terça-feira, 30 de novembro de 2021

Pretos e pretas também sabem

 





(Negra Luz)


Pretos e pretas também sabem…

Sabem de sentimento, de dengo.

Sabem de chamego,

Alforriar-se dos próprios medos,

Entregar-se

E viver o amor.


Pretos e pretas também sabem…

Sabem de alegria e de festa.

Sabem de beijo na testa,

Namorar com delicadezas,

Acarinhar-se

E trazer rosas na mão.


As cicatrizes, ainda espessas, sangram

E, para muitos e muitas, é ferida recente!

Fruto de prática perversa...

Retintam o preto e a preta,

Nutrem a idéia de que preto e preta tem couraça,

De que vida de preto e de preta é ciclo sem fim de dor.


Das tintas impostas retiramos tudo,

Pretos e pretas são pretos e pretas 

E nossa pele não é couro.

O que foi chicoteado e sangrado foi o nosso escudo.

Ele é ancestral… Segue.

Os que não sobreviveram se integraram a ele,

Os sobreviventes foram mais fortalecidos,

 E, assim,

Pretos e pretas seguem….

E sabem

Amar!

Amar suas mulheres 

Seus maridos,

Seus filhos e filhas,

Suas famílias,

Seus amigos e amigas...


Talvez seja este o nosso maior ato de resistência:

Pretos e pretas saberem amar.

Saberem sorrir,

Saberem viver com alegria.

Saberem viver o amor.

E sabe por quê?

Na essência,

A nossa alma é alforriada!

Subjugaram, historicamente, os nossos corpos,

Mas, ainda que tenham investido na total desumanização de pretos e pretas,

Não alcançaram integralmente a liberdade

Do nosso coração,

Do nosso pensar,

Do nosso sentir.

E, assim,

Resistimos!

E, assim, a nossa resistência:

Pretos e pretas sabem

AMAR.

2 comentários:

  1. Linda poesia. Durante a sua leitura, nos traz as imagens, de uma forma subliminar, da dor da escravidão verso a liberdade de amar.

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  2. Estarmos felizes, nos amando, também são atos de resistência!

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