quinta-feira, 31 de maio de 2018

O amor é confuso



Rodolfo Pamplona Filho

O amor é confuso.
Se não fosse confuso, não seria amor
Poderia ser paixão. Muito mais simples.
Paixão explode, é intensa.
Quando acalma, acaba.
Pronto, passou.

O amor é confuso.
O amor é tão confuso, que teima em viver
um tempo não vivido.
São as lembranças dos dias felizes,
um planejamento de futuro
e ainda tem o se,
aquele do futuro do pretérito.

O amor é confuso.
O amor não pensa, só sente.
Por não pensar, não tem razão.
Não é certo e nem errado.
Pode ser triste e,
no minuto seguinte,
te deixar em êxtase.

O amor é confuso.
Ficamos admirando
o objeto do nosso amor,
da nossa devoção,
embasbacados,
sem saber se partimos
ou se ficamos.

O amor é confuso.
É difícil viver com ele
É difícil viver sem ele
É impossível não querer vivê-lo.
É impossível passar por ele sem sofrer.

O amor é confuso.
Mas não vale a pena
ter vivido
se não tiver sido experimentado
pelo menos uma vez...

Salvador, 20 de agosto de 2017

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Para ser grande, sê inteiro



Fernando Pessoa

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

terça-feira, 29 de maio de 2018

Crepúsculo



Rodolfo Pamplona Filho

Nunca esqueci:
o sol se pondo aqui
e meu coração
sentindo frio
só porque não vê...
Mas tudo tem resposta,
pois, de repente, volta
o meu corpo a aquecer:
basta pensar em você.

Praia do Forte, 24 de fevereiro de 2017.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Poética



Manuel Bandeira

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

domingo, 27 de maio de 2018

Dependência Tecnológica



Rodolfo Pamplona Filho



Não saber o que fazer

quando a conexão cai...

Ter momentos de prazer

com a senha do Wi-Fi

Dividir as pessoas entre quem usa

e quem não acessa certo app...

Eleger como Mestre ou Musa

quem tudo explica step by step...

Sentir-se completamente isolado

se não tiver um celular ao lado,

como se o mundo fosse malquisto.

Usar o WhatsApp compulsivamente

e perder-se em sua própria mente

como se a vida dependesse disto.



No avião Salvador-Recife, 09 de agosto de 2015.

sábado, 26 de maio de 2018

O Mergulhador


Vinícius de Moraes

Como, dentro do mar, libérrimos, os polvos
No líquido luar tateiam a coisa a vir
Assim, dentro do ar, meus lentos dedos loucos
Passeiam no teu corpo a te buscar-te a ti.

És a princípio doce plasma submarino
Flutuando ao sabor de súbitas correntes
Frias e quentes, substância estranha e íntima
De teor irreal e tato transparente.

Depois teu seio é a infância, duna mansa
Cheia de alísios, marco espectral do istmo
Onde, a nudez vestida só de lua branca
Eu ia mergulhar minha face já triste.

Nele soterro a mão como a cravei criança
Noutro seio de que me lembro, também pleno…
Mas não sei… o ímpeto deste é doído e espanta
O outro me dava vida, este me mete medo.

Toco uma a uma as doces glândulas em feixes
Com a sensação que tinha ao mergulhar os dedos
Na massa cintilante e convulsa de peixes
Retiradas ao mar nas grandes redes pensas.

E ponho-me a cismar… – mulher, como te expandes!
Que imensa és tu! maior que o mar, maior que a infância!
De coordenadas tais e horizontes tão grandes
Que assim imersa em amor és uma Atlântida!

Vem-me a vontade de matar em ti toda a poesia
Tenho-te em garra; olhas-me apenas; e ouço
No tato acelerar-se-me o sangue, na arritmia
Que faz meu corpo vil querer teu corpo moço.

E te amo, e te amo, e te amo, e te amo
Como o bicho feroz ama, a morder, a fêmea
Como o mar ao penhasco onde se atira insano
E onde a bramir se aplaca e a que retorna sempre.

Tenho-te e dou-me a ti válido e indissolúvel
Buscando a cada vez, entre tudo o que enerva
O imo do teu ser, o vórtice absoluto

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Amor de Carinho



Rodolfo Pamplona Filho

Queria eu
algo a mais
do que um abraço gostoso
ao sair do ninho.

Queria eu
um pouco mais
do que a sensação
de não estar sozinho.

Queria eu
um novo horizonte
para olhar adiante
do meu próprio caminho.

Queria eu
ouvir minha voz
mesmo no meio
de tanto burburinho.

Queria eu
uma nova oportunidade
para ir além
de um amor de carinho.

12 de outubro de 2016, no voo para São Paulo.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Traduzir-se



Ferreira Gular

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Gratidão



Rodolfo Pamplona Filho

Gratidão não se exige,
não se pede, nem se espera...
É presente de um coração puro,
que não vê outra forma de agir,
na memória da marca do passado
e do alívio do auxílio no desespero...

Por isso, a ingratidão machuca
como punhaladas nas costas,
como um tapa no rosto,
como uma dor fatal no peito...

O ingrato merece mais do que repúdio:
é pena de morte no coração,
que se fecha em uma ferida purulenta,
cujos bálsamos somente são
o ostracismo ou a ressurreição do perdão...

Reconhecer-se grato é o exercício da verdadeira humildade,
que é saber que, sozinho, não se consegue nada,
pois conquistas isoladas são vitórias de Pirro,
em que obter o resultado não significa necessariamente desfrutá-lo...

Gratidão é a resposta sincera
que o afeto exige por coerência!
É a marca que renova a esperança,
que não é a última que morre, posto imortal,
mas, sim, a certeza de que
ainda se pode ter fé na humanidade

terça-feira, 22 de maio de 2018

O Sobrevivente


Carlos Drummond de Andrade

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

Desconfio que escrevi um poema.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Sobre Sonhos


Rodolfo Pamplona Filho


Já dizia o filosofo:
os sonhos são os rebentos
e botões da imaginação!
Por isto, também têm o direito
de viver sua vida pura...
Sufocar ou deformar
os sonhos da juventude
é destruir a criação
e matar o criador...

Salvador, 13 de novembro de 2013, conversando com a amiga Ezilda Melo

domingo, 20 de maio de 2018

TEU SER






D. LEFRANÇOIS

TEU SER ...
ME FAZ LAMBUZAR,
ME FAZ TRANSBORDAR,
ME FAZ GEMER.
TEU SER....
ME FAZ SORRIR,
ME FAZ IR,
ME FAZ CONTER.
TEU SER ....
ME FAZ SUAR,
ME FAZ AMAR,
ME FAZ TREMER.
TEU SER ...
ME FAZ SENTIR,
ME FAZ PEDIR,
ME FAZ VALER.
TEU SER ...
ME FAZ CALAR,
ME FAZ CHORAR,
ME FAZ SOFRER.
TEU SER ...
ME FAZ FUGIR,
ME FAZ MENTIR,
ME FAZ MORRER.
TEU SER ...
ME FEZ SONHAR
ME FEZ VOLTAR
ME FEZ QUERER
TEU SER ....

sábado, 19 de maio de 2018

Soneto das Cores



Rodolfo Pamplona Filho

Ó, Deus, não me tire a luz
que me permite e seduz
ver a explosão de cores
ou um caledoscópio de amores!

Os raios que invadem a retina
permitem vislumbrar a sina
de quem não tem a felicidade
de conhecer a diversidade,

pois dominar a paleta do amor
é ser Senhor da mais bela arte
que transforma toda parte,

convertendo o cinza em cor,
para, no mundo, ser franco
e nunca mais ver em preto e branco.

Salvador, 07 de janeiro de 2012.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Olha lá



Paula Yurie Abiko


Olha lá

Aquele indivíduo apontando dedo

Como se soubesse todo o enredo

Do que está por vir nesse mundo

Acha que o conhecimento do mundo

Cabe na sua cabeça apenas

Como a sua única verdade deveras

De acreditar ser o dono da verdade

Que vaidade!

Mal sabia que não conhecia

Metade do que dizia

Ou achava que conhecia

Contudo julgava os outros

Apontando-lhe os dedos frouxos

Como se todos estivessem sempre

Com seus ouvidos moucos

É absurdo

Querer sempre estar certo

Num mundo cada vez mais incompleto

Cheio de fissuras e agruras

E estes não percebiam

Que assim cada vez mais permaneciam

Fechados para explorar o entorno de mundo

Com tudo o que é mais visado

Que sarro

Até parece que quando sair desse mundo

Levará estampado em sua lápide

Todo o conhecimento e toda sua vaidade

O que vale mesmo está sendo jogado

Ao lado de tudo que nos é pautado

Para sermos na vida e almejar

De que vale suas certezas se irá agonizar

Na busca incessante do ego acreditar

Que era o único certo e sem pestanejar

O dono do mundo irá perceber

Que nessa vida só vale mesmo o que fizemos


Por merecer…


quinta-feira, 17 de maio de 2018

Benções e Maldições




Rodolfo Pamplona Filho

Nem tudo permanece...
Na verdade, tudo muda
nem sempre para melhor!
Assim, o que é criado para libertar
pode ser usado para escravizar.
Quando se esquece
o sentido de cada ato,
todo importante ritual
apenas massifica
o que devia ser individual...
Quando não se particulariza,
todos se tornam
rostos sem nome
e sem história,
invisibilizando
em vez de simplesmente ver,
compactua-se
com a coadjuvância,
em vez de tornar protagonista...
Com isso, impessoaliza-se,
reiifica-se, coisifica-se,
mas nunca se envolve.
Sem saber,
ver ou tocar,
o toque
não há como
não se degenerar...
pois até Benções
podem se transformar
em Maldições

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Até a última gota



Paula Yurie Abiko


Até a última gota

Tentaremos buscar nossa essência

Aquilo que nos eleva a alma

Nos torna sensíveis apesar do carma

De andar no zigue e zague das nossas emoções

Controlando nossas pulsões

Almejando encontrar direções

Em tudo aquilo que nos dá sentido

Até a última gota

Apesar de toda escassez de sentimento alheio

Buscarei ser o melhor que almejo

Ouvirei o outro, mesmo quando não me derem ouvidos

Até a última gota

Agradecerei pelos amores

Mesmo se me ocasionar dores

Pois no substrato do mais interno sentimento

Sei que o amor resume-se a isso

Doar mais e doer mais

Ora, demasiado difícil é entender nós mesmos

Portanto buscar o acalento

Mesmo estando sedentos, torna-se imperioso

Até a última gota

Quero lutar para ser o melhor que consigo

Dentro dos limites obstados por todos os indivíduos

De acreditar poder mudar a obscuridade do que nos tem surgido

O tempo demasiado rápido

Os amores cada vez mais tardam

A vida cada vez mais passageira

Nós cada vez na espreita

De nos encontramos e rememoramos boas coisas

Acrescentando pulsão no nosso entorno

Almejando retorno

Naquilo que nos faz humano

Apesar de todos os percalços

Todos os dardos jogados

Contra aqueles que de nada servirão de agrado

Buscarei ser verdade em essência

Até a última gota...


terça-feira, 15 de maio de 2018

Mãe



Rodolfo Pamplona Filho

Sinto sua falta!
Sinto não mais poder
tê-la para passear,
me fazer cafuné,
fugir para comer no Baitakão
ou simplesmente consolar
o meu choro na solidão...
Sinto não ter mais alguém
para chamar de baixinha,
carregar nos braços
ou afogar de abraços...
Sinto não ouvir mais
dizendo que trabalho demais,
que Deus sabe o que faz
e que tudo fica para trás...
Nem tudo, mãe...
Minha saudade
e minha lembrança

não passarão jamais...

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Não se sente sob a macieira com ninguém além de mim


Charles Bukowski

escolher
sabiamente é meio caminho
andado na
estrada para a
vitória;
a outra metade é
conquistada pela
indiferença.

por um lado
você pode dizer
qualquer coisa
que quiser;
por outro lado
você não tem
que dizer.

de alguma forma
consegui
fazer
as duas coisas.

então qualquer
problema que você tiver
comigo
é
seu.

domingo, 13 de maio de 2018

Sonhos Mudam




Rodolfo Pamplona Filho

Sonhos Mudam
de verdade
Sonhos Mudam
com a idade
Sonhos Mudam
na realidade
Sonhos Mudam
para a eternidade 

sábado, 12 de maio de 2018

Às vezes com alguém que amo


Walt Whitman



Às vezes com alguém que amo, me encho de fúria, pelo medo de extravasar amor sem retorno;

Mas agora penso não haver amor sem retorno – o pagamento é certo, de um jeito ou de outro;

(Eu amei certa pessoa ardentemente, e meu amor não teve retorno;

No entanto, disso escrevi estas canções.)

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Eu preciso aprender a viver só


Rodolfo Pamplona Filho

Eu preciso aprender
a viver só
e saber que o mundo
não existe por minha causa.

Eu preciso aprender
a viver só
e aprender que o silêncio
é melhor do que
o ruído incompreensível

Eu preciso aprender
a viver só
é enxugar cada lágrima
sem a ajuda
de quem quer que seja.

Eu preciso aprender
a viver só!
E só!


Miami, 29 de dezembro de 2017

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Aliança


Tribalistas

Se, um dia, eu te encontrar
Do jeito que sonhei
Quem sabe, ser seu par perfeito
E te amar
Do jeito que eu imaginei

Ao virar a esquina
Atrás de uma cortina, me perder
No escuro com você
Fogo na fogueira
O seu beijo e o desejo em seu olhar
As flores no altar

Véu e grinalda
Lua de mel
Chuva de arroz
E tudo depois
Dama de honra
Pega o buquê
Ninguém mais feliz
Que eu e você

Mas se, um dia, eu te encontrar
Do jeito que sonhei
Quem sabe, ser seu par perfeito
E te amar
Do jeito que eu imaginei

Ao virar a esquina
Atrás de uma cortina, me perder
No escuro com você
Fogo na fogueira
O seu beijo e o desejo em seu olhar
As flores no altar

Véu e grinalda
Lua de mel
Chuva de arroz
E tudo depois
Dama de honra
Pega o buquê
Ninguém mais feliz
Que eu e você

Ninguém mais feliz
Que eu e você
Ninguém mais feliz
Que eu e você

Ninguém mais feliz
Que eu e você
Ninguém mais feliz
Que eu e você

Mas se, um dia, eu te encontrar
Do jeito que sonhei
Quem sabe, ser seu par perfeito
E te amar
Do jeito que eu imaginei

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Espírito livre


Rodolfo Pamplona Filho

Depois de muito tempo,
descobri o gosto da liberdade,
mesmo já tendo passado da idade
em que isso normalmente é vivido.

Aprendi que, em essência,
sou um espirito livre,
que só tem, de próprio,
o seu livre-pensar

Não tente me aprisionar,
nem em um laço amarrar,
pois isso somente me fará
sentir tristeza e chorar...

O amor vai me resgatar
da viagem que me propus
de nunca desistir
de viver e de ser feliz

Se você ama alguém,
deixe-o livre para ser quem é...
Se ele ficar, é porque quer;
se for embora, é porque nunca quis

Se amar é a liberdade
para se aprisionar a ninguém,
eu quero aprender, de verdade,
se, na realidade,
é possível amar
sem se tornar de alguém...

Por que é preciso ter alguém
para chamar de seu?
Por que se tem de ser
de alguém para ser feliz?

Será que se tem de ser
possuído ou possuir
para se sentir
verdadeiramente amado?

Eu não posso ser eu
e somente meu
deve ser o desejo
de viver com e para,
mas não só para isso...

Eu sou uma alma livre...
Livre como toda alma deve ser
para nunca se arrepender
de ter buscado viver
cada momento de prazer
que se renova a cada amanhecer.

Eu sou uma alma livre...

Salvador, 12 de dezembro de 2011.

terça-feira, 8 de maio de 2018

Decifra-me


Decifra-me quem sou!
Sou pequena, sapeca, menina, moleca!
Sou a moça, a outra e aquela!
Sou branca, ruiva, loira, mulata e negra!
Sou alisada, encaracolada, com ondas e com mechas!
Uso Black, mega, turbante e sou careca!

Sou alta, baixa, media, gorda e magra!
Eu falo com o olhar, no corpo trago emoção,
Enxergo sem nem estar lá, mas penso com o coração!

Agora decifra-me!
Me diz quem sou de onde eu vim, pra onde eu vou!
Sair das ruas, dos campos, das cidades grandes!
Eu vou à luta, estou na disputa, mas sou elegante!

Danço a musica errada!
Sou seria quando faço palhaçada
E choro dando gargalhada!

Não tiro férias, não tenho sono, nem sinto dores!
Sou de ferro, de manteiga e de aço,
Mas tenho muitos amores!

Decifra-me! Revela quem sou!
Sou sua filha, sua irmã, sua prima.
Sou sua amiga, sua colega, sua chefa e sua vizinha!
Sou sua avó, seu pai, sua mãe e sua tia!
Sou seu alimento, sou seu tormento!
Sua fortaleza e sua alegria!

Sou dos quatros cantos do mundo
Estou em todo lugar!
Com roupas curtas, longas ou o que eu desejar!
Mas hoje estou aqui pra você me decifrar!
Saiba que sou a MULHER
Serei o que eu quiser
E meu lugar será onde eu quiser ficar!


Autora: Edna Ramos dos Santos
20/02/2017

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Perfeito Encaixe



Rodolfo Pamplona Filho

Descansa em meu peito
seu cabelo molhado
No encaixe perfeito
de corpos suados
Buscando o calor
do pleno prazer
Fazendo amor
até amanhecer
Eu e você:
nós nos completamos
Só quero viver
por todos meus anos
a excitação
de nós dois colados
a satisfação
por todos os lados.
Aproveita o momento
para registrar
que o sentimento
chegou para ficar:
agradável surpresa
de eterno tesão
na cama e na mesa
até a exaustão.

01 de janeiro de 2017, nas águas do Oceano Atlântico


domingo, 6 de maio de 2018

Motivo


Cecília Meireles

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

sábado, 5 de maio de 2018

Pauta



Rodolfo Pamplona Filho

Pauta livre
Pauta cheia
Pauta firme
Pauta feia

O tempo não para no horizonte
e a pauta não cessa também...
Como água que cai do monte,
sem ver onde, quando ou a quem...

A agenda vai tarde...
É outro compromisso...
Mais uma atividade
Ou um novo feitiço?

Pauta Prostituta:
é quase uma sina...
Tudo a ver com a luta
e o trabalho das meninas..

Para umas, um tormento,
Para outras, diversão
A diferença entre pressão
Ou mesmo obrigação...

Umas não cobram raro
Outras pedem caro
Há quem faça até por amor...
Será que você já pensou?

Haverá alguma diferença
entre quem tem a crença
ou quem se joga sem fé?
Não sei a resposta qual é...

Será que sou apenas um peão
a vender o seu inestimável tempo
e, a baixo preço, seu parco talento
pela necessidade de atenção?

E a pauta continua...


Belo Horizonte, 06 de junho de 2011.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Relicário




Nando Reis

É uma índia com colar
A tarde linda que não quer se pôr
Dançam as ilhas sobre o mar
Sua cartilha tem o A de que cor?

O que está acontecendo?
O mundo está ao contrário e ninguém reparou
O que está acontecendo?
Eu estava em paz quando você chegou

E são dois cílios em pleno ar
Atrás do filho vem o pai e o avô
Como um gatilho sem disparar
Você invade mais um lugar
Onde eu não vou

O que você está fazendo?
Milhões de vasos sem nenhuma flor
O que você está fazendo?
Um relicário imenso deste amor

Corre a lua porque longe vai?
Sobe o dia tão vertical
O horizonte anuncia com o seu vitral
Que eu trocaria a eternidade por esta noite

Por que está amanhecendo?
Peço o contrario, ver o sol se por
Por que está amanhecendo?
Se não vou beijar seus lábios quando você se for

Quem nesse mundo faz o que há durar
Pura semente dura: o futuro amor
Eu sou a chuva pra você secar
Pelo zunido das suas asas você me falou

O que você está dizendo?
Milhões de frases sem nenhuma cor, ôôôô
O que você está dizendo?
Um relicário imenso deste amor

O que você está dizendo?
O que você está fazendo?
Por que que está fazendo assim?

Desde que você chegou
O meu coração se abriu
Hoje eu sinto mais calor
E não sinto nem mais frio

E o que os olhos não vêm
O coração pressente
Mesmo na saudade
Você não está ausente

E em cada beijo seu
E em cada estrela do céu
E em cada flor no campo
E em cada letra no papel

Que cor terão seus olhos
E a luz dos seu cabelo
Só sei que vou chamá-lo
De Esmael, Esmael

quinta-feira, 3 de maio de 2018

A sabedoria na azeitona




Rodolfo Pamplona Filho


Toda experiência

faz parte

de algum aprendizado...

Experimentar

o fruto da oliveira

no seu amadurecer

ensina a valorizar

a transformação

proporcionada pela conserva...

O tempo para o desfrute

não coincide com o desgaste,

mas, sim, com o desvelo

para revelar

o melhor momento

para degustar...



No Trem para Sevilla, 23 de junho de 2015, 12:30 (7:30
 no Brasil...)

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Te amo e não te amo




Pablo Neruda


Saberás que não te amo e que te amo posto que de dois modos é a vida,
A palavra é uma asa do silêncio, o fogo tem uma metade de frio. 
Eu te amo para começar a amar-te, para recomeçar o infinito
E para não deixar de amar-te nunca: por isso não te amo ainda.
Te amo e não te amo como se tivesse em minhas mãos as chaves da fortuna
E um incerto destino desafortunado.
Meu amor tem duas vidas para amar-te
Por isso te amo quando não te amo e por isso te amo quando te amo.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Aperfeiçoar



Rodolfo Pamplona Filho

Aperfeiçoar é estar ​
sempre disposto
a começar de novo.
Aperfeiçoar é estar ​
pronto para recomeçar ​
tudo do zero
Aperfeiçoar é estar ​
novamente a postos ​
para aprender
Aperfeiçoar é muito mais ​
do que repetir a mesma ideia
com palavras diferentes.
Aperfeiçoar é viver
cada momento ​
como se fosse o primeiro
com a pureza virginal ​
de uma página em branco,
sem desprezar ​
o que já foi escrito,
mas não se influenciando ​
pelos erros do passado,
nem tendo medo de seguir ​
por um novo caminho.

No vôo para Campinas/SP, 01 de abril de 2016.