sábado, 25 de fevereiro de 2012

Sentido da Vida


Sensações

Sábado, 16 de Julho de 2011, 9:43, Malu Calado

O medo incomoda
O congelamento dos membros
O formigamento
Ao sair da letargia...

Sair da cômoda fantasia
Abrir mão da menina
Que agarrada
À demanda infantil
Faz uma bagunça
No inconsciente
Da mulher resistente

Respirar já é um alívio
Para quem fica sem ar
Só de pensar
Que um desejo
Pode se realizar

A emoção do desconhecido
É dolorosa, não é calma
O pensamento do correr
O risco
É apavorante

Mas nenhuma sensação
É mais prazerosa
Que a de sentir se
Útil...

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

ARMAR-SE DE AMOR

ARMAR-SE DE AMOR

Na guerra diária da vida
De mentiras gritadas e verdade escondida
Sorrisos traidores, choro velado
Lutas de homem-gente/animal
Há quem se municie de raiva, de força
Punhos fechados, dentes cerrados
... Prefiro armar-me de amor

Amor como uma pistola destravada
alimentada, carregada
pronta para atirar ao mais simples comando

Como uma granada a explodir
barulhenta, devastadora,
inconseqüente e arrasadora
sem deixar margem para fugir.

Um amor resistente e firme, à prova de balas
Não rápido como o percurso do projétil
mas paciente como o sábio investigador

Amor como o desvendar de um mistério
O descobrir do autor de um crime bárbaro
Como prender o suspeito mais perseguido

Amor como a união de uma algema
num encaixe perfeito, sintonia completa
que uma chave maldida só destrava se o quiser

Um desejo tão forte como o do preso à liberdade
Intenso como o bandido almeja o crime
Eterno como o combate ao que há de mal

Ser mira é um ato de coragem
Ser prisioneiro é a paz e liberdade
Ser uma vítima é, enfim, felicidade



Intervalo da aula de tiro, Academia de Polícia, Sergipe, agosto de 2006.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Soneto das Raízes Voadoras (para Debora Noal)

Soneto das Raízes Voadoras (para Debora Noal)

Rodolfo Pamplona Filho

Asas para voar
Raízes para voltar,
mas voadoras para levar
para qualquer lugar

Há muita gente no mundo
que está andando aí sem parar,
mas não percebeu o absurdo
de que viva não está...

Tudo que eu não posso carregar
não me pertence de verdade
mas tudo que eu posso dar

pode ser tão impactante
pois, para quem nunca sentiu amar,
um abraço é muito mais importante.

No vôo de Salvador
para Imperatriz-MA (via Brasília),
09 de novembro de 2011.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Caí no mundo e não sei como voltar

Caí no mundo e não sei como voltar
Eduardo Galeano

O que acontece comigo é que não consigo andar pelo mundo pegando coisas e trocando-as pelo modelo seguinte só por que alguém adicionou uma nova função ou a diminuiu um pouco…
Não faz muito, com minha mulher, lavávamos as fraldas dos filhos, pendurávamos na corda junto com outras roupinhas, passávamos, dobrávamos e as preparávamos para que voltassem a serem sujadas.
E eles, nossos nenês, apenas cresceram e tiveram seus próprios filhos se encarregaram de atirar tudo fora, incluindo as fraldas. Se entregaram, inescrupulosamente, às descartáveis!
Sim, já sei. À nossa geração sempre foi difícil jogar fora. Nem os defeituosos conseguíamos descartar! E, assim, andamos pelas ruas, guardando o muco no lenço de tecido, de bolso.
Nããão! Eu não digo que isto era melhor. O que digo é que, em algum momento, me distraí, caí do mundo e, agora, não sei por onde se volta.
O mais provável é que o de agora esteja bem, isto não discuto. O que acontece é que não consigo trocar os instrumentos musicais uma vez por ano, o celular a cada três meses ou o monitor do computador por todas as novidades.
Guardo os copos descartáveis! Lavo as luvas de látex que eram para usar uma só vez.
Os talheres de plástico convivem com os de aço inoxidável na gaveta dos talheres! É que venho de um tempo em que as coisas eram compradas para toda a vida!

E mais! Se compravam para a vida dos que vinham depois! A gente herdava relógios de parede, jogos de copas, vasilhas e até bacias de louça.
E acontece que em nosso nem tão longo matrimônio, tivemos mais cozinhas do que as que haviam em todo o bairro em minha infância, e trocamos de refrigerador três vezes.
Nos estão incomodando! Eu descobri! Fazem de propósito! Tudo se lasca, se gasta, se oxida, se quebra ou se consome em pouco tempo para que possamos trocar. Nada se arruma. O obsoleto é de fábrica.
Aonde estão os sapateiros fazendo meia-solas dos tênis Nike? Alguém viu algum colchoeiro encordoando colchões, casa por casa? Quem arruma as facas elétricas? O afiador ou o eletricista? Haverá teflon para os funileiros ou assentos de aviões para os talabarteiros?
Tudo se joga fora, tudo se descarta e, entretanto, produzimos mais e mais e mais lixo. Outro dia, li que se produziu mais lixo nos últimos 40 anos que em toda a história da humanidade.
Quem tem menos de 30 anos não vai acreditar: quando eu era pequeno, pela minha casa não passava o caminhão que recolhe o lixo! Eu juro! E tenho menos de … anos! Todos os descartáveis eram orgânicos e iam parar no galinheiro, aos patos ou aos coelhos (e não estou falando do século XVII). Não existia o plástico, nem o nylon. A borracha só víamos nas rodas dos autos e, as que não estavam rodando, as queimávamos na Festa de São João. Os poucos descartáveis que não eram comidos pelos animais, serviam de adubo ou se queimava…
Desse tempo venho eu. E não que tenha sido melhor…. É que não é fácil para uma pobre pessoa, que educaram com “guarde que alguma vez pode servir para alguma coisa”, mudar para o “compre e jogue fora que já vem um novo modelo”.
Troca-se de carro a cada 3 anos, no máximo, por que, caso contrário, és um pobretão. Ainda que o carro que tenhas esteja em bom estado… E precisamos viver endividados, eternamente, para pagar o novo!!! Mas… por amor de Deus!
Minha cabeça não resiste tanto. Agora, meus parentes e os filhos de meus amigos não só trocam de celular uma vez por semana, como, além disto, trocam o número, o endereço eletrônico e, até, o endereço real.
E a mim que me prepararam para viver com o mesmo número, a mesma mulher, e o mesmo nome (e vá que era um nome para trocar). Me educaram para guardar tudo. Tuuuudo! O que servia e o que não servia. Por que, algum dia, as coisas poderiam voltar a servir.
Acreditávamos em tudo. Sim , já sei, tivemos um grande problema: nunca nos explicaram que coisas poderiam servir e que coisas não. E no afã de guardar (por que éramos de acreditar), guardávamos até o umbigo de nosso primeiro filho, o dente do segundo, os cadernos do jardim de infância e não sei como não guardamos o primeiro cocô.
Como querem que entenda a essa gente que se descarta de seu celular a poucos meses de o comprar? Será que quando as coisas são conseguidas tão facilmente, não se valorizam e se tornam descartáveis com a mesma facilidade com que foram conseguidas?
Em casa tínhamos um móvel com quatro gavetas. A primeira gaveta era para as toalhas de mesa e os panos de prato, a segunda para os talheres e a terceira e a quarta para tudo o que não fosse toalha ou talheres. E guardávamos…
Como guardávamos! Tuudo! Guardávamos as tampinhas dos refrescos! Como, para quê? Fazíamos limpadores de calçadas, para colocar diante da porta para tirar o barro. Dobradas e enganchadas numa corda, se tornavam cortinas para os bares. Ao fim das aulas, lhes tirávamos a cortiça, as martelávamos e as pregávamos em uma tabuinha para fazer instrumentos para a festa de fim de ano da escola.
Tuudo guardávamos! Enquanto o mundo espremia o cérebro para inventar acendedores descartáveis ao término de seu tempo, inventávamos a recarga para acendedores descartáveis. E as Gillette – até partidas ao meio – se transformavam em apontadores por todo o tempo escolar. E nossas gavetas guardavam as chavezinhas das latas de sardinhas ou de corned-beef, na possibilidade de que alguma lata viesse sem sua chave.
E as pilhas! As pilhas das primeiras Spica passavam do congelador ao telhado da casa. Por que não sabíamos bem se se devia dar calor ou frio para que durassem um pouco mais. Não nos resignávamos que terminasse sua vida útil, não podíamos acreditar que algo vivesse menos do que um jasmim. As coisas não eram descartáveis. Eram guardáveis.
Os jornais!!! Serviam para tudo: para servir de forro para as botas de borracha, para por no piso nos dias de chuva e por sobre todas as coisa para enrolar.
Às vezes sabíamos alguma notícia lendo o jornal tirado de um pedaço de carne! E guardávamos o papel de alumínio dos chocolates e dos cigarros para fazer guias de enfeites de natal, e as páginas dos almanaques para fazer quadros, e os conta-gotas dos remédios para algum medicamento que não o trouxesse, e os fósforos usados por que podíamos acender uma boca de fogão (Volcán era a marca de um fogão que funcionava com gás de querosene) desde outra que estivesse acesa, e as caixas de sapatos se transformavam nos primeiros álbuns de fotos e os baralhos se reutilizavam, mesmo que faltasse alguma carta, com a inscrição a mão em um valete de espada que dizia “esta é um 4 de paus”.
As gavetas guardavam pedaços esquerdos de prendedores de roupa e o ganchinho de metal. Ao tempo esperavam somente pedaços direitos que esperavam a sua outra metade, para voltar outra vez a ser um prendedor completo.
Eu sei o que nos acontecia: nos custava muito declarar a morte de nossos objetos. Assim como hoje as novas gerações decidem ‘matá-los’ tão-logo aparentem deixar de ser úteis, aqueles tempos eram de não se declarar nada morto: nem a Walt Disney!!!
E quando nos venderam sorvetes em copinhos, cuja tampa se convertia em base, e nos disseram: ‘Comam o sorvete e depois joguem o copinho fora’, nós dizíamos que sim, mas, imagina que a tirávamos fora!!! As colocávamos a viver na estante dos copos e das taças. As latas de ervilhas e de pêssegos se transformavam em vasos e até telefones. As primeiras garrafas de plástico se transformaram em enfeites de duvidosa beleza. As caixas de ovos se converteram em depósitos de aquarelas, as tampas de garrafões em cinzeiros, as primeiras latas de cerveja em porta-lápis e as cortiças esperaram encontrar-se com uma garrafa.
E me mordo para não fazer um paralelo entre os valores que se descartam e os que preservávamos. Ah!!! Não vou fazer!!!
Morro por dizer que hoje não só os eletrodomésticos são descartáveis; também o matrimônio e até a amizade são descartáveis. Mas não cometerei a imprudência de comparar objetos com pessoas.
Me mordo para não falar da identidade que se vai perdendo, da memória coletiva que se vai descartando, do passado efêmero. Não vou fazer.
Não vou misturar os temas, não vou dizer que ao eterno tornaram caduco e ao caduco fizeram eterno.
Não vou dizer que aos velhos se declara a morte apenas começam a falhar em suas funções, que aos cônjuges se trocam por modelos mais novos, que as pessoas a que lhes falta alguma função se discrimina o que se valoriza aos mais bonitos, com brilhos, com brilhantina no cabelo e glamour.
Esta só é uma crônica que fala de fraldas e de celulares. Do contrário, se misturariam as coisas, teria que pensar seriamente em entregar à ‘bruxa’, como parte do pagamento de uma senhora com menos quilômetros e alguma função nova. Mas, como sou lento para transitar este mundo da reposição e corro o risco de que a ‘bruxa’ me ganhe a mão e seja eu o entregue…

Eduardo Hughes Galeano (Montevidéu, 3 de setembro de 1940) é um jornalista e escritor uruguaio. É autor de mais de quarenta livros, que já foram traduzidos em diversos idiomas. Suas obras transcendem gêneros ortodoxos, combinando ficção, jornalismo, análise política e História

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Regime

Regime

Rodolfo Pamplona Filho

Disciplina.
Sofrimento.
Sua sina
é seu intento.
Luta diária
com a balança:
Sentir-se um pária
em plena dança....

Determinação.
Desespero.
Auto-Flagelação.
Destempero.
Comemorar
cada perda como vitória
Chorar
cada ganho como escória.

Assumir a necessidade
de encarar um regime
é enfrentar a possibilidade
de se sentir praticando um crime...
é nunca tirar da mente
a sua almejada meta:
Tudo por causa somente
de uma bendita dieta!

Salvador, 14 de julho de 2011.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Boa intenção e má redação...

AVISOS PAROQUIAIS
São avisos fixados nas portas de igrejas, todos eles reais, escritos com muito
boa vontade e má redação.


AVISO AOS PAROQUIANOS
Para todos os que tenham filhos e não sabem, temos na paróquia uma área especial para crianças.



Quinta-feira que vem, às cinco da tarde, haverá uma reunião do grupo de mães. Todas as senhoras que desejem formar parte das mães,  devem dirigir-se ao escritório do pároco.



Interessados em participar do grupo de planejamento familiar, entrem pela porta de trás.



Na sexta-feira às sete, os meninos do Oratório farão uma representação da obra Hamlet, de Shakespeare, no salão da igreja. Toda a comunidade está convidada para tomar parte nesta tragédia.



Prezadas senhoras, não esqueçam a próxima venda para beneficência. É uma boa ocasião para se livrar das coisas inúteis que há na sua casa. Tragam os seus maridos!




Assunto da catequese de hoje: Jesus caminha sobre as águas.
Assunto da catequese de amanhã: Em busca de Jesus.



O coro dos maiores de sessenta anos vai ser suspenso durante o verão, com o agradecimento de toda a paróquia.




O mês de novembro finalizará com uma missa cantada por todos os defuntos da paróquia
.


O torneio de basquete das paróquias vai continuar com o jogo da próxima quarta-feira. Venham  nos aplaudir, vamos tentar derrotar o Cristo Rei!



O preço do curso sobre Oração e Jejum não inclui a comida.



Por favor, coloquem suas esmolas no envelope, junto com os defuntos que desejem que sejam lembrados
.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

DIA DE POESIA

DIA DE POESIA

Rodolfo Pamplona Filho

Hoje é Dia de Poesia.
Eu quero ver todos poetizando.
Eu não quero trabalhar!
Eu não quero estudar!
Eu não quero ser uma pessoa séria!

O juiz não julgará!
O professor não ensinará!
O juiz vai poetizar!
O professor vai poetizar!
Eu realmente quero viver!

Apenas a poesia faz a vida valer a pena...

Salvador, 25 de julho de 2011.