segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Eu me divirto com minhas próprias loucuras


Rodolfo Pamplona Filho

O nome da minha autobiografia
O meu estilo de vida
A minha profissão de fé
O que sou e o que me tornei
A minha perfeita definição
A minha genuína tradução
O meu verdadeiro eu
O que se define como meu
Eu me divirto com
minhas próprias loucuras...

Salvador, 15 de janeiro de 2013.

domingo, 30 de outubro de 2016

As cartas de Elohim


Ricardo Albuquerque

Elohim é um professor de filosofia, já aposentado, que acaba por perder a esposa, Graça, vitimada, de forma inesperada e abrupta, por um tumor implacável. Sem ter tempo (e direito) de chorar a morte “de sua graça”, o Professor Elohim carrega consigo uma tríplice responsabilidade, a tutela dos trigêmeos, seus netos, filhos de sua única filha, desaparecida, Vasti, que, após uma severa depressão pós-parto dos trigêmeos, empreende uma viagem ao exterior, mais precisamente, ao Noroeste da Espanha, em Santiago de Compostela, de onde se limitou ao envio de um único cartão postal, e, desde então, cinco longos anos passaram-se, sem sombra de notícias. Neste cenário, Elohim tenta recompor-se da perda da esposa, empreende esforços para descobrir o paradeiro da filha, e, com muito esmero, faz-se de pai e mãe dos trigêmeos, aos quais se doa com amor incondicional.  Retoma as aulas de filosofia na Universidade, para fazer frente à crise financeira que enfrenta. Porém, numa manhã qualquer, é surpreendido com um diagnóstico médico aterrorizante: um timoma -, um tipo de tumor maligno localizado no mediastino, região do tórax que fica entre os pulmões. Certo de que, em breve, perderá a luta em face deste cruel antagonista, Elohim passa a redigir cartas secretas, sobre diversos temas da vida, a fim de que os netos recebam as mesmas com constância religiosa, as quais, algumas delas, fazem parte desta coletânea nomeada de ‘As cartas de Elohim’.

sábado, 29 de outubro de 2016

Sensação Estranha


Rodolfo Pamplona Filho

Sensação estranha
é sentir, no peito,
a saudade do "hoje",
sem que tenha ido embora!

Sensação estranha
é olhar o horizonte
e imaginar viver
o que está do lado de lá!

Sensação estranha
é chorar pelo leite
que sequer se derramou,
pois nem ordenhado foi!

Sensação estranha...
Sensação estranha
Hoje ainda é ontem,
mas já parece amanhã...

12 de outubro de 2016, no voo para São Paulo.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Motivo


Cecilia Meireles

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Coisa de Novela


Rodolfo Pamplona Filho
Sempre achei
que amor eterno
era coisa de novela...
Sempre gostei
mais do frio do inverno
do que da flor da primavera
Sempre chorei
com finais felizes
de romances impossíveis
Sempre cantei
melodias tristes
de sofrimentos incontíveis
Até que surgiu você...
meu ar, minha água, minha comida
Até que surgiu você...
a maior surpresa da minha vida
Até que surgiu você...
a leveza de um outro caminho
Até que surgiu você...
a esperança de não estar sozinho.

21 de Outubro de 2016, no voo para Fortaleza.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Relacionamentos


Arnaldo Jabor


Sempre acho que namoro, casamento, romance, tem começo, meio e fim. Como tudo na vida.

Detesto quando escuto aquela conversa:
- Ah, terminei o namoro...
- Nossa, estavam juntos há tanto tempo...
- Cinco anos.... que pena... acabou...
- é... não deu certo...

Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou. E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.

Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.
Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?
E não temos essa coisa completa.

Às vezes ela é fiel, mas é devagar na cama.
Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.
Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.
Às vezes ela é muito bonita, mas não é sensível.
Tudo junto, não vamos encontrar.

Perceba qual o aspecto mais importante para você e invista nele.
Pele é um bicho traiçoeiro. Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.

E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...
Acho que o beijo é importante... e se o beijo bate... se joga... se não bate... mais um Martini, por favor... e vá dar uma volta.

Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer.

Não brigue, não ligue, não dê pití. Se a pessoa tá com dúvidas, problema dela, cabe a você esperar... ou não.

Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.
O ser humano não é absoluto.

Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta. Nada de drama.
Que graça tem alguém do seu lado sob pressão?

O legal é alguém que está com você, só por você. E vice-versa. Não fique com alguém por pena. Ou por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós.

Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.

Tem gente que pula de um romance para o outro. Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?

Gostar dói. Muitas vezes você vai sentir raiva, ciúmes, ódio, frustração... Faz parte. Você convive com outro ser, um outro mundo, um outro universo.

E nem sempre as coisas são como você gostaria que fosse... A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.

Se alguém vier com este papo, corra, afinal você não é terapeuta. Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.

Na vida e no amor, não temos garantias.
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar. Nem todo beijo é para romancear.
E nem todo sexo bom é para descartar... ou se apaixonar... ou se culpar...

Enfim...quem disse que ser adulto é fácil ????

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Surpresa


Rodolfo Pamplona Filho

Eu já havia desistido
de achar alguém parecido.
Eu já estava convencido
de que o mundo era finito...
de que não havia perfeição
na vida e na canção
mas, de repente, descubro
que posso ter outro rumo...
Eu não prometo ter
qualquer compromisso
Eu nem sequer cogito
rascunhar um plano bonito
Eu só quero viver
o momento de simplesmente ser
Eu só quero o prazer
de apenas estar com você.



21 de outubro de 2016, no voo para Fortaleza.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

ATITUDE SUSPEITA



Luis Fernando Veríssimo

Sempre me intriga a notícia de que alguém foi preso “em atitude suspeita”. É uma frase cheia de significados. Existiriam atitudes inocentes e atitudes duvidosas diante da vida e das coisas e qualquer um de nós estaria sujeito a, distraidamente, assumir uma atitude que dá cadeia!

— Delegado, prendemos este cidadão em atitude suspeita.

— Suspeita.

— Compreendo. Bom trabalho, rapazes. E o que é que ele alega?

— Diz que não estava fazendo nada e protestou contra a prisão.

— Hmm. Suspeitíssimo. Se fosse inocente não teria medo de vir dar explicações.

— Mas eu não tenho o que explicar! Sou inocente!

— É o que todos dizem, meu caro. A sua situação é preta. Temos ordem de limpara cidade de pessoas em atitudes suspeitas.

— Mas eu não só estava esperando o ônibus!

— Ele fingia que estava esperando um ônibus, delegado. Foi o que despertou a nossa suspeita.

— Ah! Aposto que não havia nem uma parada de ônibus por perto. Como é que ele explicou isso?

— Havia uma parada sim, delegado. O que confirmou a nossa suspeita. Ele obviamente escolheu uma parada de ônibus para fingir que espera o ônibus sem despertar suspeita.

— E o cara-de-pau ainda se declara inocente! Quer dizer que passava ônibus, passava ônibus e ele ali fingindo que o próximo é que era o dele? A gente vê cada uma…

— Não senhor, delegado. No primeiro ônibus que apareceu ela ia subir, mas nós agarramos ele primeiro.

— Era o meu ônibus, o ônibus que eu pego todos os dias para ir pra casa! Sou inocente!

— É a segunda vez que o senhor se declara inocente, o que é muito suspeito. Se é mesmo inocente, por que insistir tanto que é?

— E se eu me declarar culpado, o senhor vai me considerar inocente?

—Claro que não. Nenhum inocente se declara culpado, mas todo culpado se declara inocente. Se o senhor é tão inocente assim, por que estava tentando fugir?

— Fugir, como?

— Fugir no ônibus. Quando foi preso.

— Mas eu não tentava fugir. Era o meu ônibus, o que eu tomo sempre!

— Ora, meu amigo. O senhor pensa que alguém aqui é criança? O senhor estava fingindo que esperava um ônibus, em atitude suspeita, quando suspeitou destes dois agentes da lei ao seu lado. Tentou fugir e…

— Foi isso mesmo. Isso mesmo! Tentei fugir deles.

— Ah, uma confissão!

— Porque eles estavam em atitude suspeita, como o delegado acaba de dizer.

— O quê? Pense bem no que o senhor está dizendo. O senhor acusa estes dois agentes da lei de estarem em atitude suspeita?

— Acuso. Estavam fingindo que esperavam um ônibus e na verdade estavam me vigiando. Suspeitei da atitude deles e tentei fugir!

— Delegado…

— Calem-se! A conversa agora é outra. Como é que vocês querem que o público nos respeite se nós também andamos por aí em atitude suspeita? Temos que dar o exemplo. O cidadão pode ir embora. Está solto. Quanto a vocês…

— Delegado, com todo o respeito, achamos que esta atitude, mandando soltar um suspeito que confessou estar em atitude suspeita é um pouco…

— Um pouco? Um pouco?

— Suspeita.

domingo, 23 de outubro de 2016

sábado, 22 de outubro de 2016

QUADRILHA


Carlos Drummond de Andrade

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Graça


Rodolfo Pamplona Filho
Ela mora na Graça
De tudo, acha graça
Deus a fez cheia de graça
Tristeza para ela? Nem de graça!
A alegria nela sempre grassa!
Adivinhe seu nome?



Praia do Forte, 24 de fevereiro de 2013.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Tocando em frente


Ando devagar porque ja tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais...

Hoje me sinto mais forte
Mais feliz quem sabe?
Eu só levo a certeza do que muito pouco sei...
Ou nada sei...

Conhecer as manhãs e as manhãs...
O sabor das massas e das maçãs...
É preciso amor pra poder pulsar...
É preciso paz pra poder sorrir...
É preciso a chuva para florir...

Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente...
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada
Eu vou...estrada eu sou...

Conhecer as manhãs e as manhãs...
O sabor das massas e das maçãs...
É preciso amor pra poder pulsar...
É preciso paz pra poder sorrir...
É preciso a chuva para florir...

Todo o mundo ama um dia...todo o mundo chora..
Um dia agente chega..o outro vai embora..
Cada um de nos compoe a sua historia..
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz....

Conhecer as manhas e as manhãs...
O sabor das massas e das maçãs...
É preciso amor pra poder pulsar...
É preciso paz pra poder sorrir...
É preciso a chuva para florir...

Ando devagar porque ja tive pressa
E levo esse sorriso porque ja chorei demais...
Cada um de nos compoe a sua historia...
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz...de ser feliz...

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Amor de Carinho

Rodolfo Pamplona Filho

Queria eu
algo a mais
do que um abraço gostoso
ao sair do ninho.

Queria eu
um pouco mais
do que a sensação
de não estar sozinho.

Queria eu
um novo horizonte
para olhar adiante
do meu próprio caminho.

Queria eu
ouvir minha voz
mesmo no meio
de tanto burburinho.

Queria eu
uma nova oportunidade
para ir além
de um amor de carinho.

12 de outubro de 2016, no voo para São Paulo.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Ela Faz Cinema



Chico Buarque

Quando ela chora
Não sei se é dos olhos para fora
Não sei do que ri
Eu não sei se ela agora
Está fora de si
Ou se é o estilo de uma grande dama
Quando me encara e desata os cabelos
Não sei se ela está mesmo aqui
Quando se joga na minha cama

Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é a tal
Sei que ela pode ser mil
Mas não existe outra igual

Quando ela mente
Não sei se ela deveras sente
O que mente para mim
Serei eu meramente
Mais um personagem efêmero
Da sua trama
Quando vestida de preto
Dá-me um beijo seco
Prevejo meu fim
E a cada vez que o perdão
Me clama

Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é demais
Talvez nem me queira bem
Porém faz um bem que ninguém
Me faz

Eu não sei
Se ela sabe o que fez
Quando fez o meu peito
Cantar outra vez
Quando ela jura
Não sei por que Deus ela jura
Que tem coração
e quando o meu coração
Se inflama

Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é assim
Nunca será de ninguém
Porém eu não sei viver sem
E fim.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

A Perda da Inocência II



Rodolfo Pamplona Filho

Hoje, eu matei uma criança...
atirei, à queima-roupa, sem dó, nem piedade
no seu corpo de inocência, uma bala de realidade
no seu coração de pureza, uma facada da verdade
Dos seus sonhos, fiz escárnio
Dos seus planos, fiz ridículo
E rasguei sua esperança como papel de embrulho
Arranquei os seus olhos
Cortei sua garganta
E calei sua voz como uma vela que se apaga
Uma mente violentada
Um desejo reprimido
Um brinquedo destruído,
essa criança não existe?
Não é fênix, pois não renasce das cinzas
Não é Deus, pois não acreditam nela
Não é Mito, pois, de algum modo existiu.
Essa criança...
Essa criança...
Essa criança sou eu!

(20.01.92)

Feliz dia das Crianças!
Nunca matemos a criança dentro de nós!

domingo, 16 de outubro de 2016

Cristo enluarado


 Ricardo Albuquerque


A fotografia do luar do Rio de Janeiro. "O Cristo" próximo ao luar... Cristo que se faz luar. Clareia. Ilumina. Cintila.

Ele ilumina a lua... A lua o ilumina, na foto, acima, estampada...

Por isso a lua é dos enamorados, dos amigos, dos poetas, dos navegantes, dos pescadores, dos caminhantes... É estrela que faz-se de bússola. É senso de direção. Estrela da vida inteira, diz a voz da poesia em estado original... 

A lua tem um pouco de Cristo: brilha, resplandece e guia o caminhante, peregrino, apontando-lhe a direção correta.

E Cristo tem muito do luar: Cristo é luz do mundo, Estrela de máxima grandeza... O iluminador de caminhos: A resplandecente  estrela da manhã... E os que recebem dEle esta luz "de luar" são feitos lanterneiros de um reino que não é estabelecido nesta terra.

Estamos aqui, porém, daqui não somos...

Que Deus faça de ti um lanterneiro da luz dos luares. Lanterneiro de Cristo.


O luar tem muito de Cristo...

Cristo tem muito do luar...

sábado, 15 de outubro de 2016

Compartilhando Carinho de Criança

Rodolfo Pamplona Filho

Sem nojo, frescura ou receio
do convívio naquele meio
e do contato com o moribundo,
que não vive mais em seu mundo.
Mesmo sem as amarras sociais,
cuidar com um carinhoso talento
daquele que não tem tempo mais
e vive seu derradeiro momento
Ser simplesmente criança,
simbolizando toda a esperança,
até daquilo que nunca irá acontecer,
e conversar sobre o que fazer
e qual é a sua vontade,
que independe da idade
e de tudo que reprime
ou da dor que oprime...
E, sem precisar qualquer pedido,
abrir um largo sorriso,
que ilumina qualquer ambiente
e renova o brilho no olhar e na mente
de quem o destino já traçou
o fim de que, fugir, se tentou...



Santiago-Chile, 28 de junho de 2012.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

A um poeta



Antero de Quental

Tu que dormes, espírito sereno,

Posto à sombra dos cedros seculares,

Como um levita à sombra dos altares,

Longe da luta e do fragor terreno.



Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno

Afugentou as larvas tumulares...

Para surgir do seio desses mares

Um mundo novo espera só um aceno...



Escuta! É a grande voz das multidões!

São teus irmãos, que se erguem! São canções...

Mas de guerra... e são vozes de rebate!



Ergue-te, pois, soldado do Futuro,

E dos raios de luz do sonho puro,

Sonhador, faze espada de combate!

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Radicalizar ou Relativizar


Rodolfo Pamplona Filho

Radicalizar é assumir um papel,
não admitindo interferência
na sua visão ou postura.
Relativizar é aceitar concessões,
buscando composições
que criem novas soluções.

Radicalizar é ser extremo,
mantendo a pureza intacta
da sua ideia original.
Relativizar é ser temperado,
sabendo que há pontos
que se deve abrir mão.

Radicalizar é tudo ou nada,
partindo para o confronto
de quem se opuser.
Flexibilizar é meio termo,
chamando para o diálogo
até mesmo seu inimigo.

Radicalizar é certo ou errado,
em que a consciência do objetivo
ilumina o caminho da luta.
Flexibilizar é se conformar
que não dá para mudar tudo,
mas alguma mudança já é um avanço.

É possível flexibilizar a radicalidade
ou radicalizar a flexibilidade,
na medida em que a maturidade,
a estratégia e a necessidade
clamem por um resultado de pacificação,
pois a postura a tomar
deve ser sempre encontrar o lugar
onde se acomode o seu coração.

São Paulo, 17 de agosto de 2016, quarta-feira, na conexão de um voo para Vitoria/ES.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

O gládio



Ricardo Albuquerque 

Repetidas vezes temos encravado em nossa própria alma “os gládios”... Angústias que nos oprimem de diversas formas, razões (sem razões) e circunstâncias. Geram dores. A dor que nos afasta das consolações é, também, a que nos aproxima... Reaproxima. Após o caos do esvaziamento causado pelos tantos gládios lançados contra nós na arena... Surge, por Graça Divina, outra espada de dois gumes; de dois fios: viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. A PALAVRA é gládio que restaura; Espada que contribui para a reconstrução. Renova o pacto. Faz reviver a alma do fiel que luta na “arena” das tamanhas provações. Cristo é a palavra. Estrela da vida inteira. “No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus e o verbo era Deus. ”

Mesmo quando tudo, aparentemente, perdem-se. Quando as esperanças esvaem-se em vivo sangue, é nesta hora, que nos vem a ordem do Pai das Luzes: Estejam na sua garganta os altos louvores a Deus, e espada de dois fios nas suas mãos! O gládio da palavra vencerá o punhal pérfido e cortante do tentador que vos quer matar. As ruas e os muros se reedificarão. Sim. São tempos angustiosos, todavia, a espada de dois gumes vai trabalhar exaustivamente para todos quantos esperam e confiam NELA.

Os tempos difíceis e trabalhosos fazem parte dos ciclos de Deus. O gládio que nos fere tão profundamente, deixando lá, cicatrizes inapagáveis; irremediáveis; Contribui para nos fazer aptos, preparados para toda a boa obra. É um degrau a mais na escala da maturidade, aliás, todo novo degrau de maturidade é uma travessia. E toda a travessia comporta riscos, medos, traumas, sobressaltos, impressão de que não se vai conseguir concluí-la. Toda mudança constitui-se em morte e ressurreição. Para que a palavra de Cristo fosse multiplicada na aldeia de Betânia, foi preciso a própria palavra fazer enfermar a Lázaro, amigo de Cristo, e fazê-lo, igualmente, morrer. Para que após a ressurreição, a palavra de Cristo fosse propagada, anunciada, multiplicada! Aleluia. Aos que levam em si a marca de um plano eterno de Deus, a estes, não cabe (nem caberá jamais) a possibilidade de desistência, pois a palavra DELE cumprirá com tudo o que lhe apraz, e faz o bem no tempo oportuno, em que a justiça e a paz se beijarão... E, se Deus escolheu-te; escolheu-nos para sermos os próprios tabernáculos DELE, onde ELE habita, não temos, sequer, o direito de implodir os sagrados planos DELE. Os projetos do Eterno, os sonhos DELE em ti, em mim, serão cumpridos em Cristo. O gládio da palavra chegou hoje, fazendo cessar a marcha implacável do tentador contra ti, querendo saquear a fé perfeita em Deus, intentando que morras de saudade da paz e das consolações de Deus. Mas seja bendita esta mensagem que lhe anuncia a chegada da bendita palavra da liberdade! Caem as cadeias. Quebram portas e cadeias. Chegou o Mestre Divinal!

Lute... Lute... Empunhando o gládio da palavra. Sê tu o gladiador de Deus. Ninguém está autorizado a ofuscar o seu brilho, porque não é o teu brilho, mas o brilho é Cristo que em ti habita pela fé. Cessa hoje todo o entenebrecimento e a ordem da palavra de Cristo é clara: A sua alvorada! Esta mensagem soará aos ouvidos da alma tua como o toque de uma canção anunciando o raiar do sol! 

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Descanso

Rodolfo Pamplona Filho

Meu mundo amanheceu menos colorido,
mas com mais paz.
Ela finalmente descansou.
Meu mundo amanheceu menos divertido,
mas mais sereno.
Ela finalmente descansou.
Despedir-se é um ato inevitável,
para o qual nunca
estaremos preparados com calma
Chorar é uma consequência incontrolável,
mas que ajuda
a limpar os pensamentos e a alma.
Toda luta, um dia, chega ao fim.
Todo suspiro, um dia, tem de cessar.
Todo sofrimento também teria de passar...
Ficará apenas a saudade
e a lembrança de verdade...
de eu a carregar nos braços...
de fugir de meus amassos...
do colinho gostoso...
do corpo sempre cheiroso...
do apoio no segundo grau...
da torcida na minha prova oral...
da companhia no sanduíche...
do silêncio quando estava triste...
do cafuné estalando os dedos...
de querer cortar minha barba e cabelo...
de comprar roupas iguais à da neta...
de vibrar quando eu batia uma meta.
Meu mundo amanheceu menos completo
e ele nunca mais será o mesmo...
Ela finalmente descansou.

No vôo de São Paulo para Salvador, 8 de outubro de 2016.

domingo, 9 de outubro de 2016

A lista



Oswaldo Montenegro 

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!

Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria?

Quantos amigos você jogou fora
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer

Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você
Quantas canções que você não cantava
Hoje assovia pra sobreviver
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você
Faça uma lista de grandes amigos

Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você

sábado, 8 de outubro de 2016

Obra Conjunta


Rodolfo Pamplona Filho

Eu sei que vou te amar
Por una cabeza
Mi Buenos Aires querido
Broccolino
Payless shoes
Benadryl
Cien pesos
Dá-me una achuuuuuuuuuuta...

Peter e Petronio
Dedinhos cabeçudos
Joe e James
Dumbo, Larry e Ralph
O baígo e o bigo
são dois amigos
inseparáveis...
Lelelê... Tra-lá-lá...

Floresta de Savanas
Pecoço e Queixinho furadinho
Bochechinhas
Olhinhos rasgadinhos
Cabelo espetado
Cortar unha do pepé
Neneco
Tomar babanho
Mimí Casal Lego
Pininina
Periquito

Obra conjunta:
eis que tudo se junta
e forma uma família
e uma vida...

Salvador, 30 de setembro de 2016, 21 anos depois...

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Vencedor


Augusto dos Anjos

Toma as espadas rútilas, guerreiro,

E à rutilância das espadas, toma

A adaga de aço, o gládio de aço, e doma

Meu coração — estranho carniceiro!


Não podes?! Chama então presto o primeiro

E o mais possante gladiador de Roma.

E qual mais pronto, e qual mais presto assoma,

Nenhum pode domar o prisioneiro.


Meu coração triunfava nas arenas.

Veio depois de um domador de hienas

E outro mais, e, por fim, veio um atleta,



Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem...

E não pude domá-lo, enfim, ninguém,

Que ninguém doma um coração de poeta!"

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Para as Gerações Futuras




Rodolfo Pamplona Filho

Estamos em setembro de 2016
e não sabemos o limite da escassez.
Vivemos em um tempo de incertezas
do que sai da urna ou se tem na mesa,
na luta diária pelo que comer
ou simplesmente por sobreviver.

Estamos em setembro de 2016
e não sabemos o limite da sensatez
do que seja golpe ou exercício democrático,
do clamor ético ou chamado carismático,
na profunda vontade de compreender
se ainda ha um caminho a percorrer.

Estamos em setembro de 2016
e não sabemos se há limite na estupidez.
Vivemos tempos de bipolaridade
no sobrepujar da mídia sobre a verdade,
no poder da Informação ou manipulação
para linchamento de qualquer reputação.

Estamos em setembro de 2016
e não sabemos o limite da embriaguez
de quem comeu melado e se lambuzou,
de quem todos os pudores ultrapassou,
propugnando por proteção ou flexibilização,
com a simples máscara da modernização.

Estamos em setembro de 2016
e não sabemos o que o futuro nos fez.
Não sabemos o destino insondável
reservado para o nosso presente criança...
Ainda assim, o nosso único direito inalienável
sempre foi, é e será o de ter esperança.

Ilhéus, 23 de setembro de 2016.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Ganhei...


                                                                                                                      Ricardo Albuquerque

Ganhei de presente a lua...

Não uma lua desenhada, no quadro negro, com giz, que se apaga com o passar de qualquer dedo...

Ganhei, de presente, a lua... Ela. Toda ela. Imensa. Prateada. Como bandeira hasteada e entronizada nos céus dos impossíveis.

A lua, nunca dantes povoada, agora me foi doada como por capitania hereditária... Mas não dividiram a lua em frações igualitárias, deram-me, ela toda, na sua inteireza. Toda minha, para sucumbir toda a tristeza... Conferindo-me leveza, e, ainda, faz-me lembrar de Tereza, Dona Tereza, Tia Tereza, Professora Tereza, minha mãe.

A lua, que ganhei de presente, é peça única, singular, e funciona diuturnamente, dispensando a substituição de baterias, e, sobrevindo um apagão, um big ou bang, ela estará lá, entronizada, nos céus dos impossíveis, funcionando perfeitamente, quanto todos os abajoures estiverem ensimesmados em sombras, apagados, invalidados pelo apagão ou pela simples economia de custos, a lua, que ganhei de presente, continuará no pódio, iluminada, refletindo a luz que inspira... Mesmo desligada da tomada.

A lua, que ganhei de presente, é de fases, tal qual um passatempo que te desafia a vencer a fase presente para adentrar-se numa outra fase, até então, inédita. O ser humano tem predileção pelo inédito. Esta lua me dá lições, sem, contudo, dizê-las. Diz sem falar. Não verbaliza. A lua, que eu ganhei de presente, emudecida e prateada, ensina-me a não desistir da minha fase, pois uma outra fase, subsequente, melhor e mais clara, há de vir, e não tarda a vir.

A lua, que eu ganhei de presente, possui regramento próprio: o seu manual de instruções são folhas avulsas, soltas, esvoaçantes, e estão nas alturas, nas alturas de Deus, que como a lua, está vestido de glória e de majestade. Ele se cobre de luz como de um vestido... As regras da minha lua foram escritas, delineadas, pelo Hábil Arquiteto que rabiscou-a no pergaminho do tempo, na roda criadora do gênesis, e ela já era lua, antes de ser lua, quando o Eterno, ainda, a rabiscava, pois tudo quanto Deus quer, simplesmente é. E soprou Deus no projeto da lua, e fez-se lua...

Possui um ciclo completo de fases: a isto se chamou lunação – período em que a sua porção visível e iluminada passa a aumentar gradualmente até fazer-se lua cheia. Repleta. Transbordante. Por intermédio das regras desta lunação, a minha lua, me faz não desistir, se hoje, a porção iluminada do caminho meu seja tão rasa, quase imperceptível, como na fase minguante ou nova, desta minha lua. Ela me conduz ao aguardamento do tempo da minha lunação, momento este no qual o ciclo será completo, então serei/serás/seremos repletos de luz, em toda a circunferência da vida nossa.

Ah... a lua, que ganhei de presente, prepara espetáculos enluarados. Ela organiza os seus saraus. A minha lua é tema recorrente nas canções de tantos: “Não há, oh gente, oh não, luar como este do sertão”. Ah... o luar do sertão. Outro poeta, utilizou-se da figura da minha lua, esta que eu ganhei de presente, olhando para o céu de Santo Amaro, lá na Bahia do meu Brasil, e cantou a imensidão das estrelas (e da lua) e o universo e a força do amor nos que amam, verdadeiramente amam...

A lua, que ganhei... me foi doada, de papel passado, em escritura caligrafada às custas de um tinteiro rubro, em um pergaminho simples: simplíssimo, cândido, quase pueril, tal qual o desenho de um infante em papel de pão. A escritura, que me confere propriedade desta minha lua, pois a posse todos tem, ao olharem para ela em noite enluarada, já disse, é simples, destituída de muitos artigos ou parágrafos difíceis de entender. É escritura auto interpretável. Ela há de ser minha e de todos quantos, dela necessitarem, para cantar o amor...

Veio pelas mãos de um amigo, que, por certo, a havia recebido, por herança, de outro alguém, igualmente, tão querido. Por isso falo desta minha capitania hereditária, que recebo, em papel amassado de pão cotidiano, escritura que vem entremeada dentro de um tubo, como se fora diploma de um graduando, desenrolo, agora, tal documento, todo escrito com letra de mão, humanizado, já que a lua humaniza. Documento todo escrito às custas de uma caneta tinteiro, de vermelha tinta, e que outra cor designaria tão bem o amor e a doação de luas e universos, senão a tinta carmesim, purpúrea, rubra e vermelhenta? Há, tão somente, uma ressalva, deverei, igualmente, doá-la em nome da poesia, do amor, das canções e orações.

A lua, que ganhei de presente, sempre obedeceu ao mandado daquele que vive para sempre. O mandado de Elohim... Esta minha lua esteve presente nos sonhos de José, filho de Jacó, ainda menino, aos dezessete anos, quando, ainda, apascentava as ovelhas do seu pai... sonhava o menino... no sonho o sol, a lua e onze estrelas se inclinavam a ele... A minha lua, presente, na promessa de exaltação do menino José, que chegaria a governar todo o Egito... Esta minha lua, noutra oportunidade, e, também, o sol, foram detidos, pela ordem de Deus na boca de Josué. O sol se deteve, e a lua parou, até que o povo de Deus se vingasse de seus inimigos.

A lua, que ganhei de presente, cabe no meu bolso, no alcance dos olhos ou nos movimentos uniformes da pena do poeta... “A pena de um destro escritor”

A lua, que ganhei de presente, ganhei-a de um amigo... Que munido de um binóculo, que não é vendável nas lojas de artigos do gênero, enxergou-me silente e só. E este meu amigo, doador, desta minha lua, viu-me, lá de longe, assistiu-me, quando eu tocava o meu violão plangente e choroso, e escrevia memórias... Ganhei-a de um amigo, a minha lua, a nossa lua, prateada, que alta vive, e não sabe fazer outra coisa a não ser iluminar, causando-me um certo renascimento, e porque cativar significa criar laços: eternos e indeléveis. Ninguém mais apaga o brilho desta minha lua, tampouco, inutiliza a escritura desta doação...

Ah... a lua que ganhei de presente...

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Opressor Oprimido


Rodolfo Pamplona Filho

Reconhecer, em si, o mal
Maltrata
Maldiz
Molesta

Descobrir-se opressor
oprime
deprime
machuca

Declarar-se ser
não é suficiente
não é inteligente
não é sequer coerente

Desejar estar ao lado
não é saber
não é viver
não basta

Olhar a si e ao mundo com outros olhos
é a alternativa ao suicídio
é a reconstrução da própria história
é a única esperança da humanidade.

Quarta-feira, 17 de agosto de 2016,  literalmente no voo para Vitória/ ES

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Sofre, poeta!


Ricardo Albuquerque

Oh poeta, que a inexpugnável força de Elohim continue sendo a sustentação do teu verso, mesmo que em oceano bravio estejas imerso...

Sofre, poeta!

Por entre as grades da masmorra, que detém-te, sopra palavras ao vento, poesias em celeste vôo, aptas a pacificar corações...

Sofre, poeta!

Suporta as sombras do teu claustro, feito um beneditino, resignado à sina que lhe foi oferecida, ou, sem que ele saiba, imposta. Talvez a resignação do beneditino seja uma pena imposta, celeste, que ele mesmo julga ter sido dele a escolha, mas a imposição vem do alto: Faça-te em verso e prosa no teu claustro...

Sofre, poeta!

Lança o teu pão sobre as águas, e, depois de muitos dias o acharás. Reparte com sete ou setecentos, a sua poesia, que será como o cesto de pães e de peixes, no milagre da multiplicação, sempre haverá pão ao alcance das tuas mãos, e peixe na altura do teu coração, então, pão e peixe far-se-ão poesia em ti. Não a deixe...

Sofre, poeta!

A poesia alada, produzida pela sua alma, parturiente, e que se faz elixir medicamentoso a todos os que te ouvem ou te lêem, esta mesma poesia, será o teu pão, o teu chão, regressando a ti, curando-te, então, fazendo-te são...

Sofre, poeta!

És o vaso de alabastro. O emplastro que sara dores, de um mundo, já, tão senil. Sê juvenil. Carrega o teu cântaro. O cântaro das suas inspirações. Suporta o peso. Jamais te verás ileso: de dor e nem de amor. És poeta. Reparte...

Sofre, poeta

domingo, 2 de outubro de 2016

O frio sociopata


Rodolfo Pamplona Filho


O frio sociopata
foi posto de lado
por um forte senso
de pura empatia.
As emoções ruins
se avolumando
à medida em que
fluem as recordações...
Memórias do homem
que, um dia, eu fui...
e de tudo que fiz.
Lembranças de morte
e do prazer de
causar sofrimento.
Corpo se retorcendo
enquanto eu gargalhava...
enquanto eu tentava
sentir alguma coisa.
Se antes eu só queria
partilhar minha dor
com o mundo,
agora, tenho o desejo
de ajudar os outros
a se livrar definitivamente
de seus tormentos.
Pessoas podres
não sabem que
assim o são...
nunca se dão conta...
A mente humana
pode racionalizar
quase tudo.
No fundo, seres humanos
são centrados
em si mesmos.
É algo enraizado,
difícil mesmo de admitir.
É mais fácil elaborar
uma explicação fantasiosa,
em que nos vemos como heróis...
Uma narrativa pessoal
em que não importa
como se obtém
o que se quer...
contanto que
se obtenha...
Isso é vilania.
É a face horrenda,
que não para de emergir
de cada um de nós...
Por isso, eu me arrependo
e pretendo ser um exemplo
para enfrentar esses ímpetos,
inspirar quem observa
e realmente mudar o mundo,
mostrando que é possível
se superar e ser melhor,
sobrepujando o passado
e encontrando motivação
para contemplar além
dos olhos ensandecidos
da fera que fui...

No avião de Boston para Miami, em 01 de julho de 2016, refletindo sobre o final do Eixo...

sábado, 1 de outubro de 2016

Soneto da Fidelidade


Vinícius de Moraes

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.