sábado, 5 de novembro de 2011

O orador mudo

O poema abaixo deve ser lido, preferencialmente, enquanto é tocada a obra "O canto do cisne negro", de H. Villa-Lobos.
http://www.youtube.com/watch?v=LKYbyJzOFuY&feature=related
Feliz Natal
José Antonio


O orador mudo

Todas as manhãs ele acordava antes do amanhecer...

Lia, relia, estudava cada vírgula de seu discurso
Olhava para o espelho para verificar a pantomima
Cada detalhe. Cada verbo. Cada advérbio.

Saía, assim que a claridade dominava os esconderijos
Mais calados e esquecidos daquele denso povoado.
Dirigia-se, todos os dias, com seu escrito lapidado e,
Religiosamente, no mesmo horário, apresentava-se à platéia

A multidão ao seu redor prostrava-se, silente;
Encantada com a performance do orador
Inebriada de seus gestos, de seus passos, de suas expressões,
Do tom laudatório e do panegírico que ele fazia
Em todos os dias santos; em todos os santos dias

Dos seus gestos, apresentava-se um mundo novo
Cheio de viço e de bondade, de festa e felicidade.
A sua verve era incendiada pelos calorosos aplausos
De todos os ouvintes extasiados com o seu desempenho

Ao final do discurso, as palmas se misturavam
Às sonoridades do ambiente. Buzinas, Sirenes,
Gritos, tiros, lamentos e canções dissonantes...

No arrebol, retornava ao lar. Jamais fora compreendido.

Manaus, 23/dezembro/2010.

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