sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Tântalos

 




Inácio Raposo


     Não pode ter de certo os olhos sempre enxutos


     Quem sofre qual, no Erebo, o Tântalo maldito:


     Sedento — vê debalde um córrego infinito;


     Faminto — vê debalde os floridos produtos!...



     Ante um castigo tal, que apiedava os brutos,


     Leve talvez pareça um bárbaro delito!...


     Foge sempre a torrente ao mísero precito


     E, se tenta comer, escapam-se-lhe os frutos!



     Há Tântalos também na vida transitória:


     Querem estes a lympha e os pomos do talento,


     E morrem no hospital para viver na história.



     Desditosos que são... no malogrado intento!...


     Longe de haverem ganho os loiros da vitória,


     Encontram no sepulcro o eterno esquecimento!

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