Fui eu esse menino que me espia
– melancólico olhar, sereno rosto,postura fixa e o todo bem composto –
no retrato que o tempo desafia.
Fui eu na minha infância fugidia
de prazeres ingênuos, e o desgosto
de sentir tão efêmera a alegria
bem depressa mudada em seu oposto.
Fui eu, sim; mas o tempo que perpassa
e tudo altera nem sequer deixou
um grão de infância feito esmola escassa.
Fui eu; e da figura só ficou
o olhar desenganado na fumaça
em que a criança inteira se mudou.
abril 1998
(De Sentimento da Morte – 2003)
Poema de Fernando Py (1935-2020)
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