sábado, 24 de setembro de 2011

Ser Idoso

Ser Idoso

Rodolfo Pamplona Filho

Terceira idade
Melhor idade
Qualquer idade

Descobrir-se em um mundo
diferente daquele
que presenciou na infância.

Conhecer aparelhos
que seus descendentes
dominam desde criança.

Frequentar mais funerais que batizados
e ir a casamentos de pessoas,
que poderiam ter sido
seus pajens ou damas de honra...

Falar de remédios e dores
e não ser conversa desagradável...
Ou descrever certos horrores
não ser assunto impublicável...

Chamá-lo de tio, avô ou senhor
e não se incomodar com isso...
Ficar feliz ou envaidecido
quando é chamado de moço
ou quando se lembram
de feitos seus,
realizados há mais de uma década...

Viver o decurso do tempo...
que leva cabelos e traz peso,
mas propicia a sabedoria
e quilometragem da experiência...

Ser idoso não é bom ou ruim,
mas, sim, um estado de fato...
Tornar-se idoso é melhor, enfim,
do que perecer jovem no passado.

Salvador, 05 de maio de 2011.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Sobre a Vida e Rosas


Deitada aconchegadamente em minha cama, os pensamentos voaram tão depressa que nem ao menos consegui perceber como cheguei naquele ponto. Em minha mente se refaziam os momentos vividos, as juras proferidas e acima de tudo, toda a tristeza sentida. Foi então que em meus olhos se formou uma grande poça de lágrimas, que em segundo, caíram sobre minha face tornando minha feição assombrosa. Após breves minutos minha mente se cansara de relembrar toda aquela história e minhas pálpebras pediam ajuda, fechando-se involuntariamente. Foi então que cai em sono profundo, eu mal sentia o meu corpo, eu sequer entendia que estava dormindo. E então eis que surge meu passado-infeliz-e-macabro.
– “Porque tudo isso está acontecendo? É tão cruel comigo e por favor me deixe ir ou vá embora, eu te peço.”
– “Apenas segure em minha mão e deixe que te guie, assim como sempre fiz desde que cheguei em sua vida.”
E assim, eu o fiz. Deixei que ele me levasse para onde quer que fosse o lugar.
– “Isso é tão lindo, tão mágico. Esse lago tão azul celeste, essas flores tão perfumadas, esse céu com o pôr-do-sol mais bem pintado por Deus do que de todos os outros dias. E essas borboletas voando por aqui, o que é isso? É real? Posso tocar? Isso tudo é um sonho.”
– “Tudo isso é pra você e por você. Escolhi o melhor lugar pra te dizer tudo que está dentro de mim. E pedi aos cosmos que fizessem com que tudo desse certo.”
Meu coração começara a querer pular para fora de mim, era incontrolável aquela sensação de alegria que tomava todo o meu ser.
– “Então pequena...”
– “Antes que comece a falar, posso sentar-me ao lado desta rosa?”
– “Podes fazer tudo que quiser. Este lugar é seu, pedi que Deus fizesse para você. Cada canto tem um detalhe seu. Cada cheiro de cada rosa foi inspirado em você. E as borboletas é pra você se sentir em casa.”
Então, sentei-me do lado da mais bela rosa daquele imenso jardim. Era uma rosa meio pink-avermelhada e possui um perfume incomum.
– “Pequena, durante todo esse tempo eu ti fiz sofrer, eu sei... foi cruel, mas quero que me perdoe; eu ainda não conhecia esse mundo no qual estou hoje e sinceramente, não tinha certeza de todo aquele seu amor, pensava que era doença ou psicopatia; mas somente ao chegar neste paraíso que eu pude perceber que o teu sentimento por mim é sublime.”
– “Aonde você quer chegar com tudo isso?”
– “Só quero que entendas que aquilo tudo foi um pesadelo. E olha só, estamos nós dois juntos de novo. Eu vivendo para ti e tu vivendo para mim.”
Foi então que algum som externo atrapalhou todo o meu momento-surreal-quase-impossível.
– “Luma, luma... Acorde, você não vai acreditar no que aconteceu! Pelo amor de Deus, levante!”
Depois desse despertar importuno ouvi ele me dizer apenas uma frase:
– “Nunca mais me verás no mundo em que você se encontra. Terás que ir embora, de fato, para me ver mais uma vez. Eu te amo, a partir deste momento serei seu anjo de guarda.”

Luíse M. de Santana luise-ms@hotmail.com


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Em minha direção

Em minha direção
Malu Calado

Ele veio caminhando
Em minha direção
O semblante
Resolvido
Tive medo, estaria perdida?
O abraço forte
Retira o pânico
Mas o olhar resoluto
Aumenta a minha tensão
 
O amor, admiração
O saber quem é
A posição
Senti inveja da sua determinação
E eu vi uma imensidão de ser
Deixar-me atarantada
Zonza...
 
E eu, sem fazer idéia
Que a idéia que eu tinha
Daquele homem
Era tão real
Busquei toda a coragem
Para não ver a autoridade
Apenas bondade
Então
Coloquei a minha cabeça
Em seus ombros
E chorei...

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Vidas Paralelas

Vidas Paralelas

Rodolfo Pamplona Filho


É possível incorporar
duas pessoas
ao mesmo tempo?
Viver duas rotinas
completamente
independentes?
Ser alguém de um jeito,
mas também outro sujeito
amarrados em um nó perfeito?

Ter uma vida dupla
sem qualquer culpa
ou sinal de luta,
pois se é feliz também,
sem prejudicar ninguém
ou causar mal a quem
está em cada lado da moeda,
sem nem imaginar a queda
de uma história outrora certa.

Tudo se resume, enfim,
em visualizar de forma diversa
aquilo que outros acham o fim,
mas, para você, é outra conversa:
uma realidade alternativa,
sem desculpa amarela
ou necessidade de justificativa
por uma vida paralela.


Salvador, 15 de maio de 2011.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Quem sou eu?

Quem sou eu?
Malu Calado

Eu não sei ao certo,
mas estou buscando
a minha verdade de ser.

Às vezes me sinto perdida,
derretendo.
Outras me sinto forte,
pior que veneno.

Ainda não sei quem sou eu.
Vou construindo o mosaico
e buscando aprender coisas boas
para o deleite do meu espírito.

Alguns dizem quem eu sou
pelo olhar.
Tento organizar eu mesma,
sendo,
não o que dizem,
mas a minha verdade de ser.

Quero marcar um ponto,
ter alguma certeza,
um lugar para mim, em mim,
descobrir o meu mundo guardado,
encaixar as peças
para ver o sujeito que está,
e que não vejo.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O Império do Silêncio

O Império do Silêncio
Rodolfo Pamplona Filho


Essa noite, em especial,
em mim o silêncio impera...
como um túmulo ancestral, 
no qual a erva já se apodera.
Meu ar sucumbiu
como em um vento frio
e profundamente congelante,
que, em nenhum instante,
permite que meu coração clame inteiro
por esse amor verdadeiro,
que me joga nesse imenso desespero
de pensar em não mais tê-lo...
Preciso ficar muda
até que esta dor profunda
se dissipe com o vento
e não me traga mais tanto tormento...
Tamanho sofrimento e pesar
me lembra um único olhar
vivido tantos anos há,
que nunca pensei em novamente passar
E nesse choro abafado, sem dó,
o travesseiro será meu companheiro,
o único que nunca me deixou só
nem no pior pesadelo.
....meu olhar está triste,
calado em uma eternidade
que não sei se existe,
mas que quero ver realidade.


Salvador, 6 de Maio de 2011, e Praia do Forte, 15 de Maio de 2011.

domingo, 18 de setembro de 2011

Um pequeno relato sobre o amor...

"Um senhor de idade chegou num consultório médico, para fazer um curativo em sua mão onde havia um profundo corte. E muito apressado pediu urgência no atendimento, pois tinha um compromisso. O médico que o atendia, curioso perguntou o que tinha de tão urgente para fazer.
O simpático velhinho lhe disse que todas as manhãs ia visitar sua esposa que estava em um abrigo para idosos, com mal de alzheimer muito avançado.
O médico muito preocupado com o atraso do atendimento disse:
- Então hoje ela ficará muito preocupada com sua demora?
No que o senhor respondeu:
-Não, ela já não sabe quem eu sou. Há quase cinco anos que não me reconhece mais.
O médico então questionou:
- Mas então para que tanta pressa, e necessidade em estar com ela todas as manhãs, se ela já não o reconhece mais?
O velhinho então deu um sorriso e batendo de leve no ombro do médico respondeu:
-Ela não sabe quem eu sou.. .Mas eu sei muito bem quem ela é! "