quarta-feira, 31 de agosto de 2011

FOGO E SONHO

FOGO E SONHO





Visando sair das trevas, das cavernas.


No início da civilização, a humanidade


Solicitou auxílio e proteção das Divindades.


Para andar sobre suas próprias pernas.




 

O homem foi atendido duplamente:


O fogo concedeu-lhe Prometeu;


O sonho estendeu-lhe Morfeu.


Estes dons expandiram-lhe a mente.





Fogo e sonho, chamas da esperança,


Abriram caminho para a bonança,


Para novas e emocionantes conquistas.





Estes dons, não se perca de vista,


Exigem harmonia entre matéria


E alma, para a perfeita ascese etérea.





(Paulo Basílio – 25/04/2011)

terça-feira, 30 de agosto de 2011

decisão judicial em verso

Desembargadora alivia dor de mãe ao negar pedido de indenização em estilo de verso

A magistrada elaborou o relatório em estilo de verso, reconhecendo a dor da mãe reclamante pela perda de um filho vítima de morte acidental no canteiro de obras da Usina de Jirau
A desembargadora do trabalho Maria Cesarineide Lima, membro da 1ª Turma Recursal do Tribunal Regional da 14ª Região, é autora de um voto inédito manifestado num processo judicial em 25 anos de história do Regional. A magistrada elaborou o relatório em estilo de verso, reconhecendo a dor da mãe reclamante pela perda de um filho vítima de morte acidental no canteiro de obras da Usina de Jirau.

Mesmo negando a pretensão de indenização por danos morais e materiais pela falta de comprovação do “nexo” com a causa do acidente, requerido pela mãe do operário, a desembargadora reconhece a dor da mãe da vítima e encerra o relatório em estilo de verso.

Maria Cesarineide Lima ao analisou a sentença do Juízo da 8ª Vara do Trabalho de Porto Velho e documentos apresentados pela reclamante - mãe da vítima -, e os contra argumentos apresentados pelas empresas Miranda Filho Construções Ltda, Energia Sustentável do Brasil S/A e Construtora B.S. S/A, se convencendo de que os empregadores atenderam todas as exigências legais quanto ao fornecimento de EPI - Equipamento de Proteção Individual -, além da comprovação da total assistência prestada ao operário.

De acordo com os documentos juntados ao processo, foi comprovado que o trabalhador se envolvera na noite anterior ao acidente em uma briga fora do canteiro de obras, de cujo incidente teria saído com várias lesões, fato que teria agravado seu estado de saúde e contribuído para o acidente no canteiro de obras.

Como juíza e mãe, a desembargadora teve que decidir com amparo na norma legal, mas a dor daquela mãe jovem trabalhador tocou profundamente a magistrada, que manifestou seu voto em forma de verso:
Dói em mim, como relatora,
ter que lhe dizer,
mãe recorrente,
que a decisão monocrática,
infelizmente,
não há como reformar,
uma vez que não há nos autos elementos probatórios
que possam comprovar o alegado em seu petitório.
Não! Não pense que a juíza de primeiro grau,
que também é filha,
ou nós, juízes integrantes da 1.ª Turma deste Regional,
que somos também pais,
sejamos insensíveis, frios ou máquinas de dizer o direito.
Não! Não é essa a nossa trilha,
pois, além das leis dos homens, também rogamos a Deus sabedoria.
Todavia, não temos o dom para curar todos as males, todos os ais...
Somos apenas seres humanos,
cuja missão, embora vocacionada,
é árdua, é espinhosa,
e necessita, ao julgar,
ouvir, não apenas uma, mas todas as vozes que constam de um processo.
E sendo sabedores de sua imensa dor,
pois, como disse Giuseppe Ghiaroni
“perder o filho é como achar a morte,
perder o filho quando grande e forte,
quando já podia ampará-la e compensá-la,”
recorremos nós, julgadores,
mediante o recurso da oração,
à Mãe de Deus,
que assim como você, mãe recorrente,
perdeu seu filho Jesus tão precocemente.
Que Ela possa aliviar os seus sofrimentos,
ó mãe sofredora,
E com você atravessar esse vale da morte,
tornando-lhe uma mulher ainda mais aguerrida,
mais forte, apesar da dor e da saudade
que habitam seu coração,
que não calam no seu peito.
Entretanto, você precisa seguir em frente,
enxugue o pranto, saia do leito,
há outros filhos que necessitam dos seus feitos,
de sua devoção.
Que Deus lhe proteja, mãe recorrente,
Em todos os caminhos desta vida.
Às vezes sofrida,
mas, sempre querida,
E que Ele cure as suas mágoas, suas feridas.


(Processo n. 0000749-32.2010.5.14.0008)
Ascom TRT 14

Fonte: www.tudorondonia.com
Assessoria de Comunicação/SJRO


__._,_.___

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Aprendiz da Vida

Aprendiz da Vida

Rodolfo Pamplona Filho
Não faz sentido
ter medo de tentar,
muito menos
receio de arriscar,
quando a cara à tapa dar
é apenas uma chance a enfrentar...

O que, para muitos é crise,
para mim, é oportunidade.
O que, para muitos é grandeza,
para mim, é necessidade.
O que, para muitos é erro,
para mim, é aprendizado!
O que, para muitos é sonho,
para mim, é projeto realizado!

Eu quero mais!
Eu quero aprender!
Eu quero conhecer tudo
que a vida me permitir!
Por isso, jamais abrirei mão
de ser aquele que nunca diz não
para tudo que importar em nova lida
e em ser eternamente aprendiz da vida!

Salvador, 26 de abril de 2011.

domingo, 28 de agosto de 2011

Sophia de Mello Breyner Andresen

A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa

Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.

Retrato de uma princesa desconhecida

Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos

Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino

AUSÊNCIA

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Hora

Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta --- por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.

Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.

E dormem mil gestos nos meus dedos.

Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.

Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.

E de novo caminho para o mar.

Poema

A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará

Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento

A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto

Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento

E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada

http://www.maricell.com.br/sophiandresen/sophia_m_b_andresen.htm

sábado, 27 de agosto de 2011

Soneto do Amor Psicológico (para o Dia do Psicólogo)



Soneto do Amor Psicológico

Rodolfo Pamplona Filho
Um dia, quero Jung com você, sim,
mesmo que nunca deixe Lacan,
para que, meu coração, assim
permaneça sempre no divã...

Eu não quero Freud com você,
mas Mellman amarrar a seu corpo,
na busca paranóica do prazer
ou de resposta para um mundo torto.

Complexo, Trauma, Psicose,
Obsessão, Histeria, Neurose,
Só você me cura da tendência suicida

de pensar que o mundo gira
em torno do desejo ou da fantasia
de ter você para o resto da vida!
Salvador, 15 de fevereiro de 2011.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Execução de Entrega de Coisa Certa e Incerta


Execução de Entrega de Coisa Certa e Incerta




A entrega de coisa certa

Dá-se de duas formas:

Com base em título judicial

Como uma segunda fase do processo

Mas não é autônomo afinal



Extrajudicial é a outra forma

O qual pode ser repartido

É um verdadeiro processo autônomo

A ser em 3 fases dividido



A petição inicial deve ser apresentada

Contando toda a história

Sem esquecer-se de anexar o título

É a chamada fase Postulatória



Agora vem a parte do desenvolvimento

Cada ação é com rigor julgada

Num prazo único de dez dias

Fase Instrutória ela é chamada



Ao ser citado o executado

Deve a coisa ele entregar

O juiz proferirá então a sentença

E o processo extinto estará



Optando pela coisa depositar

Um termo deverá ser lavrado

Ficando a coisa a disposição do juízo

Enquanto o embargo não for julgado



Se no prazo de dez dias

O executado nada fizer

Um mandado será expedido

Uma busca e apreensão ou imissão na posse

Ou pagamento de multa pela lei instituído



Estando a coisa em posse de terceiro

Em suas mãos será buscada

Mas este não será ouvido de imediato

Só depois da coisa depositada





Não sendo a coisa entregue

Ou esteja ela deteriorada

Receberá o demandante a pecúnia

Além do dano e perda apurada



Tendo feito indenizáveis benfeitorias

Antes da liquidação ninguém receberá o valor

Verificar-se-á quem o deve depositar

Se o credor ou devedor



Chega a fase Satisfativa

É pois o fim do processo

Inúmeras são as hipóteses

Para chegar ao fim com sucesso



Julgado procedente o embargo

Será restituída a coisa ao executado

É deveras um desfecho anormal

Não é bem um procedimento ordinário

Pois não tem a satisfação do crédito no final



Não pretendo nesses versos me estender

Por isso da coisa incerta vou falar

Ela tem uma incerteza relativa

Podendo o gênero ou quantidade a determinar



Essa escolha no título executivo deve estar

Se o direito é ou não do credor

Mas se omisso porém ele estiver

O direito caberá ao devedor



E para finalizar

Gostaria de fazer um alerta:

Prestem atenção ao entrar com a execução

Para não pedir coisa certa como incerta.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Sobre a amizade

O Tempo passa.
A vida acontece.
A distância separa...
As crianças crescem.
...Os empregos vão e vêem.
O amor se transforma em afeto.
As pessoas não fazem o que deveriam fazer.
O coração para sem avisar.
Os pais morrem.
Os colegas esquecem os favores.
As carreiras terminam.
Mas os verdadeiros amigos estão lá, não importa quanto tempo nem quantos quilômetros tenham afastado vocês.

(autor desconhecido)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Gatilho

Gatilho

Letra e Música: Rodolfo Pamplona Filho
Durante muito tempo, eu me escondi
e sublimei toda a energia do meu ser.
Procurei direcionar para boas coisas,
mas castrei meus sonhos sem perceber...

Foi aí que você surgiu...
Bagunçando toda a ordem que eu pensava ter,
me mostrando um mundo que só ouvia falar,
mas que você me permitiu entrar...


Você é...
meu gatilho, disparando tudo que tinha reprimido...
minha enzima, fazendo com que reaja...
minha musa, que me faz sentir vivo...
minha alma, que nunca mais se cala...

E eu pensava que era feliz,
organizando uma rotina como diretriz,
sem saber que havia muito mais que isso...
havia mais que a promessa do paraíso

Não sei por onde foi que você andou,
mas descobri uma nova esperança
neste repensar do amor,
neste belo exemplar de mudança...

Você é...
meu gatilho, disparando tudo que tinha reprimido...
minha enzima, fazendo com que reaja...
minha musa, que me faz sentir vivo...
minha alma, que nunca mais se cala...

Salvador, 15 de janeiro de 2011.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Dercy Gonçalves no céu

Dercy Gonçalves no céu

- Porra, tá frio aqui em cima.
- O céu não tem temperatura, minha senhora – pondera um porteiro celestial de plantão..
- Não tem o cacête. Tá frio sim senhor – insiste Dercy.
- Prefere o inferno? Lá é mais quentinho!
- Manda tua mãe pra lá. Cadê o Pedro?
- Pedro só atende aos purificados.
- E eu tô suja por acaso? Tô cagada, esporrada?
- Você primeiro tem que passar pelo purgatório, ajustar umas continhas…
- Não devo nada a viado nenhum..
- Você foi muito sapeca lá por baixo.
- Como é que você sabe? Andava escondido debaixo das minhas saias?
- Dercy, daqui de cima a gente vê tudo.
- Vê porra nenhuma. Vê a pobreza, a violência, meninas de 4 anos sendo estupradas pelos pais, político metendo a mão no dinheiro dos pobres, carinha cheirando até bosta pra ficar doidão? O que vocês vêem? Só me viam?
- Você fala muito palavrão.
- Eu sempre disse que o palavrão estava na cabeça de quem escutava.
Palavrão é a fome, a falta de moral destes caras que pensam que o mundo é deles. Esses goelas grandes e seus assessores laranjas, tangerinas e o cacête!
- Está vendo? Outro palavrão.
- Cacête é palavrão, seu porteiro do caralho? Palavrão é a Puta Que o Pariu!
(silêncio por alguns segundos)
- Seja bem vinda Dercy. Sou Pedro. Pode entrar.
- CARAAAAAALHO!!! Não é que eu morri mesmo?!!! Vou p/o purgatório????
- Não, pelo purgatório você já passou 101 anos, no Brasil. Venha descansar!!!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Comodidade e Necessidade

Comodidade e Necessidade

Rodolfo Pamplona Filho
O que se quer da vida?
O que movimenta a existência?
O que faz levantar todo dia
e lutar pela sobrevivência?

Comodidade ou Necessidade

O que faz alguém tomar decisões?
O que alimenta ou fulmina paixões?
O que impede que se reaja
com uma bala a quem nos maltrata?

Comodidade ou Necessidade

O que reprime nossos impulsos?
O que castra nossos desejos?
O que tacha de impuros
nossos medos e devaneios?

Comodidade ou Necessidade

Comodidade ou Necessidade
são o combustível infalível
em qualquer etapa ou idade,
contra o qual não há impossível,
pois se abre mão da bondade,
mas não do factível.
Salvador, 12 de janeiro de 2011.

domingo, 21 de agosto de 2011

Quando se perde alguem especial!

 
Quando se perde alguem especial!

Quando se perde alguém especial
Perde-se o sentido do horizonte
Você fica na vertical anestesiado de tanta saudade
As lágrimas escorregam como chuvas de verão
E a pergunta é constante na mente
Onde erramos o caminho do coração de quem se ama
Não importa quem seja esse alguém
O que importa era que essa pessoa fazia parte de você
Era especial demais em sua vida
E não teve nem tempo de dizer o quanto a amava
Que sente sua falta
Sente falta do som dos seus passos, do assobio
Da bagunça que deixava em sua vida
O Horizonte se foi e essa perda
De quem era sua luz
Dói demasiadamente, que o coração
Fecha-se por uns tempos curtindo sua própria solidão

Teca/ Poetisa de Gaia

sábado, 20 de agosto de 2011

FAÇO-ME CRIANÇA

FAÇO-ME CRIANÇA

Para Leonardo.


Perdi a reza,

a crença, a bênção.

Fugi do terço, troquei

o Berço, que ninei.

Pensei em tudo,

e fiquei mudo,

diante de Ti, Pai.

E da vastidão

do mar, da areia,

da onda que vagueia

na imensidão.

Do calmo alvorecer,

do sol, do vento

e de tudo que é invento

da inteligência, que vem

de Ti.

Essa grandeza toda

me faz pequena. Ora serena,

ora menina, traquina,

pra brincar na areia,

com os berços que ninei.

Penso, cogito, e peço,

(cheia de fé)

Tua bênção, novamente,

para o berço que, breve e

alegremente,

ninarei.


Maria Francisca - abril/2011

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Mulher da Vida

Mulher da Vida Cora Coralina
Mulher da Vida, minha Irmã.
De todos os tempos.
De todos os povos.
De todas as latitudes.
Ela vem do fundo imemorial das idades e
carrega a carga pesada dos mais
torpes sinônimos,
apelidos e apodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à-toa.
Mulher da Vida, minha irmã.
Pisadas, espezinhadas, ameaçadas.
Desprotegidas e exploradas.
Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito.
Necessárias fisiologicamente.
Indestrutíveis.
Sobreviventes.
Possuídas e infamadas sempre por
aqueles que um dia as lançaram na vida.
Marcadas. Contaminadas,
Escorchadas. Discriminadas.
Nenhum direito lhes assiste.
Nenhum estatuto ou norma as protege.
Sobrevivem como erva cativa dos caminhos,
pisadas, maltratadas e renascidas.
Flor sombria, sementeira espinhal 
gerada nos viveiros da miséria, da
pobreza e do abandono,
enraizada em todos os quadrantes da Terra.
Um dia, numa cidade longínqua, essa 
mulher corria perseguida pelos homens que
a tinham maculado. Aflita, ouvindo o 
tropel dos perseguidores e o sibilo das pedras,
ela encontrou-se com a Justiça.
A Justiça estendeu sua destra poderosa e
lançou o repto milenar:
“Aquele que estiver sem pecado
atire a primeira pedra”.
As pedras caíram
e os cobradores deram s costas.
O Justo falou então a palavra de eqüidade:
“Ninguém te condenou, mulher... 
nem eu te condeno”.
A Justiça pesou a falta pelo peso
do sacrifício e este excedeu àquela.
Vilipendiada, esmagada.
Possuída e enxovalhada,
ela é a muralha que há milênios detém
as urgências brutais do homem para que 
na sociedade possam coexistir a inocência,
a castidade e a virtude.
Na fragilidade de sua carne maculada
esbarra a exigência impiedosa do macho.
Sem cobertura de leis
e sem proteção legal, 
ela atravessa a vida ultrajada
e imprescindível, pisoteada, explorada, 
nem a sociedade a dispensa
nem lhe reconhece direitos
nem lhe dá proteção.
E quem já alcançou o ideal dessa mulher,
que um homem a tome pela mão, 
a levante, e diga: minha companheira.
Mulher da Vida, minha irmã.
No fim dos tempos.
No dia da Grande Justiça
do Grande Juiz.
Serás remida e lavada
de toda condenação.
E o juiz da Grande Justiça
a vestirá de branco em
novo batismo de purificação.
Limpará as máculas de sua vida
humilhada e sacrificada
para que a Família Humana
possa subsistir sempre,
estrutura sólida e indestrurível
da sociedade,
de todos os povos,
de todos os tempos.
Mulher da Vida, minha irmã.

Declarou-lhe Jesus: “Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no Reino de Deus”.
Evangelho de São Mateus 21, ver.31.
Poesia dedicada, por Coralina, ao Ano Internacional
da Mulher em 1975.


Poemas dos becos de Goiás, Global, 1983 - S.Paulo, Brasil

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O CHÃO E OS ESPELHOS

O CHÃO E OS ESPELHOS

Jacyra Ferraz Laranjeira

Era aquele o meu lugar?
Um chão vermelho
“mistura de sangue com a terra”.
Não conseguia levantar.
Apavorada,
via um espelho de moldura rosada
flutuando no ar.
O vento, suavemente,
retira- me.
Vejo o horror,
um retrato de Dorian no espelho,
desfigurado,
e eu deitada, novamente,
apavorada num chão seco.
O vento sopra...
Consegui levantar,
mas quebro dois espelhos...
Não há imagem...
Não reconheço
quem poderia estar ali?
Do chão de cimento cinza,
surge outra imagem,
agora colorida,
que, da terra suja, levantou,
conseguindo olhar
de um lugar escolhido
uma imagem feminina.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

JUSTIFICAÇÃO


JUSTIFICAÇÃO


O tema de hoje é a justificação

Ela não é uma ação cautelar

Por isso é bom prestar atenção

Através da arte tentarei explicar:



Utiliza-se da oitiva de testemunhas

Trata-se de um específico procedimento cautelar

Cuja prova será ou não utilizada no futuro

Para a existência de um fato ou relação jurídica demonstrar



Seu objetivo não é assegurar depoimento

Apenas afirmar a sua existência afinal

Não há o periculum in mora ou fumus boni juris

E nem há vinculação ao processo principal



Seu procedimento é deveras simplificado

Não admite forma incidental

Mas seus requisitos devem ser obedecidos

Sob pena de inépcia da inicial



O interessado é então chamado

E sobre os documentos pode se manifestar

Não poderá arrolar e nem indicar testemunhas

Apenas a produção da prova acompanhar



A sentença é atípica e não cabe recurso

O juiz apenas fiscaliza o procedimento

Não emite juízo de valor sobre as provas

Verifica as formalidades do instituto em comento



Entretanto caberá apelação

Se o juiz indeferir de pronto a exordial

Não se trata de recurso da sentença homologatória

Pois não faz coisa julgada material, apenas formal



A todos peço venia se estou a me alongar

Solicito só mais alguns instantes

Pois a justificação se confunde com outros institutos

Os quais pretendo suscintamente diferenciar



Começando pela justificação prévia

Esta é do procedimento apenas um ato a efetuar

Justificando certas providências judiciais

Como a obtenção de um provimento liminar



A produção antecipada de prova é o segundo a diferenciar

A prova produzida não é unilateral

Aqui é imprescindível o periculum in mora e o fumus boni juris

Para antecipar a prova do processo principal



Para finalizar

Agradeço a generosa atenção

Peço desculpas se nos versos me alonguei

São detalhes e o espaço é diminuto para uma maior explicação

Isso é apenas uma justificativa

E não uma justificação.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O ENCONTRO

O ENCONTRO
 
Beatriz.A.M
 
                                            Porque ele era um menino. Maduro, seguro, bem sucedido, mas ainda assim um menino.

                                            Um menino que precisava do mistério dela para saber da boca. Para encontrar a palavra exata. Para sentir a maciez da poesia. Para sentir o sangue dela renovando as batidas, ritimadas, musicais, do coração dele. Para sentir que o sangue dela corria direto para a aorta dele, oxigenando o músculo de rima, de calor, de cores tropicais, de luz, de simetria.

                                            E ela, tão mulher, tão cheia de bobas certezas sobre o amor e sobre a estrada, precisava dele para se espantar, para olhar de novo para o grande desconhecido de si, para se ver menina. Para querer, com força assombrosa, descobrir o mundo. Para ser dele, como só as coisas encantadas e banhadas pela eternidade podem ser.

                                            E desse precisar em dois, dessa carência voraz que não sacia, nasce o poema escrito na carne, tatuado na alma, esculpido no peito, construído no mais claro e infinito do dia...
 

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Um ano de Blog

Estimados

Hoje, não postarei texto poético novo!
Na verdade, esta mensagem é apenas para agradecer todos aqueles que têm acessado o blog, que, hoje, completa um ano consecutivo no ar.
E confesso que nunca imaginei que fazê-lo seria tão prazeroso assim.
Foram muito mais do que postar pouco mais de 365 textos (inicialmente eu postava mais de um por dia)!
Fiz amizades com pessoas que nunca vi ainda pessoalmente, mas que têm compartilhado suas almas e letras comigo. O blog deixou de ser um espaço para publicação exclusiva de textos meus, para se converter em um portal de poesia de todos aqueles que se interessam por este lado bonito da vida...
Por isso, em vez de postar um texto novo, gostaria de convidar você, que já segue o blog ou que está lendo-o pela primeira vez, a futucá-lo um pouco!
Verifique quantos acessos já ocorreram em um ano!
Veja quantos seguidores temos! Se você ainda não está lá, nao se acanhe em apertar a opção de "seguir o blog"!
Leia ou releia os textos mais acessados do blog (a relação está do lado direito desta página)!
Descubra os temas mais recorrentes nos marcadores dos temas!
Ajude-nos a melhorar o blog, tanto do ponto de vista da formatação, quanto da escolha dos textos a ser programados para publicação!
Comente aqueles textos que tenham chamado mais a sua atenção!
Além disso, tenho recebido contribuições de diversas pessoas que, quando não mandam poemas seus ou de terceiros, mandam imagens lindas que decoram o nosso espaço. Agradeço, em especial, à amada ex-aluna Amanda de Almeida Santos, que é a responsável pela maior parte das imagens expostas aqui no blog.
Se você, leitor, encontrar alguma imagem legal que possa adornar algum texto já postado, não hesite em nos encaminhar também!
Ter tanta gente maravilhosa perto de mim é bom demais...
E isto me deixou muito feliz...
Feliz aniversário a todos nós!
Abraços a todos,

Rodolfo Pamplona Filho

domingo, 14 de agosto de 2011

SOMOS UMA ILHA?


SOMOS UMA ILHA?

                Ilha: extensão de terra cercada de água por todos os lados. Engraçado, essa palavra despertou em mim algumas reflexões hoje, depois de assistir a um filme em que um dos protagonistas sustentava a tese de que era seu direito viver como uma ilha, porque ele não conseguia se enxergar desprendido do conceito que define esse elemento geográfico, pois ele se identificava, na essência, com a própria forma de ser daquela realidade. Fui obrigada a concordar com ele, mas só em termos. Somos seres únicos, individuais, insubstituíveis, inigualáveis, enfim, com identidade exclusiva (redundante, mas verdadeiro). Ninguém pode viver minha vida por mim, sentir por mim, amar por mim, querer por mim, sofrer por mim, alegrar-se por mim, chorar por mim, decepcionar-se por mim, vencer por mim, envolver-se por mim, morrer por mim (não em meu lugar). Até meu próprio corpo é só meu. Eu sou aquilo que sou e também sou aquilo que é o contrário do que sou. Não ser também é uma forma de ser. Tudo isso me pertence e é intransferível e indivisível. Neste aspecto ele tem razão. Aliás, isso é tão absolutamente concreto quanto a existência física de uma ilha. Mas a grande pergunta que se fazia àquele personagem, nas entrelinhas das tramas do filme, era se ele deveria viver como uma ilha. Há diferença, não? Ser como e viver como. Nisso reside o conflito: do que se é na essência (é verdade, somos uma ilha, somos nós mesmos e não o outro e nunca seremos o outro. Somos quem somos!) e do que se quer e pode ser (podemos ser uma ilha, mas as águas nos circundam e nos tocam, num tangenciamento inexorável). Parece filosófico e é, mas é uma pergunta que não deve ficar apenas no plano das idéias. Ela precisa ser respondida a cada dia, pois definir se queremos viver como uma ilha, porque realmente somos uma, em nossa essência, ou se queremos viver no verdadeiro interagir com o outro, faz toda a diferença. Interagir, palavra chave que quebra a concretude de nossa individualidade. Ela nos tira de nós mesmos e nos faz ir ao encontro do outro. Interagir: exercer interação - ação ou influência mútua entre coisas ou pessoas. Melhor do que a interação, creio, é a comunhão: viver com o outro em torno de idéias, crenças, projetos, desejos. O outro constrói com você o que ambos querem ser. Meu querer não é só meu querer, é também o querer do outro. São ambos querendo juntos. São ambos sendo juntos. São as individualidades se externando para se tornarem, ambas, uma só. Como conceber um indivíduo sendo dois? Pela comunhão, que é uma simbiose que se forma do desejo de não querer ser apenas uma ilha. No entanto, essa comunhão não é absoluta. E não poderia ser diferente! Há territórios que precisam ser só meus e há territórios que precisam ser só do outro, porque diz respeito a nossa própria essência. No fundo, não é possível deixar de ser quem somos: de onde e de quem viemos, o que vivemos, a nossa história. Podemos ser com o outro o que se pode ser juntos, mas não se pode ser com o outro o que só ele pode ser ou o que só eu posso ser. Para ser com o outro, antes de tudo é preciso ser comigo mesmo. Não dá pra ser verdadeiramente com o outro, ou viver a comunhão com o outro, sem antes sabermos quem somos verdadeiramente. Quem sou eu? No fundo esta é a grande pergunta, para qual não há uma resposta pronta e acabada, mas intermináveis descobertas, intermináveis respostas, que somadas vão nos revelando. Nosso grande problema é que não nos perguntamos quem somos, mas deixamos que o outro diga quem somos e nos preocupamos apenas com que o outro quer que sejamos. E neste processo vivemos sem ser a ilha que somos e precisamos ser, e interagimos com o outro sem viver a comunhão, porque não sabemos quem realmente somos. Descobrir quem somos e dizer ao outro quem somos, e deixar que o outro também se revele a nós sendo quem ele é, é condição para chegarmos aquilo a que todos nós aspiramos e queremos e que é vontade de Deus: a felicidade.              

                               ANDRÉIA LUÍSA


sábado, 13 de agosto de 2011

A Arrogância da Inexperiência

A Arrogância da Inexperiência

Rodolfo Pamplona Filho

Nunca diga que,
 desse prato, não comerei,
 pois você pode não ter vivido
o suficiente para saber
os motivos que levam alguém
a fazer algo que
nunca se esperava dele...

Não julgue o comportamento alheio,
com os parâmetros inflexíveis
de uma conduta idealizada,
pois a barema utilizada
pode lhe ser exigida,
não somente como medida
de justiça e coerência,
mas também como o preço
que se exige como resposta
de toda aquela consciência
que exigiu demais dos outros (e de sí)....

Aprenda a engolir o orgulho
de não ter feito nada na vida,
bem como a prepotência
do sentimento de auto-suficiência
que a juventude, aliada à inexperiência,
parece impor a uma nova geração,
que não tem problema de falta,
mas, sim, de excesso de informação
e, para quem, é mais fácil,
dizer que o outro é sem noção.

Tenha a hombridade de, um dia,
reconhecer a terrível arrogância
que a inexperiência pode gerar,
não como natural mecanismo
de defesa perante o desconhecido,
mas como uma injustificável rebeldia
contra todos que, um dia,
puderam lhe dar guarida
ou estender uma mão amiga.

Faça antes de reclamar...
Viva antes de criticar...
Cresça antes de aparecer...
E descubra que o mundo
é muito maior do que seu ser...
Salvador, 07 de janeiro de 2011.