quarta-feira, 31 de julho de 2024

A vida








Camilo Martins Neto





Mergulho no rio 

Correnteza à baixo

Nadando de frente

Ora de lado

Outras de costas

Enfrentando tudo

Basculhos, pedras

Cortantes folhas,

Águas turvas,

Peixes vorazes,

Cobras venenosas,

Peçonhentos tantos

A desanimar a lida.

Mas, nado, e, nada

Me impede a ida

Quero chegar ao

Outro lado da vida.

Canso, descanso

E no remanso fico

A boiar na água

Mansa do meu rio.

Rio que vai e nunca

Mais volta, tal como

Eu que nado, nado...

E vou, pra nunca

Mais voltar à mesma

Água que se foi.

É assim, braços

Cansados, pernas

Cansadas, corpo

Cansado, o tempo

Que também se foi...

Estou quase chegando

Ao outro lado do rio

Nado e nada me

Impede de pisar

Em solo firme

E vem lembranças

Da travessia 

Quanta luta e o

Suor se misturando

Com a água do rio,

As lágrimas a

Aumentarem-lhe

O volume e juntar-se

À água salgada

Do velho mar.

Falta pouco e

Nesse pouco

Vejo o quanto

Foi importante

Nadar e não

Deixar que nada

Impedissem as

Sagradas braçadas

Que além das

Forças, minhas e

Do rio, foram

Vencendo cada

Obstáculo quase

Intransponíveis

Da travessia do rio.

E continuo nadando

E dando tudo de

Mim para vencer

A correnteza final

E chegar e sorrir

E chorar de alegria

E descansar afinal

Merecidamente

Eternamente, pois

Assim é a vida. 

terça-feira, 30 de julho de 2024

Fato Consumado

 



 Rodolfo Pamplona Filho


Não posso

me deixar consumir

pelo fato consumado

Não posso

chorar compulsivamente

pelo leite derramado

Não posso

fazer voltar

as águas do rio

Não posso

tirar a roupa 

e reclamar do frio

 

Salvador, 18 de julho de 2024.

segunda-feira, 29 de julho de 2024

Os Pastos da Razão

 







Chico Settineri






       Deboche delírio fêmea...

       Piratas especialistas

       de naus

        do Descobrimento.

       Diâmicos, cruéis, polivalentes

       cruzamos juntos, tontos e doentes

       os passos (tentem!)

       da paixão.

domingo, 28 de julho de 2024

Feminismo Negro

 



 

No coração da luta, onde a voz ressoa,

celebra-se a visibilidade da pessoa,

que não pode mais ficar calada,

nem muito menos ser silenciada.

 

Das sombras do passado, ergue-se altivo

um movimento imparável e decisivo.

Contra a opressão, levanta-se em união,

celebrando a força, a coragem e a visão.

 

Mulheres negras, guerreiras de luz,

quebram as correntes, desafiam a cruz.

Nas ruas, palcos e páginas da história,

O feminismo negro escreve sua trajetória,

reivindicando espaço, justiça e igualdade,

empoderando vidas, com amor e dignidade.

 

É a voz que ecoa, em cada canto e esquina,

A luta pelo direito de ser quem se destina.

Feminismo negro, raiz de resistência e poder,

estrela que ilumina o caminho a percorrer.

 

Salvador, 8 de junho de 2024.

sábado, 27 de julho de 2024

Recado

 






Fagundes de Oliveira




Demonstra com doçura o teu amor,

Num gesto apenas, sem falar, só pensa

O quanto o sentimento é uma presença

Que adorna a vida e a encanta em seu valor.



O orvalho da manhã tem um sabor

De vida nova e uma esperança imensa.

O tempo vai passando e a recompensa\

É igual a um beijo dado com calor.



Procura ser feliz - a vida é leve

Não pára e não dá tempo à indecisão;

É um vento que acalenta enquanto é breve.



O sonho vai passando e na verdade

É uma janela aberta à imensidão

Com gosto de esperança e de saudade.


sexta-feira, 26 de julho de 2024

A Dor que (quase) me fez chorar

 



 Rodolfo Pamplona Filho


O gosto amargo da solidão

Do veneno, a ingestão

A tristeza da partida

O masoquismo da despedida

O começo da consciência

O fim da existência

Descobrindo finalmente

e realmente

a dor que (quase) me fez chorar

quando o que sempre

esteve para se concluir

finalmente se completa

 

Salvador, 20 de junho de 2024.

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Um brilho tênue

 




Cristiane França







Um brilho tênue...

Sem desesperos...

Sem atropelos...

Somente se põe em mim.

Ressurge forte ao amanhecer

Porque ternamente se pôs

Permitindo o anoitecer.

Temores das sombras não

calam tão fortemente no

Espírito... Pois,

os olhos já conheceram o sol!

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Adoção Afetiva




Rodolfo Pamplona Filho




A vida me contemplou

com filhos maravilhosos,

tanto no sangue,

quanto no coração!


Isso se dá, com fé,

pois, definitivamente,

a paternidade não é

uma biologia permanente.


É muito mais do que isso:

é uma eleição de paradigma

de quem assume o compromisso

de não ser um enigma.


Apadrinha-se, torna-se companheiro,

confidente, ombro amigo e parceiro.

Comemora-se junto, chora-se também,

da verdade biológica, vai-se além...


A paternidade por adoção afetiva

honrou-me com um carinho

que nem todos têm na vida...

que não se compreende sozinho...


mas que é a prova mais dura

de que pessoas podem se amar

e se entregar de forma pura,

sem qualquer outro interessar,


como deveria ser, aliás,

em qualquer verdadeira relação

de um afeto que não volta atrás...

de uma escolha consciente de devoção.


terça-feira, 23 de julho de 2024

Exílio e Miopia (para Julia)






Claudia Moraes Rego




       "Olha o balão!"

       Não via.

       Não falava nada.



       "Olha o gavião!"

       Não via.

       Calava.



       "Olha o Cristo Redentor!"

       Puxa, não via!

       Mas fingia



       "O bondinho!"

       Nada.

       Era assim.



       Certamente,

       sem dúvida nenhuma,

       fazia parte

       (tinha caído do lado)

       da tribo dos exilados

       do prazer.


segunda-feira, 22 de julho de 2024

Síndrome de Madre Superiora




Rodolfo Pamplona Filho



Comandar os passos,

mesmo quando ninguém

pediu por isso

Portar-se como censor,

estabelecendo volume

e assunto que possa ser tratado

Irar-se e fechar-se

quando alguém faz algo

fora do script

Desconhecer que 

o Líder de verdade

tem sua autoridade

na sua credibilidade,

e não na sua vontade.



São Paulo, 16 de novembro de 2019.

domingo, 21 de julho de 2024

Esquiva

 



Garcia Rosa



     Quando passas altiva e desdenhosa,

     Como uma deusa em mármore esculpida,

     Lembras-me a Grécia antiga e luminosa

     E, adorando a Mulher, bendigo a Vida.



     Toda a força do amor misteriosa

     Trazes soberbamente refletida

     Na perfeição da plástica mimosa

     E na graça do andar, indefinida...



     Mas quando te acompanho na esperança

     De penetrar os íntimos refolhos

     Dessa alma em flor, que a amar não se abalança,



     Volves em torno, distraída, os olhos,

     Na pertinácia vã de uma esquivança

     Que semeia ilusões em vez de abrolhos.

sábado, 20 de julho de 2024

Medicina

 






Rodolfo Pamplona Filho



É no Santuário de Sculapio,

em que Hipócrates separou

o Logos da Cega Crença,

que se depositam as esperanças

de quem ainda crê em salvação,

não da alma perdida ou maltratada,

mas, sim, do corpo massacrado,

entregue às intempéries da saudade,

no sofrimento da enfermidade.

Não se sabe quem cura:

se Deus ou a mão do homem...

Isto pouco importa para quem busca

a retomada do vigor,

o reencontro do calor

e a superação do torpor

do sofrimento e da dor.


Atenas/Grécia, 29 de setembro de 2012, pensando no Templo de Sculapio.


sexta-feira, 19 de julho de 2024

Formosa

 


Maciel Monteiro



     Formosa, qual pincel em tela fina

     Debuxar jamais pode ou nunca ousara;

     Formosa, qual jamais desabrochara

     Na primavera a rosa purpurina;


     Formosa, qual se a própria mão divina

     Lhe alinhara o contorno e a forma rara;

     Formosa, qual jamais no céu brilhara

     Astro gentil, estrela peregrina;


     Formosa, qual se a natureza e a arte,

     Dando as mãos em seus dons, em seus lavores

     jamais soube imitar no todo ou parte;


     Mulher celeste, oh! anjo de primores!

     Quem pode ver-te, sem querer amar-te?

     Quem pode amar-te, sem morrer de amores?!

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Soneto da Dissonância Cognitiva

 






Rodolfo Pamplona Filho


Contrastar uma crença básica

em oposição diametral à outra.

Viver uma vida antropofágica,

devorando o que está à solta.


Declarar-se algo

que se sabe que não se é...

pois tudo que conquistou

foi baseado em um temor


que deixou de existir,

passando a viver

somente para repetir


o que nem mais se crê,

em  uma forma de auto-punir,

ao impor a si mesmo um sofrer...


Mikonos, 24 de setembro de 2012.

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Paratodos







Chico Buarque de Holanda


               


O meu pai era paulista

Meu avô, pernambucano

O meu bisavô, mineiro

Meu tataravô, baiano

Meu maestro soberano

Foi Antonio Brasileiro

Foi Antonio Brasileiro

Quem soprou esta toada

Que cobri de redondilhas

Pra seguir minha jornada

E com a vista enevoada

Ver o inferno e maravilhas


Nessas tortuosas trilhas

A viola me redime

Creia, ilustre cavalheiro

Contra fel, moléstia, crime

Use Dorival Caymmi

Vá de Jackson do Pandeiro


Vi cidades, vi dinheiro

Bandoleiros, vi hospícios

Moças feito passarinho

Avoando de edifícios

Fume Ari, cheire Vinícius

Beba Nelson Cavaquinho


Para um coração mesquinho

Contra a solidão agreste

Luiz Gonzaga é tiro certo

Pixinguinha é inconteste

Tome Noel, Cartola, Orestes

Caetano e João Gilberto


Viva Erasmo, Ben, Roberto

Gil e Hermeto, palmas para

Todos os instrumentistas

Salve Edu, Bituca, Nara

Gal, Bethania, Rita, Clara

Evoé, jovens a vista


O meu pai era paulista

Meu avô pernambucano

O meu bisavô, mineiro

Meu tataravô baiano

Vou na estrada há muitos anos

Sou um artista brasileiro

terça-feira, 16 de julho de 2024

Necessidade de Reclamar

 






Rodolfo Pamplona Filho



Há indivíduos que

mal comem feijão com arroz

e querem questionar

a qualidade do champagne...

Pessoas que não sabem distinguir

um idioma de um dialeto,

um prato de um lanche

ou uma casa de um lar

e querem posar para a sociedade

como sacerdotes do culto,

vestais do templo

ou oráculos da verdade...

Pobres diabos,

eles não sabem

o que fazem, pois

sua vontade de viver

se confunde com

sua necessidade de reclamar...


Pamplona/Espanha, 03 de outubro de 2012.


segunda-feira, 15 de julho de 2024

A Vida

 





Adão José Pereira



     A vida é um poema mui lindo

     Que o Pai Celeste assinou,

     E com habilidade infinda

     Afeto e ternura expressou.


     Porém ela é veloz e passageira,

     Corre tão rapidamente!

     E qual uma águia ligeira,

     Passa e nos leva de repente.


     Ma enquanto existe há esperança

     De que melhores dias virão!

     Trazendo paz, amor e bonança,

     Fartura, prosperidade e realização.

domingo, 14 de julho de 2024

Soneto da Sintonia Infalível




Rodolfo Pamplona Filho


Ainda que divididos pelo Atlântico

e por fusos horários incompatíveis,

o que um sente de um lado,

o outro automaticamente responde.


Se um levanta assustado,

encontrará o outro conectado,

como se a energia gerada

fosse automaticamente repassada.


É realmente impressionante,

como tudo surge em um instante,

permitindo a imediata compreensão


pois o que, para muitos, é acaso,

para mim, é o mais evidente traço

de uma sintonia infalível de paixão.


Pamplona/Espanha, 03 de outubro de 2012.

sábado, 13 de julho de 2024

Dia

 



Adélia Prado



As galinhas com susto abrem o bico

e param daquele jeito imóvel

- ia dizer imoral -

as barbelas e as cristas envermelhadas,

só as artérias palpitando no pescoço.

Uma mulher espantada com sexo:

mas gostando muito.

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Todo mundo é vítima







Rodolfo Pamplona Filho


Todo mundo é vítima

e ninguém assume a culpa

Todo mundo é vítima

e se pode fugir da luta

Todo mundo é vítima

e se empurra a responsabilidade

Todo mundo é vítima

e não se muda nada de verdade

Todo mundo é vítima

e há argumento para tudo

Todo mundo é vítima

e punir é um absurdo

Todo mundo é vítima


No Trem de Madrid para Pamplona, 02 de outubro de 2012.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

A vida

 



Camilo Martins Neto





Mergulho no rio 

Correnteza à baixo

Nadando de frente

Ora de lado

Outras de costas

Enfrentando tudo

Basculhos, pedras

Cortantes folhas,

Águas turvas,

Peixes vorazes,

Cobras venenosas,

Peçonhentos tantos

A desanimar a lida.

Mas, nado, e, nada

Me impede a ida

Quero chegar ao

Outro lado da vida.

Canso, descanso

E no remanso fico

A boiar na água

Mansa do meu rio.

Rio que vai e nunca

Mais volta, tal como

Eu que nado, nado...

E vou, pra nunca

Mais voltar à mesma

Água que se foi.

É assim, braços

Cansados, pernas

Cansadas, corpo

Cansado, o tempo

Que também se foi...

Estou quase chegando

Ao outro lado do rio

Nado e nada me

Impede de pisar

Em solo firme

E vem lembranças

Da travessia 

Quanta luta e o

Suor se misturando

Com a água do rio,

As lágrimas a

Aumentarem-lhe

O volume e juntar-se

À água salgada

Do velho mar.

Falta pouco e

Nesse pouco

Vejo o quanto

Foi importante

Nadar e não

Deixar que nada

Impedissem as

Sagradas braçadas

Que além das

Forças, minhas e

Do rio, foram

Vencendo cada

Obstáculo quase

Intransponíveis

Da travessia do rio.

E continuo nadando

E dando tudo de

Mim para vencer

A correnteza final

E chegar e sorrir

E chorar de alegria

E descansar afinal

Merecidamente

Eternamente, pois

Assim é a vida.

quarta-feira, 10 de julho de 2024

A Palavra




Rodolfo Pamplona Filho


A palavra encanta

e provoca a reflexão

Se a imagem diz muito,

a palavra diz tudo,

para sábios e incultos,

na medida do seu alcance...


Madrid, 01 de outubro de 2012.


terça-feira, 9 de julho de 2024

Os Pastos da Razão




Chico Settineri



       Deboche delírio fêmea...

       Piratas especialistas

       de naus

        do Descobrimento.

       Diâmicos, cruéis, polivalentes

       cruzamos juntos, tontos e doentes

       os passos (tentem!)

       da paixão.


segunda-feira, 8 de julho de 2024

Mágoas







Rodolfo Pamplona Filho


Há quem prefira

vender uma amizade

por um cachê artístico;

desprezar um amor puro

por ouvir a opinião de uma prima;

desprestigiar o trabalho alheio

para tentar se auto-afirmar;

esquecer uma fraternidade solidária

para soar de vítima da situação;

humilhar com ar de superioridade

a efetivamente investigar o ocorrido;

tripudiar a imagem de colegas

para posar de voz da maioria;

blefar descaradamente e sem pudor

do que aceitar ajuda desinteressada;

ignorar a presença e o cumprimento

em vez de tentar um diálogo honesto;

fazer troça da desgraça alheia

para se sentir aceito no grupo;

perseguir incansavelmente

por não tolerar o diferente;

jogar fora a chance de fazer o Bem,

para se deleitar com seu veneno...


Isso só gera mágoa,

que vira raiva,

até se converter,

se houver o remédio

do esquecimento,

em profunda indiferença,

mesmo sendo cicatriz,

que não se apaga,

para ensinar

em quem vale confiar...


Pamplona, 03 de outubro de 2012, pensando sobre o passado...

domingo, 7 de julho de 2024

Tempo Perdido

 



Renato Russo


Todos os dias quando acordo

Não tenho mais o tempo que passou

Mas tenho muito tempo

Temos todo o tempo do mundo


Todos os dias antes de dormir

Lembro e esqueço como foi o dia

Sempre em frente

Não temos tempo a perder


Nosso suor sagrado

É bem mais belo que esse sangue amargo

E tão sério


E selvagem

Selvagem

Selvagem


Veja o sol dessa manhã tão cinza

A tempestade que chega é da cor dos teus olhos

Castanhos


Então me abraça forte

Me diz mais uma vez que já estamos

Distantes de tudo


Temos nosso próprio tempo

Temos nosso próprio tempo

Temos nosso próprio tempo


Não tenho medo do escuro

Mas deixe as luzes

Acesas agora


O que foi escondido

É o que se escondeu

E o que foi prometido

Ninguém prometeu

Nem foi tempo perdido


Somos tão jovens

Tão jovens

Tão jovens


sábado, 6 de julho de 2024

Sobre o impossível

 





Rodolfo Pamplona Filho


Até o que achamos impossível

pode um dia acontecer...


Salvador, 31 de janeiro de 2018.


sexta-feira, 5 de julho de 2024

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Verdades

 




Rodolfo Pamplona Filho


Quando estiver triste

e se sentindo só,

lembre que eu existo

só por você


Saber que você existe

é poder ter esperança

de viver um amor

e nunca mais ser triste.


Salvador, 20 de março de 2018.


quarta-feira, 3 de julho de 2024

terça-feira, 2 de julho de 2024

Amor é (quase) tudo






Rodolfo Pamplona Filho


Amor é quase tudo,

mas o quase não é irrelevante

O que falta ao amor

para ser impactante?

Talvez um pouco de cuidado

Talvez um carinho inesperado

Talvez uma torcida explícita

Talvez uma entrega sem retorno


Amor é quase tudo,

mas o quase não é irrelevante

O que falta ao amor

para ser incessante?

Talvez uma dose de mistério

Talvez um suspiro no espelho

Talvez um choro em desabafo

Talvez um frio na barriga no encontro


Amor é quase tudo,

mas o quase não é irrelevante

O que falta ao amor

para ser acachapante?

Talvez um bilhete inesperado

Talvez uma surpresa no acordar

Talvez dormir agarrado

Talvez nunca parar de sonhar


Salvador, 27 de outubro de 2018.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Aquarela do Brasil

 





Ary Barroso


Brasil

Meu Brasil brasileiro

Meu mulato inzoneiro

Vou cantar-te nos meus versos

Ô Brasil, samba que dá

Bamboleio, que faz gingá

Ô Brasil do meu amor

Terra de Nosso Senhor

Brasil! Brasil!

Prá mim… prá mim…


Ô, abre a cortina do passado

Tira a Mãe Preta do serrado

Bota o Rei Congo no congado

Brasil! Brasil!

Deixa cantar de novo o trovador

À merencória luz da lua

Toda canção do meu amor

Quero ver a “Sá Dona” caminhando

Pelos salões arrastando

O seu vestido rendado

Brasil! Brasil!

Prá mim… prá mim…


Brasil

terra boa e gostosa

Da morena sestrosa

De olhar indiscreto

Ô Brasil, verde que dá

Para o mundo se admirá

Ô Brasil do meu amor

Terra de Nosso Senhor

Brasil! Brasil!

Prá mim… prá mim…


Ô, esse coqueiro que dá côco

Oi, onde amarro a minha rêde

Nas noites claras de luar

Brasil! Brasil!

Ah, ouve essas fontes murmurantes

Aonde eu mato a minha sede

E onde a lua vem brincá

Ah, este Brasil lindo e trigueiro

É o meu Brasil brasileiro

Terra de samba e pandeiro

Brasil! Brasil!

Prá mim… prá mim…