quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Chão de Giz


Zé Ramalho
 
Eu desço dessa solidão
Espalho coisas
Sobre um Chão de Giz
Há meros devaneios tolos
A me torturar
Fotografias recortadas
Em jornais de folhas
Amiúde!

Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes

Disparo balas de canhão
É inútil, pois existe
Um grão-vizir
Há tantas violetas velhas
Sem um colibri
Queria usar, quem sabe
Uma camisa de força
Ou de vênus

Mas não vou gozar de nós
Apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom

Agora pego
Um caminhão na lona
Vou a nocaute outra vez
Pra sempre fui acorrentado
No seu calcanhar
Meus vinte anos de boy
That's over, baby!
Freud explica

Não vou me sujar
Fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom

Quanto ao pano dos confetes
Já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo
É assunto popular

No mais, estou indo embora!
No mais, estou indo embora!
No mais, estou indo embora!
No mais!

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Serviço Mal Feito


Rodolfo Pamplona Filho

Cabo desencaixado
Trabalho sujo
Peças faltando
Garantias vazias
Parafusos soltos
Pregos frouxos
Informação incompleta
Serviço Mal Feito

Orlando, 27 de janeiro de 2017

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

DITO POPULAR



Manoel Hermes


No dito popular nada cai do céu,

Ao contrário, cai sim,

A luz do sol que ilumina a vida

Com seus raios fortes e quentes

E das estrelas constelares vem

O brilho candescente que guia

A todos no caminho sem luz...,

Clareado pela tocha lá do alto

Descida do espaço astral

Para aqui na terra gerar felicidade.



18/02/2018.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Ofensa



Rodolfo Pamplona Filho 


O xingamento diz mais
da pessoa que a profere
do que da que é dirigida

Todo dedo em riste
tem três irmãos
apontando para o agressor.

Toda vez que se atira
uma pedra em chamas
pode-se eventualmente
atingir o alvo
mas sempre mesmo
queimam-se os meus dedos.



Praia do Forte, 11 de dezembro de 2016.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Boa noite, Lua!



Bruno Terra Dias


Boa noite, Lua!

O dia não se repetirá,

o sol não será o mesmo

amanhã, ao entardecer.



As cinzas desse fogo

cessarão de arder,

meus olhos, vermelhos,

cessarão de enxergar.



O calor, o frio, a umidade,

o carbono e a pressão definirão,

após anos e o passar das idades,

de todos o que restará.



Pertenço ao chão,

não ao ar e nem ao mar,

que nem sei nadar ou voar,

meu modo é o caminhar.



Até hoje sei:

tudo se integra,

minha alma entregarei,

afastada toda revolta.



O trabalho e o suor

são, para a humanidade,

mais que simples marca.

Salvação.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Homem do Século XIX



Rodolfo Pamplona Filho

Aquele que tem na rua
o que não pode ter em casa
e é repreendido pelo desfaçatez
da prodigalidade
e não pela estupidez
da insensibilidade.

Aquele que acha normal
viver uma vida
como uma pantomima
em que o roteiro segue adiante
como um trem
em seus trilhos

Aquele que não sente,
não ama, não chora,
mas apenas implora
que somente o deixem
em seu canto em suposta paz.

Salvador, 09 de janeiro de 2018

sábado, 17 de fevereiro de 2018

As sem-razões do amor



(Carlos Drummond de Andrade)

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Frustrações



Rodolfo Pamplona Filho

Minha vida é
oferecer oportunidades
que nunca são aproveitadas.

Minha vida é
chorar sobre o que foi
derramado e não usufruído.

Minha vida é
me frustrar por quem
não percebe o meu esforço.

Minha vida é
servir quem me serve,
mas que não serve para mim.

Minha vida é
sonhar com uma vida
que nunca será vivida.




02 de janeiro de 2018

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Fanatismo



Florbela Espanca

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver.
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!…

Tudo no mundo é frágil, tudo passa…
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
‘Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Eu preciso aprender a viver só



Rodolfo Pamplona Filho

Eu preciso aprender
a viver só
e saber que o mundo
não existe por minha causa.

Eu preciso aprender
a viver só
e aprender que o silêncio
é melhor do que
o ruído incompreensível

Eu preciso aprender
a viver só
é enxugar cada lágrima
sem a ajuda
de quem quer que seja.

Eu preciso aprender
a viver só!
E só!


Miami, 29 de dezembro de 2017

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Cantiga para não morrer



Ferreira Gullar

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Estou Péssimo


Rodolfo Pamplona Filho

Estou Péssimo
como quem comeu chuchu,
quem perdeu o busu,
quem sonhou com urubu

Estou Péssimo
como quem dormiu de jeans,
esqueceu os fins,
desperdiçou os pudins

Estou Péssimo
como quem comeu e não gostou,
sonhou e acordou,
como quem nunca amou


Salvador, 09 de janeiro de 2018

domingo, 11 de fevereiro de 2018

José



Carlos Drummond de Andrade

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Encarando o Insano



Rodolfo Pamplona Filho

É preciso ter coragem
para superar o medo
e se sentir pleno

É preciso solidariedade
para se jogar no vazio
por amor a um filho

É preciso muito amor
para enfrentar o dissabor
da tentação de desistir

É preciso ter um plano
de aproveitar cada segundo
e encarar o Insano.



Fortaleza, 28 de outubro de 2017.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Ausência





Vinicius de Moraes

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque em meu ser está tudo terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Dualidade


Rodolfo Pamplona Filho

Coxinhas
e mortadelas
Times rivais
que viram
Inimigos
quando o mundo
é muito mais complexo
do que um
cara e coroa.


Miami, 29 de dezembro de 2018.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Versos Íntimos




Augusto dos Anjos

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te a lama que te espera!
O Homem que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera

Toma um fósforo, acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro.
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa ainda pena a tua chaga
Apedreja essa mão vil que te afaga.
Escarra nessa boca de que beija!

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Cachimblema


Rodolfo Pamplona filho

Cachaça
Chifre
Problema
Tudo que é difícil de resolver
Tudo que eu nem quero saber
Tudo que me aproxima de morrer.


Salvador, 16 de janeiro de 2018.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Amor



Álvares de Azevedo

Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!

Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,
Minha’alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Abandonado


Rodolfo Pamplona Filho

Estou abandonado,
com a sensação de que
nunca mais vou viver
aquilo que me tornava pleno.

Estou abandonado,
sentindo profunda falta
de quem renovava minha alma
e incentivava eu ser eu mesmo.

Estou abandonado,
como um cão sem dono,
que morre pouco a pouco,
no avanço de cada desconforto.

Estou abandonado
e tenho medo
de nunca encontrar
o meu caminho novamente.

Miami, 29 de dezembro de 2018.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Manual


Victor Hugo de Afonso


Abrace seus sonhos,

Imprima seus ideais,

Recorra a fé,

Persista...

Insista....

Negue seu orgulho,

Mantenha seu orgulho,

Refrigere seu olhar,

Mas não perca de vista seu alvo!


Beije cada momento,

Sorria desalentos,

Chore tristezas,

Chore felicidades.


Tire dos ombros a mochila do fardo,

Carregue no peito o bom,

Seja soberano,

Seja insano,

Ao menos uma vez.



Esteja sempre disposto ao novo,

Seja plural!

Invente,

Reinvente.


Reprima o negativo,

Ignore os abutres,

Ame,

Apaixone - se.


Faça um café forte,

Tire o pigarro,

E escreva suas linhas.