sábado, 8 de outubro de 2016

Obra Conjunta


Rodolfo Pamplona Filho

Eu sei que vou te amar
Por una cabeza
Mi Buenos Aires querido
Broccolino
Payless shoes
Benadryl
Cien pesos
Dá-me una achuuuuuuuuuuta...

Peter e Petronio
Dedinhos cabeçudos
Joe e James
Dumbo, Larry e Ralph
O baígo e o bigo
são dois amigos
inseparáveis...
Lelelê... Tra-lá-lá...

Floresta de Savanas
Pecoço e Queixinho furadinho
Bochechinhas
Olhinhos rasgadinhos
Cabelo espetado
Cortar unha do pepé
Neneco
Tomar babanho
Mimí Casal Lego
Pininina
Periquito

Obra conjunta:
eis que tudo se junta
e forma uma família
e uma vida...

Salvador, 30 de setembro de 2016, 21 anos depois...

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Vencedor


Augusto dos Anjos

Toma as espadas rútilas, guerreiro,

E à rutilância das espadas, toma

A adaga de aço, o gládio de aço, e doma

Meu coração — estranho carniceiro!


Não podes?! Chama então presto o primeiro

E o mais possante gladiador de Roma.

E qual mais pronto, e qual mais presto assoma,

Nenhum pode domar o prisioneiro.


Meu coração triunfava nas arenas.

Veio depois de um domador de hienas

E outro mais, e, por fim, veio um atleta,



Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem...

E não pude domá-lo, enfim, ninguém,

Que ninguém doma um coração de poeta!"

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Para as Gerações Futuras




Rodolfo Pamplona Filho

Estamos em setembro de 2016
e não sabemos o limite da escassez.
Vivemos em um tempo de incertezas
do que sai da urna ou se tem na mesa,
na luta diária pelo que comer
ou simplesmente por sobreviver.

Estamos em setembro de 2016
e não sabemos o limite da sensatez
do que seja golpe ou exercício democrático,
do clamor ético ou chamado carismático,
na profunda vontade de compreender
se ainda ha um caminho a percorrer.

Estamos em setembro de 2016
e não sabemos se há limite na estupidez.
Vivemos tempos de bipolaridade
no sobrepujar da mídia sobre a verdade,
no poder da Informação ou manipulação
para linchamento de qualquer reputação.

Estamos em setembro de 2016
e não sabemos o limite da embriaguez
de quem comeu melado e se lambuzou,
de quem todos os pudores ultrapassou,
propugnando por proteção ou flexibilização,
com a simples máscara da modernização.

Estamos em setembro de 2016
e não sabemos o que o futuro nos fez.
Não sabemos o destino insondável
reservado para o nosso presente criança...
Ainda assim, o nosso único direito inalienável
sempre foi, é e será o de ter esperança.

Ilhéus, 23 de setembro de 2016.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Ganhei...


                                                                                                                      Ricardo Albuquerque

Ganhei de presente a lua...

Não uma lua desenhada, no quadro negro, com giz, que se apaga com o passar de qualquer dedo...

Ganhei, de presente, a lua... Ela. Toda ela. Imensa. Prateada. Como bandeira hasteada e entronizada nos céus dos impossíveis.

A lua, nunca dantes povoada, agora me foi doada como por capitania hereditária... Mas não dividiram a lua em frações igualitárias, deram-me, ela toda, na sua inteireza. Toda minha, para sucumbir toda a tristeza... Conferindo-me leveza, e, ainda, faz-me lembrar de Tereza, Dona Tereza, Tia Tereza, Professora Tereza, minha mãe.

A lua, que ganhei de presente, é peça única, singular, e funciona diuturnamente, dispensando a substituição de baterias, e, sobrevindo um apagão, um big ou bang, ela estará lá, entronizada, nos céus dos impossíveis, funcionando perfeitamente, quanto todos os abajoures estiverem ensimesmados em sombras, apagados, invalidados pelo apagão ou pela simples economia de custos, a lua, que ganhei de presente, continuará no pódio, iluminada, refletindo a luz que inspira... Mesmo desligada da tomada.

A lua, que ganhei de presente, é de fases, tal qual um passatempo que te desafia a vencer a fase presente para adentrar-se numa outra fase, até então, inédita. O ser humano tem predileção pelo inédito. Esta lua me dá lições, sem, contudo, dizê-las. Diz sem falar. Não verbaliza. A lua, que eu ganhei de presente, emudecida e prateada, ensina-me a não desistir da minha fase, pois uma outra fase, subsequente, melhor e mais clara, há de vir, e não tarda a vir.

A lua, que eu ganhei de presente, possui regramento próprio: o seu manual de instruções são folhas avulsas, soltas, esvoaçantes, e estão nas alturas, nas alturas de Deus, que como a lua, está vestido de glória e de majestade. Ele se cobre de luz como de um vestido... As regras da minha lua foram escritas, delineadas, pelo Hábil Arquiteto que rabiscou-a no pergaminho do tempo, na roda criadora do gênesis, e ela já era lua, antes de ser lua, quando o Eterno, ainda, a rabiscava, pois tudo quanto Deus quer, simplesmente é. E soprou Deus no projeto da lua, e fez-se lua...

Possui um ciclo completo de fases: a isto se chamou lunação – período em que a sua porção visível e iluminada passa a aumentar gradualmente até fazer-se lua cheia. Repleta. Transbordante. Por intermédio das regras desta lunação, a minha lua, me faz não desistir, se hoje, a porção iluminada do caminho meu seja tão rasa, quase imperceptível, como na fase minguante ou nova, desta minha lua. Ela me conduz ao aguardamento do tempo da minha lunação, momento este no qual o ciclo será completo, então serei/serás/seremos repletos de luz, em toda a circunferência da vida nossa.

Ah... a lua, que ganhei de presente, prepara espetáculos enluarados. Ela organiza os seus saraus. A minha lua é tema recorrente nas canções de tantos: “Não há, oh gente, oh não, luar como este do sertão”. Ah... o luar do sertão. Outro poeta, utilizou-se da figura da minha lua, esta que eu ganhei de presente, olhando para o céu de Santo Amaro, lá na Bahia do meu Brasil, e cantou a imensidão das estrelas (e da lua) e o universo e a força do amor nos que amam, verdadeiramente amam...

A lua, que ganhei... me foi doada, de papel passado, em escritura caligrafada às custas de um tinteiro rubro, em um pergaminho simples: simplíssimo, cândido, quase pueril, tal qual o desenho de um infante em papel de pão. A escritura, que me confere propriedade desta minha lua, pois a posse todos tem, ao olharem para ela em noite enluarada, já disse, é simples, destituída de muitos artigos ou parágrafos difíceis de entender. É escritura auto interpretável. Ela há de ser minha e de todos quantos, dela necessitarem, para cantar o amor...

Veio pelas mãos de um amigo, que, por certo, a havia recebido, por herança, de outro alguém, igualmente, tão querido. Por isso falo desta minha capitania hereditária, que recebo, em papel amassado de pão cotidiano, escritura que vem entremeada dentro de um tubo, como se fora diploma de um graduando, desenrolo, agora, tal documento, todo escrito com letra de mão, humanizado, já que a lua humaniza. Documento todo escrito às custas de uma caneta tinteiro, de vermelha tinta, e que outra cor designaria tão bem o amor e a doação de luas e universos, senão a tinta carmesim, purpúrea, rubra e vermelhenta? Há, tão somente, uma ressalva, deverei, igualmente, doá-la em nome da poesia, do amor, das canções e orações.

A lua, que ganhei de presente, sempre obedeceu ao mandado daquele que vive para sempre. O mandado de Elohim... Esta minha lua esteve presente nos sonhos de José, filho de Jacó, ainda menino, aos dezessete anos, quando, ainda, apascentava as ovelhas do seu pai... sonhava o menino... no sonho o sol, a lua e onze estrelas se inclinavam a ele... A minha lua, presente, na promessa de exaltação do menino José, que chegaria a governar todo o Egito... Esta minha lua, noutra oportunidade, e, também, o sol, foram detidos, pela ordem de Deus na boca de Josué. O sol se deteve, e a lua parou, até que o povo de Deus se vingasse de seus inimigos.

A lua, que ganhei de presente, cabe no meu bolso, no alcance dos olhos ou nos movimentos uniformes da pena do poeta... “A pena de um destro escritor”

A lua, que ganhei de presente, ganhei-a de um amigo... Que munido de um binóculo, que não é vendável nas lojas de artigos do gênero, enxergou-me silente e só. E este meu amigo, doador, desta minha lua, viu-me, lá de longe, assistiu-me, quando eu tocava o meu violão plangente e choroso, e escrevia memórias... Ganhei-a de um amigo, a minha lua, a nossa lua, prateada, que alta vive, e não sabe fazer outra coisa a não ser iluminar, causando-me um certo renascimento, e porque cativar significa criar laços: eternos e indeléveis. Ninguém mais apaga o brilho desta minha lua, tampouco, inutiliza a escritura desta doação...

Ah... a lua que ganhei de presente...

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Opressor Oprimido


Rodolfo Pamplona Filho

Reconhecer, em si, o mal
Maltrata
Maldiz
Molesta

Descobrir-se opressor
oprime
deprime
machuca

Declarar-se ser
não é suficiente
não é inteligente
não é sequer coerente

Desejar estar ao lado
não é saber
não é viver
não basta

Olhar a si e ao mundo com outros olhos
é a alternativa ao suicídio
é a reconstrução da própria história
é a única esperança da humanidade.

Quarta-feira, 17 de agosto de 2016,  literalmente no voo para Vitória/ ES

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Sofre, poeta!


Ricardo Albuquerque

Oh poeta, que a inexpugnável força de Elohim continue sendo a sustentação do teu verso, mesmo que em oceano bravio estejas imerso...

Sofre, poeta!

Por entre as grades da masmorra, que detém-te, sopra palavras ao vento, poesias em celeste vôo, aptas a pacificar corações...

Sofre, poeta!

Suporta as sombras do teu claustro, feito um beneditino, resignado à sina que lhe foi oferecida, ou, sem que ele saiba, imposta. Talvez a resignação do beneditino seja uma pena imposta, celeste, que ele mesmo julga ter sido dele a escolha, mas a imposição vem do alto: Faça-te em verso e prosa no teu claustro...

Sofre, poeta!

Lança o teu pão sobre as águas, e, depois de muitos dias o acharás. Reparte com sete ou setecentos, a sua poesia, que será como o cesto de pães e de peixes, no milagre da multiplicação, sempre haverá pão ao alcance das tuas mãos, e peixe na altura do teu coração, então, pão e peixe far-se-ão poesia em ti. Não a deixe...

Sofre, poeta!

A poesia alada, produzida pela sua alma, parturiente, e que se faz elixir medicamentoso a todos os que te ouvem ou te lêem, esta mesma poesia, será o teu pão, o teu chão, regressando a ti, curando-te, então, fazendo-te são...

Sofre, poeta!

És o vaso de alabastro. O emplastro que sara dores, de um mundo, já, tão senil. Sê juvenil. Carrega o teu cântaro. O cântaro das suas inspirações. Suporta o peso. Jamais te verás ileso: de dor e nem de amor. És poeta. Reparte...

Sofre, poeta

domingo, 2 de outubro de 2016

O frio sociopata


Rodolfo Pamplona Filho


O frio sociopata
foi posto de lado
por um forte senso
de pura empatia.
As emoções ruins
se avolumando
à medida em que
fluem as recordações...
Memórias do homem
que, um dia, eu fui...
e de tudo que fiz.
Lembranças de morte
e do prazer de
causar sofrimento.
Corpo se retorcendo
enquanto eu gargalhava...
enquanto eu tentava
sentir alguma coisa.
Se antes eu só queria
partilhar minha dor
com o mundo,
agora, tenho o desejo
de ajudar os outros
a se livrar definitivamente
de seus tormentos.
Pessoas podres
não sabem que
assim o são...
nunca se dão conta...
A mente humana
pode racionalizar
quase tudo.
No fundo, seres humanos
são centrados
em si mesmos.
É algo enraizado,
difícil mesmo de admitir.
É mais fácil elaborar
uma explicação fantasiosa,
em que nos vemos como heróis...
Uma narrativa pessoal
em que não importa
como se obtém
o que se quer...
contanto que
se obtenha...
Isso é vilania.
É a face horrenda,
que não para de emergir
de cada um de nós...
Por isso, eu me arrependo
e pretendo ser um exemplo
para enfrentar esses ímpetos,
inspirar quem observa
e realmente mudar o mundo,
mostrando que é possível
se superar e ser melhor,
sobrepujando o passado
e encontrando motivação
para contemplar além
dos olhos ensandecidos
da fera que fui...

No avião de Boston para Miami, em 01 de julho de 2016, refletindo sobre o final do Eixo...