sábado, 21 de janeiro de 2012

Tempo

Tempo

Rodolfo Pamplona Filho

Na infância,
o tempo flui
em ritmo de lesma.
Quando se cresce,
parece ser veloz
como uma gazela.
Se, no relógio, porém,
a velocidade será
sempre a mesma,
a percepção
variará em função
da carência que se sente...

O tempo não é cruel,
nem severo,
ou sequer fatal!
O que não volta
é a oportunidade
perdida no final!
Por isso, é preciso
aproveitar cada momento
que o próprio tempo
reserva, sem pressa,
para ser vivido, aproveitado
ou, no mínimo, não desperdiçado.

Tempo, tempo, tempo, tempo...
Salvador, 10 de julho de 2011.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Petição em Versos

EXMA. SRA. DRA. JUÍZA DE DIREITO SUBSTITUTA DA VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DE IPIAÚ, ESTADO DA BAHIA.


PROCESSO N.º 196/98

AÇÃO DE ADOÇÃO
Pele ferida, ossos salientes,
pernas miúdas, braços finos,
cara acanhada, boca serrada,
corpo flácido, dois fracos quilos
de poucos centímetros,
de olhos profundos,
a procura de alguém.
A cria, de seios lânguidos,
Implora, chora, clama e ninguém.
O pai nascido da terra,
carrega o seu quinhão na sola dos pés,
sem eira, nem beira.
O Estado distante,
os cidadãos passam à margem,
a mãe pede, repete e ninguém.
Larga-se o rebento ao léu.
O quadro do banquete da fome, é cruel.
A mera pintura da miséria, é natural.
Retrata o caos de milhões de brasileiros.
Surge uma cidadã, já qualificada nos autos,
Jocelma Silva Rios,
diante de uma tela tão banal,
seria normal, ou anormal,
comover com a situação?
Assume a paternidade,
numa casa pobre,
de poucos recursos,
mas onde o amor e carinho,
suplantavam as deficiências.
A criança recebe um nome,
Ganha uma irmã, uma mãe, uma avó.
Enche o corpinho com alguns quilinhos.
Passa a ser olhada pela população,
Percebe-se que o lar não satisfaz,
que a pretensa mãe não deve ser normal,
enfim, tudo contraria o Estatuto.
É necessário uma posição.
Um comissário de menores, de prenome Netasto,
sem a devida autorização judicial,
invade a casa,
arranca a criança do novo ventre,
a mãe chora, lamenta,
Ialu, a menor, era esse o nome que recebera,
perde, pela segunda vez, a família.
Por conta de um melhor destino,
a criança foi entregue na creche de D. Elvira,
começa nova vida,
de poucos dias.
Febre, catapora, encefalite,
sabe-se o quê? Uma moléstia, um destino,
Terá sido uma fatalidade?
Morre Ialu, morre um sonho de mãe.
Do ocorrido, requerer o quê?
Morta a adotanda, desistência da adoção.
Da Justiça, Excelência,
a mãe, se assim pode intitular, requer,
com base no Estatuto da Criança e do Adolescente:
um, a apuração do ato cometido pelo comissário de menores,
conhecido por Netasto, da Comarca de Jitaúna;
dois, uma sindicância na creche de D. Elvira, em Jequié;
três, a intimação do Ministério Público para acompanhar passo a passo as apurações;
quatro, determine o Hospital Prado Valadares que junte um laudo médico indicando a causa mortis.
Enfim, são estes os termos, e requer JUSTIÇA,
em Ipiaú, 1.998, há pouco mais de um ano do próximo milênio,
dezembro, no seu sexto dia, com muitas chuvas, aguarda colher o seu deferimento.

Nesmar Andrade
Advogado

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Sangue e Amor

Sangue e Amor

Rodolfo Pamplona Filho
Vezes há
em que as palavras
não são suficientes
para expressar
tudo que se passa
na mente e no coração.

Vezes há
em que é preciso
sangue
para escrever
e marcar
o momento e o lugar

Marcas de Amor
em plena luz do dia,
vendo fluir
como hemorragia...
Cumplicidade total,
em absoluto despudor...
Entrega total
em prova de amor...

Ausência de asco ou frescura
Um nova forma de ver a candura
Tenha a plena certeza e o plano
de que você não está mais morto,
quando a expressão "eu te amo"
é escrita com seu próprio corpo...


Salvador, 12 de janeiro de 2012.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

OTIMISMO

OTIMISMO
Até o coração dos otimistas é mais forte. Carregar aquela certeza de que tudo vai dar errado faz mal, dizem especialistas. Pessimismo em excesso também dificulta a vida social e impede realizações. Se você está no time dos que tendem ao negativo, comece a pensar no caminho inverso. Acredite, isso é possível.

O pessimista, às vezes, pode confundir-se com uma pessoa cautelosa, prudente, e até mesmo, realista. Porém, essas qualidades não são características de quem vive de mal com a vida. Para a psicóloga e membro do Conselho de Psicologia do Rio de Janeiro, Noeli Godoy, trata-se de conceitos totalmente diferentes. “O pessimismo emperra todo e qualquer projeto pessoal. Muitos confundem pessimismo com realismo ou cautela. Realismo, cautela, prudência são virtudes dos que são empreendedores, portanto, otimistas. Os pessimistas, por sua vez, tendem a se isolar, a não mais acreditar em si e no próximo. Param no tempo e no espaço, perpetuando o sofrimento”, explica ela.

Pensar somente em coisas desagradáveis, negar o lado positivo e viver reclamando de tudo tem consequências também para a saúde. Uma recente pesquisa realizada pela Columbia University Medical Center, mostra que o coração dos otimistas é mais resistente a doenças cardíacas.

“O pessimismo é fonte de paralisia, tristeza, angústia. As pessoas tendem a se isolar, a não mais acreditar em si e no próximo. Param no tempo e no espaço, perpetuando o sofrimento. E à a medida que o pessimismo se acentua, perde-se a esperança de realizar novas ações, podendo acarretar em sintomas depressivos e de pânico, medo de tudo e de todos”, ressalta a psicóloga.

Até mesmo nas situações mais adversas, é possível ver o lado positivo, garante ela. Situações de perda, de rompimento ou de profunda tristeza podem ajudar a conviver melhor com as dificuldades. “Quando cultivamos a capacidade do aprendizado em toda e qualquer circunstância da nossa vida. Não quer dizer que não vamos sofrer, quer dizer que podemos enxergar para além das dores, do sofrimento. Assim desenvolveremos a capacidade de criar novas possibilidades para lidar com as dificuldades. O pensamento positivo traz boas energias que nos ajudarão quando alguma adversidade se apresentar”, aconselha Godoy.

Quer saber a quantas anda o seu pessimismo? Faça uma experiência. Ao fim do dia, relembre os acontecimentos e saiba quais foram mais marcantes na sua memória. Se você só consegue se lembrar do que deu errado, aprenda como ver o lado bom da vida a partir das dicas elaboradas pela psicóloga Noeli Godoy. Na próxima página.
1. Sempre procure tirar aprendizado das adversidades. É o aprendizado que nos fortalece e possibilita criar linhas de fuga daquilo que nos oprime e impede de caminhar; 2. Acredite no seu potencial. Somos capazes de enfrentar nossas dores com realismo e esperança. É nosso potencial que nos impulsiona a seguir em frente e nos mantêm de cabeça erguida;

3. Sorria, apesar das dificuldades. O sorriso tem a propriedade de espantar os males, o mau humor. Não estamos cegos para a realidade, mas sorrimos na esperança de dias melhores. Andar triste e cabisbaixo não resolve nossos problemas. O sorriso é bálsamo e fortificante;

4. Procure relaxar. Não tome decisão alguma se estiver preocupado (a) ou aborrecido (a). Decisões tomadas com este espírito não costumam funcionar. Reflita, pare e pense um pouco mais. Depois, decida como continuar a caminhada;

5. Renove sempre as esperanças. E nunca deixe de sonhar e acreditar, por mais difícil que pareça. Como bem diz o ditado: "A esperança é a última que morre!".

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Divisão de Almas

Um pra mim, um pra você...

Em uma  cidadezinha do interior havia uma figueira
carregada dentro do cemitério.
Dois amigos decidiram entrar lá à noite (quando não havia
vigilância) e pegar todos os figos.
Eles pularam o muro, subiram na árvore com as sacolas
penduradas no ombro e começaram a distribuir o 'prêmio'.


- Um pra mim, um pra você.
- Um pra mim, um pra você.

De repente um falou pro outro:

- Pô! meu, você deixou cair dois do lado de fora do muro!


- Não faz mal, depois que a gente terminar aqui pega os de fora.

- Então tá bom, mas
um pra mim, um pra você.

Um bêbado, passando do lado de fora do cemitério, escutou esse negócio de 'um pra mim e um pra você' e saiu correndo para a delegacia.

Chegando lá, virou para o policial:

- Seu guarda, vem comigo! Deus e o diabo estão no cemitério dividindo as  almas dos mortos!

- Ah, cala a boca bêbado.

- Juro que é verdade, vem comigo.

Os dois foram até o cemitério, chegaram perto do muro e começaram a escutar...

- Um para mim, um para você.

O guarda assustado:

- É verdade! É o dia do Apocalipse! Eles estão dividindo as almas dos mortos!
O que será que vai acontecer depois?

E continuaram a escutar:

-
Um para mim, um para você.

De repente ouviram um dizer:

-Pronto, acabamos aqui dentro...

-Agora a gente vai lá fora e pega os dois que estão do outro lado do muro...


-Cooooorreeeee porraaaaa!!!!!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A parte ré amaldiçoada pelo juiz


A parte ré amaldiçoada pelo juiz (03.06.11)

Na comarca de uma vara só, há um saudável hábito de fraterna convivência entre os operadores do Direito. Nos finais das tardes de sextas-feiras, advogados, juiz, promotor e alguns servidores forenses se reúnem no clube local para a prática de vôlei ou futebol.

Tradicionalmente o magistrado é jogador; o representante do M.P. prefere atuar de apito à boca.

Numa dessas sextas-feiras, o jogo teve que ser interrompido, ante a presença - engravatado - de um brilhante advogado que, apresentando a petição inicial de uma medida cautelar, buscava a decisão liminar do juiz.

O magistrado leu e despachou ali mesmo, de próprio punho, autorizando o escrivão - que ficara no foro - "às diligências posteriores e imediatas". 

A incumbência da autuação e a expedição de mandado etc  foram delegadas pelo serventuário a uma novel estagiária forense, cedida uma semana antes pela Prefeitura. O escrivão assinou, "por ordem do doutor juiz", um oficial de justiça foi convocado, o mandado foi cumprido etc etc.

Na segunda-feira o réu apresentou-se num dos tradicionais escritórios de Advocacia da cidade, brandindo com o mandado de citação na mão.

- Eu aceito ser réu, aceito também a liminar contra mim, mas não aceito ser amaldiçoado pelo juiz - vociferou o cliente.

O advogado ponderou que "o juiz é uma pessoa respeitosa, que não amaldiçoa ninguém"...

Dito isso, o profissional da Advocacia passou a examinar o mandado e leu, incrédulo: (...) "Diante disso, defiro a medida cautelar, ante a maldita outra parte" etc.

O advogado do réu foi ao foro, conversou com o magistrado (é um desses que está sempre disposto a receber partes e procuradores), e então esclareceu-se que o texto original da decisão inicial manuscrita referia "diante disso defiro a medida cautelar ´inaudita altera pars´".

A estagiária foi chamada. O juiz explicou-lhe a expressão latina, ela justificou-se que era novata, mas fez duas ponderações. Primeira: a caligrafia do magistrado não era fácil; segunda: a culpa final fora do escrivão, que assinara o mandado sem conferir.

*  *  *  *  *

Ao final, alguns meses depois a ação foi julgada improcedente, sabe-se lá porque...
FONTE: Espaço Vital

Charge de Gerson Kauer

domingo, 15 de janeiro de 2012

Calvície

Calvície

Rodolfo Pamplona Filho

Rearrumar a franja...
Partir o cabelo do lado...
Consolar-se com uma canção
de carnaval que virou bordão...
Cremes milagrosos
Finasterida sem pudor
ou com algum receio
de afetar o time
que estava ganhando...
Desespero no banho,
ao ver as sobras
do que já foi farto...
Colocar a culpa
na testa grande
ou nos ângulos
com que o olham...
Ver, no espelho,
uma entrada
que virou atalho,
quase uma estrada
para a nuca...
Talvez você nunca
imaginou que isso acontecesse
mas ela chegou finalmente,
ainda que você não a temesse
(ou fingisse não ligar),
mas tudo tem seu tempo e lugar,
nem que seja para assumir
que a vasta cabeleira vai sumir
agora ou em algum instante,
pois todo poço seca
e, salvo se fizer um implante,
vai ter de aceitar a careca...

Salvador, 15 de julho de 2011.