domingo, 31 de março de 2013

Renascendo das Cinzas (soneto)

Renascendo das Cinzas (soneto)

Rodolfo Pamplona Filho
Como é bom experimentar
a paz e o imenso prazer
de, depois de muito chorar,
no meio das cinzas, renascer...

Se é certo que, após a tempestade,
o sol resplandece mais claro
e que, chegada a maturidade,
o tempo se torna mais caro,

não há melhor sensação
do que se descobrir vivo,
forte, disposto e ativo,

para cantar nova canção
e, tal qual Fênix pulsante,
gozar, da vida, cada instante.

Praia do Forte-Iberostar, 10 de março de 2012.

sábado, 30 de março de 2013

mamae@mamae.com

Queridos Marido e Filhos,
Em primeiro lugar, Mamãe gostaria de agradecer a presença de todos nesta Primeira Convenção Familiar. Mamãe sabe como foi difícil abrir um espaço nas agendas de cada um de vocês: Papai tinha uma lavagem de carro praticamente inadiável, Júnior já tinha marcado de se trancar no quarto, Carol estava para receber pelo menos três telefonemas importantíssimos de uma hora e meia cada um.
Mamãe está comovida. Muito obrigada.
Bem, conforme Mamãe já tinha mais ou menos antecipado, esta convenção é para comunicar ao público interno - Papai, Júnior e Carol - todas as modificações nos produtos e serviços da linha Mamãe.
Como vocês sabem, a última vez que Mamãe passou por reformulações foi há 14 anos, com o nascimento do Júnior. De lá para cá, os hábitos e costumes, o panorama cultural, a economia e o mercado passaram por transformações radicais.
Mamãe precisa acompanhar a evolução dos tempos, sob pena de ver sua marca desvalorizada.
Para começar, Mamãe vai mudar a embalagem. Mamãe sabe que esta é uma decisão polêmica, mas, acreditem, é o que deve ser feito.
Mamãe sai desta convenção direto para um spa, e de lá para uma clínica de cirurgia plástica.
Nada assim tão radical. Haverá pouquíssimas alterações de rótulo,vocês vão ver.
Mamãe vai continuar com praticamente o mesmo formato, só que com linhas mais retas em alguns lugares e linhas mais curvas em outros.
Calma, Papai! Mamãe já captou recursos no mercado.
Mamãe vai ser patrocinada por uma nova marca de comida congelada. Lei Rouanet, porque Mamãe também é cultura. Junto com o lançamento da nova embalagem de Mamãe, no entanto, acontecerá o movimento mais arriscado deste plano de reposicionamento.
Sinto informar, mas Mamãe vai tirar do mercado o produto Supermãe...
Não, não, não adianta reclamar. Supermãe já deu o que tinha de dar.Trata-se de um produto anacrônico e superado, antieconômico e difícil de fabricar.
Mamãe sabe que o fim da Supermãe vai aumentar a demanda pela linha Vovó, que disputa o mesmo segmento. Paciência. Você não pode atender todos os públicos o tempo todo.
No lugar da Supermãe, Mamãe vai lançar (queriam que eu dissesse 'vai estar lançando', mas eu me recuso) novas linhas de produtos mais adequados à realidade de mercado.
Vocês vão poder consumir Mamãe nas versões Active (executiva e profissional), Light (com baixos teores de pegação de pé), Classic (rígida e orientadora), Italian (superprotetora) e Do-It Yourself (virem-se, fui passear no shopping).
Mas uma de cada vez, sem misturar.
Ah, sim, Mamãe detesta esses nomes em inglês, mas me disseram que, se não for assim, não vende. Mamãe gostaria de aproveitar a oportunidade para lançar seus novos canais de comunicação.
De hoje em diante, em vez de sair gritando pela casa, vocês vão poder ligar para o SAC-Mamãe, um 0300 que dá direto no meu celular (apenas 27 centavos por minuto, mais impostos).
Mamãe também aceita sugestões e críticas no endereço http://br.mc1114.mail.yahoo.com/mc/compose?to=mamae%40mamae.net
Mais uma vez Mamãe agradece a presença e a atenção de todos.
(Autoria Desconhecida - mas, um GÊNIO!)

sexta-feira, 29 de março de 2013

O Amor que renova a Vida

O Amor que renova a Vida

Rodolfo Pamplona Filho
Coisa linda
da minha lida,
desejar-te desde sempre,
ter-te agora e eternamente,
é uma alegria,
que refaz o dia!
Amar-te é uma arte,
que o destino trouxe-me a sorte
de tua vida fazer parte,
até que nos separe a morte...
Tu és a minha única musa,
que dá sentido a uma alma confusa...
Tu és a minha moça,
que renova a força
de olhar para o horizonte,
de não temer o que está defronte,
seja escrever um livro
ou saber que ainda estou vivo...

Salvador, 07 de março de 2012.

quinta-feira, 28 de março de 2013

No tempo de meu pai

06 de março de 2012 | N° 17000

PAULO SANT’ANA

No tempo de meu pai

Assisti domingo a uma impressionante entrevista com o ator Lima Duarte no Fantástico.

Impressionante. Ele é dono de um talento e uma simpatia estupendos.

Foi longa a entrevista e eu estava deitado na cama, assistindo a ela.

Senti em meio à entrevista a vontade de ir no banheiro e me segurei, continuei ouvindo o extraordinário relato da vida de Lima Duarte.

*

Tocou-me particularmente uma coisa que ele disse: quando referiu que tinha 14 ou 15 anos de idade e seu pai, muito pobre, chamou-o e disse que não podia mais sustentá-lo. Ele iria ter de lutar pela vida sozinho.

Eles moravam, ao que me parece, numa cidade interiorana de Minas Gerais. O pai colocou-o dentro de um caminhão e exportou-o para São Paulo.

E ele veio, como milhões de migrantes já vieram, fazer a vida em São Paulo.

*

O que me chamou a atenção foi que Lima Duarte em nenhum momento classificou como crueldade o fato de seu pai ter-se livrado dele e o exportado para São Paulo.

Pelo contrário, dedicou palavras de ternura a seu pai e entendeu como normal o seu gesto de ter-se livrado dele e mandado que ele fosse, completamente sozinho, tentar a vida na cidade grande.

Isso me impressionou porque aconteceu exatamente o mesmo comigo. Quando tinha a mesma idade, 14 ou 15 anos, meu pai me botou para fora de casa, me dando a entender que tinha muitos filhos, meus irmãos, que eu tinha de fazer por mim e tratar sozinho do meu sustento.

É muito triste isso. Sinto que sofro uma punhalada quando recordo esse fato.

*

Foi por isso, por ter sido mandado para fora de casa ainda garoto, que adorei uma canção do Benito di Paula, que até hoje tenho decorada e ainda canto: “Ah, eu chorei/ quando saí lá de casa/ enfrentei o mundo/ eu chorei/ ah, só eu sei, que pra chegar onde estou/ eu confesso lutei/ eu lutei!”.

Foi dura a vida para mim, como deve ter sido para o Lima Duarte, quando nossos pais nos enxotaram de casa.

*

Só tem uma diferença, a pior para mim, entre as duas histórias: eu nunca perdoei meu pai por ter-se desfeito de mim e não ter permitido que eu continuasse em casa, a enfrentar as dificuldades da vida junto dele, apegado à família. Nunca perdoei.

E Lima Duarte, ao contrário, entendeu seu pai e dedicou na entrevista palavras doces para seu amado pai.

Eu fico pensando que esta deve ser apenas uma das muitas injustiças que fiz à memória de meu pai.

Como em tudo na vida, cometemos injustiças quando não nos colocamos no lugar das pessoas que condenamos.

E, cotejando essas duas histórias, confesso que tenho ainda dúvida se eu não fui ou fui severo demais no julgamento de meu pai, ou se Lima Duarte usou de excesso de benevolência ao julgar seu pai no episódio.

E, terrivelmente, a esse respeito, sempre chega a hora para alguns pais pobres em que eles são obrigados a se desfazer e se afastar dos filhos, em nome da sobrevivência.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Soneto do Soneto

Soneto do Soneto

Rodolfo Pamplona Filho
Qual será o real segredo
de se fazer um bom soneto?
Trabalhar dois quartetos
e juntar com dois tercetos?

A fórmula parece rasa,
em que a palavra apenas casa
com outra na mesma rima,
marcando a métrica como sina.

O desafio é muito maior,
pois não é falar de cor
uma seqüência pronta, para valer,

mas é exercitar, da síntese, o poder
de dizer tudo em quatorze linhas,
sem se perder nas entrelinhas...

Salvador, 20 de dezembro de 2011.

terça-feira, 26 de março de 2013

“Perfeição”

“Perfeição”


Que mistérios o envolve?
Que forças o detém ?
Se a minha energia se dissolve
No magnetismo que ele tem?

Se a todo e qualquer momento
Seu fascínio me convém?
Se o meu pensamento
Com a sua imagem se entretém?

Quais os ventos que o conduz
Brisa suave ou rude tormenta?
Sombras, negrumes ou raios de luz
Que poderes o movimenta?

Brilhante é o seu olhar, profundo!
Miríade de beleza que seduz...
Nenhum outro ser no mundo
Com a mesma grandeza reluz!



Seus pés são dois alicerces
Firmados na base do vigor.
Os olhos, alcandoradas preces
Que poeta algum pode compor!

Suas pernas são colunas vitais
Sustentando um corpo robusto
Seu peito, sede de arsenais
Que abriga um homem augusto!

Suas mãos são ágeis, criativas
Arquitetas de mágicas carícias.
Seus lábios são nascentes vivas
De um melífluo mar de delícias!

Seu pensar paralisa o universo,
Seu sorriso ameniza minhas dores,
Seu falar revela-me o verso,
Seu caminhar fertiliza as flores!

O cântico da sua boca é sagrado,
Os gestos do seu corpo são ciência.
Seu meditar é barco ancorado,
No grande porto da inteligência!



Seu espírito é essência divina,
(Formosos são os detalhes seus)
Dele, monarca, é que se origina
Os fervorosos anseios meus.

Na esperança, meu ser se anima:
A Fé é escudo até para os ateus!
Eu e Ele unidos, esta é a sina
Um tálamo eterno nos dará Deus!

Carmen Cardin

segunda-feira, 25 de março de 2013

Mimetismo de Amor

Mimetismo de Amor

Rodolfo Pamplona Filho
É normal
diria mais: habitual
que a convivência
gere a consequência
da identificação
virar unificação
e que casais,
que se amam demais,
passem a se vestir
e a sorrir
da mesma forma
na mesma norma...
É o mimetismo do amor,
em que o calor
é compartilhado,
como um efeito dobrado,
de quem se quer ao lado...

Salvador, 26 de fevereiro de 2012.

domingo, 24 de março de 2013

Perdoe seus pais

06 de março de 2012 | N° 17000

FABRÍCIO CARPINEJAR

Perdoe seus pais

Gostamos mais de punir do que amar e perdoar. Para reclamar e cobrar, não pensamos duas vezes. Para desculpar, ainda estamos pensando.

Todo marido ou esposa sofre com a separação. É resistir ao transbordamento do ressentimento, acompanhar com pesar a transformação de uma personalidade atenta e interessada em tudo o que você diz para um ente completamente estranho, indiferente e amargo, que mal olha em seus olhos.

Se a antipatia declarada do divórcio já atormenta, não conheço algo mais cruel do que a distância de uma mãe de seu filho. Quando o filho rompe com os pais velhos e demora a fazer as pazes, confiando num futuro infinito para a reconciliação.

Na praia do Cassino, a amiga Berenice, 73 anos, comprou duas casas geminadas, uma para si e outra para seu filho, Juvenal, 39.

O que ela não previa era o estremecimento das relações entre os dois. O boicote filial vem durando quatro veraneios.

Juvenal prepara churrasco, recebe amigos e familiares, brinca com os vizinhos, e jamais convida sua mãe a participar de qualquer festa. Ela fica na varanda, triste e sonolenta, observando a algazarra, mexendo sua cadeira de balanço para trás e para frente.

Juvenal passa de manhã pela residência materna, que é caminho da padaria, e não a cumprimenta nem na ida, muito menos na volta. Atravessa reto, como se ela não existisse, como se fosse um túmulo desconhecido.

Seu desprezo extrapolou a conta. Mesmo que tenha razão em brigar, não há sentido em prolongar a dor de alguém que envelheceu.

Ela experimentou 60 dias na praia com a expectativa de uma retomada dos laços com sua criança grande. E os dias são décadas para a terceira idade. E as décadas são séculos para os cabelos grisalhos.

Não tomava banho de mar para não correr risco de perder o reencontro. Mantinha-se tricotando na entrada, despistando o choro da voz. Uma Penélope do próprio ventre. Uma viúva de suas vísceras.

É um erro forçar que nossos pais mudem de comportamento, é uma tolice educá-los com reprimendas e devolver castigos da infância, é inútil propor que eles concordem com nossas opiniões. Forçar uma retratação não tem sentido. O ódio é apenas um segundo nome da dependência.

O filho sempre será o lado mais fraco, acostume-se, o lado que deve ceder. Não é justo brigar com quem tem o dobro de nossa idade. Podemos guerrear com irmão, virar as costas a um amigo, onde ocorre uma equivalência etária, onde haverá tempo para acertar as arestas.

Mas nunca destrate pai e mãe enrugados. Finja que concorda. Mude de assunto. Não seja o centro da discórdia. Não prolongue o mal-estar. Estar certo não nos acrescenta em importância.

Esqueça o rancor. Antes que a morte seja a última lembrança. E o arrependimento cubra a lápide com a voracidade dos inços.


__._,_.___

sábado, 23 de março de 2013

Desejos Reais

Desejos Reais

Rodolfo Pamplona Filho
Nao podemos ser
tudo o que quisermos!
Podemos aspirar a tudo,
mas nao conseguimos
só porque queremos.
Há quem prefira ficar
perto de pássaros
do que apenas sonhar
em ter asas e nunca voar...
Preferir passar a vida,
conhecendo o possível,
em vez de desperdiçá-la,
cogitando o inviável...
Mas quem garante
que o tido como palpável
é a única possibilidade
de algo realizável?

Salvador, 04 de março de 2012.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Subversiva

Subversiva
Ferreira Gullar

A poesia
Quando chega
Não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha
Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.
E promete incendiar o país

quinta-feira, 21 de março de 2013

Sentir-se Usada (soneto)

Sentir-se Usada (soneto)

Rodolfo Pamplona Filho
Eu não quero a sensação
de ser um pano de chão:
descartada, depois de usada,
como se minha alma fosse nada.

Eu não quero ser um corpo
abandonado e tido como morto,
reduzido à condição de bicho
ou desprezado como lixo

Eu quero ser mais para você:
uma fonte, sim, do verdadeiro prazer,
que vai além do que um contato sexual,

pois é a mais perfeita comunhão
entre mente, alma e coração,
superando o bem e o mal.

Salvador, 07 de fevereiro de 2012.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Se...


Se é pra esquentar, esquente o pé.
Se é pra roubar, roube a cena.
Se é pra perder, que seja o medo, a barriga, a hora.
Se é pra cair, caia na risada.
Se é pra brigar, que seja com o sono.
Se é pra desafiar, desafie o improvável; perdoe uma traição.
(...)
Se é pra contar, conte logo, conte um conto.
Se é pra esconder, esconda a idade.
Se é pra mudar, mude de assunto, mude de casa, pra uma rua com mais árvores.
Se é pra jogar, jogue o lixo no lixo, jogue as mágoas. Jogue limpo.
(...)
Se é pra mentir, minta o tamanho do peixe.
Se é pra separar, separe as sílabas, separe a roupa pra viagem.
Se é pra juntar, junte os amigos.
Se é pra bater, bata uma bola, um bolo. Bata papo…bata antes de entrar.
Se é pra tentar, tente outra vez.
Se é pra sentir, sinta. Sinta o vento, sinta o sol, sinta a luz. Sinta o cheiro do dia.
Se é pra sentir muito, sinta carinho, sinta saudade. Sinta o jeito do tempo.
Se é pra amar, ame pessoas, bichos, plantas e bolinhos de chuva.
Se é pra amar mais, ame você.
(...)
Se é pra enganar, engane o estômago.
Se é pra fingir, finja que faz ginástica.
Se é pra inventar, invente moda.
Se é pra quebrar, quebra o galho, quebre o gelo.
Se é pra tirar, tire fotos, tire isso da cabeça.
Se é pra por, ponha lenha, ponha fogo. Ponha a consciência em suas mãos.
Se é pra gritar, grite a dor, grite gol.
Se é pra pedir, peça desculpas, nunca licença.
Se é pra matar, mate a sede.
Se é pra querer, queira muito, queira o Bem.
Se é pra sonhar, sonhe com os anjos, sonhe sempre.
Se é pra ter, tenha idéias, tenha charme, tenha a santa paciência.
(...)
Se é bom, guarde na memória.
Sé é ruim, ponha na página virada.
Se tem que ser, seja esperto, seja educado, seja honesto, seja bobo, seja justo, coração mole, duro na queda, seja lindo, seja feio, seja livre, seja lá o que for.
Se é pra viver, brincar, nascer de novo, subir montanhas, fazer trilha, ver o mar, beijar, ouvir Beethoven, comer pipoca, tomar banho de cachoeira, só se for agora.
Se é pra correr, corra pro abraço. Abrace a vida.

(por Maria Balé, colunista e colaboradora do Primeiro Programa)

terça-feira, 19 de março de 2013

Frustração (soneto de pé torto)

Frustração (soneto de pé torto)

Rodolfo Pamplona Filho
Quando se quer muito algo
e isto não se realiza;
Quando se espera um evento
e ele não se confirma;

Quando é enorme a expectativa
e maior ainda a decepção;
Quando não existem palavras
para amenizar a frustração...

Talvez o melhor seja
deixar o destino
nas mãos de uma fada

e nunca aguardar nada,
ouvindo apenas o sino
de uma vontade benfazeja...

Salvador, 03 de março de 2012.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Quero espremer a laranja da vida

Quero espremer a laranja da vida

Quero espremer a laranja da vida
E nesse suco conturbado de causas e efeitos
Criar uma cabana segura no centro de seus devaneios

Quero arrebentar as correntes da vida
Só pra sentir o gritar dos magníficos tolos
Que criam suas convicções, suas formas desprovidas de compaixões

Quero pichar os muros da ignorância
Pra deixar cor de dobras na face dos que ainda choram
E cantar ao ouvido dos surdos de coração
Pra ver o quebrar dos males que afligem a população

Quero tudo amar, tudo colaborar
Pra que tudo vire nada, o que agora é nada
Seja petrificado na praça de nossa aquarela
Posto que sabedoria tenha sido nada, pra os montantes do nosso universo

Quero criar esses versos
Pois tudo quero ..
Quero viver, quero crescer, quero lutar pela verdade
E destruir completamente a maldade
Pois acredito no que me formou
No Deus que no tempo adequado
Soltará mais uma vez sua frase
“Nada é impossível pra aquele que nele crer”

Portanto vou continuar a querer
Querer pra vocês o melhor, pois..talvez.. o que querem seja tudo que falei. (Randerson Freire da Silva Sento-Sé)

domingo, 17 de março de 2013

Oroboro

Oroboro

Rodolfo Pamplona Filho
Oroboro
A cobra comendo
o próprio rabo
Oroboro
Casa D'Oro
A armadilha auto-imposta
Oroboro
Quero sentir
o que é Duende...
A ardente ânsia de viver
que toma todo o meu ser
e que sentimos e expressamos,
quando finalmente percebemos
que a morte está próxima...
Oroboro
Três assassinos cegos
Três crianças órfãs
Oroboro
Oro é ouro
B é bet, é casa
Casa de Ouro
Oroboro...

Salvador, 03 de março de 2012.

sábado, 16 de março de 2013

TRIGONOMETRIA AMOROSA

TRIGONOMETRIA AMOROSA
Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.

Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.

"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa."

E falando descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs
Primos-entre-si.

E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Retas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.

Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.

Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se.
Constituir um lar.
Mais que um lar,
Uma Perpendicular.

Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.

E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
se torna monotonia.

Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos
Viciosos.
Ofereceu, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo,
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
chamado amoroso.
E desse problema, ela era a fracção
Mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a
Relatividade.
E tudo que era expúrio passou a ser
Moralidade.
Como aliás, em qualquer
Sociedade.

Autor desconhecido, mas admirável.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Agonia (Soneto pelo avesso)


Agonia (Soneto pelo avesso)

Rodolfo Pamplona Filho
Agonia
Angústia
Tensão

Stress
Impotência
Confusão

Vontade de sumir
e nunca mais aparecer...
Desejo sincero
de nunca mais acontecer...

Pensar se há alternativa
para o que não se soluciona
com toda a fé na medicina
em questão que não se equaciona


Salvador, 26 de fevereiro de 2012.

quinta-feira, 14 de março de 2013

O homem na varanda

O homem na varanda

Fazia mais de um mês que eu cobria diariamente o percurso entre a praia e uma pequena ilhota. Uma formação de pedras há cerca de dois quilômetros. Começava com braçadas lentas para o aquecimento. Alguns minutos depois, com a sensação de que os músculos estavam soltos eu aumentava o compasso. Fazia emergir a cabeça a fim de buscar a respiração alternando os lados. À vezes olhava à frente para corrigir o rumo. A ilhota na mira. O corpo quase todo afundado, o gosto de sal nos lábios, as pernas em movimento ritmado, a carícia da água e a visão do céu. Longe, na praia, que eu via uma respirada sim e outra não, minha vista pousou, naquele quase átimo, na varanda de uma casa de veraneio. Havia alguém na varanda? Repeti a respiração no mesmo lado e pude ver que era mesmo uma pessoa. Talvez fosse um homem, mas era incerto afirmar, dada a distância. Mas decidi que era. Talvez estivesse admirando o meu nado solitário, agora não mais, pois havia o público de um só espectador, mas havia. Fiquei imaginando o que ele poderia estar pensando de mim. Louco, temerário, desajuizado, exibicionista. Esse último adjetivo eu riscaria, se estivesse escrevendo, pois se a praia era deserta, seria impossível. Comecei a me incomodar com o homem da varanda, porque sempre nadei solitário e num horário em que a possibilidade de algum outro banhista aparecer era muito improvável.  Vencidos mais alguns metros, o homem sumiu de vista, pois o ângulo do telhado da casa em que ele estava encobriu o naco de mar onde eu nadava. Cheguei à ilhota. Como sempre parei ali um pouco para breve descanso. Pensei novamente no homem da varanda. Com ele fui injusto ao lhe atribuir pecha de intruso. Decerto admirava minha destreza. Senti-me orgulhoso pelo nado e envergonhado pelo julgamento. Quem sabe na volta não mudasse o itinerário e saísse do mar perto daquela varanda? Cumprimentaria o novo vizinho. Poderíamos nos tornar amigos. Era isso. Estava resolvido.
            Deixei a ilhota e voltei ao mar. Nadei com mais energia, porque queria avistar de novo o meu único admirador. Em alguns minutos divisei o telhado atrás do qual o homem sumira. Logo, pela direção que eu seguia, a varanda se descortinaria. Aumentei o ritmo das braçadas. Agora eu via a varanda, mas nada do admirador. Mudei o curso em direção à praia. Chegaria à casa da varanda. Passei a nadar meu desengonçado, levantando o rosto para frente em busca do admirador. Às vezes, uma onda vinha e encobria o meu rosto. Cheguei à praia. A casa parecia fechada. Talvez o homem não existisse e tudo fosse imaginação. Esperei um pouco. Quem sabe ele não aparecia e trocássemos um aperto de mãos. Esperei quase meia hora até que me dei por vencido. Não havia indício de gente na casa. Terminei o percurso a pé, seguindo a orla, vendo os tatuís esburacarem a areia de arrebentação.

Jairo Vianna <jairo@uaivip.com.br>

quarta-feira, 13 de março de 2013

Soneto da Agonia

Soneto da Agonia

Rodolfo Pamplona Filho
Vontade de sumir
e nunca mais aparecer...
Desejo sincero
de nunca mais acontecer...

Pensar se há alternativa
para o que não se soluciona
com toda a fé na medicina
em questão que não se equaciona

Agonia imensa
Angústia intensa
Pura Tensão

Stress e carência
Sensação de Impotência
Confusão e depressão 

Salvador, 26 de fevereiro de 2012.

terça-feira, 12 de março de 2013

O que significa @ no e-mail?

O que significa @ no e-mail?

Durante a Idade Média os livros eram escritos pelos copistas, à mão.
Precursores dos taquígrafos, os copistas simplificavam seu trabalho
substituindo letras, palavras e nomes próprios por símbolos, sinais e
abreviaturas. Não era por economia de esforço nem para o trabalho ser mais
rápido (tempo era o que não faltava, naquela época!). O motivo era de ordem
econômica: tinta e papel eram valiosíssimos.

Assim, surgiu o til (~), para substituir o m ou n que nasalizava a vogal
anterior. Se reparar bem, você verá que o til é um enezinho sobre a letra.

O nome espanhol Francisco, também grafado Phrancisco, foi abreviado para
Phco e Pco ? o que explica, em Espanhol, o apelido Paco.

Ao citarem os santos, os copistas os identificavam por algum detalhe
significativo de suas vidas. O nome de São José, por exemplo, aparecia
seguido de Jesus Christi Pater Putativus, ou seja, o pai putativo
(suposto) de Jesus Cristo. Mais tarde, os copistas passaram a adotar a
abreviatura JHS PP, e depois simplesmente PP. A pronúncia dessas letras em
sequência explica por que José, em Espanhol, tem o apelido de Pepe.

Já para substituir a palavra latina et (e), eles criaram um símbolo que
resulta do entrelaçamento dessas duas letras: o &, popularmente conhecido
como "e" comercial, em Português, e, ampersand, em Inglês, junção de and (e,
em Inglês), per se (por si, em Latim) e and.

E foi com esse mesmo recurso de entrelaçamento de letras que os copistas
criaram o símbolo @, para substituir a preposição latina ad, que tinha,
entre outros, o sentido de casa de.

Foram-se os copistas, veio à imprensa - mas os símbolos @ e & continuaram
firmes nos livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de unidades
da mercadoria e o preço. Por exemplo: o registro contábil 10@£3 significava
10 unidades ao preço de 3 libras cada uma.
Nessa época, o símbolo @ significava, em Inglês, at (a ou em).

No século XIX, na Catalunha (nordeste da Espanha), o comércio e a indústria
procuravam imitar as práticas comerciais e contábeis dos ingleses. E, como
os espanhóis desconheciam o sentido que os ingleses davam ao símbolo @ (a ou
em), acharam que o símbolo devia ser uma unidade de peso. Para isso
contribuíram duas coincidências:

1 - a unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba, cujo
inicial lembra a forma do símbolo;

2 - os carregamentos desembarcados vinham frequentemente em fardos de uma
arroba. Por isso, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registro de 10@£3
assim: dez arrobas custando 3 libras cada uma. Então, o símbolo @ passou a
ser usado por eles para designar a arroba.

O termo arroba vem da palavra árabe ar-ruba, que significa a quarta
parte: uma arroba ( 15 kg , em números redondos) correspondia a 1/4 de outra
medida de origem árabe, o quintar, que originou o vocábulo português
quintal, medida de peso que equivale a 58,75 kg .

As máquinas de escrever, que começaram a ser comercializadas na sua forma
definitiva há dois séculos, mais precisamente em 1874, nos Estados Unidos
(Mark Twain foi o primeiro autor a apresentar seus originais
datilografados), trouxeram em seu teclado o símbolo @, mantido no de seu
sucessor - o computador.

Então, em 1972, ao criar o programa de correio eletrônico (o e-mail), Roy
Tomlinson usou o símbolo @ (at), disponível no teclado dessa máquina, entre
o nome do usuário e o nome do provedor. E foi assim que Fulano@Provedor X
ficou significando Fulano no provedor X.

Na maioria dos idiomas, o símbolo @ recebeu o nome de alguma coisa parecida
com sua forma: em Italiano, chiocciola (caracol); em Grego, papaki
(patinho);em Sueco, snabel (tromba de elefante); em Holandês, apestaart
(rabo de macaco). Em alguns, tem o nome de certo doce de forma circular:
shtrudel, em iídisch; strudel, em alemão; pretzel, em vários outros idiomas
europeus. No nosso, manteve sua denominação
original: arroba.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Soneto do Aniversário

Soneto do Aniversário
Rodolfo Pamplona Filho

Mais um ano se passou
e não diminuiu em nada
todo o imenso amor
que sinto em cada passada

nesta vida, em que um presente
foi, sem dúvida, sua amizade,
que só faz bem para a gente
e mostra o valor da fraternidade.

Com você, tenho um compromisso
de, por mais tempo que eu viver,
nunca do seu ser esquecer...

Este poema é, por tudo isso,
mais que um registro no calendário:
é o meu desejo de Feliz Aniversário!

domingo, 10 de março de 2013

Homem no Mar

Homem no Mar

Rubem Braga


De minha varanda vejo, entre árvores e telhados, o mar. Não há ninguém
na praia, que resplende ao sol. O vento é nordeste, e vai tangendo,
aqui e ali, no belo azul das águas, pequenas espumas que marcham
alguns segundos e morrem, como bichos alegres e humildes; perto da
terra a onda é verde.

Mas percebo um movimento em um ponto do mar; é um homem nadando. Ele
nada a uma certa distância da praia, em braçadas pausadas e fortes;
nada a favor das águas e do vento, e as pequenas espumas que nascem e
somem parecem ir mais depressa do que ele. Justo: espumas são leves,
não são feitas de nada, toda sua substância é água e vento e luz, e o
homem tem sua carne, seus ossos, seu coração, todo seu corpo a
transportar na água.

Ele usa os músculos com uma calma energia; avança. Certamente não
suspeita de que um desconhecido o vê e o admira porque ele está
nadando na praia deserta. Não sei de onde vem essa admiração, mas
encontro nesse homem uma nobreza calma, sinto-me solidário com ele,
acompanho o seu esforço solitário como se ele estivesse cumprindo uma
bela missão. Já nadou em minha presença uns trezentos metros; antes,
não sei; duas vezes o perdi de vista, quando ele passou atrás das
árvores, mas esperei com toda confiança que reaparecesse sua cabeça, e
o movimento alternado de seus braços. Mais uns cinqüenta metros, e o
perderei de vista, pois um telhado a esconderá. Que ele nade bem esses
cinqüenta ou sessenta metros; isto me parece importante; é preciso que
conserve a mesma batida de sua braçada, e que eu o veja desaparecer
assim como o vi aparecer, no mesmo rumo, no mesmo ritmo, forte, lento,
sereno. Será perfeito; a imagem desse homem me faz bem.
É apenas a imagem de um homem, e eu não poderia saber sua idade, nem
sua cor, nem os traços de sua cara. Estou solidário com ele, e espero
que ele esteja comigo. Que ele atinja o telhado vermelho, e então eu
poderei sair da varanda tranqüilo, pensando — "vi um homem sozinho,
nadando no mar; quando o vi ele já estava nadando; acompanhei-o com
atenção durante todo o tempo, e testemunho que ele nadou sempre com
firmeza e correção; esperei que ele atingisse um telhado vermelho, e
ele o atingiu".

Agora não sou mais responsável por ele; cumpri o meu dever, e ele
cumpriu o seu. Admiro-o. Não consigo saber em que reside, para mim, a
grandeza de sua tarefa; ele não estava fazendo nenhum gesto a favor de
alguém, nem construindo algo de útil; mas certamente fazia uma coisa
bela, e a fazia de um modo puro e viril.

Não desço para ir esperá-lo na praia e lhe apertar a mão; mas dou meu
silencioso apoio, minha atenção e minha estima a esse desconhecido, a
esse nobre animal, a esse homem, a esse correto irmão.

Janeiro, 1953.


Extraído do livro "A Cidade e a Roça", Editora do Autor - Rio de
Janeiro, 1964, pág. 11.

sábado, 9 de março de 2013

Musa Longínqua

Musa Longínqua

Rodolfo Pamplona Filho
Longe dos olhos
e perto do coração:
este é o resumo
da sensação,
que se tem
por alguém
que não está ao alcance
das mãos e do beijo,
mas que habita o seu desejo
como se fosse de mais ninguém...
Musa longínqua
do contato pessoal,
do toque da língua,
mas que é o ideal
de consumo e de descanso,
para quem só quer o remanso
de um amor tranquilo,
mesmo quando não físico...
E, se e quando der,
para ficar homem e mulher,
não restará pedra sobre pedra
da vontade que se realiza
e nunca mais fica incompleta
na relação que se eterniza...

Salvador, 26 de fevereiro de 2012.

sexta-feira, 8 de março de 2013

O DEVIDO PROCESSO LEGAL E A GALINHA

Resenha

O DEVIDO PROCESSO LEGAL E A GALINHA

M.Y.Minami[1]

Certa feita, em uma aula a que assistíamos do professor Fredie Didier Jr., este comparou o devido processo legal com Gizmo.  Para quem não lembra, Gizmo é um bichinho de um filme americano muito popular na década de 80 (Os Gremlins) possuidor de algumas características inusitadas: não poderia ser exposto à luz forte (a do sol, por exemplo, matava-o); não poderia ser molhado (pois se multiplicava) e, o mais importante, não poderia ser alimentado após meia noite (pois se tornava um Gremlin, a saber, um terrível monstrinho que a tudo destruía). Didier, em seu exemplo, utilizou justamente a segunda característica, ou seja, a capacidade que Gizmo possui de gerar, a partir de si, outras criaturinhas e sem perder suas características originais. Assim é o devido processo. Trata-se de um princípio gerador de outros princípios e que não perde seu conteúdo original. A comparação é perfeita. Em certa palestra, também ouvimos a Professora Teresa Wambier falar dos Gremlins comparando-os aos recursos que, por vezes, se multiplicam sem parar. Para nós, que ensinamos Processo, essas metáforas são sempre úteis para uma exposição mais didática de seus temas, às vezes áridos e de difícil assimilação.
Outro dia, em uma aula que ministrávamos sobre As Ondas de Acesso à Justiça de Cappelletti um aluno dos primeiros semestres indagou sobre o devido processo e sua capacidade de gerar princípios. Como se tratava de pessoa bem mais jovem do que nós, era certo que se falássemos em Gizmo, antes de aplicar a metáfora em si, teríamos de ensinar sobre os Gremlins e suas regras. Dois trabalhos, portanto. Resolvemos, destarte, comparar o devido processo com uma galinha! Vejamos o porquê.
i)                    A galinha gera ovos que se tornam pintinhos que, posteriormente, serão outras galinhas ou galos. As novas galinhas gerarão mais ovinhos etc. O devido processo, como a galinha, também gera outros princípios, cada um desses aptos a gerar mais princípios (ou mesmo regras).
ii)                  A galinha, ao gerar ovinhos, não deixa de ser galinha. O due process, ao gerar princípios, não deixa de ser o que é, ou seja, não tem seu conteúdo esvaziado.
iii)                E a comparação mais sutil. É sabido que pessoas abastadas e grandes empresas possuem maiores condições de contratarem grandes escritórios de advocacia e/ou, por vezes, podem esperar por longas demandas judiciais. Sua vantagem frente a litigantes individuais de parcos recursos é notória. Não são conclusões nossas. Em verdade, são lições conhecidas de Mauro Cappelletti em seus famosos estudos sobre acesso à justiça. E a galinha? A resposta vem em duas outras perguntas. Dos litigantes acima relacionados, quem mais sofrerá se não observado o devido processo e seus consectários? Os menos favorecidos. Considerando, agora, a galinha como fonte de alimentação, quem mais sofrerá na falta desse delicioso quitute e seu consectário mais famoso, o ovo? Mesma resposta: os menos favorecidos. Procure, por exemplo, em jantares mais refinados, galinha ou ovo. Se vierem, serão disfarçados em pratos de nomes esquisitos. Moral da história: os injustiçados são mais ávidos por um devido processo (e por galinha e ovo) do que os mais abastados. Parece uma comparação idiota, mas o aluno nunca mais esquecerá o alvitre.
Um ouvinte mais questionador poderá afirmar: “mas, se eu comer a galinha, acabo com o devido processo e sua possibilidade de colocar mais ovinhos”. É verdade. Mas, como todas as metáforas, também esta não poderia ser infensa a críticas. Paciência! O importante é ensinar processo tentando mitigar sua complexidade. A saída aqui proposta é o humor.




[1] Bacharel em Direito pela UFC-CE. Especialista em Direito Processual pela UNISUL-SC. Mestrando em Processo Civil pela UFBA-BA. Professor de Processo Civil da Faculdade Paraíso-CE. Técnico Judiciário do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará. Endereço eletrônico: youji_@hotmail.com

quinta-feira, 7 de março de 2013

Abrangente Compreensão

Abrangente Compreensão

Rodolfo Pamplona Filho
É como um oceano...
Não é possível contê-lo...
Ele contém você...
É como estar de pé,
no meio do mar...
Cercado em todas as direções,
com as ondas quebrando
à sua volta
e ameaçando puxar
seu corpo para o fundo...
É como sentir
cada grão de sal
em um mar infinito...
É como conhecer
cada migalha de vida,
das cristas espumantes
às regiões turvas e abissais...
É como ser tocado
por tudo isso...
Essa é a sensação
de entrega total,
de conhecimento final,
do macro dimensionamento
de sentir-se talvez
como um Deus...
Em que pouca importa
o brilho ou a mediocridade,
pois transcender a humanidade
é superar a noção
do nós e eles
ou do certo e errado,
aprendendo a ser
seu próprio barema,
não sendo mais um problema,
entender sua própria realidade...
Apreender profundamente
é ter a perfeita dimensão
do que é e do que não é,
aprendendo a tolerar
a ignorância individual ou coletiva,
socializando a tolerância
e aceitando a imperfeição
na mais abrangente compreensão.

Salvador, 13 de fevereiro de 2012.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Esquecimento. Envelhecimento

 
Esquecimento. Envelhecimento

Estou ficando esquecido.
Tal estado é deveras esquisito.
Só escrevo no tempo passado
Mesmo assim persisto.

O ontem para mim parece hoje.
O amanhã igualmente será passado
Estou ficando fora do compasso.
Tento, insisto. Mas nada há que se renove.

Não é negligência, descuido ou relaxo.
Sinto a maré dos anos a me tragar.
Na sua imensidão devo mergulhar?

Lutar contra este dilema
Parece-me grave problema.
Sem ter-me dado conta - Envelheci!?

(Paulo Basílio - 07/02/2012)

terça-feira, 5 de março de 2013

Trabalho Mal Feito

Trabalho Mal Feito

Rodolfo Pamplona Filho
Por que perder tempo
com um trabalho mal feito,
repleto de pequenos golpes,
construído a galopes,
para tentar convencer
a si mesmo e a quem aparecer,
de que tenha algum valor,
quando está um horror,
e, na realidade,
soa como uma imoralidade
de uma coletânea de chavões,
recheada de bordões,
verdadeiro balaio de gatos,
repleto de atos falhos,
sem cuidados de revisão
ou mesmo de digitação,
como a apostar
que o avaliador nem o lerá
e simplesmente passará
a mão por sua cabeça má...

Salvador, 24 de fevereiro de 2012.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Derridariano...

Derridariano... 



Descontruir escrituras é uma ação perigosa?

Mas, o que ficou à margem da folha de papel porosa?



Todo texto é criptográfico!

Afinal, o dicionário é um álbum fotográfico.



Como seria possível aprender a falar se não houvesse memória?

Toda palavra falada sucede ao texto arquivado pela história.



Sim, não; certo, errado; provável, improvável;

A linguagem apenas adia o incontrolável.



Salvador, 15/02/2012.

Montalvão Bernardo.

domingo, 3 de março de 2013

Além do Bem e do Mal (Soneto)

Além do Bem e do Mal (Soneto)

Rodolfo Pamplona Filho
O sol que ilumina
é o mesmo que incomoda...
A chuva que refresca
é a mesma que inunda...

Não adianta por a culpa
na água ou no calor
ou tentar dar a desculpa,
de que é falta ou excesso de amor,

pois todo aquele que faz o bem,
em si, carrega também
todo o enorme potencial

de destruir qualquer sonho,
ser o pesadelo mais medonho
e infligir, a qualquer um, o mal.

Praia do Forte, 20 de fevereiro de 2012.