terça-feira, 6 de setembro de 2011

BOM DIA AMIGO


BOM DIA AMIGO
*Por Marco Mendes
            Num dia desses em que nos sentimos vazios de amor e abandonados, decidi caminhar num parque próximo de casa. Tirei o terno e a gravata, vesti um velho tênis, bermuda e camiseta, coloquei um boné e sai de casa em busca de alguma coisa, um motivo qualquer. Era de manhã, o dia estava claro, repleto de nuvens brancas de outono pastando como carneiros no céu.
            Com a alma em frangalhos ingressei no parque pelos portões laterais que dão para um belo lago. Iniciei a caminhada no sentido anti-horário, contrário ao fluxo de pessoas que por ali caminhavam. Eu estava mesmo do avesso, do contra, sem chão e sem céu. As primeiras pessoas que cruzaram meu caminho, duas mulheres idosas, lançaram um breve cumprimento matinal:
            - Bom dia!
            Eu respondi ao cumprimento por educação, mas minha vontade era de continuar mudo e cego, focado em meus problemas inexprimíveis. Sem interromper a marcha prossegui reflexivo, quando logo mais adiante um senhor também lançou seu cumprimento:
            - Bom dia!
            Respondi por impulso e continuei em frente com passos rápidos. Durante os quase cinco mil metros percorridos pela pista, cercada de uma mata exuberante, repleta de espécimes de animais nativos, tucanos, araras e capivaras, todas as pessoas que passaram por mim me desejaram “bom dia”, mas mesmo assim sentia o dia péssimo.
            No final da caminhada, acho que melhor oxigenado pelo sangue que circulava fluentemente pelo meu corpo, uma voz interior interrogou-me:
            - Sente-se só meu amado? Cumprimentei-o tantas vezes? Vi palavras saindo de sua boca, mas de sua alma nenhuma expressão.
Senti um calafrio nesse momento. Haveria algo ou alguém que era comum a tudo aquilo que me rodeava, um ser único e indivisível que estivesse em todas as pessoas ao mesmo tempo, unipresente, capaz de travar uma conversa comigo? Deus falou comigo? Não sei dizer se era o Deus da Vida ou meu lado divino, mas alguma coisa me tocou profundamente naquele dia.
            Caminho nesse parque todos os dias, algumas pessoas me cumprimentam, mas nunca havia acontecido de todas as pessoas que encontrei terem me cumprimentado com um “bom dia”. Um sentimento de paz e acalento preencheu meu vazio. Afinal percebi que não estava só, apenas me sentia só. Renovado, como quem acabou de tomar um banho morno depois de um trabalho fatigante, gritei bem alto sobre as águas do lago do parque:
            - Bom dia a tudo que me rodeia, a todos os que me cumprimentaram!
            Voltei outras tantas vezes ao parque, mas nunca mais aconteceu aquilo, de todas as pessoas que cruzei me cumprimentarem. Mas não importa, eu sei que nunca estou sozinho. Daquele dia em diante, por onde passo, uso meu coração e minha boca para agradecer a vida, desejando a cada pessoa que encontro, um bom dia.

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