sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Cara de pau



                                                                                                           Rodolfo Pamplona Filho

O indivíduo fura a fila
e ainda reclama da bagunça;
reclama da falta de ética
e pede um cargo no serviço público;
protesta contra a corrupção
e trabalha sem nota fiscal;
fala que o serviço é ruim
e sai mais cedo da aula;
diz que ninguém presta
e esquece que faz parte do todo;
sonha com um mundo diferente
e faz tudo igual...
No final, esse tipo de gente
não passa de um cara de pau...

Salvador, 10 de agosto de 2016, assistindo a ida para a Fonte Nova...

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Rápido e rasteiro


Chacal

vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar.
aí eu paro, tiro o sapato
e danço o resto da vida

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Liberdade


Rodolfo Pamplona Filho

Liberdade é
uma palavra
para dizer
que não há mais nada
a perder...

Salvador, 11 de agosto de 2012.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Cogito



Torquato neto

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O Segredo da Serenidade



É preciso saber
que o sofrimento
não é sua exclusividade.

É preciso conhecer
e vivenciar
o segredo da serenidade.

É preciso respirar
em vez de chorar
e se desesperar.

É preciso parar
e olhar o horizonte
para compreender o que ocorreu.

É preciso não esperar
o mar se abrir (embora ele possa...)
e aprender a nadar...

É preciso transformar
o mistério em problema
para poder solucioná-lo.

Boston, 25 de junho de 2016.

domingo, 25 de setembro de 2016

O Teu Riso



Pablo Neruda

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas
não me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a flor de espiga que desfias,
a água que de súbito
jorra na tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
por vezes com os olhos
cansados de terem visto
a terra que não muda,
mas quando o teu riso entra
sobe ao céu à minha procura
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, na hora
mais obscura desfia
o teu riso, e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

Perto do mar no outono,
o teu riso deve erguer
a sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero o teu riso como
a flor que eu esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
curvas da ilha,
ri-te deste rapaz
desajeitado que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando os meus passos se forem,
quando os meus passos voltarem,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas o teu riso nunca
porque sem ele morreria.



sábado, 24 de setembro de 2016

Como alguém pode?



Rodolfo Pamplona Filho

Como alguém pode
abrir mão
de seu coração?
Como alguém pode
renegar a essência
do fundo de sua alma?
Como alguém pode
substituir uma parte
da sua própria vida?
Eu acho que não pode...
Prometo, então, que
não vou te esquecer...
Serei sua hoje
por toda essa vida
e só sua nas próximas...

Salvador, 4 de setembro de 2016.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Sem título


Paulo Leminski

Eu tão isósceles
Você ângulo
Hipóteses
Sobre o meu tesão

Teses sínteses
Antíteses
Vê bem onde pises
Pode ser meu coração

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Opressor Oprimido


Rodolfo Pamplona Filho

Reconhecer, em si, o mal
Maltrata
Maldiz
Molesta

Descobrir-se opressor
oprime
deprime
machuca

Declarar-se ser
não é suficiente
não é inteligente
não é sequer coerente

Desejar estar ao lado
não é saber
não é viver
não basta

Olhar a si e ao mundo com outros olhos
é a alternativa ao suicídio
é a reconstrução da própria história
é a única esperança da humanidade.

Quarta-feira, 17 de agosto de 2016,  literalmente no voo para Vitoria/ES.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Marina


Dorival Caymmi

Marina morena Marina você se pintou

Marina você faça tudo

Mas faça o favor

Não pinte este rosto que eu gosto

Que eu gosto e que é só meu

Marina você já é bonita

Com o que Deus lhe deu

Me aborreci, me zanguei

Já não posso falar

E quando eu me zango, Marina

Não sei perdoar

Eu já desculpei tanta coisa

Você não arrajava outro igual

Desculpe Marina, morena

Mas eu tô de mal, de mal com você

De mal com você

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Nós não sabíamos



Rodolfo Pamplona Filho

Nós não sabíamos
que, nas madrugadas,
a força imperava
sobre a liberdade.

Nós não sabíamos
que, à sorrelfa,
esperanças se despedaçavam
a cada anoitecer.

Nós não sabíamos
que, ao entardecer,
o sol se escondia
pelo que podia acontecer.

Nós não sabíamos
que, a cada amanhecer,
o medo se renovava
pelo medo do desconhecido.

Salvador, 22 de agosto de 2016.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Amar e ser amado

Castro Alves

Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão puro e celeste sentimento:
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano —,
Beijar teus dedos em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante — amado —
Como um anjo feliz... que pensamento!?

domingo, 18 de setembro de 2016

O viço



Rodolfo Pamplona Filho
E se, de repente,
eu te dissesse que não queria mais
viver no mesmo teto, na mesma cama
e que tudo que planejamos
não era mais essencial pra minha chama

E se, de repente
eu te dissesse que meu coração foi tomado
por uma vontade imensa de viver
que não engloba a rotina
que você tem a me oferecer

E se, de repente,
a pergunta que aparecesse
fosse: "Você não me ama mais?”
ou “Você arranjou outra?"
Seria o comum a se falar
pois rupturas ensejam esse pensar

E se, de repente,
tudo que era sólido
se desfizesse no ar
como grãos de areia nas mãos de uma criança,
caindo incessamente na ampulheta da vida.

Isso tudo nada teria a ver com amor,
pois eu continuarei te amando
da mesma forma pura e feliz...
Isso tudo nada teria a ver com amor,
mas com o viço que eu sempre quis...

Será que este viço se perderá?
Se este viço, sem querer, se perder
não será por outro alguém,
mas pelo próprio destino maduro
de uma essência que quer mais do que se tem.
Salvador, 28 de outubro de 2010.

sábado, 17 de setembro de 2016

Televisão para dois


Fernando Sabino

Ao chegar ele via uma luz que se coava por baixo da porta para o corredor às escuras. Era enfiar a chave na fechadura e a luz se apagava. Na sala, punha a mão na televisão, só para se certificar: quente, como desconfiava. Às vezes ainda pressentia movimento na cozinha:
- Etelvina, é você?
A preta aparecia, esfregando os olhos:
- Ouvi o senhor chegar... Quer um cafezinho?
Um dia ele abriu o jogo:-Se você quiser ver televisão quando eu não estou em casa, pode ver à vontade.
-Não precisa não, doutor. Não gosto de televisão.
- E eu muito menos.
Solteirão, morando sozinho, pouco parava em casa. A pobre da cozinheira metida lá no seu quarto o dia inteiro, sozinha também, sem ter muito que fazer...Mas a verdade é que ele curtia o seu futebolzinho aos domingos, o noticiário todas as noites e mesmo um ou outro capítulo da novela, "só para fazer sono", como costumava dizer:
- Tenho horror de televisão.
Um dia Etelvina acabou concordando:
- Já que o senhor não se incomoda... 
Não sabia que ia se arrepender tão cedo: ao chegar da rua, a luz azulada sob a porta já não se apagava quando introduzia a chave na fechadura. A princípio ela ainda se erguia da ponta do sofá onde ousava se sentar muito erecta:
- Quer que eu desligue, doutor?
Com o tempo, ela foi deixando de se incomodar quando o patrão entrava, mal percebia a sua chegada. E ele ia se refugiar no quarto, a que se reduzira seu espaço útil dentro de casa. Se precisava vir até a sala para apanhar um livro, mal ousava acender a luz:
- Com licença... 
Nem ao menos tinha mais liberdade de circular pelo apartamento em trajes menores, que era o que lhe restava de comodidade, na solidão em que vivia: a cozinheira lá na sala a noite toda, olhos pregados na televisão. Pouco a pouco ela se punha cada vez mais à vontade, já derreada no sofá, e se dando mesmo ao direito de só servir o jantar depois da novela das oito. Às vezes ele vinha para casa mais cedo, especialmente para ver determinado programa que lhe haviam recomendado, ficava sem jeito de estar ali olhando ao lado dela, sentados os dois como amiguinhos. Muito menos ousaria perturbá-la, mudando o canal, se o que lhe interessava estivesse sendo mostrado em outra estação.A solução do problema lhe surgiu um dia, quando alguém, muito espantado que ele não tivesse televisão em cores, sugeriu-lhe que comprasse uma:
- Etelvina, pode levar essa televisão lá para o seu quarto, que hoje vai chegar outra para mim.
- Não precisava, doutor - disse ela, mostrando os dentes, toda feliz:.
Ele passou a ver tranquilamente o que quisesse na sua sala, em cores, e, o que era melhor, de cuecas -quando não inteiramente nu, se bem o desejasse. Até que uma noite teve a surpresa de ver a luz por debaixo da porta, ao chegar. Nem bem entrara e já não havia ninguém na sala, como antes - a televisão ainda quente. Foi à cozinha a pretexto de beber um copo d'água, esticou um olho lá para o quarto na área: a luz azulada, a preta entretida com a televisão certamente recém-ligada.
- Não pensa que me engana, minha velha - resmungou ele.
Aquilo se repetiu algumas vezes, antes que ele resolvesse acabar com o abuso: afinal, ela já tinha a dela,que diabo. Entrou uma noite de supetão e flagrou a cozinheira às gargalhadas com um programa humorístico.
- Qual é, Etelvina? A sua quebrou?
Ela não teve jeito senão confessar, com um sorriso encabulado:
- Colorido é tão mais bonito...
Desde então a dúvida se instalou no seu espírito: não sabe se despede a empregada, se lhe confia o novo aparelho e traz de volta para a sala o antigo, se deixa que ela assista a seu lado aos programas em cores.Oque significa praticamente casar-se com ela, pois, segundo a mais nova concepção de casamento, a verdadeira felicidade conjugal consiste em ver televisão a dois.


SABINO, Fernando. A falta que ela me faz. 9.ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 1923.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

De repente, você...


Rodolfo Pamplona Filho

Sua mão me fez buscar o caminho
que há muito procurei
nos seus olhos, notei o cantinho
que há muito desejei

A vida me deu rasteiras
que eu nunca esperei.
mas o céu não limitou o espaço
que eu sempre acreditei

Assim. construí minha vida.
caminhando com sensatez
e, de repente, você aparece
como nunca imaginei...

San Francisco, 30 de setembro de 2010.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Saudades



Florbela Espanca

Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?...
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Sempre estarei aqui...



Rodolfo Pamplona Filho

Sempre estarei aqui...
mesmo que nosso futuro seja incerto,
talvez sem ver a chuva cair
ou sem lugar para dormir

Sempre estarei aqui...
mesmo quando tivermos que fugir
e esperar que a vida
possa novamente nos reunir

Sempre estarei aqui...
mesmo que os olhos nunca mais se cruzem
que nossos lábios não se juntem
e que a vida trate de cumprir
o inevitável momento do partir.

Sempre estarei aqui...
mesmo que não receba o seu OK
mesmo que o mundo mude sua lei
mesmo que o destino nos afaste de uma vez...

Sempre estarei aqui...
mesmo quando não haja pôr-do-sol
mesmo quando não vejamos o amanhecer
mesmo quando o mundo me tomar você...

Sempre estarei aqui...
ainda que tudo conspire
para que a gente se separe,
meu amor não quer que acabe...

Sempre estarei aqui...
em toda e qualquer ocasião,
em que possa ter a sua atenção
para me entregar na mais louca sensação...

Sempre estarei aqui...
mesmo que você deixe de me amar...
mesmo que você nunca mais queira me ver...
eu nunca descumprirei a promessa
de viver eternamente para seu prazer.

Salvador, 10 de outubro de 2010.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Brisa


Manuel Bandeira

Vamos viver no Nordeste, Anarina.
Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixaras aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante.

Aqui faz muito calor.
No Nordeste faz calor também.
Mas lá tem brisa:
Vamos viver de brisa, Anarina.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Refazendo a História



Rodolfo Pamplona Filho 
Zuckember​
é Gutemberg ​
A internet​
é a imprensa​
O fundamentalismo​
é o nazismo​
O feminismo ​
é o comunismo
Michael Jackson​
é Elvis Presley​
Câncer ​
é a tuberculose ​
Alzheimer​
é a lepra ​
Ser branco​
é ser judeu
Steve Jobs​
é Karl Marx​
Honestidade ​
é virtude​
Deus​
é o dinheiro​
O anticristo ​
é o próximo.

Sábado, 20 de agosto de 2016,  literalmente no voo para São Paulo.

domingo, 11 de setembro de 2016

Vilarejo



Marisa Monte

Há um vilarejo ali
Onde areja um vento bom
Na varanda, quem descansa
Vê o horizonte deitar no chão

Pra acalmar o coração
Lá o mundo tem razão
Terra de heróis, lares de mãe
Paraíso se mudou para lá
Por cima das casas, cal
Frutas em qualquer quintal
Peitos fartos, filhos fortes
Sonhos semeando o mundo real

Toda gente cabe lá
Palestina, Xangri-Lá
Vem andar e voa
Vem andar e voa
Vem andar e voa

Lá o tempo espera
Lá é primavera
Portas e janelas ficam sempre abertas
Pra sorte entrar

Em todas as mesas, pão
Flores enfeitando
Os caminhos, os vestidos, os destinos
E essa canção
Tem um verdadeiro amor
Para quando você for

sábado, 10 de setembro de 2016

Gerúndio




Rodolfo Pamplona Filho
Eu não quero ser
um projeto acabado.
Eu estou a viver.
Eu estou vivendo.
Hoje e Sempre...

Atenas, 29 de setembro de 2012.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

EXIGÊNCIAS DA VIDA MODERNA




Luis Fernando Veríssimo

Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro. E uma banana pelo potássio. E também uma laranja pela vitamina C.
Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes.

Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água. E uriná-los, o que consome o dobro do tempo.

Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão).

Cada dia uma Aspirina, previne infarto.

Uma taça de vinho tinto também. Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso.

Um copo de cerveja, para… não lembro bem para o que, mas faz bem.

O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.

Todos os dias deve-se comer fibra. Muita, muitíssima fibra. Fibra suficiente para fazer um pulôver.

Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente.

E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada. Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia… E não esqueça de escovar os dentes depois de comer.

Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax.

Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.

Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma. Sobram três, desde que você não pegue trânsito.

As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia. Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).

E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.

Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações.

Ah! E o sexo! Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina. Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução. Isso leva tempo – e nem estou falando de sexo tântrico.

Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de estimação.

Na minha conta são 29 horas por dia. A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo!

Por exemplo, tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes.

Chame os amigos junto com os seus pais.

Beba o vinho, coma a maçã e a banana junto com a sua mulher… na sua cama.

Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésio.

Agora tenho que ir.

É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro. E já que vou, levo um jornal… Tchau!

Viva a vida com bom humor!!!

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O Descanso da Princesa


Rodolfo Pamplona Filho

O médico disse
que os olhos dela,
mesmo fechados,
batiam como as asas
de um beija-flor!
Talvez sejam
como as batidas
no meu peito,
que aceleram
só pelo prazer
dela existir...
Ou como meus braços,
que se abrem
para um abraço,
só pelo fato
de estar perto dela...
Ou mesmo meus lábios,
que não se cansam
de beijar e declarar
tudo que sinto por ela...
Descanse, filha, descanse...
enquanto o sangue correr
em minhas veias,
enquanto eu ainda respirar,
estarei aqui ao lado
velando e torcendo
pelo seu despertar...

Salvador, terça-feira, 23 de agosto de 2016, enquanto espero o resultado e a convalescença  em um hospital...

terça-feira, 6 de setembro de 2016

O Homem Nu


Fernando Sabino

Ao acordar, disse para a mulher:

— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.

— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.

— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.

Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.

Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:

— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.

Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.

Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares... Desta vez, era o homem da televisão!

Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:

— Maria, por favor! Sou eu!

Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.

Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.

— Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado.

E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!

— Isso é que não — repetiu, furioso.

Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.

— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.

Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:

— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu...

A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:

— Valha-me Deus! O padeiro está nu!

E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:

— Tem um homem pelado aqui na porta!

Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:

— É um tarado!

— Olha, que horror!

— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!

Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.

— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.

Não era: era o cobrador da televisão.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Homem Feminino




                                                                                                                     Rodolfo Pamplona Filho

Ser um homem feminino
é buscar a sensibilidade
com a força da alma.

É querer ir além da empatia,
que o apoio explícito acarreta.
É ser sendo,
mesmo quando não se é.

É conseguir fazer
várias coisas ao mesmo tempo.
É irar-se quando não valorizam
suas qualidades e resultados,
desviando o olhar
de sua mente para seu corpo.

É dividir a emoção alheia,
sentindo-a como se fosse sua.
É ser tão ou mais capaz
que seus colegas,
mas precisar provar isso,
a cada novo desafio.

É não se identificar
com a maior parte
de símbolos fálicos
e não ligar para isso.

É estar mais focado
na essência do que na casca.

É ser ou não ser nada disso
e não ter qualquer problema com isso.

É querer ser simplesmente
um ser humano melhor...


Salvador, 17 de agosto de 2016, quarta-feira, no voo para Vitoria/ES.

domingo, 4 de setembro de 2016

O fim?



Rodolfo Pamplona Filho

5 anos
1 mês
9 dias
E a alma vazia
reflete o espaço
que o coração
nunca mais preencherá...
Mas a vida segue
com a certeza de que
tudo que se viveu
valeu a pena ser vivido
e tudo que se viverá
é apenas a incógnita
que remete ao indizível infinito...


Salvador, 31 de agosto de 2016, pensando em 22 de julho de 2011.


sábado, 3 de setembro de 2016

13 Linhas Para Viver



Gabriel García Márquez

1. Gosto de você não por quem você é, mas por quem sou quando estou contigo.

2. Ninguém merece tuas lágrimas, e quem as merece não te fará chorar.

3. Só porque alguém não te ama como você quer, não significa que este alguém não te ame com todo o seu ser.

4. Um verdadeiro amigo é quem te pega pela mão e te toca o coração.

5. A pior forma de sentir falta de alguém é estar sentado a seu lado e saber que nunca vai poder tê-lo.

6. Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estiveres triste, porque nunca se sabe quem pode se
apaixonar por teu sorriso.

7. Pode ser que você seja somente uma pessoa para o mundo, mas para uma pessoa você seja o mundo.

8. Não passes o tempo com alguém que não esteja disposto a passar o tempo contigo.

9. Quem sabe Deus queira que você conheça muita gente errada antes que conheças a pessoa certa, para que quando afinal conheças esta pessoa saibas estar agradecido.

10. Não chores porque já terminou, sorria porque aconteceu.

11. Sempre haverá gente que te machuque, assim que o que você tem que fazer é seguir confiando e só ser mais cuidadoso em quem você confia duas vezes.

12. Converta-se em uma pessoa melhor e tenha certeza de saber quem você é antes de conhecer alguém e esperar que essa pessoa saiba quem você é.

13. Não se esforce tanto, as melhores coisas acontecem quando menos esperamos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Você é Linda


Caetano Veloso

Fonte de mel
Nos olhos de gueixa
Kabuki, máscara
Choque entre o azul
E o cacho de acácias
Luz das acácias
Você é mãe do sol
A sua coisa é toda tão certa
Beleza esperta
Você me deixa a rua deserta
Quando atravessa
E não olha pra trás

Linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz
Você é linda
Mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim

Você é forte
Dentes e músculos
Peitos e lábios
Você é forte
Letras e músicas
Todas as músicas
Que ainda hei de ouvir
No Abaeté
Areias e estrelas
Não são mais belas
Do que você
Mulher das estrelas
Mina de estrelas
Diga o que você quer

Você é linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz
Você é linda
Mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim

Gosto de ver
Você no seu ritmo
Dona do carnaval
Gosto de ter
Sentir seu estilo
Ir no seu íntimo
Nunca me faça mal

Linda
Mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim
Você é linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz