sábado, 29 de outubro de 2011

NA AREIA DO TEMPO...



NA AREIA DO TEMPO...

Genesio Vivanco Solano Sobrinho

 


Na ampulheta,
Marcando o tempo,
A areia cai sem cessar.
Espero, findo o movimento,
Tudo acabar, mas não quero.
Enquanto isto
O tempo passa, incessante,
E nada o poderá deter.
Que fazer?
Apenas pensar, não mais que em um momento,
que não quero esquecer.
Por isso, o registro e
Enquanto a memória puder,
Durante o tempo que me restar,
Tudo farei para revivê-lo.
A areia cai, o tempo passa...
Em que estou a pensar?
Passado, presente, futuro...
Três formas distintas
De ver o tempo correr.
Passado outra coisa não é
Senão o que foi esperança,
E nada restou além de ilusão...
Presente, não sei se fruto
Da esperança, ou apenas sensação.
Do futuro, não sei dizer.
Este dependerá do que hoje acontecer.
Será de esperança
Ou nova frustração?!
Só sei de uma coisa,
E isso posso afirmar:
O que sinto é presente,
Não sei se por saudade
Ou simples emoção.
Do alto desta janela,
Em que vejo a vida passar,
Olhando o firmamento  
E as estrelas a brilhar,
Nada mais desejo
Antes da areia do tempo recair,
Senão, por um minuto que seja,
Rever o brilho dos olhos dela,
Que nas estrelas não vejo...
__._,_.___

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

MATEMÁTICA DE MENDIGO

MATEMÁTICA DE MENDIGO

Tenho que dar os parabéns ao estagiário que elaborou  essa pesquisa, pois o resultado que ele conseguiu obter é a mais pura  realidade..

Preste  atenção!!
Num sinal de trânsito muda de estado em média a cada  30 segundos (trinta segundos no vermelho e  trinta no verde).
 Então, a cada minuto um  mendigo tem 30 segundos para pedir a 5 motoristas
e receber pelo menos de dois deles R$ 0,20 e faturar em media pelo menos R$ 0,40 o que numa hora dará: 60 x R$ 0,40 =  R$ 24,00.
Se ele trabalhar 8 horas por dia, 25 dias por mês, num mês terá  faturado: 25 x 8 x R$ 24,00 = R$ 4.800,00.
Será  que isso é uma conta maluca?
Bom, R$ 24,00 por hora é uma conta bastante razoável  para quem está no sinal,
uma vez que, quem doa nunca dá somente R$ 0,20 e sim R$ 0,30, R$ 0,50  e  às  vezes até R$ 1,00.
Mas tudo bem, se ele faturar a metade: R$ 12,00 por hora terá R$ 2.400,00 no final do mês.
Ainda  assim, quando ele consegue uma moeda de R$ 1,00 (o que não é raro),
ele pode até descansar tranquilo debaixo de uma árvore por mais 9 viradas do sinal de trânsito,
sem nenhum chefe para lhe censurar por causa disto.
Mas considerando  que é apenas teoria, vamos ao mundo real.
De posse destes dados fui entrevistar uma mulher que pede esmolas,
e que sempre vejo trocar seus rendimentos numa conceituada padaria.
Então  lhe perguntei quanto ela faturava por dia. Imaginem o que ela respondeu?
É isso mesmo!! De R$ 120,00 a R$ 150,00 em média,
o que dá (25 dias por mês) x R$ 120,00 = R$ 3.000,00.
E ela disse que não mendiga 8 horas por  dia.

Moral  da História.
É  melhor ser mendigo do que estagiário (e muito menos PROFESSOR),
e pelo visto, ser estagiário e professor, é pior que ser mendigo...
Se esforce como mendigo e ganhe mais do que estagiário ou professor!!
Estude a vida toda e peça esmolas.
É mais fácil e melhor que arrumar emprego.

E  lembre-se...
Mendigo não paga 1/3 do que ganha ao governo.

Viva a matemática!!!!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Pauta

Pauta

Rodolfo Pamplona Filho

Pauta livre
Pauta cheia
Pauta firme
Pauta feia

O tempo não para no horizonte
e a pauta não cessa também...
Como água que cai do monte,
sem ver onde, quando ou a quem...

A agenda vai tarde...
É outro compromisso...
Mais uma atividade
Ou um novo feitiço?

Pauta Prostituta:
é quase uma sina...
Tudo a ver com a luta
e o trabalho das meninas..

Para umas, um tormento,
Para outras, diversão
A diferença entre pressão
Ou mesmo obrigação...

Umas não cobram raro
Outras pedem caro
Há quem faça até por amor...
Será que você já pensou?

Haverá alguma diferença
entre quem tem a crença
ou quem se joga sem fé?
Não sei a resposta qual é...

Será que sou apenas um peão
a vender o seu inestimável tempo
e, a baixo preço, seu parco talento
pela necessidade de atenção?

E a pauta continua...


Belo Horizonte, 06 de junho de 2011.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

FRANCISCO



FRANCISCO



Meu nome é Francisco
Sou carpinteiro
Acredito em Deus e nos homens
(sim, eu acredito nos homens,
apesar dos pesares).

Sou trabalhador
Disciplinado, esforçado
Tenho mulher e filhos pra criar
Não posso negar um serviço
A luta é árdua e sem escapatórias
Todos os dias, os dias todos


Fui chamado pra construir umas casas
Por um empeleiteiro de uma usina do interior
Em outro Estado, distante de casa
Eram seis meses longe da mulher
Mas nos outros seis teriam carne na mesa
E quem sabe até uma ceia no Natal.

O sacrifício maior era a saudade
Falta-me dinheiro, mas força tenho de sobra
E coragem
Sou um homem de coragem

Beijei a mulher
Abracei meus filhos
Papai volta logo
E trará carrinho pra brincar viu?!

Na bolsa uma roupa arrumada
Surrada de tanto sabão de côco
Uma calça já precisando de remendo
Além daquela camisa velha pra trabalhar
Ganhei na campanha do deputado que votei
Não sei o nome, nem sei ler o que tá escrito
Quando ele voltar na próxima eleição eu pergunto

Fui no ônibus da empresa
Se perguntassem era pra eu ser turista
Sempre quis viajar, conhecer o mundo
Ver aquela praia que passou na novela
Teria que fingir que tava indo ver o mar
Quem me dera!

Lá chegando, procurei o meu pincel
Ou um balde de tinta pra colorir
Mas foram me dando uma enxada
“as casas só semana que vem
fica aí cortando cana pra não ficar parado
e pra não passar fome”

Não sabia como começar
Eu sempre fui pobre, mas meu ofício meu pai me ensinou
Desde cedo levava as latas, limpava o chão
Ia olhando e aprendendo
Tão logo tive força pra subir a escada e já fui traçando meu caminho
Filho de peixe

Mas nunca cortei uma cana
Nem uma cana sequer
Isso é pra quem não sabia nada
Gente burra, sem escolha
Eu não
Eu sou pintor
Meio lerdo, segundo as madames
Mas o patrão gostava do serviço

Passou os dias
Passei fome
E frio, e ferro
Pra ir embora, não tinha o caminho
Fui covarde.

Não devolveram minha carteira de trabalho
Nem minha dignidade.

Meu nome é Francisco
José, João, Joaquim
Me chame como queira
Meu nome é Brasil
            [ainda!]

terça-feira, 25 de outubro de 2011

E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar (Fernando Pessoa)


E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela. (Fernando Pessoa)



http://www.astormentas.com/PT/poema/1549/E%20eu%20gosto%20tanto%20dela%20que%20n%C3%A3o%20sei%20como%20a%20desejar

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Soneto (Luís de Camões)

Soneto
Luís de Camões

Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.


Amor é brando, é doce e é piedoso;
Quem o contrário diz não seja crido:
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens e inda aos deuses odioso.


Se males faz Amor, em mi se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.


Mas todas suas iras são de amor;
Todos estes seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.


domingo, 23 de outubro de 2011

Navegando em Águas Profundas

Navegando em Águas Profundas

Rodolfo Pamplona Filho
Navegando em águas profundas,
descobri o que é coerência,
na busca de uma vida autêntica,
sabendo a diferença
entre vocação e mera obediência
pois, entre a apostasia e o fervor,
há um imenso degradée...

Viver a palavra somente na praia
é uma grande perda de tempo,
pois não se serve de corpo inteiro,
nem se liberta de um jugo verdadeiro,
já que há uma imensa diferença
entre mergulhar de cabeça
em uma profundidade abissal
ou em uma piscina rasa.

A partilha não é medida
pela quantidade ou necessidade,
mas, sim, pela solidariedade,
no sentimento de ser parte
e de entregar a um outro ser,
não o excedente de sua obesidade,
mas um pedaço de si próprio
doado à posteridade...    
Salvador, 29 de maio de 2011.