segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Soneto do Encontro Casual



Rodolfo Pamplona Filho


Inesquecível e fogoso, como você
Inevitável e ágil, como crescer
Delicioso e poético, como querer
Romântico e sincero, como deve ser

Impulsivo e charmoso, como um bebê
Sensual e atraente, como ter você
Inesperado, como se surpreender
Necessário, como não esquecer

Verdadeiro e encantador,
sem receio de enfrentar a dor,
como vale a pena viver...

O futuro pertence a quem
encara o porvir e não tem
medo de o momento viver...

Rio de Janeiro, 18 de novembro de 2011.



domingo, 28 de fevereiro de 2016

Amor fatal

Roseanny Freitas <portrasdovel@hotmail.com>



Calada, silencio este alvoroço que quer nascer
Cujo instrumento de guerra e de paz se traduz em você.

Cada passo é um palmo em vão, pois meu amor já não consegue silenciar o que me vai no coração.
Ah! quem me dera, gritar aos quatros cantos que te amo, e esfregar na cara do mundo que não foi apenas sonho.

Te tenho em meu leito, plácido e terno, como um meio termo entre o céu e o inferno.
Mas naõ posso declarar o objeto do meu desejo, e como consolo e súplica de silêncio, cala-me com um beijo.

Porém, mesmo que o mundo não possa saber o objeto do meu amor,
De forma irrefutável saberão que te amo com tudo o que tenho e com tudo o que sou.




sábado, 27 de fevereiro de 2016

Soneto do Fim do Casamento


Rodolfo Pamplona Filho


O casamento é um contrato,
amor não, pois se converte, é fato
não deixando de ser para sempre,
mas falta algo que o complemente

e o faça se sentir vivo e gente.
A relação não deve ser uma prisão,
em que o carcereiro desalmado
é o sujeito outrora amado.

As promessas são feitas
em um momento em que
duas almas se encontram

e realizam um projeto de entrega,
vivendo e identificando-se,
mas fazendo o principal: amando-se



Rio de Janeiro, 18 de novembro de 2011.


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Por que andar de ônibus faz bem ao seu caráter


Fernanda Paiva


Não confie completamente em uma pessoa que nunca andou de ônibus. Não importa se hoje você tem um Camaro Amarelo (e é doce doce doce), se você já andou de ônibus em uma fase de sua vida, você não é a mesma pessoa. Digo mais: ainda que você tenha condições de comprar um Porsche para o seu filho quando ele fizer 18 anos, permita que ele passe ainda que poucos meses andando de ‘busão’. É que, para mim, este meio de transporte forma nosso caráter como chinelada nenhuma consegue fazer. Explico nos pontos seguintes.

1) Paciência
Tudo começa no processo de espera. Você se vê encostado na parada de ônibus esperando pela boa vontade do mesmo. Você até já decorou o horário que o “seu” ônibus passa. Mas se o motorista resolver pisar forte no acelerador e passar 3 minutos antes, só resta a você esperar mais 45 minutos pelo próximo.

2) Lidar com a humilhação
Vem ao longe o ônibus. Você reconhece no letreiro luminoso que é o SEU ônibus. Seu coração acelera. Você corre atrás dele como o Super Mario corre atrás da Princesa. Ele se aproxima e você percebe que o condutor não diminuiu a velocidade. Por algum motivo, o motorista passou direto com direito a um sorriso maroto, apontando para um suposto ônibus que vem atrás. Você fica com cara de tacho e a mão apontando para o nada.

3) Respeito às diferenças
Quando o “ônibus de trás” finalmente chega após 23 minutos, é claro que ele estará parcial ou totalmente lotado. Você se depara com um misto de sons e batuques, pessoas do Manassés pedindo doação, menino vendendo balinha e o cobrador com o humor pior do que o de um siri na lata. Você toca, ainda que não queira, pessoas que você jamais tocaria na zona de conforto de seu carro. Você é obrigado a lidar com gente diferente, sentar ao lado delas e até puxar assunto sobre “como o tempo hoje está quente”. Enfim: você deixa de lado seu ego e deixa de tanta frescura.

4) Altruísmo
Ainda que contra sua própria vontade, as Leis da Ética de Ônibus™ ‏dizem que você deve ceder seu lugar aos mais velhos e se oferecer para segurar os livros do estudante de ensino médio do cabelo esquisito que está em pé ao seu lado. Resumindo: você aprende NA MARRA a ser gente boa.

5) Capacidade cognitiva e filosófica
Janela de ônibus é praticamente a janela de sua alma. Não existe um lugar melhor para refletir sobre sua vida e colocar os pensamentos em ordem. Nem seu travesseiro; nem montes no Himalaia. Você acaba encontrando soluções para seus problemas, resolvendo cálculos complexos e tendo a ideia que faltou naquele brainstorm da reunião. Ou seja, de certa forma você se torna mais inteligente.



6) Educação
É no ônibus que você coloca em prática as palavras mágicas que sua mãe ensinou: “obrigado” (para o motorista, na hora de descer), “por favor” (a Deus, para que seu ônibus não demore tanto – todo dia peço isso a Ele) e principalmente o “COM LICENÇA” (por motivos óbvios). Ou seja: 1 ano de estágio probatório pegando ônibus e você se torna um gentleman ou uma lady.

7) Histórias para contar pros netos
Quem nunca passou por situações exóticas, engraçadas e inusitadas em ônibus? Quem nunca pegou o ônibus errado e foi parar em uma boca de fumo? (eu já!) Quem nunca ia descendo do ônibus e só na escadinha disse: “eita, esqueci de pagar! Perae moço!” (eu já) Quem nunca já sentou ao lado de uma senhora que foi com sua cara e resolveu te aconselhar com muita sabedoria? (eu já…)


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Soneto do Auto-Reconhecimento



Rodolfo Pamplona Filho


Não me importo com os rótulos
que a mediocridade insiste
em colocar na minha testa
como uma placa a me identificar

Pode dizer que eu sou gay
Pode dizer que eu sou homem;
Pode dizer que eu sou mulher;
Pode dizer que eu sou o que sou;

Desde que isso seja eu mesmo.
Desde que respeite o que penso
Desde que saiba o que eu sou...

"E esse negócio de se ser
exatamente o que se é
ainda vai nos levar além..."

Rio de Janeiro, 18 de novembro de 2011.


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A saudade e a busca pela felicidade


João Vitor Alves



O que te faz feliz?
Você é feliz?
Quem lhe faz feliz?

É curioso notar como a distância aproxima,
como a saudade reanima...
faz ver o não visto!

Estar perto e longe,
próximo e distante,
permite ir adiante...
na busca pela felicidade!

Em qualquer idade,
a saudade responde...
ao que se entende por felicidade.

Salvador, 30 de novembro de 2011.


terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Meu filho, você não merece nada.


Eliane Brum



Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.
Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.
Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.
Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.
Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.
É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?
Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.
Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.
Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.
A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.
Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.
Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.
Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.
Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.
O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.
Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.
 Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.
Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.
Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.


domingo, 21 de fevereiro de 2016

JOSÉ




E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Carlos Drummond de Andrade.


sábado, 20 de fevereiro de 2016

(Re)Encontrando um Irmão



Rodolfo Pamplona Filho

Quanto tempo se passou
sem que uma palavra fosse
sequer trocada ou ventilada?

Quantos momentos se perderam
pelo medo de um contato proibido,
sabe-se lá por qual razão?

Quantas imagens foram implantadas
sem saber qual era, na realidade,
o rosto de quem não se conhecia?

Quanta animosidade foi estimulada
por quem cabia apenas, na verdade,
permitir e ensinar o amor?

O passado jamais voltará
e é um pueril exercício de ingenuidade
lamentar o que poderia ter sido...

O presente é o que se pode viver
e, em vez de chorar o ocorrido,
que tal aproveitar o que surgiu?

O futuro não pertence a ninguém,
mas pode ser melhor do que tudo,
pois ainda será construído!

Um irmão nunca se perde!
Se os caminhos se afastaram
é porque era necessário lapidar

a carne, o sangue e o espírito,
que se há de compartilhar enquanto
se tem alguma esperança na vida...

Rio de Janeiro, 07 de outubro de 2012



sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Sobre Encontros Casuais

 
 Lua Estrela
Queria poder beber o seu riso
Sentir o seu cio
Amar o seu tom

E mais uma vez
Sentir o arrepio
Do seu ouvido
Saber como é bom

Estar contigo
Dormir contigo
E ser contido

Pela madrugada
Inesperada
Que entra e cala

Todo o furor
Do nosso amor
Que enfim resvala...



quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Soneto da Interpretação da Poesia


Rodolfo Pamplona Filho


O poema não pertence ao poeta,
mas, sim, ao mundo que o interpreta.
Por isso, qualquer explicação
é pura e simples reflexão

sobre qual era a proposta,
que, originalmente, havia sido posta
para fazer a construção
de uma nova manifestação.

Mas qualquer conjectura
nunca será realmente pura
para quem conseguiu se envolver

nas palavras lançadas ao vento,
buscando novo alento
na sensibilidade de cada ser.

Na Ponte Aérea Recife-Salvador, 26 de novembro de 2011.


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A vida quase morta.



(Cris Guerra)

"O contrário do prazer não é a tristeza, é o tédio", disse o belo professor de filosofia. Ela não imaginava que a inteligência pudesse morar em casa tão bonita.

Rápida, tentou impressionar:

— Da tristeza eu faço letra de samba. E acordo de novo a alegria que mora em mim.

"É preciso ter coragem", ele respondeu. Sem coragem, a vida é mesmo um tédio. E o que ela mais teme é ser engolida pelo tédio.

— É preciso ter coragem para não se acostumar.

E pediram mais uma garrafa de vinho

http://amoreponto.blogspot.com/2009/09/o-contrario-do-prazer-nao-e-tristeza-e.html


terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Soneto do Querer


Rodolfo Pamplona Filho


Eu quero ter seu amor todo tempo
e a cada simples momento,
como se um incontido vento
me tomasse cada argumento...

Eu quero gritar para o mundo
tudo que carrego no peito
como um vazio sem fundo
que só é repleto no leito

onde descobri o imenso prazer
de compartilhar com você
a cama, os sonhos e a vida,

pois não há sede maior
do que quando se está só
no instante da partida.

Na Ponte Aérea Recife-Salvador, 26 de novembro de 2011.


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Amarre meu coração na primeira árvore.




(Fabricio Carpinejar)

Mas ele será canalha por que amou a verdade? Ele traiu o quê? Trair sua vida de repente não é trair o seu sentimento, de repente não é trair o seu desejo, de repente não é trair seu cheiro. Como avaliar o que será perfeito dentro de 2 ou 10 anos? Como apontar que aquilo será melhor se o melhor ainda aguarda a invenção? Como adivinhar se uma relação dará certo sem estar nela ou sair dela? Como escolher entre dois amores se não é concedida a chance de escolher entre duas mortes ou dois nascimentos? De que adian ta ser objetivo se o que menos emociona é a objetividade?


Quando se escolhe, nunca se saberá se foi a definição errada, pois recordar é não deixar de alterar o passado. Nunca se saberá se foi a definição certa, já que estaremos sempre insatisfeitos.

Opina-se à vontade sobre a paixão com senso e prudência até que aconteça de modo pessoal. Perde-se a idealização e o sentido de comentar. Não terá nenhum valor o que você aprendeu nas apostilas. O cotidiano é feito de baques. Eu diferencio com dificuldade o desespero de viver da alegria.

Que lealdade a gente busca no amor além da ânsia de saltar o braço em torno do pescoço dela ou da calma ancestral de sentar de mãos dadas no fundo do lotação? Ou do descobrir uma cicatriz de infância debaixo do queixo? Ou de ir ao cinema para encurvar os ombros? Ou de apertar o braço dela ao percorrer a rua e a noite? Ou de ser uma criança com desaforos adultos? Ou um adulto com elog ios infantis? Ou de estalar bei jos nos ouvidos? Ou de acumular a lã e a luz no umbigo? Ou de observar as telhas como um pelego de estrelas? Ou de assobiar o bico da garrafa, transformando o vinho que resta em sopro?

Que lealdade a gente busca senão a de se aproximar e não pensar? Deixar que o tempo ceda espaço para o tempo da linguagem e que a carne seja metade da fruta na boca.

O amor não é segurança, todos procuram o nervosismo. Ao amar, fica-se fragmentado, não dividido. Dividido é um homem ainda muito inteiro.

Fica-se tão sensível que se entra em um estado de insensibilidade. O choro é pavio mergulhado na vela. Difícil erguê-lo da cera. Não se reage, demora-se o olhar e o talher, demora-se a ouvir. Algo como sentar na ante-sala da voz para folhear revistas.

 O fluxo emocional é maior do que a possibilidade de comunicá-lo. Flutua-se como se o mundo ainda estivesse ensaiando antes de amanhecer. Procura-se uma praia para arrastar com preguiç a a rede dos pés na areia. Sem coragem de falar, o jeito é esperar o milagre da espuma, um sinal, um aviso, que os peixes sejam mais fortes do que nós e arrebentem as cordas

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Soneto do Perdão


Rodolfo Pamplona Filho


Por vezes, vive-se um sentimento
em que se carrega um tormento
de não saber a canção
que toca o seu coração

É um alívio tirar um peso
enorme em cima dos ombros,
que o fazia se sentir preso
ou a viver em escombros.

Quando há real arrependimento,
o melhor medicamento
é uma gostosa sensação

de voltar a gostar do mundo,
nunca mais se vendo imundo
com o alívio do perdão.

Na Ponte Aérea Recife-Salvador, 26 de novembro de 2011.


sábado, 13 de fevereiro de 2016

Pamplona em Pamplona



 por Charles Silva Barbosa, em 02/10/2012

Se o ser Pamplona
está em terra Pamplona...

A simbiose na Espanha,
então, é perfeita...

A defesa da tesina é futuro prestes
a juntar-se ao passado em redoma...

Mais um sucesso em uma vida de lutas e conquistas a espreita...

"Strenght and honor"




sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Olhando os Campos da Espanha

Rodolfo Pamplona Filho


Olhando os Campos da Espanha,
pensei em toda minha existência,
a caminho de Pamplona,
origem e destino fundidos,
sem saber o que o futuro reserva
para cada momento a viver,
cada desafio a enfrentar
e cada decisão a tomar...

Sentado horas no trem,
entretido com imagens na janela
e ouvindo meu amigo Daniel a cantar
no music player do celular,
satisfeito com o passado construído,
revi cada instante vivido,
cada batalha vencida
e cada resolução assumida...

Esperando o tempo passar,
vi-me menino carente e homem feito,
com desejos ainda a saciar
e a nutrir esperanças de voltar
a acreditar em algo a encantar
cada segundo que resta da lida,
cada tarefa a ser perseguida
e cada mudança nos rumos da vida...

Olhando os Campos da Espanha...

No trem de Madrid para Pamplona, 02 de outubro de 2012.


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Por que você faz poema?


Herculano Neto
http://herculanoneto.blogspot.com/2010/02/por-que-voce-faz-poema.html


para dizer sem dizer
e irritar quem não me entende
(quem me detesta
mas esmiúça minha palavra)

para alentar meu público fiel
meu público efêmero

para exibir minha verve
em troca do elogio oco
do pouco-caso

para que os conhecidos
busquem meus enganos nas entrelinhas
e os desconhecidos espelho na minha farsa

para transformar minha frase em verso
meu verso em canção
cartão-postal
epígrafe
tatuagem
epitáfio
sacada genial

“para chatear os imbecis”


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Soneto da Riqueza


Rodolfo Pamplona Filho


É possivel empregar
a palavra riqueza
em dois sentidos sem par
e sem qualquer estranheza:

a primeira é a riqueza material,
concepção mundana e fria,
que é a do vil metal;
já a segunda poderia

ser a riqueza do sentimento,
que é, para o poeta, no momento,
encarnada no ser a se amar.

Trata-se de um jogo duplo bacana,
como diferentes formas na cama,
que o vocábulo pode encerrar...

Salvador, 27 de novembro de 2011.


terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Madrugada (e esse Amor).


Beatriz A.M.

Você cheira o meus cabelos e morde o meu ombro esquerdo, quando a gente faz amor.
Você puxa os meus cabelos, e une ansiosamente os fios no topo da cabeça,  lá no alto, num penteado que me faz lembrar a coroa de uma santa moderna, quando a gente faz amor.
Quando a gente faz amor, você alterna a suavidade do encaixe perfeito com um desejo bruto que me joga de quatro, que me suspende as pernas, que me penetra sem pedir, que me arranha os seios, que me deixa roxa, que me faz tremer.
E tem os teus gemidos, que são como uma sinfonia e que carregam, até a garganta, um grito que explode agudo e lindo, um grito que me deixa boba, quando a gente faz amor..
E tem a tua fome dos meus seios, a minha sede do teu gosto, a tua barba no meu rosto, quando a gente faz amor.
E assim, noventa e três dias e sete encontros depois, sinto, nessa pele que é tão tua, um arrepio ao perceber que é esse amor que tem feito a gente, menino.  É Esse amor que tem nos feito mais gente...

Salvador, 26 de outubro de 2011

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Família



Nossa família: as estações.
Nada sobra
do que julgam ser
as propriedades.

O corpo, a alma,
apenas usufruto.
Também os meus deveres.

Só o amor é nosso.
E o soluço.

Carlos Nejar
(1939, pai de Fabrício Carpinejar)


domingo, 7 de fevereiro de 2016

Um amor lindo...


Rodolfo Pamplona Filho



O nosso amor é lindo:
lindo, lindo de viver!
O nosso amor é tão lindo,
que, como ele, outro não pode haver.

O nosso amor é o mais bonito,
pois, como ele não pode ter
as coisas tidas como grandes,
vai se construindo nas pequenas

e, nesse processo, ilumina tudo
que, para os outros, sem ter vivido,
talvez fosse insignificante
ou passasse despercebido,

mas, para quem ama de verdade,
é puro encantamento,
chave para felicidade
e do fim de todo lamento.

E, por isso, ele é
o amor das surpresas,
da doçura, da generosidade,
da imaginação e da criatividade.

Na necessidade de buscar jeitos
e estradas vicinais para poder seguir,
esse amor inventa caminhos insuspeitos,
descobre trilhas preciosas a investir

ainda que sem sinalização
ou qualquer outra perspectiva
de ser algo mais que uma canção
que tocará toda nossa vida.

É um amor que é,
simultaneamente,
razão e fé,
coração e mente,

luz e mistério,
agito e acalento.
calor e refrigério,
paz e vento.

Salvador, 07 de dezembro de 2011.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Cogito



Torquato Neto



eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível


eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora


eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim


eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Trocando a Palavra pela Carne (soneto)


Rodolfo Pamplona Filho


Aqui estou, enfrentando o presente,
refletindo sobre o querer,
mas desejando ardentemente
que eu não precisasse escrever,

mas, sim, que a palavra fosse o beijo
e a vírgula virasse um abraço,
não havendo ponto no desejo,
sendo as reticências o nosso laço...

De todas as palavras, eu abriria mão
pela possibilidade da penetração,
passando essa noite imensa em você

mergulhando em seu cheiro,
no seu gosto, nos seus pêlos,
para uma paixão na carne viver.

Salvador, 08 de dezembro de 2011.



quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O QUE UM PROFESSOR É CAPAZ DE FAZER...






Esta é especial pra quem ja foi professor, senão pra quem já foi aluno.

O fato narrado abaixo é real e aconteceu em um curso de Engenharia da USJT (Univ. São Judas Tadeu), tornando-se logo uma das 'lendas' da faculdade.

Na véspera de uma prova, 4 alunos resolveram chutar o balde: iriam viajar juntos. Faltaram a prova e então resolveram dar um 'jeitinho'. Voltaram a USJT na terça, sendo que a prova havia ocorrido na segunda. Então, dirigiram-se ao professor:

- Professor, fomos viajar, o pneu furou, não conseguimos consertá-lo, tivemos mil problemas, e por conta disso tudo nos atrasamos, mas gostaríamos de fazer a prova.

O professor, sempre compreensivo:

- Claro, vocês podem fazer a prova hoje a tarde, após o almoço.

E assim foi feito. Os rapazes correram para casa e racharam de tanto estudar, na medida do possível. Na hora da prova, o professor colocou cada aluno em uma sala diferente, sem qualquer meio de comunicação com o mundo externo e entregou a prova:

Primeira pergunta, valendo 0,5 ponto: Escreva algo sobre 'Lei de Ohm'.

Os quatro ficaram contentes pois haviam visto algo sobre o assunto. Pensaram que a prova seria muito fácil e que haviam conseguido se dar bem.

Segunda e última pergunta, valendo 9,5 pontos :

'Qual pneu furou???'

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O arquivo



http://www.releituras.com/vgiudice_arquivo.asp
Victor Giudice

No fim de um ano de trabalho, joão obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos.

joão era moço. Aquele era seu primeiro emprego. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.

No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário reduzido, podia pagar um aluguel menor.

Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.

Dois anos mais tarde, veio outra recompensa.

O chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo corte salarial.

Desta vez, a empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior: dezessete por cento.

Novos sorrisos, novos agradecimentos, nova mudança.

Agora joão acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento aumentou.
Prosseguiu a luta.

Porém, nos quatro anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.

joão preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos. Odiava-os. Torturava-se com a incompreensão do chefe. Mas não desistia. Passou a trabalhar mais duas horas diárias.

Uma tarde, quase ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal.

Respirou descompassado.

— Seu joão. Nossa firma tem uma grande dívida com o senhor.

joão baixou a cabeça em sinal de modéstia.

— Sabemos de todos os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso reconhecimento.

O coração parava.

— Além de uma redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de ontem, rebaixá-lo de posto.

A revelação deslumbrou-o. Todos sorriam.

— De hoje em diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos cinco dias de férias. Contente?

Radiante, joão gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao trabalho.

Nesta noite, joão não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.

Mais uma vez, mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche. Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de muita roupa. Eliminara certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.

Chegava em casa às onze da noite, levantava-se às três da madrugada. Esfarelava-se num trem e dois ônibus para garantir meia hora de antecedência. A vida foi passando, com novos prêmios.

Aos sessenta anos, o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo acomodara-se à fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas. Dormia apenas quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou vestimenta. Vivia nos campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os farrapos de um lençol adquirido há muito tempo.

O corpo era um monte de rugas sorridentes.

Todos os dias, um caminhão anônimo transportava-o ao trabalho. Quando completou quarenta anos de serviço, foi convocado pela chefia:

— Seu joão. O senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não haverá mais férias. E sua função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários.

O crânio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos. Tentou sorrir:

— Agradeço tudo que fizeram em meu benefício. Mas desejo requerer minha aposentadoria.

O chefe não compreendeu:

— Mas seu joão, logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro. Desprezar tudo isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha?

A emoção impediu qualquer resposta.

joão afastou-se. O lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se, planas, compactas. Nos lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento.

João transformou-se num arquivo de metal.

No período em que trabalhou no Jornal do Brasil, de 1994 a 1997, Victor Giudice se destacou pelo companheirismo e pelo bom humor que marcava suas histórias. Os casos com que divertia seus colegas geralmente diziam respeito a duas de suas maiores paixões: os livros e a música.

Em 1995, foi agraciado com o Prêmio Jabuti pelos contos reunidos em "O Museu Darbot e outros mistérios", que recebeu o seguinte comentário da presidente da Academia Brasileira de Letras, a escritora Nélida Piñon: "Victor Giudice é um escritor contemporâneo completo. Sua busca por uma linguagem mais simples só prova que deixou de ser um escritor de vanguarda para se tornar um mestre. Já é um clássico." (Extraído do "Jornal do Brasil" , Segundo Caderno/1998).
Victor Giudice (1934-1997) nasceu em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro. Aos cinco anos de idade mudou-se para São Cristóvão, transformado, segundo a crítica, em seu "grande sertão ficcional" , onde viveu mais da metade de sua vida. Foi professor, bancário, jornalista, músico, ensaísta e crítico. A partir de 1968, intensificou suas atividades como escritor, tendo publicado seis livros: O necrológio (contos, Editora O Cruzeiro, 1972), Os banheiros (contos, Editora Codecri,1979), Bolero (romance, Editora Rocco, 1985), Salvador janta no Lamas (contos, Editora José Olympio, 1989), O museu Darbot e outros mistérios (contos, Editora Leviatã,1994) e O sétimo punhal (romance, Editora José Olympio, 1996).

Salvador janta no Lamas ganhou o Prêmio "Ficção 89", da Associação Paulista de Críticos de Arte. O museu Darbot e outros mistérios foi agraciado com a maior distinção literária do país, o Prêmio Jabuti, e foi lançado no Salão do Livro de Paris em 1998 (Le Musée Darbot et autres mystères, Editions Eulina Carvalho).

Para o teatro, escreveu Baile das sete máscaras, inédito, e o monólogo Ária de serviço, encenado pela atriz Bete Mendes, no Centro Cultural Banco do Brasil, em 1991. Compôs e executou ao vivo a trilha sonora da peça Prometeus, do Grupo Mergulho no Trágico.

Suas atividades como professor incluem, além de oficinas de criação literária, cursos de Introdução à Ópera, Wagner e Música Sinfônica, ministrados no Centro Cultural Banco do Brasil e em outras instituições. Participou das Rodas de Leitura, no CCBB, e na Casa da Leitura e viajou pelo país como conferencista.

Vários de seus contos foram publicados nos Estados Unidos, Argentina, México, Portugal, Alemanha, Hungria, Polônia, Bulgária, Tchecoslováquia. Uma de suas narrativas mais populares, O arquivo, foi o conto brasileiro mais publicado no exterior. Outro conto, Carta a Estocolmo, foi considerado, nos Estados Unidos, um dos quinze melhores trabalhos de ficção científica de 1983 e consta da antologia Antaeus (The Ecco Press, Nova York, 1983).

Publicou ensaios e resenhas no Jornal do Brasil, O Globo, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Suplemento Literário do Minas Gerais, etc. Durante três anos assinou a coluna Intervalo, especializada em música erudita, no Jornal do Brasil, tendo sido esta sua última atividade.

A editora José Olympio planeja a publicação de uma coleção que reunirá todos os seus contos. Do primeiro volume, programado para 1999, constarão O museu Darbot e outros mistérios e o romance inédito e inacabado Do catálogo de flores.

Texto publicado originalmente no livro "O Necrológio", Edições O Cruzeiro — Rio de Janeiro, 1972, foi incluído por Ítalo Moricone em sua seleção dos "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século", Editora Objetiva — Rio de Janeiro, 2000, pág. 382.


terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Proposta de Amor Possível



Rodolfo Pamplona Filho



Quando a tristeza, a solidão
e a angústia chegarem,
tente pensar na seguinte mensagem:
você não é só privação,
imobilidade, interdição,
frustração, impossibilidade.
Você é responsabilidade,
é amor pela família que formou,
mas é também coragem,
inspiração, amor,
desejo, explosão,
aventura e paixão.

E encontrou alguém
que ama seu ser
de um jeito tão forte também...
alguém que, como você,
quer pulsar, quer luzir,
quer vibrar, quer florir,
quer acariciar, quer beijar,
não quer machucar,
não quer ferir,
mesmo quando não sabe onde ir,
pois quer apenas viver,
de preferência, para você!

As contradições não me causam susto!
O que realmente me espantaria
é se você aceitasse, de forma fria,
tudo aquilo que repulso,
como a burrice, a preguiça,
a mediocridade da pura cobiça,
a pasteurização do não pensar,
do não duvidar, do achar
que o caminho do berço ao túmulo
pode ser reto, alvo, não acidentado,
de achar normal, e não um cúmulo,
andar sem uma marca ou pecado.

A gente é feito de dia e de noite,
luz e sombra, beijo e açoite,
de prazer e dor, sim e não,
de paz e de convulsão...
Eu admiro quem assume isso!
Por isso, deixa eu assumir o compromisso
de ser o seu amor possível, sua vontade,
a sua moça do sonho, a sua essência,
a sua parceira nas diversas realidades,
a musa do seu Poema da adolescência,
o seu fogo, o seu sexo, o seu tesâo,
seu porto seguro, sua loucura, a sua mansidão.

Salvador, 08 de dezembro de 2011.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

A saudade e a busca pela felicidade

João Vitor Alves


O que te faz feliz?
Você é feliz?
Quem lhe faz feliz?

É curioso notar como a distância aproxima,
como a saudade reanima...
faz ver o não visto!

Estar perto e longe,
próximo e distante,
permite ir adiante...
na busca pela felicidade!

Em qualquer idade,
a saudade responde...
ao que se entende por felicidade.

Salvador, 30 de novembro de 2011.