sábado, 16 de outubro de 2010

De repente, você...

De repente, você...

Rodolfo Pamplona Filho

Sua mão me fez buscar o caminho
que há muito procurei
nos seus olhos, notei o cantinho
que há muito desejei

A vida me deu rasteiras
que eu nunca esperei.
mas o céu não limitou o espaço
que eu sempre acreditei

Assim. construí minha vida.
caminhando com sensatez
e, de repente, você aparece
como nunca imaginei...

San Francisco, 30 de setembro de 2010.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A vista mais bela de Madrid

A vista mais bela de Madrid
Rodolfo Pamplona Filho

É preciso ter coragem
para buscar o próprio caminho...
É preciso ter paixão
para seguir este caminho...
É preciso serenidade
para não enlouquecer no caminho...

A falta do carinho paternal machuca,
mas ajuda a endurecer o pescoço;
a ausência de orgulho maternal entristece,
mas ajuda a aprender a engolir em seco...
A solidão provoca a dúvida onde outrora havia a certeza da escolha correta,
como se houvesse escolhas corretas a fazer...

Há muitas variáveis na estrada,
que, definitivamente, não é reta.
O caminho se faz caminhando
- já dizia outro poeta –
mas a sua construção maltrata
por não haver uma única via certa...

Não se colhem rosas
sem o risco dos espinhos;
não se vive livremente
sem o medo de errar,
mas cada queda é uma lição
de como aprender a levantar.

A rocha, com o vento, é polida.
A areia a torna menos áspera e mais lisa.
Mas não deixa de ser pedra...
A rocha somente se torna obra de arte...
... pela violência do escultor
... pela força do martelo e da plaina
E vira estátua, finalmente,
Mas não deixa de ser pedra...

Madrid, 07 de setembro de 2008

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Felicidade

Felicidade
Rodolfo Pamplona Filho

Para ser feliz,
você não precisa procurar
até cansar...
...alguém para amar...

Para ser feliz,
você não precisa ter filhos
como se a descendência
fosse o único sentido de viver...

Para ser feliz,
você não precisa ter um bom emprego
para vender, por alto que seja o valor,
o inestimável gosto de seu suor

Para ser feliz,
você não precisa ter casa própria
pois um teto apenas serve
para proteger do frio e do sol

Para ser feliz,
você não precisa ser popular
como se a aceitação alheia
fosse a coisa mais importante da vida

Para ser feliz,
você não precisa viajar o mundo todo
já que conhecer a si mesmo
é a maior viagem de toda a vida

Para ser feliz,
você não precisa ter um Deus
Pois Ele estará no mesmo lugar
Independentemente da sua fé

Para ser feliz,
você não precisa ter amigos
embora isso ajude muito
nos momentos de solidão

Para ser feliz,
você não precisa ter conhecimento
pois conhecer como as coisas funcionam
nunca trouxe alegria a ninguém

Para ser feliz,
você não precisa ter dinheiro
pois, na morte, ninguém reclama
por não ter investido mais na bolsa

Para ser feliz,
você não precisa sequer ter saúde
já que nem todo doente
é um pessimista incorrigível

Para ser feliz,
você não precisa mais
do que estar vivo
e aprender a viver só...
e só...

Ciudad Real, 26 de setembro de 2008, e
Madrid, 05 de outubro de 2009

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Orfandade de um ideal

Orfandade de um ideal
Rodolfo Pamplona Filho

Sonhava com o dia
em que finalmente encontraria
a realizada utopia
de um paraíso comunista

Um local onde não imperaria o capital
onde não haveria direito de passar mal
em que toda necessidade básica era satisfeita
com um teto acima e o pão à mesa

A idéia de um lugar assim
Impulsionou sua vida de militante
Em que nunca teve medo de acreditar
Que poderia haver um lugar melhor por que lutar

Por este ideal, lutou e matou
Trocou de nome, amigos perdeu
Mas tudo valia a pena! – sempre pensava -
Quando se busca o melhor para todos

Qual não foi a sua decepção ao constatar
Que o paraíso na terra, como em qualquer outro lugar,
Era privilégio de uma casta, que se apropriou
Do que outrora era o deleite da elite que combatia

Tudo que é sólido desmancha no ar
Inclusive aquilo que um dia se projetou,
Abrindo mão de acreditar que o bem sempre vence o mal
Sentindo-se, verdadeiramente, órfão de um ideal...

Madrid, 12 de outubro de 2009

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Adoção Afetiva

Adoção Afetiva

Rodolfo Pamplona Filho
A vida me contemplou
com filhos maravilhosos,
tanto no sangue,
quanto no coração!

Isso se dá, com fé,
pois, definitivamente,
a paternidade não é
uma biologia permanente.

É muito mais do que isso:
é uma eleição de paradigma
de quem assume o compromisso
de não ser um enigma.

Apadrinha-se, torna-se companheiro,
confidente, ombro amigo e parceiro.
Comemora-se junto, chora-se também,
da verdade biológica, vai-se além...

A paternidade por adoção afetiva
honrou-me com um carinho
que nem todos têm na vida...
que não se compreende sozinho...

mas que é a prova mais dura
de que pessoas podem se amar
e se entregar de forma pura,
sem qualquer outro interessar,

como deveria ser, aliás,
em qualquer verdadeira relação
de um afeto que não volta atrás...
de uma escolha consciente de devoção.

Aracaju, 07 de outubro de 2010.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Saudade de Casa

Saudade de Casa
Rodolfo Pamplona Filho

Por vezes, tenho vontade de chorar...
Sei o motivo, mas não consigo controlar
Há um vácuo que preenche o que era completo
Uma carência de beijo, dengo e afeto

Não sei o que é pior: a distância ou a despedida;
O romper do contato no momento da partida
Um olhar para trás, um abraço apertado,
um aceno tristonho, um olhar desolado...

Como uma dor machuca tanto sem ferir?
Como dominar o que posso apenas sentir?
A paz é arrancada desde a raiz
Uma marca viva que não vira cicatriz...

Pense duas vezes antes de reclamar
Dos problemas da vida, da rotina do lar...
Há tristeza que ninguém sabe como se mede
Só se valoriza o que se tem quando se perde

A lágrima vem solta e quente
Quem negar isso apenas mente
mas faz bem, porque, como um rio
leva o fel para um outro lado vazio....

A cada alvorecer, há uma nova esperança...
que surge inocente, como sorriso de criança,
mudando planos e rumos, batendo asa,
tudo por causa da saudade de casa...

Ciudad Real, 09 de setembro de 2008

domingo, 10 de outubro de 2010

Musa



Musa
Rodolfo Pamplona Filho

Eu não preciso te ter para te amar
Eu não preciso te tocar para te sentir
Eu só preciso te ver...

Ver o teu sorriso, que me ilumina...
Sentir o teu perfume, que me inebria
Presenciar o teu molejo, que me excita

Começar o dia te vendo é começar bem o dia...
Encontrar-te casualmente de tarde é ter uma surpresa agradável
Sonhar contigo à noite é dormir em um misto de paz e emoção

Talvez o dia em que eu tiver coragem de te falar,
Toda a magia se perca, todo o encanto se esvaia
Toda sinfonia se cale, todo arco-íris se nuble...

Por isso, nada mais quero de ti do que tua presença em minha vida
Uma lua ou uma estrela brilhante consola aquele que está perdido no meio da floresta
O poeta pode perder a voz e a palavra, mas não pode perder a musa...