sábado, 16 de março de 2013

TRIGONOMETRIA AMOROSA

TRIGONOMETRIA AMOROSA
Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.

Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.

"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa."

E falando descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs
Primos-entre-si.

E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Retas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.

Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.

Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se.
Constituir um lar.
Mais que um lar,
Uma Perpendicular.

Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.

E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
se torna monotonia.

Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos
Viciosos.
Ofereceu, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo,
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
chamado amoroso.
E desse problema, ela era a fracção
Mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a
Relatividade.
E tudo que era expúrio passou a ser
Moralidade.
Como aliás, em qualquer
Sociedade.

Autor desconhecido, mas admirável.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Agonia (Soneto pelo avesso)


Agonia (Soneto pelo avesso)

Rodolfo Pamplona Filho
Agonia
Angústia
Tensão

Stress
Impotência
Confusão

Vontade de sumir
e nunca mais aparecer...
Desejo sincero
de nunca mais acontecer...

Pensar se há alternativa
para o que não se soluciona
com toda a fé na medicina
em questão que não se equaciona


Salvador, 26 de fevereiro de 2012.

quinta-feira, 14 de março de 2013

O homem na varanda

O homem na varanda

Fazia mais de um mês que eu cobria diariamente o percurso entre a praia e uma pequena ilhota. Uma formação de pedras há cerca de dois quilômetros. Começava com braçadas lentas para o aquecimento. Alguns minutos depois, com a sensação de que os músculos estavam soltos eu aumentava o compasso. Fazia emergir a cabeça a fim de buscar a respiração alternando os lados. À vezes olhava à frente para corrigir o rumo. A ilhota na mira. O corpo quase todo afundado, o gosto de sal nos lábios, as pernas em movimento ritmado, a carícia da água e a visão do céu. Longe, na praia, que eu via uma respirada sim e outra não, minha vista pousou, naquele quase átimo, na varanda de uma casa de veraneio. Havia alguém na varanda? Repeti a respiração no mesmo lado e pude ver que era mesmo uma pessoa. Talvez fosse um homem, mas era incerto afirmar, dada a distância. Mas decidi que era. Talvez estivesse admirando o meu nado solitário, agora não mais, pois havia o público de um só espectador, mas havia. Fiquei imaginando o que ele poderia estar pensando de mim. Louco, temerário, desajuizado, exibicionista. Esse último adjetivo eu riscaria, se estivesse escrevendo, pois se a praia era deserta, seria impossível. Comecei a me incomodar com o homem da varanda, porque sempre nadei solitário e num horário em que a possibilidade de algum outro banhista aparecer era muito improvável.  Vencidos mais alguns metros, o homem sumiu de vista, pois o ângulo do telhado da casa em que ele estava encobriu o naco de mar onde eu nadava. Cheguei à ilhota. Como sempre parei ali um pouco para breve descanso. Pensei novamente no homem da varanda. Com ele fui injusto ao lhe atribuir pecha de intruso. Decerto admirava minha destreza. Senti-me orgulhoso pelo nado e envergonhado pelo julgamento. Quem sabe na volta não mudasse o itinerário e saísse do mar perto daquela varanda? Cumprimentaria o novo vizinho. Poderíamos nos tornar amigos. Era isso. Estava resolvido.
            Deixei a ilhota e voltei ao mar. Nadei com mais energia, porque queria avistar de novo o meu único admirador. Em alguns minutos divisei o telhado atrás do qual o homem sumira. Logo, pela direção que eu seguia, a varanda se descortinaria. Aumentei o ritmo das braçadas. Agora eu via a varanda, mas nada do admirador. Mudei o curso em direção à praia. Chegaria à casa da varanda. Passei a nadar meu desengonçado, levantando o rosto para frente em busca do admirador. Às vezes, uma onda vinha e encobria o meu rosto. Cheguei à praia. A casa parecia fechada. Talvez o homem não existisse e tudo fosse imaginação. Esperei um pouco. Quem sabe ele não aparecia e trocássemos um aperto de mãos. Esperei quase meia hora até que me dei por vencido. Não havia indício de gente na casa. Terminei o percurso a pé, seguindo a orla, vendo os tatuís esburacarem a areia de arrebentação.

Jairo Vianna <jairo@uaivip.com.br>

quarta-feira, 13 de março de 2013

Soneto da Agonia

Soneto da Agonia

Rodolfo Pamplona Filho
Vontade de sumir
e nunca mais aparecer...
Desejo sincero
de nunca mais acontecer...

Pensar se há alternativa
para o que não se soluciona
com toda a fé na medicina
em questão que não se equaciona

Agonia imensa
Angústia intensa
Pura Tensão

Stress e carência
Sensação de Impotência
Confusão e depressão 

Salvador, 26 de fevereiro de 2012.

terça-feira, 12 de março de 2013

O que significa @ no e-mail?

O que significa @ no e-mail?

Durante a Idade Média os livros eram escritos pelos copistas, à mão.
Precursores dos taquígrafos, os copistas simplificavam seu trabalho
substituindo letras, palavras e nomes próprios por símbolos, sinais e
abreviaturas. Não era por economia de esforço nem para o trabalho ser mais
rápido (tempo era o que não faltava, naquela época!). O motivo era de ordem
econômica: tinta e papel eram valiosíssimos.

Assim, surgiu o til (~), para substituir o m ou n que nasalizava a vogal
anterior. Se reparar bem, você verá que o til é um enezinho sobre a letra.

O nome espanhol Francisco, também grafado Phrancisco, foi abreviado para
Phco e Pco ? o que explica, em Espanhol, o apelido Paco.

Ao citarem os santos, os copistas os identificavam por algum detalhe
significativo de suas vidas. O nome de São José, por exemplo, aparecia
seguido de Jesus Christi Pater Putativus, ou seja, o pai putativo
(suposto) de Jesus Cristo. Mais tarde, os copistas passaram a adotar a
abreviatura JHS PP, e depois simplesmente PP. A pronúncia dessas letras em
sequência explica por que José, em Espanhol, tem o apelido de Pepe.

Já para substituir a palavra latina et (e), eles criaram um símbolo que
resulta do entrelaçamento dessas duas letras: o &, popularmente conhecido
como "e" comercial, em Português, e, ampersand, em Inglês, junção de and (e,
em Inglês), per se (por si, em Latim) e and.

E foi com esse mesmo recurso de entrelaçamento de letras que os copistas
criaram o símbolo @, para substituir a preposição latina ad, que tinha,
entre outros, o sentido de casa de.

Foram-se os copistas, veio à imprensa - mas os símbolos @ e & continuaram
firmes nos livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de unidades
da mercadoria e o preço. Por exemplo: o registro contábil 10@£3 significava
10 unidades ao preço de 3 libras cada uma.
Nessa época, o símbolo @ significava, em Inglês, at (a ou em).

No século XIX, na Catalunha (nordeste da Espanha), o comércio e a indústria
procuravam imitar as práticas comerciais e contábeis dos ingleses. E, como
os espanhóis desconheciam o sentido que os ingleses davam ao símbolo @ (a ou
em), acharam que o símbolo devia ser uma unidade de peso. Para isso
contribuíram duas coincidências:

1 - a unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba, cujo
inicial lembra a forma do símbolo;

2 - os carregamentos desembarcados vinham frequentemente em fardos de uma
arroba. Por isso, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registro de 10@£3
assim: dez arrobas custando 3 libras cada uma. Então, o símbolo @ passou a
ser usado por eles para designar a arroba.

O termo arroba vem da palavra árabe ar-ruba, que significa a quarta
parte: uma arroba ( 15 kg , em números redondos) correspondia a 1/4 de outra
medida de origem árabe, o quintar, que originou o vocábulo português
quintal, medida de peso que equivale a 58,75 kg .

As máquinas de escrever, que começaram a ser comercializadas na sua forma
definitiva há dois séculos, mais precisamente em 1874, nos Estados Unidos
(Mark Twain foi o primeiro autor a apresentar seus originais
datilografados), trouxeram em seu teclado o símbolo @, mantido no de seu
sucessor - o computador.

Então, em 1972, ao criar o programa de correio eletrônico (o e-mail), Roy
Tomlinson usou o símbolo @ (at), disponível no teclado dessa máquina, entre
o nome do usuário e o nome do provedor. E foi assim que Fulano@Provedor X
ficou significando Fulano no provedor X.

Na maioria dos idiomas, o símbolo @ recebeu o nome de alguma coisa parecida
com sua forma: em Italiano, chiocciola (caracol); em Grego, papaki
(patinho);em Sueco, snabel (tromba de elefante); em Holandês, apestaart
(rabo de macaco). Em alguns, tem o nome de certo doce de forma circular:
shtrudel, em iídisch; strudel, em alemão; pretzel, em vários outros idiomas
europeus. No nosso, manteve sua denominação
original: arroba.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Soneto do Aniversário

Soneto do Aniversário
Rodolfo Pamplona Filho

Mais um ano se passou
e não diminuiu em nada
todo o imenso amor
que sinto em cada passada

nesta vida, em que um presente
foi, sem dúvida, sua amizade,
que só faz bem para a gente
e mostra o valor da fraternidade.

Com você, tenho um compromisso
de, por mais tempo que eu viver,
nunca do seu ser esquecer...

Este poema é, por tudo isso,
mais que um registro no calendário:
é o meu desejo de Feliz Aniversário!

domingo, 10 de março de 2013

Homem no Mar

Homem no Mar

Rubem Braga


De minha varanda vejo, entre árvores e telhados, o mar. Não há ninguém
na praia, que resplende ao sol. O vento é nordeste, e vai tangendo,
aqui e ali, no belo azul das águas, pequenas espumas que marcham
alguns segundos e morrem, como bichos alegres e humildes; perto da
terra a onda é verde.

Mas percebo um movimento em um ponto do mar; é um homem nadando. Ele
nada a uma certa distância da praia, em braçadas pausadas e fortes;
nada a favor das águas e do vento, e as pequenas espumas que nascem e
somem parecem ir mais depressa do que ele. Justo: espumas são leves,
não são feitas de nada, toda sua substância é água e vento e luz, e o
homem tem sua carne, seus ossos, seu coração, todo seu corpo a
transportar na água.

Ele usa os músculos com uma calma energia; avança. Certamente não
suspeita de que um desconhecido o vê e o admira porque ele está
nadando na praia deserta. Não sei de onde vem essa admiração, mas
encontro nesse homem uma nobreza calma, sinto-me solidário com ele,
acompanho o seu esforço solitário como se ele estivesse cumprindo uma
bela missão. Já nadou em minha presença uns trezentos metros; antes,
não sei; duas vezes o perdi de vista, quando ele passou atrás das
árvores, mas esperei com toda confiança que reaparecesse sua cabeça, e
o movimento alternado de seus braços. Mais uns cinqüenta metros, e o
perderei de vista, pois um telhado a esconderá. Que ele nade bem esses
cinqüenta ou sessenta metros; isto me parece importante; é preciso que
conserve a mesma batida de sua braçada, e que eu o veja desaparecer
assim como o vi aparecer, no mesmo rumo, no mesmo ritmo, forte, lento,
sereno. Será perfeito; a imagem desse homem me faz bem.
É apenas a imagem de um homem, e eu não poderia saber sua idade, nem
sua cor, nem os traços de sua cara. Estou solidário com ele, e espero
que ele esteja comigo. Que ele atinja o telhado vermelho, e então eu
poderei sair da varanda tranqüilo, pensando — "vi um homem sozinho,
nadando no mar; quando o vi ele já estava nadando; acompanhei-o com
atenção durante todo o tempo, e testemunho que ele nadou sempre com
firmeza e correção; esperei que ele atingisse um telhado vermelho, e
ele o atingiu".

Agora não sou mais responsável por ele; cumpri o meu dever, e ele
cumpriu o seu. Admiro-o. Não consigo saber em que reside, para mim, a
grandeza de sua tarefa; ele não estava fazendo nenhum gesto a favor de
alguém, nem construindo algo de útil; mas certamente fazia uma coisa
bela, e a fazia de um modo puro e viril.

Não desço para ir esperá-lo na praia e lhe apertar a mão; mas dou meu
silencioso apoio, minha atenção e minha estima a esse desconhecido, a
esse nobre animal, a esse homem, a esse correto irmão.

Janeiro, 1953.


Extraído do livro "A Cidade e a Roça", Editora do Autor - Rio de
Janeiro, 1964, pág. 11.