sábado, 26 de novembro de 2011

Círculo

Círculo
Tercio Roberto Peixoto Souza <tercio@msampaioadvogados.com.br>

Tenho dois sobrinhos maravilhosos.
Tenho uma filha maravilhosa.
Tenho uma vida boa,
E ainda sei fazer prosa.

Mas tenho tanto a fazer:
A vida tão curta, pra tanto dizer!
Talvez porque dizer muito fosse melhor
Que dizer melhor, ou pouco melhor dizer

É uma agonia, um cansaço...
Como um urtigão, um espinhaço,
Um pau de cancela, um mourão, uma estaca;
Que guarda, arruma, alinha e mata

Depende apenas da posição
Se bater de lado, uma surra...
Se vier por cima, um lascão...

É respirar fundo e paciência...
Porque fora disso há demência.
Nem tudo da vida foi feito na hora
Em verdade, na vida, nada tá pronto...
Nem hoje, nem amanhã, nem agora.
Porque só tá pronto o que já acabou
E se já acabou...  então, tá pronto!


sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Pedido ao Tempo

Pedido ao Tempo

Rodolfo Pamplona Filho

Peço ao tempo que passe
para poder te ver de um novo jeito...
Que o tempo voe sem impasse
e te traga de volta ao meu peito...
Anseio  pelo teu encontro,
para finalmente te abraçar
e que possa me entregar...

Espero que o tempo me traga
teus lábios e teus braços...
Que ele nos proporcione
mil beijos e amassos...
E que nos amarremos em um laço,
fruto natural de um amor manso,
a nos garantir um descanso...

E que vivamos todo o tempo
que o próprio tempo nos der
para que nosso sonho, bem lento,
se realize como quiser
porque pior que desistir
é não tentar..
E eu nunca desistirei...

Belo Horizonte, 08 de junho de 2011.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

MEIO AMBIENTE

MEIO AMBIENTE
 
Eu queria morar debaixo da rocha roxa

Habitar uma selva primitiva

Esverdeada

Molhada por um rio claro e calmo

Cravejado de gravetos

Eu queria um dia ser um astronauta

E, peralta, pular de estrela em estrela

Pelas Galáxias

Eu queria não trocar por outro o arco e a flecha

Eu queria não pensar em ter

Eu queria não pensar em ser

Eu queria não pensar

Eu queria morrer numa noite cor de rosa

Naufragando numa nuvem transparente

Brandindo o meu tacape

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A Queda

 
A queda
 José Antonio
Início das águas das nuvens
As cuieiras estavam com os frutos verdes
Em breve, a taba trocaria suas pertenças

A curuminzada chega ofegante à taba
Viram a morte da samaúma sagrada
Pelas mãos do espírito maligno de alva tez

Do átrio em que ficava a grande árvore,
Moradia de Tupã,
O pajé ensinava os segredos da vida e da morte

Tradições milenares, contadas sem pressa ou retórica,
Repetidas a cada estação, para todos
O eco da queda, até hoje, permanece gravado no peito dos curumins


Para inspirar, assistam em tela cheia (deixem carregar primeiro):

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Soneto para a Chegada de Gabriella e Giovanna

Soneto para a Chegada de Gabriella e Giovanna

Rodolfo Pamplona Filho

Duas estrelinhas surgiram
no céu de nossa cidade!
Duas pequenas rosas nasceram
no jardim da felicidade!

Será que existe maior alegria
do que viver cada dia
na enorme expectativa
do momento de sua vinda?

Se uma só já seria amada,
recebermos duas na mesma fornada
é amor que não mede tamanho!

Venham ver como a vida é bela,
Giovanna e Gabriella
Assunção Stolze Gagliano

No vôo de Salvador para São Paulo,
para assistir o show do Pearl Jam,
em 04 de novembro de 2011.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

UMA LIÇÃO

UMA LIÇÃO: A carta a seguir foi escrita por Ha Minh
Thanh, um imigrante vietnamita que é policial em Fukushima no Japão.
Era endereçada a seu irmão, mas acabou chegando a um jornal em
Shangai que a traduziu e publicou.
******
Querido irmão,
Como estão você e sua família? Estes últimos dias tem sido um
verdadeiro caos. Quando fecho meus olhos, vejo cadáveres e quando os
abro, também vejo cadáveres.

Cada um de nós está trabalhando umas 20 horas por dia e mesmo
assim, gostaria que houvesse 48 horas no dia para poder continuar
ajudar e resgatar as pessoas.  Estamos sem água e eletricidade e as
porções de comida estão quase a zero. Mal conseguimos mudar os
refugiados e logo há ordens para mudá-los para outros lugares.
Atualmente estou em Fukushima – a uns 25 quilômetros da usina
nuclear. Tenho tanto a contar que se fosse contar tudo, essa carta se
tornaria um verdadeiro romance sobre relações humanas e
comportamentos durante tempos de crise.  As pessoas aqui permanecem
calmas – seu senso de dignidade e seu comportamento são muito bons
– assim, as coisas não são tão ruins como poderiam. Entretanto,
mais uma semana, não posso garantir que as coisas não cheguem a um
ponto onde não poderemos dar proteção e manter a ordem de forma
apropriada.  Afinal de contas, eles são humanos e quando a fome e a
sede se sobrepõem à dignidade, eles farão o que tiver que ser feito
para conseguir comida e água. O governo está tentando fornecer
suprimentos pelo ar enviando comida e medicamentos, mas é como jogar
um pouco de sal no oceano.   

                                    
Irmão querido, houve um incidente realmente tocante que envolveu um
garotinho japonês que ensinou a um adulto como eu uma lição de como
se comportar como um verdadeiro ser humano.  Ontem à noite fui
enviado para uma escola infantil para ajudar uma organização de
caridade a distribuir comida aos refugiados. Era uma fila muito longa
e notei, no final dela, um garotinho de uns 9 anos que usava uma
camiseta e um short. Estava ficando muito frio e fiquei preocupado se,
ao chegar sua vez, poderia não haver mais comida. Fui falar com ele.
Ele contou que estava na escola quando o terremoto ocorreu. Seu pai,
que trabalhava perto, estava se dirigindo para a escola para
apanhá-lo e ele, que estava no terraço do terceiro andar, viu quando
a onda tsunami levou o carro com seu pai dentro.

                                             

Perguntei sobre sua mãe. Ele disse que sua casa era bem perto da
praia e que sua mãe e sua irmãzinha provavelmente não sobreviveram.
Notei que ele virou a cabeça para limpar uma lágrima quando
perguntei sobre sua família. O garoto estava tremendo. Tirei minha
jaqueta de policial e coloquei sobre ele. Foi ai que a minha bolsa de
bentô (comida) caiu. Peguei-a e dei-a a ele dizendo: “Quando chegar
a sua vez a comida pode ter acabado. Assim, aqui está a minha
porção. Eu já comi. Por que você não come”?  Ele pegou a minha
comida e fez uma reverência. Pensei que ele iria comer imediatamente,
mas ele não o fez. Pegou a comida, foi até o início da fila e
colocou-a onde todas as outras comidas estavam esperando para serem
distribuídas.  Fiquei chocado. Perguntei-lhe por que ele não havia
comido ao invés de colocar a comida na pilha de comida para
distribuição. Ele respondeu: “Porque vejo pessoas com mais fome
que eu. Se eu colocar a comida lá, eles irão distribuí-la mais
igualmente”.  Quando ouvi aquilo, me virei para que as pessoas não
me vissem chorar.  Uma sociedade que pode produzir uma pessoa de 9
anos que compreende o conceito de sacrifício para o bem maior deve
ser uma grande sociedade, um grande povo.  Bem, envie minhas
saudações à sua família. Tenho que ir, meu plantão já começou.
Ha Minh Thanh
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domingo, 20 de novembro de 2011

A MOSCA E A ARANHA

A MOSCA E A ARANHA
Por MMendes
a mosca e a aranha.jpg
Saindo em disparada rumo às nuvens, recolheu as asas deixando que a gravidade drenasse lentamente seu movimento até que parou completamente no ar, deu uma guinada e começou a cair vagarosamente, como uma cabeça de martelo lançada ao ar. Quase pareceu que se espatifaria no chão, mas no momento certo, habilidosamente abriu suas asas, recuperou o vôo desenvolvendo elegantemente uma curva no espaço.  Em seguida manobrou em “looping” desenhando três círculos perfeitos, manobra acrobática que deixaria qualquer um completamente desorientado, mas não ela, a fabulosa mosca.
E vai novamente conduzindo seu corpo ao estol de maneira assimétrica, guinava para o lado gerando uma trajetória em parafuso, como um avião abatido em combate. Mas, ao contrário, o inseto voador nivelou-se ao solo, ganhou altura e desapareceu no horizonte daquela tarde avermelhada de primavera.
Apaixonada por aviação passava horas e horas admirando as acrobacias dos cadetes. Expectadora assídua, pousava todos os dias sobre a mesma folha de uma palmeira no jardim da Força Aérea. Sem que a mosca notasse, não muito longe, uma aranha a espreitava todos os dias, fitando-a veementemente com seus oito olhos bem abertos. Determinado dia, antes da chegada da mosca, a aranha teceu uma fina teia, quase invisível, no exato lugar onde a mosca pousaria.
No dia seguinte, no horário de sempre, lá vinha a mosca desenvolvendo um vôo de costas, seguido de um rolamento lateral em torno do eixo longitudinal do corpo. Quando estava para pousar, sentiu prender-se no ar. Era como se uma mão invisível a tivesse capturado. Bateu as asas, esperneou, contorceu-se, mas nada de escapar. Havia sido apanhada pela teia.
Os movimentos da mosca balançaram a teia e o aracnídeo que aguardava num canto, iniciou uma lenta caminhada. Pé ante pé, desviava-se dos pingos de cola que pontilhavam cada fio de sua armadilha. A mosca apavorada observava cada movimento de sua predadora. Sem poder escapar pensou: “-É derradeiramente meu fim”. A aranha era enorme perto da pequena mosca. Chegando bem perto, com seus olhos iridescentes como bolhas de sabão, fitou a pobrezinha por um instante. Tomou a mosca em seus tentáculos cabeludos e começou enrolá-la, prendendo-a num novelo de seda. Depois amarrou o casulo firmemente num dos cantos da teia, saindo vagarosamente.
A mosca completamente imobilizada pensou: “-Me amarrou para devorar-me mais tarde. Quem sabe na hora do almoço? Eu que amo tanto a liberdade do céu, vou acabar morrendo aqui, presa, amarrada, inerte. Que triste fim para uma mosca aviadora”, lamentava. Chegou a hora do almoço, passou a hora do jantar, caiu a noite e nada da aranha aparecer. A mosca não cochilou um só momento, com medo de ser devorada dormindo.
Chegou o dia seguinte, pouco antes dos aviões iniciarem a decolagem, a aranha reapareceu, levantou seus tentáculos apanhando o casulo. Nesse momento a mosca gritou: “-É agora, guardou-me para o café da manhã. Socorro, socorro!”. Misteriosamente a aranha carregou delicadamente o casulo até um local de privilegiada vista das acrobacias aéreas. Em seguida retirou-se. Com o coração acelerado, a mosca quase nem conseguiu prestar atenção aos aviões. Depois de um tempo a aranha voltou, recolheu o casulo e prendeu-o novamente no mesmo lugar de antes, retirando-se em seguida. A mosca não compreendia quais eram as intenções da aranha e não sabia o que pensar: “-O que pretende a aranha? Comer-me enquanto me distraio com os aviões? Ela quer sugar meu néctar enquanto me alegro? Será que o néctar da gente é mais gostoso quando estamos alegres?”. Entardeceu, passou a noite e nada da aranha aparecer. A mosca prisioneira estava entristecida com sua sorte. No dia seguinte, antes da decolagem dos aviões, surge novamente a dominadora, repetindo tudo o que havia feito antes. Mas o inseto prisioneiro sequer prestava atenção aos aviões, cabisbaixo, aborrecido. A vida perdera o sentido. Depois de um tempo, a aranha recolheu o casulo novamente, repetindo todo o ritual. No quarto dia tudo igual.
Em completa solidão e profunda melancolia a mosca pensava na morte e todas as conquistas de vida deixadas para trás, a fama, o chapeuzinho de aviador, os lugares que não conheceu, os prazeres que não viveu.
-  Quem sabe ao menos um sopro de vida subirá às alturas, deixando meu corpo sucumbir no fundo da terra, ou na barriga da aranha? Tudo é vaidade, tudo é vaidade - Lamentava a mosca. Nunca havia pensado na morte. A vida havia sido prazerosa demais, por isso nunca sentiu necessidade de uma oração sequer, uma conversa com Deus. Mas, naquela hora sentia-se impelida e ensaiou uma pequena oração, embora sem aquela retórica toda.
- Oh meu Deus, não me importo de morrer, mas se for possível, eu prefiro não estar por perto quando isso ocorrer.
Por que somos todos assim? Passamos a vida construindo um império e no instante final percebemos que só temos um castelo de areia? Corremos atrás da fama, da posição social e da riqueza e no final descobrimos que acumulamos apenas vaidade dissipada pelo hálito da morte?
No quinto dia, esperando que a aranha aparecesse no momento da decolagem dos aviões, a aranha não veio: “- Tem alguma coisa estranha no ar. Cadê a aranha?”. Antes mesmo de consumar seus pensamentos, sentiu um bafo quente na nuca e inesperadamente seu corpo girou de forma violenta. Parou olho a olho com a aranha que lhe deu um enorme beijo na boca.
- Meu amor! Clamou a aranha aos prantos. - Te amo desde o primeiro momento que o vi. Quis vê-lo e abraçá-lo todos os dias de minha vida. Temia que um dia me abandonasse, nunca mais aparecesse, despedaçando meu coração. Mas agora compreendi, prender-te foi um grande erro.  Se não fores feliz, igualmente eu não serei, pois esse é o destino daqueles que amam. Os verdadeiros amantes compartilham as alegrias e as tristezas. Sei que para ti a felicidade esta em voar livremente pelo céu e que não serias feliz aqui.
Aos prantos a aranha começou a desatar as linhas do novelo libertando a mosca boquiaberta. Livre, saiu em vôo disparado dando mil e uma cambalhotas e rodopios pelo ar, enquanto a aranha derramava lágrimas de amor que decoravam teia. A mosca nunca mais voltou. Mas, a aranha não sofreu, apenas amou e amou muito. Aprendeu amar não é sinônimo de prisão, o verdadeiro amor é libertador.