sábado, 5 de março de 2011

Mais uma noite de saudade...

Mais uma noite de saudade...

Rodolfo Pamplona Filho
Chego em casa só,
abro a porta e não ouço ruído.
Meu coração torna-se pó,
pois, sem notícias suas, me deprimo.

A noite chega sem demora
e sonhar já não quero mais...
Preciso de seu colo agora
para que poder dormir em paz.

Nada me falta tanto assim...
...tive filhos lindos...
...plantei árvores, sim...
...escrevi muitos livros...

mas ainda não sou completo,
ainda não posso morrer
ainda há algo em projeto,
pois preciso ter você...

Como chegamos tão longe
nessa nova bela história?
A resposta está onde
seus lábios me beijam sem demora.

Salvador, 05 de dezembro de 2010

sexta-feira, 4 de março de 2011

CHAMA QUE AFUGENTA

CHAMA QUE AFUGENTA



Já não mais suporto essa chama que me aquece.
A mesma que me entristece, lançando-me,
vergonhosamente, às masmorras da solidão.
Quem ama nunca esquece o quanto se padece
quando derretem os pulsos de quem viveu sem dar perdão.




É uma pena que essa brisa que se eterniza
seja apenas uma lânguida benesse,
cujo frágil sopro me enlouquece por tentar debelar, inutilmente,
a labareda que, ainda que quisesse,
nunca me traria de volta o sorriso que se foi em vão.




Ergo meus olhos. Equalizo meus ombros.
E, com tremendo esforço, ouso ainda sugar aquele esperançoso fio de ar
que, insistentemente, paira no alto da janela,
sem me aperceber que, no fundo,
essa aprazível viração, ainda que quisesse,
jamais me despertaria do sono que vivo desde então.




Frustrou-me o desiderato. Abateu-me o meu semblante.
Sinto o açoite dessa queimadura cuja cálida textura
contrasta com o frescor pueril que, ingenuamente,
desejei um dia sorver e que, ainda que quisesse,
jamais me sararia dessa dor que abrasa o coração.




O que fazer se minha pele já não mais se aguenta?
É que quanto mais sopra o vento que me refresca,
mais cresce a chama que me desorienta.
Diga-me, então: numa hora dessas, o que é que se faz?!
Porque essa chama, ainda que quisesse,
já não mais me aquece. Nunca mais!
Ela agora me afugenta.
Expondo-me, friamente, às insensíveis brasas da emoção...

Ney Maranhão



__._,_.___

quinta-feira, 3 de março de 2011

Viciado em Você

Viciado em Você

Rodolfo Pamplona Filho
Ficar sozinho é horrível...
Não ter seu cheiro é terrível
Fico doido para ter algum contato seu.
Não sei mais quem sou eu...
Cogitei até ligar, mas me contive
pelo perigo de expor o crime...
de ter matado a solidão e o sofrer...
de estar viciado em você...

Eu posso morrer amanhã
eu posso não acordar de manhã
eu posso chorar toda a noite
eu posso sofrer a dor do açoite
eu posso perder tudo na vida
eu só não posso perder a minha querida
que renovou o sentido da paixão
e despertou em mim antiga emoção
que há muito tempo eu não sentia,
o frio na barriga com a cama vazia
e o desejo incontrolavel de ter
apenas mais um momento de prazer...
Salvador, 25 de outubro de 2010.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Não importa

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo

Bertolt Brecht (1898-1956)

terça-feira, 1 de março de 2011

Sob as folhas do outono de Nova York

Sob as folhas do outono de Nova York

Rodolfo Pamplona Filho
Quero te fazer provar novos sabores e esperança,
vou te mostrar tudo que puder,
como quem ensina uma criança
que a vida é boa no que der.

Quero perpetuar esse relacionamento,
que não sucumbe a desejos cômodos,
foge a qualquer regulamento
e clama por vários encontros.

E que, no fim, tudo seja harmonia,
podendo olhar para trás, ligeiro,
e ver quão linda poesia
construímos para o mundo inteiro

e, quem sabe, terminar nossos dias
de uma maneira nada uniforme:
juntos, sorrindo e a caminhar por vias,
sob as folhas do outono de Nova York...
Salvador, 15 de novembro de 2010.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Podridão Interna

Podridão Interna

Rodolfo Pamplona Filho
Há algo de muito ruim
não no mundo, mas em mim!
Há algo que ataca os sentidos
e fulmina todos meus suspiros!

Algo que, do ódio, me faz refém
e, definitivamente, não me faz bem,
mas que não consigo me livrar,
como um vício a me matar.

Até minhas raras qualidades
descambam neste poço de maldades.
Minha gana vira concupiscência.
Minha disciplina, cega obediência

A memória estimula o rancor
O ciúme é filho bastardo do amor
A paciência arma a vingança
O assassino já foi uma criança.

Será que é apenas um mau lado
de um ser perdido em sua dança?
Ou sou somente um sepulcro caiado,
do qual não remanesce esperança?
São Paulo, 21 de novembro de 2010.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

O Tempo é o Senhor da Razão

O Tempo é o Senhor da Razão

Rodolfo Pamplona Filho
Quantas vezes eu gostaria
de alterar a ordem do dia
e poder fazer de forma diferente
o que encontro no tempo presente.

Vejo como eu poderia encontrar alegria
onde, hoje, só vejo melancolia
e descobrir uma felicidade
que perdi pouco a pouco com a idade...

Será que é possível mudar
opções que fiz no caminhar
por não saber o que me esperava
ou o que na minha vida faltava...

Como eu poderia saber ou prever
que o destino reservaria novo prazer,
encontrando novo sentido no viver
e uma forma alternativa de ser...

Ainda terei coragem para novo desafio?
Ainda enfrentarei tudo com brio?
Conseguirei ser outro alguém?
Encontrarei um mundo além?

Dúvidas são uma constante
em uma mudança tão fulminante
e o receio não é uma temeridade
no encontro da essência de verdade!

Conheço o que já tenho e não é perfeito!
Sei o que quero e o que não mais aceito!
A esperança é o gás da Transformação
e o Tempo é o Senhor da Razão...
São Paulo, 20 de novembro de 2010.