sexta-feira, 4 de março de 2011

CHAMA QUE AFUGENTA

CHAMA QUE AFUGENTA



Já não mais suporto essa chama que me aquece.
A mesma que me entristece, lançando-me,
vergonhosamente, às masmorras da solidão.
Quem ama nunca esquece o quanto se padece
quando derretem os pulsos de quem viveu sem dar perdão.




É uma pena que essa brisa que se eterniza
seja apenas uma lânguida benesse,
cujo frágil sopro me enlouquece por tentar debelar, inutilmente,
a labareda que, ainda que quisesse,
nunca me traria de volta o sorriso que se foi em vão.




Ergo meus olhos. Equalizo meus ombros.
E, com tremendo esforço, ouso ainda sugar aquele esperançoso fio de ar
que, insistentemente, paira no alto da janela,
sem me aperceber que, no fundo,
essa aprazível viração, ainda que quisesse,
jamais me despertaria do sono que vivo desde então.




Frustrou-me o desiderato. Abateu-me o meu semblante.
Sinto o açoite dessa queimadura cuja cálida textura
contrasta com o frescor pueril que, ingenuamente,
desejei um dia sorver e que, ainda que quisesse,
jamais me sararia dessa dor que abrasa o coração.




O que fazer se minha pele já não mais se aguenta?
É que quanto mais sopra o vento que me refresca,
mais cresce a chama que me desorienta.
Diga-me, então: numa hora dessas, o que é que se faz?!
Porque essa chama, ainda que quisesse,
já não mais me aquece. Nunca mais!
Ela agora me afugenta.
Expondo-me, friamente, às insensíveis brasas da emoção...

Ney Maranhão



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