sábado, 31 de agosto de 2019

Timidez


Cecília Meireles

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve…

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes…

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…

e um dia me acabarei.


sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Era só um eu te amo



Rodolfo Pamplona Filho

Era só um eu te amo
Um eu te amo nunca é só
Um eu te amo nunca é pouco
O meu eu te amo para você é o cotidiano das nossas vidas
Ele é o sangue que corre em Nossas veias
Ele é o ar que inflama nossos pulmões
É a vontade de viver
É a sede de ser feliz
É a certeza de que Amor existe
É a certeza de que Amor existe

Salvador, 15 de janeiro de 2019.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O pássaro azul



Charles Bukowski

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei
que ninguém o veja.

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí, quer acabar
comigo?
quer foder com minha
escrita?
quer arruinar a venda dos meus livros na
Europa?

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo, sei que você está aí,
então não fique
triste.

depois o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
com nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, e
você?

(Tradução: Paulo Gonzaga)

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Voando (com o Baêa)



Rodolfo Pamplona Filho

Nem sempre se ganha
Nem sempre se perde
Nem sempre se sabe
o que os vôos nos reservam.

A vida dá voltas
na velocidade de Artur
e nem sempre se sabe
para que lado está o sul.

O mundo é exigente
como a raça de Nino
e nem sempre faz sentido
o que pretende o destino.

O jogo traz chances
a aproveitar como faz Gilberto,
pois nunca se sabe se a sorte
está longe ou está perto.

Mas quando a oportunidade
sorri finalmente para você,
é hora de gritar:
Bora, Bahia, BBMP!!!

Belo Horizonte, embarcando no vôo da Azul para Salvador, 24 de agosto de 2019.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Pensando em matar a saudade



Negra Luz

Como posso matar a saudade,
Que habita dentro de mim.
Sem perder dela a vantagem:
Recordar o que bem vivi?

Seria finito o passado.
Retrato puído.
Tempo desgastado.
Sentimentos finitos: o fim.

Seria página encoberta.
Sem o sopro que a poeira alerta,
Permite o diálogo mesmo as pressas
Entre passado, presente e o que está por vir.

À beira dessa fatalidade,
Eu, que pretendia matar a saudade,
Chamei-a para minha realidade.
Usei da sua serenidade.

Segui com ela aqui: no meu peito.


segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Intolerância





Rodolfo Pamplona Filho

Nenhuma intolerância é tolerável
Nenhuma discriminação é aceitável
É preciso dar espaço de fala
para quem se discorda,
para que nossa própria voz
não seja calada.
Como respeitar a palavra de ódio
de quem não te respeita?
Sendo maior que ele
e torcendo para que
a fé no respeito
seja maior do que
o desrespeito da fé.

Salvador, 30 de outubro de 2018.

domingo, 25 de agosto de 2019

Tudo bem



Drica Serra


moça,

tudo bem ser indecisa

quanto ao sabor do sorvete,

a camiseta, a pizza, a faculdade.

mas jamais aceite viver com a dúvida

sobre o amor de alguém por você. não dá pra

amar escondido, o amor salta, se mostra,

derrama pra todos os lados. se você não

o vê, acredito, ele não existe.

sábado, 24 de agosto de 2019

Desilusão



Rodolfo Pamplona Filho

Eu já devia estar acostumado
com as pancadas da vida...
mas ainda doi.

Eu já devia estar preparado
para nunca ser satisfeito...
mas ainda sinto falta.

Eu já devia estar calejado
pela frustração de não ser feliz...
mas ainda cultivo a esperança.

A desilusão me derruba
principalmente quando acho
que tudo poderia mudar.

Salvador, 28 de fevereiro de 2018.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Nossa Sina



Rodolfo Pamplona Filho

Nossa sina
em um mundo
que nos estranha
é somente sofrer
com a nossa carência
e a insensibilidade alheia:
assim, temos que viver
e aprender a lidar
com nossas catástrofes
e paraísos diários.

Brasília, 09 de outubro de 2018.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Nascer é difícil!





Rodolfo Pamplona Filho

A gente sai
de um lugar protegido
para algo novo.
Faz com que
a pessoa que mais nos ama
sinta dor.
Mas quando um bebê nasce,
é uma grande festa,
uma alegria para todos.
É uma mudança de vida
que mexe com todo mundo,
mas viver vale a pena!
Viva, meu amor!
Não tenha medo de viver!

Salvador, 22 de março de 2018.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Uma certa arte




Elizabeth Bishop

(tradução de Nelson Ascher)


A arte da perda é fácil de estudar:
a perda, a tantas coisas, é latente
que perdê-las nem chega a ser azar.

Perde algo a cada dia. Deixa estar:
percam-se a chave, o tempo inutilmente.
A arte da perda é fácil de abarcar.

Perde-se mais e melhor. Nome ou lugar,
destino que talvez tinhas em mente
para a viagem. Nem isto é mesmo azar.

Perdi o relógio de mamãe. E um lar
dos três que tive, o (quase) mais recente.
A arte da perda é fácil de apurar.

Duas cidades lindas. Mais: um par
de rios, uns reinos meus, um continente.
Perdi-os, mas não foi um grande azar.

Mesmo perder-te (a voz jocosa, um ar
que eu amo), isso tampouco me desmente.
A arte da perda é fácil, apesar
de parecer (Anota!) um grande azar.

Do livro ASCHER, Nelson. Poesia alheia. 124 poemas traduzidos. Rio de Janeiro: Imago, 1998.

domingo, 18 de agosto de 2019

Amor sem promessas



Rodolfo Pamplona Filho

Quando se ama,
fazem-se promessas,
como se houvesse necessidade
de verbalizar
que se pode fazer tudo
por amor

Mas prometer gera expectativas
que, quando não realizadas,
causam uma frustração,
como se o amor perdesse força
por uma promessa não cumprida.

É olhar uma parte pelo todo,
o acessório pelo principal,
o detalhe pelo conjunto,
o universo por um lugar
a vida por um dia

Amar não exige promessas
Amar exige amar
Amar sem promessas
Amar, simplesmente amar.

Salvador, 06 de julho de 2018.

sábado, 17 de agosto de 2019

Leveza



Cecília Meireles

Leve é o pássaro:
e a sua sombra voante,
mais leve.

E a cascata aérea
de sua garganta,
mais leve.
E o que lembra, ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.
E o desejo rápido
desse mais antigo instante,
mais leve.
E a fuga invisível
do amargo passante,
mais leve.

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

A Alma Doente



Rodolfo Pamplona Filho

O corpo dói
e pede ajuda
a quem sequer sentiu
a força da dor na alma.

A cabeça lateja
e reclama
de quem não viveu
a intensidade da alma.

O espírito fraqueja
e rasteja
por não conhecer
a cura da doença da alma.


Praia do Forte, 24 de junho de 2018.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Primeiro Motivo da Rosa




Cecília Meireles

Vejo-te em seda e nácar,
e tão de orvalho trêmula, que penso ver, efêmera,
toda a Beleza em lágrimas
por ser bela e ser frágil.

Meus olhos te ofereço:
espelho para face
que terás, no meu verso,
quando, depois que passes,
jamais ninguém te esqueça.

Então, de seda e nácar,
toda de orvalho trêmula, serás eterna. E efêmero
o rosto meu, nas lágrimas
do teu orvalho… E frágil.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Diferenças



Rodolfo Pamplona Filho

Há uma diferença
entre ser discreto
e esconder segredo

Há uma diferença
entre ser sincero
e agredir verbalmente

Há uma diferença
entre ser verdadeiro
e expressar ódio

Há uma diferença
entre ser livre
e abusar do poder.

Orlando, 03 de janeiro de 2019.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Quem pisou o mesmo chão




César Faria

Quem pisou o mesmo chão,
Quem bebeu a mesma água,
Quem respirou os mesmos ares,
Quem abriu os olhos e também chorou como um bebê,
Quem ao fechar de outros olhos também não conteve o choro da saudade,
Quem enxergou os mesmos campos e as mesmas praias,
Quem se banhou nos mesmos rios e nos mesmos mares,
Não importa se tem o mesmo sangue,
É da mesma família!
É da mesma cidade!

Fiz agora no correr da pena,
Em um minuto,
Este poema,
Dedicado aos amigos de Entre Rios!


16/06/2019.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Ela com A, Ela do B



Rodolfo Pamplona Filho

Ela com A
Ela com Afeto,
Amor e Admiração

Ela do B
Ela do Barraco,
Briga e Batida de frente

Ela com A
Ela com Amizade,
Abraço e Ação

Ela do B
Ela com Birra,
Bolacha e Batalhas

Ela com A
A mulher que sonhei
para mim

Ela com B
O pesadelo que
sempre temi

Ela com A
Ela do B
Duas pessoas
em um mesmo ser.

Salvador, 18 de outubro de 2018.

domingo, 11 de agosto de 2019

Amar





Carlos Drummond de Andrade

Opções
Que pode uma criatura senão,
Entre criaturas, amar?
Amar e esquecer, amar e malamar,
Amar, desamar, amar?
Sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
Sozinho, em rotação universal, senão
Rodar também, e amar?
Amar o que o mar traz à praia,
O que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
É sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
O que é entrega ou adoração expectante,
E amar o inóspito, o áspero,
Um vaso sem flor, um chão de ferro,
E o peito inerte, e a rua vista em sonho,
E uma ave de rapina.
Este o nosso destino: Amor sem conta,
Distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
Doação ilimitada a uma completa ingratidão,
E na concha vazia do amor à procura medrosa,
Paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
E na secura nossa, amar a água implícita,
E o beijo tácito, e a sede infinita.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Você precisa me conhecer


Negra Luz

De fato.
Você precisa me conhecer!
Entender as linhas na minha face
As entrelinhas no meu íntimo do ser

De fato.
Não é fácil prestar-se a ser
A companhia de um estranho ser:
Eu

De fato.
É pagar pra ver
Eu tenho meu tempo
Não você?

De fato.
Só há escolher:
Ficar nas bordas e não me ter
Mergulhar fundo
Um dia talvez...
Ouvir: Te amo.


quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Mudando para você



Rodolfo Pamplona Filho

Vou mudar
minha cara,
minha casa,
minha fala

Vou mudar
meu endereço,
meu adereço
minha composição

Vou mudar
a minha postura.
a minha estrutura,
o meu caminhar

Vou mudar
tudo em mim
para poder
ser o mesmo para você.

Salvador, 14 de outubro de 2018.


quarta-feira, 7 de agosto de 2019

O dia em que o recife fui eu


Negra Luz

Eu que pensava ser Mirante.
Farol no mar.
Viajante.
Navio, meu delírio punjante...

Splash!

 E eu lá...

Surpreendida por estar
Embevecida pelo mar:
Metamorfose,
Pelo oceano em coluio com o ar.

Um recife em novo lugar.
Ondas em meu peito a arrebentar.
E eu sem poder me dominar
Fragmentam me as estruturas sem sangrar

A barra protegida pelo mar
Nova. A cada maré vivida
Meus contornos recontam, dão guarida
Aos corais: as flores pelos protagonistas consentidas
Beleza sobre a mesa da Vida.

Há quem olhe e diga:
Rocha perdida.
Eu, forte.
Plantada sobre o mar:
Força sorerguida.

terça-feira, 6 de agosto de 2019

A Única Certeza é a Esperança



Rodolfo Pamplona Filho

Não dá para saber
o que o futuro me reserva
Não adianta sofrer
pelo que não se enxerga
Só há sentido em viver
o dia em que se levanta
Há muito o que fazer
até chegar a sua dança.
Apenas não quero que
desvaneça minha esperança
enquanto espero pela certeza.

Salvador, 07 de setembro de 2018.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Poema em linha reta



Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa )

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
(…)
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos – mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

domingo, 4 de agosto de 2019

Living on the edge


Rodolfo Pamplona Filho

Por vezes,
ando triste,
com mágoas e
sem esperanças.

Sofrendo por um amor,
quando amor
não deveria
causar sofrimento.

Uma simples reflexão
pode gerar nova conclusão:
Não é o amor
que faz sofrer!

É a sensação de impotência,
a angústia da imobilidade,
a covardia da letargia
e a tentação da acomodação.

Não viva no limite:
permita-se ultrapassá-lo,
pois o cabresto da falta de tentativa
é a prisão da alma de quem ousa sonhar.

São Paulo, 28 de setembro de 2017, no show do Aerosmith.

sábado, 3 de agosto de 2019

Das Utopias


Mario Quintana

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Lua Cheia



Rodolfo Pamplona Filho

Veja como
a lua está hoje...
Uivarei em sua lembrança
na esperança
de poder te tocar
sob a sua luz!
É no seu corpo
que o meu uivo
ganha força.
É nele que
encontra eco
para ser feliz.

Salvador, 30 de junho de 2018.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Amar é...



Albert Camus

Amar é...
sorrir por nada e ficar triste sem motivos
é sentir-se só no meio da multidão,
é o ciúme sem sentido,
o desejo de um carinho;
é abraçar com certeza e beijar com vontade,
é passear com a felicidade,
é ser feliz de verdade!