sexta-feira, 30 de junho de 2023

A Dor da Carência

 


Rodolfo Pamplona Filho


Uma enorme carência 

que incomoda

e machuca

emocionalmente

todos à volta

Uma insistente tristeza

que enfraquece

e joga para baixo

imediatamente

toda animação

Uma contínua melancolia

que desanima

e desabastece

literalmente

toda empolgação

Uma dor tão profunda

que rasga a alma

e nubla a visão

definitivamente

como se não houvesse solução.



Salvador, 08 de novembro de 2019.

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Lembrança

 


Oswald Barroso



A lua te recordará

a branca noite

em que ela se despiu

e, vermelha,

se fez cúmplice

do nosso amor.



O mar te lembrará

nosso costume

de caminhar nas tardes

até o horizonte,

pois que o mar

também é cúmplice

dos namorados distantes.



E quando vires, amor,

num vão de céu

uma estrela,

tu não chorarás,

porque, então,

aprenderás o meu caminho.










Mas, quando o povo


andar triste pelos becos,


tu saberás do meu luto


e sentirás a dor


da dura separação.






Porém, se a multidão


ensaiar um canto,


tu saberás do meu riso


e nela me encontrarás.


quarta-feira, 28 de junho de 2023

Necessidade de ser desagradável

 



Rodolfo Pamplona Filho


Ninguém precisa


perguntar sua opinião


Ela vai dar da mesma forma


e sempre soltando um veneno,


fazendo uma queixa,


criticando o serviço,


como se sua visão


fosse realmente relevante


para o futuro da ação,


da nação ou da operação.


Não há motivos


para ser simpática,


nem razão para ser amável,


quando tudo se resume


à necessidade de ser desagradável.




Aeroporto de Cusco, 16 de abril de 2017. 


terça-feira, 27 de junho de 2023

O Parto

 


Nauro Machado




Meu corpo está completo, o homem - não o poeta.


eu quero e é necessário


que me sofra e me solidifique em poeta,


que destrua desde já o supérfluo e o ilusório


e me alucine na essência de mim e das coisas,


para depois, feliz e sofrido, mas verdadeiro,


trazer-me à tona do poema


com um grito de alarma e de alarde:


ser poeta é duro e dura


e consome toda


uma existência.


segunda-feira, 26 de junho de 2023

Pacto Social

 



Rodolfo Pamplona Filho


No dia em que


o homem se submeteu


a fazer o que prometeu


finalmente aprendeu


que há mais no mundo


do que seu próprio Eu.




No dia em que


o ódio e o amor


superaram seu temor


e souberam dar valor


à força da paz


transcenderam sua própria dor.




No dia em que


se descobriu que a aliança


transcende os que estão na dança


renasceu a esperança


de que toda tempestade


finda com a sua própria bonança.




06 de maio de 2017, no voo para São Paulo.


domingo, 25 de junho de 2023

Paratodos

 



Chico Buarque de Holanda



O meu pai era paulista


Meu avô, pernambucano


O meu bisavô, mineiro


Meu tataravô, baiano


Meu maestro soberano


Foi Antonio Brasileiro


Foi Antonio Brasileiro


Quem soprou esta toada


Que cobri de redondilhas


Pra seguir minha jornada


E com a vista enevoada


Ver o inferno e maravilhas




Nessas tortuosas trilhas


A viola me redime


Creia, ilustre cavalheiro


Contra fel, moléstia, crime


Use Dorival Caymmi


Vá de Jackson do Pandeiro




Vi cidades, vi dinheiro


Bandoleiros, vi hospícios


Moças feito passarinho


Avoando de edifícios


Fume Ari, cheire Vinícius


Beba Nelson Cavaquinho




Para um coração mesquinho


Contra a solidão agreste


Luiz Gonzaga é tiro certo


Pixinguinha é inconteste


Tome Noel, Cartola, Orestes


Caetano e João Gilberto




Viva Erasmo, Ben, Roberto


Gil e Hermeto, palmas para


Todos os instrumentistas


Salve Edu, Bituca, Nara


Gal, Bethania, Rita, Clara


Evoé, jovens a vista




O meu pai era paulista


Meu avô pernambucano


O meu bisavô, mineiro


Meu tataravô baiano


Vou na estrada há muitos anos


Sou um artista brasileiro

sábado, 24 de junho de 2023

Perdoe-me

 



Rodolfo Pamplona Filho


Perdoe-me por ser covarde


e não ter a coragem


de ser feliz aqui e agora.




Perdoe-me por ser falso


e não ter a honradez


de viver o que quero para mim.




Perdoe-me por ser arrogante


e achar que sei o bastante


para entender até o que eu não sei.




Perdoe-me por ser triste


e não ver a beleza que existe


além do que já vivi.




Salvador, 01 de maio de 2017.


sexta-feira, 23 de junho de 2023

Formosa

 



Maciel Monteiro




    Formosa, qual pincel em tela fina


     Debuxar jamais pode ou nunca ousara;


     Formosa, qual jamais desabrochara


     Na primavera a rosa purpurina;




     Formosa, qual se a própria mão divina


     Lhe alinhara o contorno e a forma rara;


     Formosa, qual jamais no céu brilhara


     Astro gentil, estrela peregrina;




     Formosa, qual se a natureza e a arte,


     Dando as mãos em seus dons, em seus lavores


     jamais soube imitar no todo ou parte;




     Mulher celeste, oh! anjo de primores!


     Quem pode ver-te, sem querer amar-te?


     Quem pode amar-te, sem morrer de amores?!


quinta-feira, 22 de junho de 2023

Seja Presente

 



Rodolfo Pamplona Filho


O melhor presente


que o presente nos proporciona


é estarmos presentes!






Salvador, 24 de abril de 2017

quarta-feira, 21 de junho de 2023

VOCÊ NUNCA VAI VER OS BURACOS DAS RUAS DE NOVA YORK

 



Ao Álvaro

 

existem redes de solidariedade


que não se desfazem



entre pessoas que passaram, juntas, sede raiva amor miséria alegria Injustiça ódio tempo muito tempo: juntas - amor e dor, alegria e luto, que pensaram e sentiram juntas.

 


Mesmo que não se vejam mais.


Ainda que não pensem como antes.


 

Se me chamam, não questiono.


Estou.




Maria Maroca

terça-feira, 20 de junho de 2023

Vivendo com Mãe

 



Rodolfo Pamplona Filho


Amor sem paixão


Tesão sem desejo


Cuidado maternal


que inspira gratidão


Velando na doença


Orando na ansiedade


Secando no banho


Aquecendo no frio


Arrumando no dia-a-dia


Vivendo cada dia


como se não chegasse ao fim...




Cusco, 15 de abril de 2017 

segunda-feira, 19 de junho de 2023

A DOR DO PARTO

 




No templo da vida e da morte

Os sacerdotes oficiam o sacrifício

Entre risos,

Pra aliviar a tensão.



Empurra, corta, sangra

Agulhas, bisturi

Choro



Água, sangue

Pontos, pontos, pontos.

 


Venceu a vida.


 




Maria Maroca

domingo, 18 de junho de 2023

Maltratado

 



Rodolfo Pamplona Filho


Apanhar quando se espera carinho


Ser acusado quando se queria um beijo


Explicar o que já foi entendido


Desculpar-se pelo que não fez


Um choro calado


pela surpresa da reação


Uma tristeza profunda


pela incompreensão


Uma saudade incontida


de um simples abraço


Uma lembrança bendita


de que ainda existe esperança.




Cusco, 15 de abril de 2017.


sábado, 17 de junho de 2023

No Espelho

 



Constatei hoje -


não sem um certo prazer - que


Como todos os “anormais”, sou diferente,


Incômoda,


mas indispensável.


 


Mais que igual,


o meu “ser normal”


é estar onde não se deve,


contra a corrente é o meu natural.


Só assim, sei onde estou e o que faço.


 


Só no pano verde


no rolar dos dados,


é que cumpro meu destino.


 


A contabilidade bem feita


nota por nota,


me confunde e deprime,


rodando em torno de um eixo que ignoro


e me apaga.


 


Só os grandes círculos me satisfazem.


Só andando às cegas, chego ao ponto.


Fazer o que, se Deus fez assim?


 


Rir de mim, absurda


entre normais


Só entre os absurdos, encontro iguais.


 


Enquanto arregaço as mangas para a próxima 


Enquanto a vindoura e a que nem vislumbro


Só na desigualdade posso ser igual.


 


Maria Maroca

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Incompletudes e Idiossincrasias

 



Rodolfo Pamplona Filho


Mulher sem ciúme


Homem sem barriga


Criança sem sorriso


Festa sem bebida


Férias sem viagem


Casamento sem DR


Menstruação sem TPM


Emprego sem patrão


Trabalho sem produção


Poeta sem musa


Poesia sem inspiração


Alegria sem você






Cusco, 15 de abril de 2017

quinta-feira, 15 de junho de 2023

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Eu nunca serei ela

 


Rodolfo Pamplona Filho


Eu perdoo você


por ser falso


Eu não perdoo


por ser covarde


Eu poderia aproveitar o seu corpo


só para me divertir,


mas me perdi


na armadilha do amor




E, se eu fosse você,


eu nunca me deixaria ir...


Eu nunca serei ela...


Eu deveria parar de lembrar...




Odeio amar você


Não consigo colocar


mais ninguém


acima de você...


Completamente sozinha,


As vezes você me mata lentamente...


Talvez o erro seja meu


Eu só queria ser feliz...






Salvador, 17 de abril de 2017


terça-feira, 13 de junho de 2023

As faces

 



Quantos somos cada um?


Dentro de nossas verdades?


Quantos somos na nossa metade?


Um par? Talvez três?


Faz de conta, leva a vida...


Ou vive tudo de uma vez.


Quantos somos quando se vive sem amor?


Insanos, cansados...


Simplesmente anestesiados...


Tolos enganados


Achando-se imunes a dor


Certos de que estamos certos


Fixos, herméticos


De olhos cerrados


Quantos somos?


Quantas faces temos?


Quando não somos amados?




Tereza do Amaral

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Diáfano

 




Rodolfo Pamplona Filho





O dia se faz noite


O dito fica pelo não


Ode


Ódio


Onde não sei se fico...


O Diáfano Espaço


O que, sendo compacto,


dá passagem à luz...


Transparente


como a diáfana fresta da porta...


A compleição diáfana


de quem, de frente,


parece estar de lado


e, de lado,


parece ter ido embora...


Diáfano


Dia foi


Dia fácil


Dia fogo


Dia fóssil


Dia faz ano


Dia faz plano


Diáfano ano...




Brasília, 13 de março de 2013.

domingo, 11 de junho de 2023

Nada

 



Nada é o que me cerca


O vejo em todas as direções!


Nada venta nada se mexe, nada me toca, apenas passa por mim!


Minha alma reflete todo esse nada, como um espelho reflete o sol.


Tudo iluminando como se nada houvesse!


Tantos rostos em trânsito... do nada saem, pro nada vão...


E nada faço para alcançá-los


Gostaria mesmo é de dissipá-los, como se nada fossem...


Como se nada representassem, como se nada fossem no amanhã!


Como se jamais pudesse amá-los ou tão pouco desejá-los, já que nada sou.


E esse meu tempo em que nada acontece, que nada tece, nem padece de ser nada, simples nada.


Eu te procuro e procuro a mim mesma!


Mesmo no escuro me acho em ti


Distante num nada que não é esse daqui.


E disperso... imerso nesse nada...


Ainda procuro tudo que possa achar no escuro


No Nada!




Tereza  Amaral

sábado, 10 de junho de 2023

O fim está à porta (Apocalipse 12)

 






Rodolfo Pamplona Filho




Quando não se vislumbra


possibilidade de vitória aberta...


Quando a derrota da penumbra


já é inevitavelmente certa...


Somente cabe render-se


ou morrer lutando...


Entregar ao sofrer-se


e seguir o mesmo plano...


Mas nem todo castigo


é danação...


Nem todo ostracismo


é punição...


pois até o mal encarnado


pode ter uma segunda chance


de rever o passado


ou buscar um novo lance,


que, por certo, não aproveitará,


já que repete os exatos passos


e dolorosamente conhecerá


a influência de seus laços...


Se a dor vira fertilidade,


o ódio só gera destruição...


Ao se buscar a verdade,


confronta-se a perdição...


Enquanto um usufrui o cuidado,


o outro é totalmente afastado,


dando finalmente nome aos bois,


desmascarando na hora H


e revelando tudo, pois,


que sempre esteve lá,


mas não se conseguia sequer ver,


por ignorar o seu próprio viver...


Afinal, a transparência


é a mais dura consequência


de saber o que o aguarda


e o que não mais conforta,


quando não resta mais nada...


quando o fim está à porta...



Salvador, domingo, 24 de agosto, ainda ouvindo Pastor Afa Neto.

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Sonho

 



Quando fecho os olhos me reporto a um paraíso particular


Um lugar real, mas recriado para meus melhores dias...


Nele tenho tudo que um ser humano pode almejar...


A paz, a beleza, e todos os elementos da natureza disponíveis.


Entre toda criação divina existe uma que é a mais especial...


Sem a qual todo o resto nada vale...


Nada absolutamente nada é mais divino que sua presença.


É a verdade mais real do meu sonho.


O mais possível...


O que mais desejo...




Tereza Amaral

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Triste Fim?

 



Rodolfo Pamplona Filho



Será o fim?


Triste fim...


Na verdade, tudo muda...


Só não muda a mudança...


Tudo muda...


As mudas voltarão a florescer...


e os mudos e os mundos também...


Por aí...


Os exemplos vão ficar


e os trilhos voltarão a se encaixar...


depois...


Salvador, 24 de agosto de 2013, batendo papo com Bernardo Lima no What's up...

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Paisagem

 



Corvos num campo de trigo


medem a extensão do silêncio,


este silêncio que é vácuo,


este silêncio inimigo.




Voam com asas quebradas


sob um sol limpo de vidro,


num céu deserto de tudo,


dentro de um vento infinito.




Quem pode ver na paisagem,


nesta paisagem calada,


algo que cale o presságio?




Corvos num campo de vidro


(corvos num campo de neve),


neste silêncio há um tiro.


 




Marco Polo

terça-feira, 6 de junho de 2023

Soneto da Transparência Desejável

 



Rodolfo Pamplona Filho


Eu gostaria de ter a sensação


da plenitude da comunicação,


da abertura do relacionamento


e do fim de todo sofrimento


 


Descobri que informação demais


só leva a conversa para trás


e questiono até onde é possível


a transparência factível?


 


Eu me realizaria na claridade,


mas percebo que a opacidade


é um recanto mais seguro


 


Eu me frustro em esconder,


mas concluo que não saber


é a melhor forma de não sofrer


 


Salvador, 28 de abril de 2023.

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Blue

 



Com Eric Clapton, um branco,


aprendi um pouco de blue;


o toque mínimo da guitarra,


a busca de perfeição.


Aprendi que música não tem pressa


e o tempo


é uma coisa a ser tecida.




Com Robert Johnson, um preto,


aprendi um pouco de blue;


que música é outra maneira de dizer silêncio.


Aprendi que só valem a pena as palavras


que mudem a cor do dia.


 




-Marco Polo Guimarães

domingo, 4 de junho de 2023

Minha Pequenina

 



Rodolfo Pamplona Filho



Ela tem olhos de mar,


um sorriso raro


e uma vaga lembrança


Ela é a Mona Lisa:


seu quase rir


ilumina e me pisa.


Nasceu cheirosa,


como uma linda flor


a exalar doce sabor


Seu cabelo já mudou


tantas vezes de cor,


que é um farol a mostrar


um sincero desejo de agradar


Suas coxas são


o caminho delicioso


para o arremate fogoso


feito para me excitar…


Seu corpo pequeno


é nosso perfeito segredo


da maravilhosa arte de amar


 


Salvador, 24 de abril de 2023

sábado, 3 de junho de 2023

Vênus

 



Dá-me, Apeles, o sangue dos teus dedos

e as cores deste mar, espuma ardente

em que Vênus ressoa e se reparte

entre deuses e bichos, céus e terras,



para que a louve, prostituta imensa

feita de orgasmo e sol. Pombos e cisnes

a conduzem nos braços da Volúpia

onde ela exerce, pleno, o seu domínio.



Mas, de repente, queda-se cativa

de um mortal como Adônis. Tão completa

me parece esta deusa que seu brilho



tem, sobre nós, a calma perspectiva

de uma fúria saciada: um simples nome

que a eternidade rútila consome.






- Jorge Tufic


sexta-feira, 2 de junho de 2023

A Fama

 



Rodolfo Pamplona Filho


A Fama encanta


A Fama emociona


A Fama excita


A Fama seduz


A Fama provoca


A Fama instiga


A Fama conduz


a uma ideia tola de glória:


Eu prefiro o êxito


 


Salvador, 09 de abril de 2023.


quinta-feira, 1 de junho de 2023

Restinga's Bar

 



Sou tão frágil, meu bem, que um som, de leve

pode ser-me fatal como o teu beijo:

qualquer música brega, qualquer frase

pode ser-me fatal. E, assim, não deve



a brisa andar tão próxima à tormenta,

como não deve o ritmo da valsa

transformar-se em punhais; a vida é breve

e aquilo que é demais logo arrebenta.



Sou tão frágil, meu bem, que nada pode

separar-me de ti. Teu nome é um sonho

que navega em meu sonho. Tenho pena



de tudo, algo me aflige e me sacode.

Desliga esse Gardel, bota um canário

em vez do som, da voz que me condena.