Magnífica
Professora Márcia Pereira Fernandes de
Barros, Reitora da Universidade Salvador – UNIFACS
Ilustríssimo
Prof. Adroaldo Leão, Coordenador do
Curso de Direito,
em nome
de quem saúdo todas as demais autoridades presentes e representadas.
Meus
colegas, alunos, amigos e parentes dos formandos.
Meus
afilhados.
Por
diversas vezes, tentei rascunhar este discurso, mas não sabia como fazê-lo…
Sinceramente,
eu fui surpreendido com o convite para paraninfar esta turma...
Eu,
definitivamente, não tinha a menor sombra pálida de desconfiança de que isto
poderia acontecer, tanto que, no dia que vocês combinaram de me fazer a
surpresa de comunicar tal honrosa eleição, eu nem estava presente...
A
honra de pronunciar o discurso final de um curso é tão grande que nunca sabemos
exatamente o que fazer...
De
fato, eu não conseguia imaginar como fazer um pronunciamento que pudesse ser
como um biquini: abrangente para cobrir o essencial, mas curto o bastante para
manter o interesse…
Daí,
em vez de procurar respostas para a minha ansiedade, resolvi mudar o foco e
comecei a formular perguntas que poderiam me socorrer na empreitada que fui
desafiado a realizar, bem como uma análise da simbologia que este momento
representa…
De
fato, para que serve um discurso de paraninfia?
Tradicionalmente,
é ele um pronunciamento magistral, proferido por um professor ou por alguém eleito
pelos novos profissionais, com a finalidade de ser a derradeira aula no curso
que se encerra…
E
o que é um paraninfo de uma turma de formandos?
É
alguém eleito para ser o padrinho da turma.
E
o que é um padrinho?
Diferentemente
do que muitas vezes é ventilado, o paraninfo não é um “patrocinador” ou um
“paganinfo”, que se apropriaria do espaço de tempo de uma formatura, para fazer
algum tipo de promoção pessoal.
Definitivamente,
não!
Não
é este papel distorcido que deve mover os bons sentimentos daqueles que, um
dia, sonharam em unir suas forças e talentos em prol de um valor abstrato – e
tão maltratado! – chamado justiça!
Longe
disso, o paraninfo é um símbolo de uma figura paternal.
Um
pai!
Sim,
um pai!
Um
pai que se orgulha do potencial de seus filhos.
Um
pai que se emociona com o resultado de seus esforços.
Um
pai que não tem pudor de chorar com a vitória de suas crias...
Um
pai que, tentando conter as lágrimas, busca “manter a pose” e faz uma reflexão
sobre um período da história daqueles que, tão jovens, cresceram sob o seu
olhar e convívio...
Cinco
anos se passaram para a maioria dos novos bacharéis aqui presentes, desde suas
primeiras lições no curso de Direito
E,
examinando a história de um grupo tão complexo e heterogêneo como o que hoje se
forma, percebo nitidamente que o destino, nas suas intrincadas peculiaridades,
fez com que toda uma história pudesse ser revivida nesta noite.
Examinem-se...
Examine
a mesa diretora dos trabalhos e cada nome lembrado por vocês para ser
destinatário de reverências neste momento...
O
primeiro ano do curso está aqui...
Que
coisa linda, para mim, é ver, dentre os professores homenageados, meu amigo,
colega, ex-aluno e discípulo, Antonio
Lago Júnior. Civilista de escol, introduziu a turma no conhecimento
jurídico dogmático.
Ao
seu lado, o grande Jorge Almeida Uzêda,
figuraça inesquecível, com seu profundo conhecimento interdisciplinar, que
transita, com proficiência, entre o Direito, a Filosofia e a História.
O
segundo ano do curso está aqui...
Nele,
encontro o 2º. ano-A, uma turma inquieta, divertida, animada...
Com
ela, ensinei Direito Civil II (Obrigações e Responsabilidade Civil), mas
aprendi tanto ou muito mais com seu convívio...
Com
eles, curti fazer o “amigo secreto de ovos de páscoa, o TRTour, a gincana, o
“torta na cara” no velho “curral”... Tudo compartilhado em fotos e saudades...
Saudades...
Sinto
falta de grandes figuras, que, infelizmente, não estão se formando com vocês,
como Guilherme Celestino, Gustavo Ivo, Eduardo Simões, entre outros...
Mas o segundo ano está vivo e forte
aqui também na figura impoluta e marcante do nosso Comandante, Prof. Adroaldo Leão, também professor
homenageado e a quem o senso de justiça de qualquer pessoa que viva este curso
jamais pode ter o descalabro de deixar de prestigiar.
Se
o Curso do Direito da UNIFACS se tornou tudo que ele é, para a a própria
Universidade, para a cidade e para o mundo jurídico, não se pode deixar de
reconhecer que o mérito cabe a esta figura, que nunca hesitou em defender a
qualidade do curso, sem nunca ter medo de dizer “não” quando necessário ou de
sofrer críticas daqueles que não tinham a macro-visão indispensável para o bem
da coletividade.
E,
ao seu lado, no ensino do Direito Constitucional, meu amado filho por adoção
intelectual, o Prof. Miguel Calmon
Teixeira da Carvalho Dantas, um “gênio da raça”, em que a inteligência se
confunde com a disciplina, a competência e a simpatia. Que honra é estar ao seu
lado, filho!
O
terceiro ano do curso está aqui...
Eleita
como “amiga da turma”, vejo minha querida colega e ex-aluna, Prof. Renata Fabiana Santos Silva, um talento
para o magistério, que despontou justamente aqui na UNIFACS, conquistando o
respeito de todos pela sua seriedade acadêmica e conhecimento.
Também
do terceiro ano, vejo meu afilhado, Prof. Luciano
Lima Figueiredo, que, no passado, foi meu aluno na graduação e orientando
no Mestrado e, hoje, é um dos mais respeitados professores de Direito Civil da
Bahia, quiçá do país, tendo eu o orgulho de tê-lo ao meu lado em diversas
outras atividades, o que muito me honra e que quero que continue assim para o
resto da vida.
O
quarto ano do curso está aqui...
Nele,
encontro o 4º. ano-B, uma turma intrigante, diferente de todas as outras que eu
tive anteriormente.
Com
eles, estimulei a interação, o pulsar de vida, a compreensão dos desígnios do
universo...
É
que, mesmo ministrando a disciplina “Direito Processual do Trabalho”, com eles
não me limitei ao cumprimento do programa acadêmico, mas busquei ampliar seus
horizontes, discutindo, de tudo, um pouco, inclusive sobre política,
relacionamentos e até liberdade religiosa...
Consegui
até mediar brigas sobre o ar
condicionado da sala e estimular a realização de uma festa de São
João...
E
me diverti com seu talento nas audiências simuladas do mundo da alta costura e
dos “Piratas do Caribe”, tanto na versão inesquecível de Jack Sparrow, quanto
na lúdica de Peter Pan e Capitão Gancho...
E
como fazem falta aqui, nesta solenidade, Rafinha,
com seu jeito apaixonante de ser, Beatriz,
com seus lanchinhos na aula, e outros tantos...
E
deste quarto ano de curso, vocês nos presenteiam com a lembrança do melhor
professor do curso de Direito da UNIFACS, o insuperável Prof. Rômulo de Andrade Moreira, a quem vocês
reservaram a homenagem como Patrono.
E
nenhuma homenagem poderia ser mais justa do que ela.
Patrono
é o exemplo e o defensor.
Quem
melhor para exercer tal papel se não aquele que é o único professor homenageado
por absolutamente todas as turmas que se formaram no curso de Direito da
UNIFACS?
Rômulo,
se Roberto Carlos estivesse aqui, diria: “Este cara é você!”
E,
finalmente, o quinto ano do curso está aqui...
Ah,
o quinto ano...
Ano
de stress...
Comissão
de formatura...
Monografia
de final de curso...
Cumprimento
das atividades complementares, que poderiam ser integralizadas totalmente desde
o primeiro ano do curso, mas que alguns retardatários insistem em querer marcar
um gol de mão, em impedimento, aos 48 minutos do segundo tempo...
E,
neste ponto, recebam minhas congratulações pela lembrança de Moara, como funcionária homenageada,
pois ela deve ter tido uma paciência de Jó para tentar equacionar todos os
pleitos simultâneos e urgentes que lhe eram apresentados...
E
deste derradeiro ano, vocês lembraram de duas criaturas também muito especiais.
Em
primeiro lugar, o Prof. Edivaldo Machado
Boaventura, eleito como o “nome da turma”.
O
“nome da turma” é sempre um símbolo, para a sociedade, de quem os formandos
mais têm respeito e consideração.
Ora,
como é maravilhoso ver homenageado aquele que se tornou, para mim, também um
referencial paterno, já que foi uma “amizade de filho para pai” que permitiu o
nosso encontro.
Prof.
Edivaldo, não há feedback maior que um professor consagrado possa ter do que,
no ano em que o senhor retorna à graduação, ser lembrado, como símbolo, para
uma geração, cuja faixa etária dista mais de meio século e que, mesmo assim,
lhe reserva um carinho que somente se guarda no coração....
E,
para mim, é sintomático que, nesta lembrança do derradeiro ano do curso,
estejamos ombreados com o apaixonante Prof. Roberto Lima Figueiredo, também eleito amigo da turma.
Professor
respeitadíssimo de Direito Civil, advogado militante, Procurador do Estado
combativo, autor de obras jurídicas, poderia eu passar um bom tempo só
descrevendo suas qualidades, mas prefiro, como sempre, lembrar da frase com que
minha esposa o definiu, quando tive a honra de ser seu orientador no mestrado:
“o orientando que está sempre sorrindo”...
Ser
feliz com a vida é tudo que se quer da vida...
E, meus afilhados, dirigindo-me
somente a vocês, nesta vida, ouçam o conselho deste seu amigo que, tendo
ultrapassado a significativa marca dos 40 anos e sobrevivido a intempéries que
poderiam já ter me levado embora, tem a consciência de que já tem mais passado
do que futuro...
Não
vou eu ministrar uma lição teórica de Direito ou dos encantos da pesquisa
científica.
Não
vou falar sobre os meandros da vida judiciária ou dos desencantos da luta
política.
Não
vou palestrar sobre a densidade da filosofia ou das vicissitudes do lidar com
os semelhantes...
Não,
nada disso...
Eu
quero lhes falar de amor...
Sim,
de amor...
De
amor por todas as coisas e todas as horas...
De
amor pela vida, por viver, por nunca desistir de que vale a pena pulsar...
Eu
quero falar que amar é tudo de bom...
Seja
amar o Vitória, como Ailson, seja amar
os Beatles, como Luiza.
Seja
amar a literatura, como Ana Carolina Borges, seja simplesmente de ter uma crise de riso
solto, como Fau Bahia.
Seja
amar nossos filhos de forma incondicional, como Ana Claudia (“Cacau”) se dedica a Bia e Lucas;
Eu
quero dizer que vale a pena buscar no outro o amor que se completa em si...
E,
nisso, amei acompanhar a evolução do relacionamento do dedicado Serginho e a talentosíssima Amanda, nossa já mestranda na
UNISINOS...
Entre
a brilhante Fabiana e o não menos
competente Amaral...
Entre
a dulcíssima Renata e a grande
figura Zanoni...
E
todos testemunharam o meu bordão de que aluna minha é filha minha e eu sei
tratar muito bem os meus genros...
Eu
quero dizer que nunca é tarde para começar ou recomeçar...
Mesmo
quando mudamos de turma como Alex.
Mesmo
quando administramos uma família, como Cris
Queiroz e Ludmila Sampaio.
Eu
quero dizer que todo obstáculo para ser superado...
Nem
que seja a distância de Villas do Atlântico para a Garibaldi, como Mari Dantas.
Mesmo que seja para
dirigir uma Comissão de Formatura, sem perder a simpatia e a elegância, como
foi o caso de minhas amadas, dedicadas, lindas e competentíssimas Alê Batinga e Marcela Carvalho.
Eu
quero dizer que vale a pena se divertir com que a vida nos proporciona...
Nem
que seja o privilégio de conviver com a linda “drama queen" Ana Cláudia Domitilo Costa, minha
dedicada orientanda de monografia.
Ou de dar
boas risadas com minha querida “sininho” Andrea
Sousa ou com a alegria de Raissa
Fernandes e Yasmin Leal?
Ou da
seriedade acadêmica de nossa também orientanda Maria Clara Seixas, já atuando na advocacia em SP?
Ou de
conviver com pessoas meigas, tão gente boa que dá para fazer um time de futebol
feminino, como Camila Medeiros, Carolina Ramos Silva, Isadora Alencar, Larissa Effren, Luisa
Dultra, Maira Santana Pacheco, Manuella Dias Cardoso, Clarinha Musse, Cau Gondim,
Tassia Lorena e Stephanie Fonseca?
Ou com o
prazer, que sei que terei, com a militância trabalhista de Camila Souza, Mari
Novaes Casaes, Priscilla Fleming ou Victor Perón?
Ou com o
jeito tranqüilo de Esdras, Vitinho Conceição e Tiago Rocha?
Ou com
criaturas altamente comunicativas como o gigante Felipe Sarno, a risonha Jamile,
a estudiosa Larissa Castro, o
simpático Elyote, o figuraça Galloti ou a despachada Viviane?
Ou com
líderes natos como Nanda Carvalho e Gabriel Amorim?
Ou de
personalidade forte, em rostos delicados, como Lara Rangel, Priscila Adorno ou Paulinha Araújo?
Ou da
postura questionadora de Lucas Filardi?
Ou do
“menino de ouro” Luis Roberto Adan?
Ou com o
talento “caderno de ouro” de Monique Alvarez
e Talita Nascimento, a quem
muita gente deve a formatura?
Ou o
interesse indisciplinar do meu brother Geek Serjão, com quem bati altos papos sobre cultura pop e política?
Ou com a
religiosidade evidente de Thainara?
Ou com o
futuro prefeito de Caculé, Pedro Novais
Ribeiro?
Como eu
gostaria de ter tempo para poder continuar falando de cada um de vocês pela
noite toda...
Mas é hora
de encerrar...
Até mesmo
porque o biquíni prometido já está virando um maiô...
É hora da
palavra final...
E, vindo de
mim, uma palavra final sempre teria de ter poesia...
Quando eu
cheguei perto desta idade simbólica dos 40 anos, resolvi mudar minha postura de
vida.
E tentei
sintetizar tudo isso em um poema, que, hoje, dedico a todos vocês:
Sede
de Viver
Eu quero viver intensamente
como se fosse
morrer de repente
sem nova chance, irremediavelmente...
Eu quero uma vida sem rotina
onde cada dia tenha a sina
de, do outro, ser diferente...
Eu quero nunca ficar sozinho,
mesmo que, alguns momentos,
eu precise estar só para pensar!
Eu quero dar atenção a todo elemento
que precisar de mim, para ajudarr,
acreditando que, alguém, posso mudar!
Eu quero que minha mulher
seja simultânea mãe, parceira,
amante e companheira!
Eu quero acompanhar diariamente
o crescimento de meus filhos
e ser seu melhor amigo eternamente!
Eu quero colocar para fora
todos os sentimentos que guardo
no peito que trazem um gosto amargo!
Eu quero produzir tudo que outrora
programei, um dia, escrever,
plantar, compor, construir ou ler!
Eu quero me sentir desejado,
como nunca
antes no passado,
e minha energia não sublimar...
Eu quero aprender a me vestir,
saber onde chegar e de onde vir
o que, com quem e como
falar...
Eu quero fazer amor outra vez
com o desejo de quem nunca fez
e o conhecimento da experiência!
Eu quero chorar de felicidade
e sorrir na adversidade,
lutando pela sobrevivência!
Eu quero tudo isto e muito mais...
mesmo que digam que é olhar para trás,
eu não vou me importar,
pois tudo que der, eu vou fazer,
sem medo de tentar ou errar,
sem receio de me machucar,
na busca, finalmente, de saciar
minha recém-descoberta sede de viver.
Sejam felizes!
Vivam a vida!
Contem sempre comigo!
Proferido no Teatro Yemanjá, no Centro de
Convenções da Bahia, em 07/03/2013