O
estagiário Aurélio
(11.05.12)
Por Rafael Berthold,
advogado (OAB-RS nº 62.120)
O estagiário Aurélio - no primeiro dia de estágio na grande banca de Advocacia - é bem recebido pelos novos colegas e pelo principal advogado da casa. O garoto não se intimida, vai logo dizendo que não tem a pretensão de fazer as vezes de burro de carga e que deseja trabalhar fazendo petições.
O advogado, impressionado com ambição ostentada pelo neófito, o interpela:
– Gosto do seu espírito, meu jovem, mas você já elaborou alguma petição?
Silêncio... Aurélio não sabe o que responder. Apenas agora se dá conta de que não fazia a mais vaga ideia do que se tratava uma petição! Percebendo este fato, o chefe decide auxiliá-lo:
– Pegue o dicionário e leia em voz alta o que significa a palavra ´petição´!
Aurélio acusa o golpe em sua soberba. Cabisbaixo, vai lentamente à estante. Pega o dicionário, e, encontrando o verbete, proclama, com uma voz cheia de insegurança:
– ´Petição: 1.Bras. S. Petiço corpulento´. (1)
O advogado levanta-se da cadeira e toma o dicionário das mãos do estagiário.
– O quê?! Deixe-me ver isso aqui - em seguida abre-se em uma desrespeitosa gargalhada. E atalha em tom de ordem:
- Era pra você ter lido este outro resultado aqui, olha: ´Petição: 1.Ato de pedir. 2.V. rogo. 3.Requerimento´. (2)
Vendo o abatimento do estagiário, o advogado decide oferecer a ele um desafio. O diálogo se acentua:
– Não desanime! Ninguém nasce sabendo. Vou dar a você uma petição pra fazer. Começaremos em grande estilo: ´peça ovo´!
– Peça o quê?! – indaga o estagiário sem nada entender.
– Peça ovo!
– Ok, doutor, mas pra quem eu peço?
– Não, meu jovem. Não é pra você pedir ovo! É pra você elaborar uma peça processual, uma peça ovo, ou seja, uma petição inicial, uma peça inaugural, a famosa peça vestibular! – exclama impaciente.
– Me desculpe, doutor, mas estou farto de vestibulares, passar em um deles não foi fácil – coloca ingenuamente o estudante.
O advogado, agora furioso, contem-se em sua cadeira, aponta em direção a uma enorme pilha de processos.
– Aurélio, pegue esses processos e leve-os já pro foro.
– Mas... e se me perguntarem se eu trabalho com petição, o que eu digo?
– Diga que ´petição´ é justamente o que você é. Se duvidarem, mostre a eles no dicionário!
(11.05.12)
Charge de Gerson Kauer |
Por Rafael Berthold,
advogado (OAB-RS nº 62.120)
O estagiário Aurélio - no primeiro dia de estágio na grande banca de Advocacia - é bem recebido pelos novos colegas e pelo principal advogado da casa. O garoto não se intimida, vai logo dizendo que não tem a pretensão de fazer as vezes de burro de carga e que deseja trabalhar fazendo petições.
O advogado, impressionado com ambição ostentada pelo neófito, o interpela:
– Gosto do seu espírito, meu jovem, mas você já elaborou alguma petição?
Silêncio... Aurélio não sabe o que responder. Apenas agora se dá conta de que não fazia a mais vaga ideia do que se tratava uma petição! Percebendo este fato, o chefe decide auxiliá-lo:
– Pegue o dicionário e leia em voz alta o que significa a palavra ´petição´!
Aurélio acusa o golpe em sua soberba. Cabisbaixo, vai lentamente à estante. Pega o dicionário, e, encontrando o verbete, proclama, com uma voz cheia de insegurança:
– ´Petição: 1.Bras. S. Petiço corpulento´. (1)
O advogado levanta-se da cadeira e toma o dicionário das mãos do estagiário.
– O quê?! Deixe-me ver isso aqui - em seguida abre-se em uma desrespeitosa gargalhada. E atalha em tom de ordem:
- Era pra você ter lido este outro resultado aqui, olha: ´Petição: 1.Ato de pedir. 2.V. rogo. 3.Requerimento´. (2)
Vendo o abatimento do estagiário, o advogado decide oferecer a ele um desafio. O diálogo se acentua:
– Não desanime! Ninguém nasce sabendo. Vou dar a você uma petição pra fazer. Começaremos em grande estilo: ´peça ovo´!
– Peça o quê?! – indaga o estagiário sem nada entender.
– Peça ovo!
– Ok, doutor, mas pra quem eu peço?
– Não, meu jovem. Não é pra você pedir ovo! É pra você elaborar uma peça processual, uma peça ovo, ou seja, uma petição inicial, uma peça inaugural, a famosa peça vestibular! – exclama impaciente.
– Me desculpe, doutor, mas estou farto de vestibulares, passar em um deles não foi fácil – coloca ingenuamente o estudante.
O advogado, agora furioso, contem-se em sua cadeira, aponta em direção a uma enorme pilha de processos.
– Aurélio, pegue esses processos e leve-os já pro foro.
– Mas... e se me perguntarem se eu trabalho com petição, o que eu digo?
– Diga que ´petição´ é justamente o que você é. Se duvidarem, mostre a eles no dicionário!
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(1) Novo Dicionário Aurélio 3ª Ed.
(2) Idem.
(1) Novo Dicionário Aurélio 3ª Ed.
(2) Idem.
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