sábado, 5 de novembro de 2016

Soneto a quatro mãos



Vinícius de Moraes e Paulo Mendes Campos


Tudo de amor que existe em mim foi dado
Tudo que fala em mim de amor foi dito
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado. 

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado. 

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse. 

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Soneto para a Chegada de Gabriella e Giovanna


Rodolfo Pamplona Filho

Duas estrelinhas surgiram
no céu de nossa cidade!
Duas pequenas rosas nasceram
no jardim da felicidade!

Será que existe maior alegria
do que viver cada dia
na enorme expectativa
do momento de sua vinda?

Se uma só já seria amada,
recebermos duas na mesma fornada
é amor que não mede tamanho!

Venham ver como a vida é bela,
Giovanna e Gabriella
Assunção Stolze Gagliano

No vôo de Salvador para São Paulo,
para assistir o show do Pearl Jam,
em 04 de novembro de 2011.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Motivo da rosa


Cecilia Meireles

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A Poesia é Meu Refúgio




Rodolfo Pamplona Filho
Quando a tristeza me assalta
e fico imerso na melancolia;
Quando a solidão me oprime
e a depressão me consome;
Quando a rotina me irrita
e a monotonia me maltrata;
Quando o stress me atormenta
e o cansaço me anestesia;
Quando não sou compreendido
ou me sinto abandonado ou perdido;
A Poesia é Meu Refúgio...

No voo de Santiago para Puerto Montt-Chile, 29 de junho de 2012.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Aquarela


Toquinho

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo.
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva,
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva.

Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel,
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu.
Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul,
Vou com ela, viajando, Havai, Pequim ou Istambul.
Pinto um barco a vela branco, navegando, é tanto céu e mar num beijo azul.

Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená.
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar.
Basta imaginar e ele está partindo, sereno, indo,
E se a gente quiser ele vai pousar.

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida.
De uma América a outra consigo passar num segundo,
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo.

Um menino caminha e caminhando chega no muro
E ali logo em frente, a esperar pela gente, o futuro está.
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar,
Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar.
Sem pedir licença muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar.

Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá.
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar.
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia, enfim, descolorirá.

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo (que descolorirá).
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo (que descolorirá).
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo (que descolorirá).

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Eu me divirto com minhas próprias loucuras


Rodolfo Pamplona Filho

O nome da minha autobiografia
O meu estilo de vida
A minha profissão de fé
O que sou e o que me tornei
A minha perfeita definição
A minha genuína tradução
O meu verdadeiro eu
O que se define como meu
Eu me divirto com
minhas próprias loucuras...

Salvador, 15 de janeiro de 2013.

domingo, 30 de outubro de 2016

As cartas de Elohim


Ricardo Albuquerque

Elohim é um professor de filosofia, já aposentado, que acaba por perder a esposa, Graça, vitimada, de forma inesperada e abrupta, por um tumor implacável. Sem ter tempo (e direito) de chorar a morte “de sua graça”, o Professor Elohim carrega consigo uma tríplice responsabilidade, a tutela dos trigêmeos, seus netos, filhos de sua única filha, desaparecida, Vasti, que, após uma severa depressão pós-parto dos trigêmeos, empreende uma viagem ao exterior, mais precisamente, ao Noroeste da Espanha, em Santiago de Compostela, de onde se limitou ao envio de um único cartão postal, e, desde então, cinco longos anos passaram-se, sem sombra de notícias. Neste cenário, Elohim tenta recompor-se da perda da esposa, empreende esforços para descobrir o paradeiro da filha, e, com muito esmero, faz-se de pai e mãe dos trigêmeos, aos quais se doa com amor incondicional.  Retoma as aulas de filosofia na Universidade, para fazer frente à crise financeira que enfrenta. Porém, numa manhã qualquer, é surpreendido com um diagnóstico médico aterrorizante: um timoma -, um tipo de tumor maligno localizado no mediastino, região do tórax que fica entre os pulmões. Certo de que, em breve, perderá a luta em face deste cruel antagonista, Elohim passa a redigir cartas secretas, sobre diversos temas da vida, a fim de que os netos recebam as mesmas com constância religiosa, as quais, algumas delas, fazem parte desta coletânea nomeada de ‘As cartas de Elohim’.