AO NOVO SÉCULO
Wellignton D. Cavalcanti
Que o novo século,
fina fatia do eterno
sagre o fazer com gozo
em superação ao trabalho
-essa dignidade de escravos com que se dissimula o logro
Onde sem vida o havido. onde sem tempo o operário,
que venha o homem novo, por oposto,
acompanhar dia a dia o crescimento dos filhos e das flores
tirar o pó dos livros,
arrumar a casa para quem ama,
preparar com carinho o alimento entre as jornadas,
polir sem pressa a palavra necessária,
mexer a massa com ânimo de atleta,
erguer a obra com esmero e calma,
assentar tijolos com a devoção de um asceta,
dar-se também ao luxo de entregar-se ao nada
-sem que preciso sejam férias ou licenças falsas
e, indiferente à marca do sexco com que se ferre,
jamais declinar de ser mulher
quando esta vier
num sobressalto.
Tudo fazer, alheio ao relógio,
por saber que o tempo
-do eterno, vaga imagem móvel,
se marca em círculos, por dentro,
de desejos e necessidades inumeráveis
no incontável do corpo de solvendo
: só a isso chamaria de tempo novo.
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