a onda tsunami levou o carro com seu pai dentro.

                                             

Perguntei sobre sua mãe. Ele disse que sua casa era bem perto da
praia e que sua mãe e sua irmãzinha provavelmente não sobreviveram.
Notei que ele virou a cabeça para limpar uma lágrima quando
perguntei sobre sua família. O garoto estava tremendo. Tirei minha
jaqueta de policial e coloquei sobre ele. Foi ai que a minha bolsa de
bentô (comida) caiu. Peguei-a e dei-a a ele dizendo: “Quando chegar
a sua vez a comida pode ter acabado. Assim, aqui está a minha
porção. Eu já comi. Por que você não come”?  Ele pegou a minha
comida e fez uma reverência. Pensei que ele iria comer imediatamente,
mas ele não o fez. Pegou a comida, foi até o início da fila e
colocou-a onde todas as outras comidas estavam esperando para serem
distribuídas.  Fiquei chocado. Perguntei-lhe por que ele não havia
comido ao invés de colocar a comida na pilha de comida para
distribuição. Ele respondeu: “Porque vejo pessoas com mais fome
que eu. Se eu colocar a comida lá, eles irão distribuí-la mais
igualmente”.  Quando ouvi aquilo, me virei para que as pessoas não
me vissem chorar.  Uma sociedade que pode produzir uma pessoa de 9
anos que compreende o conceito de sacrifício para o bem maior deve
ser uma grande sociedade, um grande povo.  Bem, envie minhas
saudações à sua família. Tenho que ir, meu plantão já começou.
Ha Minh Thanh
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domingo, 20 de novembro de 2011

A MOSCA E A ARANHA

A MOSCA E A ARANHA
Por MMendes
a mosca e a aranha.jpg
Saindo em disparada rumo às nuvens, recolheu as asas deixando que a gravidade drenasse lentamente seu movimento até que parou completamente no ar, deu uma guinada e começou a cair vagarosamente, como uma cabeça de martelo lançada ao ar. Quase pareceu que se espatifaria no chão, mas no momento certo, habilidosamente abriu suas asas, recuperou o vôo desenvolvendo elegantemente uma curva no espaço.  Em seguida manobrou em “looping” desenhando três círculos perfeitos, manobra acrobática que deixaria qualquer um completamente desorientado, mas não ela, a fabulosa mosca.
E vai novamente conduzindo seu corpo ao estol de maneira assimétrica, guinava para o lado gerando uma trajetória em parafuso, como um avião abatido em combate. Mas, ao contrário, o inseto voador nivelou-se ao solo, ganhou altura e desapareceu no horizonte daquela tarde avermelhada de primavera.
Apaixonada por aviação passava horas e horas admirando as acrobacias dos cadetes. Expectadora assídua, pousava todos os dias sobre a mesma folha de uma palmeira no jardim da Força Aérea. Sem que a mosca notasse, não muito longe, uma aranha a espreitava todos os dias, fitando-a veementemente com seus oito olhos bem abertos. Determinado dia, antes da chegada da mosca, a aranha teceu uma fina teia, quase invisível, no exato lugar onde a mosca pousaria.
No dia seguinte, no horário de sempre, lá vinha a mosca desenvolvendo um vôo de costas, seguido de um rolamento lateral em torno do eixo longitudinal do corpo. Quando estava para pousar, sentiu prender-se no ar. Era como se uma mão invisível a tivesse capturado. Bateu as asas, esperneou, contorceu-se, mas nada de escapar. Havia sido apanhada pela teia.
Os movimentos da mosca balançaram a teia e o aracnídeo que aguardava num canto, iniciou uma lenta caminhada. Pé ante pé, desviava-se dos pingos de cola que pontilhavam cada fio de sua armadilha. A mosca apavorada observava cada movimento de sua predadora. Sem poder escapar pensou: “-É derradeiramente meu fim”. A aranha era enorme perto da pequena mosca. Chegando bem perto, com seus olhos iridescentes como bolhas de sabão, fitou a pobrezinha por um instante. Tomou a mosca em seus tentáculos cabeludos e começou enrolá-la, prendendo-a num novelo de seda. Depois amarrou o casulo firmemente num dos cantos da teia, saindo vagarosamente.
A mosca completamente imobilizada pensou: “-Me amarrou para devorar-me mais tarde. Quem sabe na hora do almoço? Eu que amo tanto a liberdade do céu, vou acabar morrendo aqui, presa, amarrada, inerte. Que triste fim para uma mosca aviadora”, lamentava. Chegou a hora do almoço, passou a hora do jantar, caiu a noite e nada da aranha aparecer. A mosca não cochilou um só momento, com medo de ser devorada dormindo.
Chegou o dia seguinte, pouco antes dos aviões iniciarem a decolagem, a aranha reapareceu, levantou seus tentáculos apanhando o casulo. Nesse momento a mosca gritou: “-É agora, guardou-me para o café da manhã. Socorro, socorro!”. Misteriosamente a aranha carregou delicadamente o casulo até um local de privilegiada vista das acrobacias aéreas. Em seguida retirou-se. Com o coração acelerado, a mosca quase nem conseguiu prestar atenção aos aviões. Depois de um tempo a aranha voltou, recolheu o casulo e prendeu-o novamente no mesmo lugar de antes, retirando-se em seguida. A mosca não compreendia quais eram as intenções da aranha e não sabia o que pensar: “-O que pretende a aranha? Comer-me enquanto me distraio com os aviões? Ela quer sugar meu néctar enquanto me alegro? Será que o néctar da gente é mais gostoso quando estamos alegres?”. Entardeceu, passou a noite e nada da aranha aparecer. A mosca prisioneira estava entristecida com sua sorte. No dia seguinte, antes da decolagem dos aviões, surge novamente a dominadora, repetindo tudo o que havia feito antes. Mas o inseto prisioneiro sequer prestava atenção aos aviões, cabisbaixo, aborrecido. A vida perdera o sentido. Depois de um tempo, a aranha recolheu o casulo novamente, repetindo todo o ritual. No quarto dia tudo igual.
Em completa solidão e profunda melancolia a mosca pensava na morte e todas as conquistas de vida deixadas para trás, a fama, o chapeuzinho de aviador, os lugares que não conheceu, os prazeres que não viveu.
-  Quem sabe ao menos um sopro de vida subirá às alturas, deixando meu corpo sucumbir no fundo da terra, ou na barriga da aranha? Tudo é vaidade, tudo é vaidade - Lamentava a mosca. Nunca havia pensado na morte. A vida havia sido prazerosa demais, por isso nunca sentiu necessidade de uma oração sequer, uma conversa com Deus. Mas, naquela hora sentia-se impelida e ensaiou uma pequena oração, embora sem aquela retórica toda.
- Oh meu Deus, não me importo de morrer, mas se for possível, eu prefiro não estar por perto quando isso ocorrer.
Por que somos todos assim? Passamos a vida construindo um império e no instante final percebemos que só temos um castelo de areia? Corremos atrás da fama, da posição social e da riqueza e no final descobrimos que acumulamos apenas vaidade dissipada pelo hálito da morte?
No quinto dia, esperando que a aranha aparecesse no momento da decolagem dos aviões, a aranha não veio: “- Tem alguma coisa estranha no ar. Cadê a aranha?”. Antes mesmo de consumar seus pensamentos, sentiu um bafo quente na nuca e inesperadamente seu corpo girou de forma violenta. Parou olho a olho com a aranha que lhe deu um enorme beijo na boca.
- Meu amor! Clamou a aranha aos prantos. - Te amo desde o primeiro momento que o vi. Quis vê-lo e abraçá-lo todos os dias de minha vida. Temia que um dia me abandonasse, nunca mais aparecesse, despedaçando meu coração. Mas agora compreendi, prender-te foi um grande erro.  Se não fores feliz, igualmente eu não serei, pois esse é o destino daqueles que amam. Os verdadeiros amantes compartilham as alegrias e as tristezas. Sei que para ti a felicidade esta em voar livremente pelo céu e que não serias feliz aqui.
Aos prantos a aranha começou a desatar as linhas do novelo libertando a mosca boquiaberta. Livre, saiu em vôo disparado dando mil e uma cambalhotas e rodopios pelo ar, enquanto a aranha derramava lágrimas de amor que decoravam teia. A mosca nunca mais voltou. Mas, a aranha não sofreu, apenas amou e amou muito. Aprendeu amar não é sinônimo de prisão, o verdadeiro amor é libertador.


sábado, 19 de novembro de 2011

Soneto do Despertar

Soneto do Despertar

Rodolfo Pamplona Filho

Eu quero acordar fazendo amor
de manhã, noite ou madrugada,
iniciando o dia com o calor
e o carinho da pessoa amada.

Eu quero, para a lida, levantar,
somente depois de, pleno, gozar,
mas garantindo o máximo proveito
a quem compartilha meu leito.

Eu quero despertar renovado,
por nosso amor reenergizado,
como um motor lubrificado.

Eu quero viver eternamente,
para ter sempre presente
o prazer de você ao meu lado.

New York, 15 de setembro de 2011.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Trilha sonora de uma Trajetória Acadêmica

Trilha sonora das pessoas que seguem a área acadêmica durante a vida toda



Bolsista de iniciação

cid:1.821482837@web111702.mail.gq1.yahoo.com
Escuta MPB. São os primeiros passos na vida científica. A vida é maravilhosa.


Bolsista de Mestrado
cid:2.821482837@web111702.mail.gq1.yahoo.com
Escuta musica POP. Está completamente empolgado com o que faz e quer ser o melhor na sua área.


Bolsista de Doutorado
cid:3.821482837@web111702.mail.gq1.yahoo.com
Escuta Heavy Metal. O dia começa às 8 da manhã e só acaba às 10 da noite. Nada dá certo e ainda tem que lidar com resumos para congressos, relatórios, disciplinas, paper para escrever, orientar os ICs, etc, etc...


Bolsista de Pós-Doutorado
cid:4.821482837@web111702.mail.gq1.yahoo.com
 
Escuta HIP HOP. Aumento de peso por causa do estresse. Percebeu que não pode salvar o mundo, mas isso não lhe importa, porque ainda assim continuam pagando um salário a ele. E os papers? Se sair algum, beleza, se não, tudo bem. Sempre existe a oportunidade para encaixar alguma revisão de literatura.

Professor Doutor

cid:5.821482837@web111702.mail.gq1.yahoo.com
Escuta Gansta Rap. O senso de humor mudou totalmente daqueles dias de iniciação. O dores de cabeça são mais frequentes e começa a esquecer as coisas que foram faladas. Vive a base da cafeína. O melhor (?!) é que ninguém pode te criticar.

Professor Titular
cid:6.821482837@web111702.mail.gq1.yahoo.com
Escuta vozes em sua cabeça. Esquece dos horários das reuniões, dos dias da semana, do trabalho de seus alunos...

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A HISTÓRIA DO PATO

A HISTÓRIA DO PATO
Havia dois irmãos que visitavam seus avós no sítio, nas férias.
Felipe, o menino, ganhou um estilingue para brincar no mato. Praticava sempre, mas nunca conseguia acertar o alvo.
Certa tarde viu o pato de estimação da vovó... Em um impulso atirou e acabou acertando o pato na cabeça e o matou. Ele ficou chocado e triste!
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http://revistavaras.files.wordpress.com/2009/12/tut02_duck02.jpg

Entrou em pânico e escondeu o pato morto no meio da madeira!

Beatriz, a sua irmã viu tudo mas não disse nada aos avós.
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Após o almoço no dia seguinte, a avó disse: "Beatriz, vamos lavar a louça"
Mas ela disse: " Vovó, o Filipe me disse que queria ajudar na cozinha". E olhando para ele sussurrou: "Lembra do pato?" Então o Felipe lavou os pratos.
http://margullys.files.wordpress.com/2010/07/lavandolouca.jpg
Mais tarde o vovô perguntou se as crianças queriam pescar e a vovó disse: "Desculpe, mas eu preciso que a Beatriz me ajude a fazer o jantar."
Beatriz apenas sorriu e disse, "Está bem, mas o Filipe me disse que queria ajudar hoje", e sussurrou novamente para ele, "Lembra do pato?"

http://pat.feldman.com.br/wp-content/uploads/2009/05/cimg9318.jpg
Então a Beatriz foi pescar e Filipe ficou para ajudar.

Após vários dias o Filipe sempre ficava fazendo o trabalho da Beatriz até que ele, finalmente não agüentando mais, confessou para a avó que tinha matado o pato.

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A vovó o abraçou e disse: "Querido, eu sei... eu estava na janela e vi tudo, mas porque eu te amo, eu te perdoei. Eu só estava me perguntando quanto tempo você iria deixar a Beatriz fazer você de escravo!"
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Qualquer que seja o seu passado, ou o que você tenha feito... (mentir, enganar, seus maus hábitos, ódio, raiva, amargura, etc ).... seja o que for... você precisa saber que Deus estava na janela e viu tudo como aconteceu.
Ele conhece toda a sua vida ... Ele quer que você saiba que Ele te ama e que você já está perdoado. Ele está apenas querendo saber quanto tempo você vai deixar o diabo fazer de você um escravo.
Deus só está esperando você pedir perdão, Ele não só perdoa, mas Ele se esquece.

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É pela graça e misericórdia de Deus que somos salvos. Vá em frente e faça a diferença na vida de alguém hoje.
Compartilhe esta mensagem com um amigo e lembre-se sempre: Deus está na janela e sabe de tudo!

"A vontade de Deus nunca irá levá-lo aonde a Graça de Deus não irá protegê-lo."


 https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisEWNiMVNGpQKOtmcB5IyqUO5OwQTBudENO7xM7XvbxDKq7Widd8GQIAjk4XAKJyyMTunuQOeZ_IJ6rdvMdLXumNVml7wc0YqBtKCaZwglVsyHOJmoFdqmE_R6Hg-FAi0NGXNZaUzYv66I/s400/mao.jpg






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O Senhor te abençoe e guarde!!!!


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Decepção

Decepção

A hipocrisia entristece a minha alma
Palavras lindas, inventivas,
Fala, escritos...
Discurso de sabedoria barata
Entre linhas, mídia
Logo mostram a sua ambiguidade
'Articulações' perfeitas...

O embuste
Cai em meu colo
Como uma criança morta
O que é mais imoral
Que a aleivosia?
Uma criança no lixo!

A balela da letra
Na tela, teclado, tv a cabo
Sem cabo
Palavra
Soando fingido
Como o canto da mais linda sereia.

O que é mais espantoso
Que o suicídio após o trauma
Somado à morte de crianças?
A mentira...
De quem diz não
Sentir preconceito
Do pobre gay negro velho
desprovido de saúde mental.

Malu Calado

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A TIRINHA QUE EMOCIONOU O MUNDO

Quando vc era bem pequeno...  


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...eles gastavam horas lhe  ensinando a usar talheres  nas refeições...


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... ensinando você a se vestir,  amarrar os cadarços dos  sapatos, fechar os botões da camisa..


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Limpando-o  quando você sujava suas fraldas lhe ensinando a lavar o rosto  a se banhar a pentear seus cabelos...


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...lhe  ensinando valores  humanos...



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Por isso...

 
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...quando eles ficarem velhos um  dia...e seria bom que todos pudessem chegar até aí (não preciso  explicar...não é?)

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...quando eles começarem a ficar  mais esquecidos e demorarem a responder...

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...não se chateie com eles...

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...quando eles começarem a esquecer  de fechar botões da camisa, de amarrar cadarços de sapato...

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...quando eles começarem a se sujar nas  refeições...

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...quando as mãos deles começarem a  tremer enquanto penteiam cabelo...

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...por favor, não os  apresse...porque você está crescendo aos poucos, e eles  envelhecendo...
 

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...basta sua presença... sua  paciência... sua generosidade... sua  retribuição...

 
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...para que os corações  deles fiquem aquecidos...

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...se um dia eles não conseguirem  se equilibrar ou caminhar direito...

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...segure firme as mãos deles e os  acompanhe bem devagar respeitando o ritmo deles durante a caminhada... da  mesma forma como eles respeitaram o seu ritmo quando lhe ensinaram a  andar...
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fique perto dêles...assim  como...

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...eles sempre estiveram  presentes em sua vida, sofrendo por você... torcendo por você...  

 
e vivendo "POR  VOCÊ"
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"Não eduque  seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz.


Assim ele  saberá o VALOR das coisas e não o seu PREÇO"