sábado, 1 de junho de 2024

Gilda

 








Murilo Mendes




Não ponha o nome de Gilda

na sua filha, coitada,

Se tem filha pra nascer

Ou filha pra batisar.

Minha mãe se chama Gilda,

Não se casou com meu pai.

Sempre lhe sobra desgraça,

Não tem tempo de escolher.

Também eu me chamo Gilda,

E, pra dizer a verdade

Sou pouco mais infeliz.

Sou menos do que mulher,

Sou uma mulher qualquer.

Ando à-toa pelo mundo.

Sem força pra me matar.

Minha filha é também Gilda,

Pro costume não perder

É casada com o espelho

E amigada com o José.

Qualquer dia Gilda foge

Ou se mata em Paquetá

Com José ou sem José.

Já comprei lenço de renda

Pra chorar com mais apuro

E aos jornais telefonei.

Se Gilda enfim não morrer,

Se Gilda tiver uma filha

Não põe o nome de Gilda,

Na menina, que não deixo.

Quem ganha o nome de Gilda

Vira Gilda sem querer.

Não ponha o nome de Gilda

No corpo de uma mulher.


 


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