sábado, 31 de dezembro de 2022

Resumo da Vida

 



Rodolfo Pamplona Filho


Meu caminho foi repleto

de presentes nunca abertos

que só foram descobertos

no momento da separação


Minha vida é uma sequência

de perdas da inocência,

pois não há inteligência

que impeça a frustração


Minha tristeza é uma constante,

que está presente a todo instante,

não por medo do que está adiante,

mas pela opressão da solidão.


Salvador, 02 de setembro de 2018.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

O Leãozinho

 



Caetano Veloso


Gosto muito de te ver, leãozinho

Caminhando sob o sol

Gosto muito de você, leãozinho


Para desentristecer, leãozinho

O meu coração tão só

Basta eu encontrar você no caminho


Um filhote de leão, raio da manhã

Arrastando o meu olhar como um ímã

O meu coração é o sol, pai de toda cor

Quando ele lhe doura a pele ao léu


Gosto de te ver ao sol, leãozinho

De te ver entrar no mar

Tua pele, tua luz, tua juba


Gosto de ficar ao sol, leãozinho

De molhar minha juba

De estar perto de você e entrar no mar


Um filhote de leão, raio da manhã

Arrastando o meu olhar como um ímã

O meu coração é o sol, pai de toda cor

Quando ele lhe doura a pele ao léu


Gosto de te ver ao sol, leãozinho

De te ver entrar no mar

Tua pele, tua luz, tua juba


Gosto de ficar ao sol, leãozinho

De molhar minha juba

De estar perto de você e entrar no mar

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

A Alma Doente

 




Rodolfo Pamplona Filho


O corpo dói

e pede ajuda

a quem sequer sentiu

a força da dor na alma.


A cabeça lateja

e reclama

de quem não viveu

a intensidade da alma.


O espírito fraqueja

e rasteja

por não conhecer

a cura da doença da alma.



Praia do Forte, 24 de junho de 2018.


quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Pra você guardei o amor

 



Nando Reis


Pra você guardei o amor

Que nunca soube dar

O amor que tive e vi sem me deixar

Sentir sem conseguir provar

Sem entregar

E repartir


Pra você guardei o amor

Que sempre quis mostrar

O amor que vive em mim vem visitar

Sorrir, vem colorir solar

Vem esquentar

E permitir


Quem acolher o que ele tem e traz

Quem entender o que ele diz

No giz do gesto o jeito pronto

Do piscar dos cílios

Que o convite do silêncio

Exibe em cada olhar


Guardei

Sem ter porquê

Nem por razão

Ou coisa outra qualquer

Além de não saber como fazer

Pra ter um jeito meu de me mostrar


Achei

Vendo em você

Explicação

Nenhuma isso requer

Se o coração bater forte e arder

No fogo o gelo vai queimar


Pra você guardei o amor

Que aprendi vendo os meus pais

O amor que tive e recebi

E hoje posso dar livre e feliz

Céu cheiro e ar na cor que o arco-íris

Risca ao levitar


Vou nascer de novo

Lápis, edifício, tevere, ponte

Desenhar no seu quadril

Meus lábios beijam signos feito sinos

Trilho a infância, terço o berço

Do seu lar


Guardei

Sem ter porquê

Nem por razão

Ou coisa outra qualquer

Além de não saber como fazer

Pra ter um jeito meu de me mostrar


Achei

Vendo em você

Explicação

Nenhuma isso requer

Se o coração bater forte e arder

No fogo o gelo vai queimar


Pra você guardei o amor

Que nunca soube dar

O amor que tive e vi sem me deixar

Sentir sem conseguir provar

Sem entregar

E repartir


Quem acolher o que ele tem e traz

Quem entender o que ele diz

No giz do gesto o jeito pronto

Do piscar dos cílios

Que o convite do silêncio

Exibe em cada olhar


Guardei

Sem ter porquê

Nem por razão

Ou coisa outra qualquer

Além de não saber como fazer

Pra ter um jeito meu de me mostrar


Achei

Vendo em você

Explicação

Nenhuma isso requer

Se o coração bater forte e arder

No fogo o gelo vai queimar

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

 




Rodolfo Pamplona Filho


Quero uma palavra

Quero um carinho

Quero um estímulo

Quero um beijinho

Quero um conselho

Quero uma advertência

Quero paciência

Quero sapiência

Quero um afago

Quero uma esperança

Quero nunca mais ficar sozinho...


Mas só recebo uma resposta:

Tá!


Salvador, 01 de abril de 2018.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Meu destino

 



Cora Coralina


Nas palmas de tuas mãos

leio as linhas da minha vida.

Linhas cruzadas, sinuosas,

interferindo no teu destino.

Não te procurei, não me procurastes –

íamos sozinhos por estradas diferentes.

Indiferentes, cruzamos

Passavas com o fardo da vida…

Corri ao teu encontro.

Sorri. Falamos.

Esse dia foi marcado

com a pedra branca

da cabeça de um peixe.

E, desde então, caminhamos

juntos pela vida…


domingo, 25 de dezembro de 2022

Suyolak

 



Rodolfo Pamplona Filho


Lenda cigana

Mestre Imortal

das Artes Médicas

Esperança

da cura

de todo mal.

Sonho eterno

de uma vida imortal.


Praia do Forte, 03 de junho de 2018.


sábado, 24 de dezembro de 2022

Viagem Passageira

 




Gal Costa


O sonho é ter tudo resolvido

Com o passar do tempo pela vida

A casca da ferida se formando

A cicatriz na pele do futuro

A pele do futuro finalmente

Imune ao corte, à lâmina do tempo

O tempo finalmente estilhaçado

E a poeira sumindo no horizonte


O sonho é ter tudo dissolvido

O corpo, a mente, a fonte da lembrança

Enfim, ponto final na esperança

Somente as ondas soltas no oceano

Não mais o esperma e o óvulo da morte

Não mais a incerteza do binário

Um tempo liso sem o fuso horário


Não mais um sim, um não, um sul, um norte

O sonho dessa canção passageira

Mochila da viagem passageira

Passagem nessa vida passageira

Para uma vida ainda passageira

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Sobre Amar

 



Rodolfo Pamplona Filho


Brilhante não é a vida.

Brilhante é o amor que brilha em nós

Novidade não é o que acontece:

é o que fazemos acontecer.

Cada dia pode reservar

uma nova chance de viver

ou de amar...

E o amor pode ser

uma cadeira cativa de um estádio,

uma poltrona confortável de um teatro

ou um banco duro de um ônibus.

Tanto faz...

De qualquer forma, vale a pena vivê-lo.


Salvador, 08 de fevereiro de 2018.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Tempo Perdido

 




Renato Russo (Banda: Legião Urbana)





Todos os dias quando acordo

Não tenho mais o tempo que passou

Mas tenho muito tempo

Temos todo o tempo do mundo


Todos os dias antes de dormir

Lembro e esqueço como foi o dia

Sempre em frente

Não temos tempo a perder


Nosso suor sagrado

É bem mais belo que esse sangue amargo

E tão sério


E selvagem

Selvagem

Selvagem


Veja o sol dessa manhã tão cinza

A tempestade que chega é da cor dos teus olhos

Castanhos


Então me abraça forte

Me diz mais uma vez que já estamos

Distantes de tudo


Temos nosso próprio tempo

Temos nosso próprio tempo

Temos nosso próprio tempo


Não tenho medo do escuro

Mas deixe as luzes

Acesas agora


O que foi escondido

É o que se escondeu

E o que foi prometido

Ninguém prometeu

Nem foi tempo perdido


Somos tão jovens

Tão jovens

Tão jovens


quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Sobre o impossível

 




Rodolfo Pamplona Filho


Até o que achamos impossível

pode um dia acontecer...


Salvador, 31 de janeiro de 2018.

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Verdades

 




Rodolfo Pamplona Filho


Quando estiver triste

e se sentindo só,

lembre que eu existo

só por você


Saber que você existe

é poder ter esperança

de viver um amor

e nunca mais ser triste.


Salvador, 20 de março de 2018.

domingo, 18 de dezembro de 2022

sábado, 17 de dezembro de 2022

Amor é (quase) tudo

 



Rodolfo Pamplona Filho


Amor é quase tudo,

mas o quase não é irrelevante

O que falta ao amor

para ser impactante?

Talvez um pouco de cuidado

Talvez um carinho inesperado

Talvez uma torcida explícita

Talvez uma entrega sem retorno


Amor é quase tudo,

mas o quase não é irrelevante

O que falta ao amor

para ser incessante?

Talvez uma dose de mistério

Talvez um suspiro no espelho

Talvez um choro em desabafo

Talvez um frio na barriga no encontro


Amor é quase tudo,

mas o quase não é irrelevante

O que falta ao amor

para ser acachapante?

Talvez um bilhete inesperado

Talvez uma surpresa no acordar

Talvez dormir agarrado

Talvez nunca parar de sonhar


Salvador, 27 de outubro de 2018.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Aquarela do Brasil

 



Ary Barroso


Brasil

Meu Brasil brasileiro

Meu mulato inzoneiro

Vou cantar-te nos meus versos

Ô Brasil, samba que dá

Bamboleio, que faz gingá

Ô Brasil do meu amor

Terra de Nosso Senhor

Brasil! Brasil!

Prá mim… prá mim…


Ô, abre a cortina do passado

Tira a Mãe Preta do serrado

Bota o Rei Congo no congado

Brasil! Brasil!

Deixa cantar de novo o trovador

À merencória luz da lua

Toda canção do meu amor

Quero ver a “Sá Dona” caminhando

Pelos salões arrastando

O seu vestido rendado

Brasil! Brasil!

Prá mim… prá mim…


Brasil

terra boa e gostosa

Da morena sestrosa

De olhar indiscreto

Ô Brasil, verde que dá

Para o mundo se admirá

Ô Brasil do meu amor

Terra de Nosso Senhor

Brasil! Brasil!

Prá mim… prá mim…


Ô, esse coqueiro que dá côco

Oi, onde amarro a minha rêde

Nas noites claras de luar

Brasil! Brasil!

Ah, ouve essas fontes murmurantes

Aonde eu mato a minha sede

E onde a lua vem brincá

Ah, este Brasil lindo e trigueiro

É o meu Brasil brasileiro

Terra de samba e pandeiro

Brasil! Brasil!

Prá mim… prá mim…

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Amor sem promessas

 




Rodolfo Pamplona Filho


Quando se ama,

fazem-se promessas,

como se houvesse necessidade

de verbalizar

que se pode fazer tudo

por amor


Mas prometer gera expectativas

que, quando não realizadas,

causam uma frustração,

como se o amor perdesse força

por uma promessa não cumprida.


É olhar uma parte pelo todo,

o acessório pelo principal,

o detalhe pelo conjunto,

o universo por um lugar

a vida por um dia


Amar não exige promessas

Amar exige amar

Amar sem promessas

Amar, simplesmente amar.


Salvador, 06 de julho de 2018.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Amor Feinho

 



Adélia Prado


Eu quero amor feinho.

Amor feinho não olha um pro outro.

Uma vez encontrado é igual fé,

não teologa mais.

Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo

e filhos tem os quantos haja.

Tudo que não fala, faz.

Planta beijo de três cores ao redor da casa

e saudade roxa e branca,

da comum e da dobrada.

Amor feinho é bom porque não fica velho.

Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:

eu sou homem você é mulher.

Amor feinho não tem ilusão,

o que ele tem é esperança:

eu quero um amor feinho.


terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Cachorro Vira-Lata

 




Rodolfo Pamplona Filho


Sou um cachorro vira-lata,

solto nas ruas,

em busca de comida

e de carinho...

Procurando um refúgio,

onde possa ser amado

e não ter mais subterfúgio

para me sentir abandonado...


Puerto Varas-Chile, 02 de julho de 2012.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Trabalhador Brasileiro

 



Helio Gustavo Alves 


Por anos cedo acordei para trabalhar

sempre fiz hora extra para o patrão ajudar

mas um dia ao emprego chegar

tinha outro em meu lugar.


Perdi o trabalho,

fiquei por anos o emprego a buscar,

me achavam velho para o labor,

foi então que percebi

que era um homem sem valor!


O jeito foi fazer bico,

não fiquei um mês sem labutar,

para a vida inteira lutar

a fim do carne do INSS pagar

e um dia me aposentar.


Trabalhei no pesado,

de criança até cansar,

quando na hora da aposentadoria buscar

o Governo resolver a lei mudar.



Ao invés de aos 49 anos me aposentar,

mesmo sem emprego encontrar

sou obrigado continuar a trabalhar

para aos 65 anos tentar

a minha aposentadoria pegar.


Como no Governo não posso confiar

vou rezar para até lá

a norma não mais alterar.


Por Helio Gustavo Alves

Em 10/12/2016

Poema escrito por um Jurista após viver o maior Golpe da história do Brasil em que o Governo deu nos trabalhadores, roubando-lhes o Direito da Aposentadoria, bem como, inúmeros Direitos Sociais previstos no capítulo Dos Direitos e Garantias Fundamentais da Constituição Federal.

Vivemos a mais nova modalidade de Ditadura, que é aquela disfarçada em Democracia Governamental, onde a vontade do Governo vale mais do que todos os Pactos Sociais em vigor, sejam Nacionais ou Internacionais.



domingo, 11 de dezembro de 2022

Fantasia Fugaz

 




Rodolfo Pamplona Filho


Vôos e Cascatas

Alegrias e decepções

Pássaros ariscos

Raízes de ilusões

Homem e natureza

Insofismável relação

Paralelas que se encontram

No infinito da razão


Crepúsculo, céu em chamas

São doces sonhos, fantasias

As mudanças de lágrimas para risos

Têm a complexidade de da noite para o dia

... da noite para o dia


Vida, margens duma porção,

Um todo preenchendo metade,

O ciclo da dualidade!

Natural e urbano

Distinguem-se na feição,

Mas são frágeis correntes entrelaçadas

numa mesma...

... canção!


Letra: Rodolfo Pamplona Filho

Música: Jorge Pigeard

(1989)

sábado, 10 de dezembro de 2022

Ah destino!

 



Aíla Sampaio




enquanto te debulhas em marcar

o meu próximo passo,

um pássaro me oferta suas asas

e o sol arrefece seus raios

para me ver alçar vôo.


E quando penso que enfim driblei

a tua fúria, tu, agasalhado na

imponderável sina, não respeitas

o meu desejo de rasgar as distâncias.

Ris da minha pretensão de querer

arrebentar as amarras

e astuciosamente planejas a minha queda.


E tão bruscamente me fazes enxergar

que era de crepom o pássaro e inconsistentes

as asas, que esqueço de te condenar

e me censuro por sonhar tão alto.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Hitler, meu filho!

 




Rodolfo Pamplona Filho


Se eu pudesse

Voltar atrás

E tentasse alterar

O meu passado,

Meu espírito teria paz

E meu destino seria mudado?

Se eu tivesse abortado meu filho,

Minha agonia teria fim?

Que seria do meu próprio íntimo,

Se eu matasse um pedaço de mim?


Gerei em meu útero

Um anjo louco

E nas minhas veias,

Eu me dei para ele,

Mas todo o sangue foi pouco

Para matar sua sede!

O meu corpo era árvore da vida,

Mas meu fruto semente da dor!

Como dói essa minha ferida

De não ter ensinado o amor!


Quantos inocentes

Sofreram por sua mão?

Quantas crianças

Por sua causa, morreram em vão?

Quantas crianças,

Pelo seu ódio, morreram em vão?


Amor materno

Com repúdio!

Sanidade mesclada

Com distúrbio!

Será que eu devia

Ter dito Não?

Será que eu devia

Ter dito Não?

Não!

Não!

Pois até os carrascos têm uma mãe!

... até os carrascos têm uma mãe!


(1991)

Letra: Rodolfo Pamplona Filho

Música: Jorge Pigeard

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

O Tempo

 




Patricia Tenório


A grande verdade descortina em azul

E a cor dos teus olhos esvaece

No horizonte perdido dos meus dias

Sozinhos.


Na áurea da juventude esquecida

Nos poucos rubros que escondo

No rosto exposto que vejo

Na flor que murcha e se esquece.


E tudo o que fui me aparece

A tela pintada se agita

Vendo a distância construída

Na efêmera fumaça perdida.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Pedido

 



Rodolfo Pamplona Filho


Deixa eu ser seu professor

e ensinar tudo de valor

que a vida pode proporcionar

para quem não teme tentar...


Deixa eu ser seu companheiro

e construir uma história por inteiro,

vivendo de Janeiro a Janeiro,

sem medo de fugir do cativeiro.


Deixa eu ser seu parceiro

e buscar seu sucesso primeiro,

na certeza do seu imenso talento

que alcançará qualquer intento!


Deixa eu ser seu homem

e ver que os medos somem,

quando se descobre alguém

que vai cuidar de você também...


Deixa eu ser seu amor

para viver eternamente seu calor

e nunca mais chorar sozinho

ou perder o meu caminho...


Praia do Forte, 18 de agosto de 2011.


terça-feira, 6 de dezembro de 2022

A tesoura de Toledo

 




Murilo Mendes


Com seus elementos de Europa e África,

Seu corte, inscrição e esmalte,

A tesoura de Toledo

Alude às duas Espanhas.

Duas folhas que se encaixam,

Se abrem, se desajustam,

Medem as garras afiadas:

Finura e rudeza de Espanha,

Rigor atento ao real,

Silêncio espreitante, feroz,

Silêncio de metal agindo,

Aguda obstinação

Em situar o concreto,

Em abrir e fechar o espaço,

Talhando simultaneamente

Europa e África,

Vida e morte.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Priscas Eras

 



Rodolfo Pamplona Filho


Datilografia na época do PC

Lado B na época do CD

Limpar cabeçote em DVD


Comprar na Mesbla ou Sandiz

Ouvir compacto ou LP

Trocar o tubo da TV


Trocar agulha de radiola

Rodar a fita cassete

Gravar o arquivo em disquete


Andar de Fusca ou Fiat 147

Limpar carburador

Usar estilete como apontador


Ergométrica em vez de spinning

Telex para quem tem fax

Bip em vez de Torpedo


Passar creme rinse

Usar relógio-calculadora,

Jogar Odyssey ou Atari


Viajar de Vasp ou Transbrasil

Embalar saco de “Paes Mendonça”

Cair a ficha do orelhão...


Ver Zico jogando no Maraca

Regra de nove, taboada

DNA – data de nascimento avançada


Salvador, 04 de fevereiro de 2010

domingo, 4 de dezembro de 2022

Pranto Para Comover Jonathan

 



Adélia Prado



    Os diamantes são indestrutíveis?

    Mais é meu amor.

    O mar é imenso?

    Meu amor é maior,

    mais belo sem ornamentos

    do que um campo de flores.

    Mais triste do que a morte,

    mais desesperançado

    do que a onda batendo no rochedo,

    mais tenaz que o rochedo.

    Ama e nem sabe mais o que ama.

sábado, 3 de dezembro de 2022

Don’t Wait ‘Till Tomorrow What you Can do Today!!!

 




Don’t wait ‘till tomorrow what you can do today!!!

Don’t wait ‘till tomorrow what you can do today!!!


Have you ever thought

That your life is short

and death...

... it’s in your eyes!

You said you were the best,

Forgeting all your past,

You believed you’ll live forever...

...this is your sin!

Your home is the place

Of your own disgrace

You cant’t run out now,

SO GOOD BYE!!!


I’m your nightmare;

Your worst dream come true;

I’m the killer that’s waiting behind you!!!


Don’t wait ‘till tomorrow what you can do today!!!

Don’t wait ‘till tomorrow what you can do today!!!


Tears don’t touch me...

Dead, you won’t be free

I will chase your soul...

... ‘till end of times

It’s the point of no return

Don’t scream, you’re alone

Pray to your Lord, ‘cause...

...this is your fate

time is like sand

In a little boy’s hand

And your cycle is complete

You’ll DIE!!!


I’m your nightmare;

Your worst dream come true;

I’m the killer that’s waiting behind you!!!


Don’t wait ‘till tomorrow what you can do today!!!

Don’t wait ‘till tomorrow what you can do today!!!


I’m your nightmare;

Your worst dream come true;

I’m the killer that’s waiting behind you!!!


Close your eyes

And shut up your mouth

This song is over

‘cause you are dead!!!


(1992)

Letra: Rodolfo Pamplona Filho

Música: Rodolfo Ramirez e Cedric Romano

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Canção


 


Cecília Meireles



Pus o meu sonho num navio

e o navio em cima do mar;

- depois, abri o mar com as mãos,

para o meu sonho naufragar



Minhas mãos ainda estão molhadas

do azul das ondas entreabertas,

e a cor que escorre de meus dedos

colore as areias desertas.



O vento vem vindo de longe,

a noite se curva de frio;

debaixo da água vai morrendo

meu sonho, dentro de um navio...



Chorarei quanto for preciso,

para fazer com que o mar cresça,

e o meu navio chegue ao fundo

e o meu sonho desapareça.



Depois, tudo estará perfeito;

praia lisa, águas ordenadas,

meus olhos secos como pedras

e as minhas duas mãos quebradas.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Children of the Streets

 



Rodolfo Pamplona Filho


They were born with no shelter,

Lived day by day!!!

They are the ones who know better

The real meaning of pain...


And when comes the night

And it’s dark the sky

They get ready to fight,

They get ready to die...


There’s no laughter in the city

When you find a child’s body

There’s no joke ‘n’ no pity

In the killer’s hours of glory


So, do you know what it means

To sleep out in the cold?

There’s no trouble that seems

Like your mind losing control.


There’s no smile in their faces

There’s no hope in their lifes

‘cause there’s no more places

Where they can live without lies...


As the sands of time grow old

And surviving turns to be a last chance

You’ll find: history has been already told

By the tears of children of the streets


(1991)

Letra: Rodolfo Pamplona Filho

Música: Flávio Maranhão

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Lembrança

 



Cláudia Barral


Te amo como a moça que arde em febre e não dorme

Por longos corredores desertos

Antes mesmo de te amar

Como a um filho

Como a um irmão

Como alguém partindo em breve

Como é o consentir

Como o momento em que acaba a missão de esperar

Como o sol nos pátios dos sanatórios, dos presídios e

            [entre rostos de vidro dos santos das catedrais

Como se sua voz fosse a luz

Como alguém que acabou de dar-se conta que é feito

                                              [somente de lembranças

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Sede de Viver

 



Rodolfo Pamplona Filho


Eu quero viver intensamente

como se fosse morrer de repente

sem nova chance, irremediavelmente...

Eu quero uma vida sem rotina

onde cada dia tenha a sina

de, do outro, ser diferente...


Eu quero nunca ficar sozinho,

mesmo que, alguns momentos,

eu precise estar só para pensar!

Eu quero dar atenção a todo elemento

que precisar de mim, para ajudar,

acreditando que, alguém, posso mudar!


Eu quero que minha mulher

seja simultânea mãe, parceira,

amante e companheira!

Eu quero acompanhar diariamente

o crescimento de meus filhos

e ser seu melhor amigo eternamente!


Eu quero colocar para fora

todos os sentimentos que guardo

no peito que trazem um gosto amargo!

Eu quero produzir tudo que outrora

programei, um dia, escrever,

plantar, compor, construir ou ler!


Eu quero me sentir desejado,

como nunca antes no passado,

e minha energia não sublimar...

Eu quero aprender a me vestir,

saber onde chegar e de onde vir

o que, com quem e como falar...


Eu quero fazer amor outra vez

com o desejo de quem nunca fez

e o conhecimento da experiência!

Eu quero chorar de felicidade

e sorrir na adversidade,

lutando pela sobrevivência!


Eu quero tudo isto e muito mais...

mesmo que digam que é olhar para trás,

eu não vou me importar,

pois tudo que der, eu vou fazer,

sem medo de tentar ou errar,

sem receio de me machucar,

na busca, finalmente, de saciar

minha recém-descoberta sede de viver.


Recife, 14 de janeiro de 2011.


segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Noite morta

 



Manuel Bandeira


Junto ao poste de iluminação

Os sapos engolem mosquitos.


Ninguém passa na estrada.

Nem um bêbado.


No entanto há seguramente por ela uma procissão de sombras.

Sombras de todos os que passaram.

Os que ainda vivem e os que já morreram.


O córrego chora.

A voz da noite . . .


(Não desta noite, mas de outra maior.)


Petrópolis, 1921

domingo, 27 de novembro de 2022

Trava-Línguas

 



Rodolfo Pamplona Filho

Quando contar contos, conte quantos contos conta
e pergunte qual é o doce mais doce que o doce de batata-doce,
pois se o rato roeu a roupa do rei de roma
e o sabiá não sabia que a sabiá sabia assobiar;
se a aranha arranha a rã
e a gaivota, voando em volta, voava e virava de volta;
se o tempo perguntou pro tempo quanto tempo o tempo tem,
tendo o tempo respondido pro tempo que o tempo tem o todo tempo que o tempo tem;
se mesmo que três traças tracem três trajes sem trégua
e entreguem três pratos de trigo para três tigres tristes;
por que o único verdadeiro trava-línguas é Treblebes?

Salvador, 15 de agosto de 2010



sábado, 26 de novembro de 2022

Vaidade

 




Florbela Espanca



A um grande poeta de Portugal



Sonho que sou a Poetisa eleita,

Aquela que diz tudo e tudo sabe,

Que tem a inspiração pura e perfeita,

Que reúne num verso a imensidade !



Sonho que um verso meu tem claridade

Para encher todo o mundo ! E que deleita

Mesmo aqueles que morrem de saudade !

Mesmo os de alma profunda e insatisfeita !



Sonho que sou Alguém cá neste mundo ...

Aquela de saber vasto e profundo,

Aos pés de quem a Terra anda curvada !



E quando mais no céu eu vou sonhando,

E quando mais no alto ando voando,

Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ...



Livro de mágoas (1919)


sexta-feira, 25 de novembro de 2022

On Every Street

 




Rodolfo Pamplona Filho


On Every Street

I can sleep

On Every Street

I can live

On Every Street

I can be myself


I don’t need a house

to have a shelter

I don’t need a job

to have a matter

I don’t need an office

to write a letter

I’d be a louse

if I can live better


I can take a shower with the rain

I can be everywhere without pain

I can survive without a home

but I don’t like to be alone

I don’t need money to be happy

I prefer to be poor than be a sadist

Homeless, Yes!

But Never Loveless...


quinta-feira, 24 de novembro de 2022

SONETO

 




Rubem Braga



E quando nós saímos era a Lua,

Era o vento caído e o mar sereno

Azul e cinza-azul anoitecendo

A tarde ruiva das amendoeiras.


E respiramos, livres das ardências

Do sol, que nos levara à sombra cauta

Tangidos pelo canto das cigarras

Dentro e fora de nós exasperadas.


Andamos em silêncio pela praia.

Nos corpos leves e lavados ia

O sentimento do prazer cumprido.


Se mágoa me ficou na despedida

Não fez mal que ficasse, nem doesse –

Era bem doce, perto das antigas.

(1947)

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

O Tempo é o Senhor da Razão

 



Rodolfo Pamplona Filho




Quantas vezes eu gostaria


de alterar a ordem do dia


e poder fazer de forma diferente


o que encontro no tempo presente.




Vejo como eu poderia encontrar alegria


onde, hoje, só vejo melancolia


e descobrir uma felicidade


que perdi pouco a pouco com a idade...




Será que é possível mudar


opções que fiz no caminhar


por não saber o que me esperava


ou o que na minha vida faltava...




Como eu poderia saber ou prever


que o destino reservaria novo prazer,


encontrando novo sentido no viver


e uma forma alternativa de ser...




Ainda terei coragem para novo desafio?


Ainda enfrentarei tudo com brio?


Conseguirei ser outro alguém?


Encontrarei um mundo além?




Dúvidas são uma constante


em uma mudança tão fulminante


e o receio não é uma temeridade


no encontro da essência de verdade!




Conheço o que já tenho e não é perfeito!


Sei o que quero e o que não mais aceito!


A esperança é o gás da Transformação


e o Tempo é o Senhor da Razão...




São Paulo, 20 de novembro de 2010.

terça-feira, 22 de novembro de 2022

RETROSPECTO

 




Humberto de Campos


 

Vinte e seis anos, trinta amores: trinta

vezes a alma de sonhos fatigada.

e, ao fim de tudo, como ao fim de cada

amor, a alma de amor sempre faminta!

 

Ó mocidade que foges! brada

aos  meus ouvidos teu futuro, e pinta

aos meus olhos mortais, com toda a tinta,

os remorsos da vida dissipada!

 

Derramo os olhos por mim mesmo... E, nesta

muda consulta ao coração cansado,

que é que vejo? que sinto?  que me resta?

 

Nada: ao fim do caminho percorrido,

o ódio de trinta vezes ter jurado

e o horror de trinta vezes ter mentido!

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Desespero

 




Rodolfo Pamplona Filho


Ninguém vai saber minhas intenções...

Ninguém vai saber minhas intenções...

...minhas intenções...


Onde é o seu lar?

Onde é o seu deserto?

Prefiro vagar

Sem destino certo

(desespero)

Ninguém vai sair daqui com vida!

Faça o que quer

Faça como quiser

Faça como puder


A vida é muito curta

E a dor é muito grande

Quando não se tem fé,

A paz é um sonho distante

Meus pés estão no chão,

Minha cabeça está na lua,

Minha família está na rua

E eu não sei o que fazer!

Um filho sem o pão

Um choro de criança

Faminta de esperança

Me faz enfrentar... a realidade!


Onde é o seu lar?

Onde é o seu deserto?

Não há saída!

Estou perdido!!!

“Meu Deus, o que fiz?”


Letra: Rodolfo Pamplona Filho

Música: Rodolfo Ramirez / Cedric Romano

(maio/1988)

domingo, 20 de novembro de 2022

Cinzas

 




Heitor Lima


    A última brasa ardeu na cinza adusta:

    Tudo passou, tudo se fez em poeira...

    E na minha alma, que o abandono assusta,

    Morre a luz da esperança derradeira.



    O amor mais casto, a aspiração mais justa

    Têm a desilusão para fronteira...

    Um momento de sonho às vezes custa

    O sacrifício da existência inteira!



    Chama efêmera, o amor! Baldado surto,

    A glória! Ah! coração mesquinho e raso...

    Ah! pensamento presumido e curto...



    E o amor, que arrasta, e a glória, que fascina,

    — Tudo se perderá no mesmo ocaso

    E se confundirá na mesma ruína.

sábado, 19 de novembro de 2022

Ônus da Prova

 




Rodolfo Pamplona Filho



O que se prova?

Tudo aquilo de que se quer

tirar uma efetiva consequência.

Quem tem de provar?

Todo aquele que pretende 

obter a resposta da providência

Para quem se prova?

Para aquele que pode decidir

o futuro da sua pretensão.

O que se prova?

O fato, o simples fato,

e não a sua convicção.

Como se prova?

Por todos os meios 

que a imaginação

e as regras do jogo

permitirem...

O que é a prova?

Pode ser a verdade

ou uma simples evidência,

desde que, por causa dela,

construa-se uma consciência.

Para o processo,

não existe diferença 

entre verdade e versão,

pressa e pressão,

surra ou sova.

Na loucura da decisão,

o que permite o juiz dormir 

não é a força do sonífero,

mas o desincumbir do ônus da prova.

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Tântalos

 




Inácio Raposo


     Não pode ter de certo os olhos sempre enxutos


     Quem sofre qual, no Erebo, o Tântalo maldito:


     Sedento — vê debalde um córrego infinito;


     Faminto — vê debalde os floridos produtos!...



     Ante um castigo tal, que apiedava os brutos,


     Leve talvez pareça um bárbaro delito!...


     Foge sempre a torrente ao mísero precito


     E, se tenta comer, escapam-se-lhe os frutos!



     Há Tântalos também na vida transitória:


     Querem estes a lympha e os pomos do talento,


     E morrem no hospital para viver na história.



     Desditosos que são... no malogrado intento!...


     Longe de haverem ganho os loiros da vitória,


     Encontram no sepulcro o eterno esquecimento!

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Eu digo não!

 




Rodolfo Pamplona Filho


Eu digo não a quem faz corrupção

Eu digo não a quem aumenta o feijão

Eu digo não a quem faz parte do Centrão

Eu digo não a político ladrão

Eu digo não a quem faz nada no Senado

Eu digo não a seu nobre Deputado

Eu digo não ao governador do Estado

Eu digo não a quem põe povo de lado

Eu digo não à União Ruralista

Eu digo não ao Partido Comunista

Eu digo não ao homem do decreto-lei

Eu digo não ao presidente José Sarney


Eu digo não à perda da inocência

Eu digo não a viver em violência

Eu digo não ao rombo da previdência

Eu digo não a esta falta de decência

Eu digo não a quem só sabe mandar

Eu digo não a quem vive a torturar

Eu digo não a quem mata para calar

Eu digo não à ditadura militar


(1987)

Letra: Rodolfo Pamplona Filho

Música: Rodolfo Pamplona Filho, Cedric Romano e Jorge Pigeard


quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Tietê

 



Ieda Estergilda


No caldo grosso do rio

derramei lágrimas de tristeza e mágoa

pela águas urbanas, paulistanas, devastadas.

Ontem peixes e barcos, hoje leito fedido

na capital

esse rio vive além da lama

dos cadáveres encalhados

dos esgotos que desembocam nele

esse rio em que acredito

pois salvar é coisa dos homens

mesmo que tarde.


Um rio

é uma beleza, um ser

o Tietê é uma beleza ferida

uma ferida que brilha

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Pagar o Pato

 




Rodolfo Pamplona Filho

Pagar o pato 

é uma expressão popular 

na língua portuguesa, 

utilizada no sentido de

 "levar a culpa por algo" 

ou arcar com as consequências 

de determinada situação 

provocada por outra pessoa.



Ser o pato 

é outra expressão 

utilizada para dizer 

que uma pessoa é boba, 

ingênua ou sem coragem. 

Outro uso de "pato" 

é pra falar de alguém 

que seja muito fraca em algo, 

alguém que sempre perde.



Coitado do pato...

É preciso resgatar 

o pato do ostracismo

e promover a sua redenção...

Em épocas de negacionismos

ou de históricos revisionismos,

fica a singela sugestão...



Salvador, 07 de dezembro de 2020.
Política, Revolta, Sociedade






segunda-feira, 14 de novembro de 2022

O sítio

 



André Carvalheira



Em cada canto da casa,


teu cheiro felino


Em tudo reluz


Nas folhas, teus cabelos embaraçam


No vento, teu som-só sopra prazeres


N'água, teu corpo escorre segredos


Nas pedras, teus pés nus-húmidos gozam


Em cada canto de mim, teu cheiro felino


Em tudo reluz

domingo, 13 de novembro de 2022

Caça às Bruxas

 



Rodolfo Pamplona Filho


Começam queimando livros 


para, depois, queimar pessoas...


Qualquer sinal de divergência 


é duramente repelido


como se a inteligência 


fosse um pecado a ser punido...


Na cabeça dos inquisidores,


é impossível a reflexão,


pois, no universo de seus humores,


não há espaço para a oposição.




Salvador, 01 de fevereiro de 2021.

sábado, 12 de novembro de 2022

As coisas, de Jorge Luis Borges

 





A bengala, as moedas, o chaveiro,

A dócil fechadura, as tardias

Notas que não lerão os poucos dias

Que me restam, os naipes e o tabuleiro.

Um livro e em suas páginas  a desvanecida

Violeta, monumento de uma tarde

Sem dúvida inesquecível e já esquecida,

O rubro espelho ocidental em que arde

Uma ilusória aurora. Quantas coisas,

Limas, umbrais, atlas, taças, cravos,

Nos servem como tácitos escravos,

Cegas e estranhamente sigilosas!

Durarão para além de nosso esquecimento;

Nunca saberão que  partimos em um momento.


Jorge Luis Borges  (Obras Completas Volume II-página  394)